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EXCELENTÍSSIMO SENHOR, DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA PRIMEIRA VARA CÍVEL DE COMPETÊNCIA RESIDUAL DA COMARCA DE CAMPO GRANDE (MS) PARECER TÉCNICO JUDICIAL

Transcrição:

fls. 559 SENTENÇA Processo Digital nº: 1003626-32.2014.8.26.0127 Classe - Assunto Procedimento Ordinário - Antecipação de Tutela / Tutela Específica Requerente: FRANCISCO DAVID FERREIRA DE CARVALHO Requerido: NORFOLK INVESTIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA (TECNISA) e outro Juiz(a) de Direito: Dr(a). Leila França Carvalho Mussa Vistos. FRANCISCO DAVID FERREIRA DE CARVALHO, qualificada nos autos, move ação revisional de cláusulas contratuais c.c. obrigação de fazer e reparação por dano moral e material em face das rés, acima qualificadas, sustentando, em síntese, que adquiriu o apartamento descrito na inicial, através da construtora Norfolk. Ocorre que o apartamento não foi entregue dentro do prazo previsto no contrato, sofrendo dano moral. Ainda, foi obrigada a pagar por taxa de corretagem que entende indevida, pedindo sua devolução. Alega, por fim, dano material, consistente em lucro cessante. Juntou documentos. As rés foram citadas e ofertaram contestação. A co-ré Tecnisa arguiu, preliminarmente, ilegitimidade passiva, devendo o feito prosseguir somente com relação à Norfolk. Ainda, ambas alegaram ilegitimidade passiva quanto ao pedido de devolução de valores a título de comissão de corretagem e taxa "SATI" e inépcia da Inicial. No mérito, sustentaram, em síntese: não cabimento de devolução simples ou em dobro dessas taxas; teoria da imprevisão e sua ocorrência no mercado imobiliário; validade da cláusula de tolerância de 180 dias; não cabimento do pedido de lucros cessantes e multa moratória; e não ocorrência de dano moral. Ao final, requereram a improcedência. Juntaram documentos. Réplica às fls. 384/411. 1003626-32.2014.8.26.0127 - lauda 1

fls. 560 AVENIDA DESEMBARGADOR DOUTOR EDUARDO CUNHA DE É o relatório. FUNDAMENTO E DECIDO. É caso de julgamento antecipado da lide, uma vez que a matéria, apesar de ser de fato e de direito, não depende da produção de outras provas, nos termos do artigo 330, I, do CPC. Inicialmente, afasto a preliminar de ilegitimidade passiva aventada pela coré Tecnisa. Com efeito, há um conjunto de esforços e serviços prestados pelas corrés visando atingir a finalidade do negócio, consistente na venda do imóvel ao consumidor. Por certo, ambas as rés participaram ativamente no negócio, sendo de responsabilidade delas a efetiva consecução do contrato, inclusive a entrega do imóvel no prazo estipulado. Ademais, conforme se verifica, a co-ré Tecnisa figurou expressamente como interveniente Construtora e ainda assinou o contrato firmado. Por fim, conforma farta documentação juntada, a co-ré Tecnisa sempre participou das negociações, inclusive justificando o atraso da entrega. ele será analisada. A segunda preliminar de ilegitimidade de parte é matéria de mérito e com A preliminar de inépcia da inicial é inconsistente. Veja-se que a inicial apresenta causa de pedir e foi exposto o nexo de causalidade. Assim, uma vez que os pedidos formulados são lógicos, sendo coerente a narração dos fatos, anoto que foram atendidos os requisitos previstos no art. 282 do Código de Processo Civil. Ademais, a simples leitura da contestação oferecida revela que a parte ré entendeu o teor e o alcance do pedido da parte autora. Em outras palavras, os termos da inicial permitiram à parte ré o exercício do direito de defesa. Desse modo, a preliminar deve ser rechaçada. No tocante ao mérito, o pedido é parcialmente procedente. indébito e reparação por dano moral e material. Trata-se de ação revisional de cláusula c.c obrigação de fazer, repetição de Em princípio, trago à baila que a demora na entrega do imóvel a parte 1003626-32.2014.8.26.0127 - lauda 2

fls. 561 autora restou incontroversa. Assim, tratando-se de relação de consumo, até em virtude da verossimilhança das alegações da autora, há a inversão do ônus da prova, nos termos do artigo 6º, VIII, do CDC, restando ainda reconhecida a hipossuficiência técnica da autora. Feitas tais observações, consigno que os danos morais são incontestes. Com efeito, o atraso na entrega do imóvel gera transtornos e dissabores ao consumidor que se planeja para que o contrato seja cumprido dentro do prazo. Veja-se que restou configurada a culpa das rés, bem como o nexo causal entre sua conduta e a frustração da expectativa da parte autora. O dano moral decorre da ilicitude do ato praticado pelas rés, ou seja, sua omissão em não providenciar a entrega do bem no prazo ajustado. O dano moral prescinde de provas, bastando a comprovação dos fatos que lhe deram ensejo, sendo sua existência presumida, não se cogitando, pois, da comprovação do prejuízo, nem da intensidade do sofrimento experimentado pela ofendida. Código de Defesa do Consumidor. É evidente o vício da prestação do serviço, nos moldes do art. 14 do O nexo causal, a seu turno, é inquestionável, uma vez que a mora na entrega do imóvel é conduta exclusiva das rés, sendo a causa direta dos prejuízos alegadamente suportados pela autora, não havendo qualquer elemento que indique que o atraso foi fundamentado na culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. Tenho que os danos morais, assim caracterizados aqueles prejuízos que ultrapassam a esfera do mero aborrecimento ou dissabor, atingindo a psique e, consequentemente, os direitos de personalidade do indivíduo, na lide sub judice são manifestos, pois, inquestionável a frustração da expectativa da parte autora, conforme supramencionado. Desse modo, tenho que resta devidamente configurado o abalo de ordem moral, pelo injustificado descumprimento que culminou em inúmeros transtornos à parte autora. No que toca ao valor ressarcitório, entretanto, deve ser considerado no 1003626-32.2014.8.26.0127 - lauda 3

fls. 562 arbitramento do quantum reparatório, o critério sancionador da conduta dos agentes e compensatório ao sofrimento da vítima, informados pelos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade com o fim de evitar o enriquecimento indevido por parte da autora, bem como de aplicação excessiva da sanção aos agentes. Por conseguinte, levando em conta a natureza da causa, o grau de culpa das rés e a repercussão da ofensa na esfera da parte autora, deve o dano moral ser fixado em R$ 30.000,00 para as rés, de forma solidária. No que tange aos danos materiais, consubstanciados no aduzidos lucros cessantes, estes também são devidos. Com efeito, restando incontroverso o atraso na entrega, e não comprovado qualquer fato que exclua a responsabilidade pelo cumprimento regular da obrigação, de rigor a condenação de indenização de lucros cessantes (art. 402, do CC). Independente da destinação futura do imóvel recém construído, o proprietário adquire o direito de uso e gozo, como resulta do art. 1228 do CC. O atraso na entrega obstaculiza a aferição de renda, seja pela ocupação própria ou para locação e proporciona o pagamento de uma quantia correspondente ao aluguel que seria pago para um imóvel semelhante. Como a unidade é nova e o prédio ainda não totalmente estruturado para receber inquilinos, deve-se calcular o valor locativo pela base do preço do contrato, aplicando-se um percentual de 0,5% do valor do contrato (0,5% de R$ 136.125,32= R$ 680,62). No tocante ao pedido de declaração de nulidade da cláusula que prevê prazo adicional para entrega da obra não há nulidade a ser declarada, referida cláusula nada tem de abusiva. Aliás, tal previsão é praxe em contratos desta espécie, e sua existência não se mostra despida de razão, diante da possibilidade de imprevistos durante a realização das obras. Quanto à correção monetária e juros, é inconteste que a ré não entregou a obra dentro do prazo estabelecido em contrato, tornando descabida a incidência de juros. Os juros somente poderão incidir, de fato, a partir da entrega da unidade, eis que somente a partir de tal evento é que a autora recebeu o bem. Assim, sobre o saldo devedor da autora somente deverão incidir os juros a partir da entrega da unidade, restituindo-se à autora eventual cobrança a esse título feita. 1003626-32.2014.8.26.0127 - lauda 4

fls. 563 Ainda, a correção monetária é mera atualização do valor da moeda, defendendo o capital contra efeitos da inflação, e pode ser cobrada sobre o capital residual porque não importa em sua majoração indevida, mas apenas em sua correção. Não é penalidade ou encargo em razão da mora, mas mera atualização do valor monetário da moeda. Assim, não pode ser afastada. Porém, não se mostra razoável que o saldo residual continue a ser corrigido pelo Indice Nacional de Custos de Construção (INCC), eis que o imóvel já deveria ter sido entregue e ainda não o foi, por culpa que não pode ser atribuída à autora. Assim, a partir da data que o imóvel já deveria ter sido entregue, de rigor a aplicação de índice de correção diverso, não mais se justificando a incidência do INCC, aplicandose o IGP-M (Índice Geral de Preços Mercado), mais benéfico para a autora. Dessa forma, a diferença apurada no saldo devedor da autora que foi corrigido pelo INCC e o saldo devedor que resultaria caso tivesse sido corrigido pelo IGP-M e que foi por ela pago e que se incorporou no financiamento da autora, deverá ser a ela ressarcida, a título de indenização por danos materiais. Por fim, entendo que os valores cobrados a título de assessoria técnica e intermediação para a compra do imóvel também devem ser restituídos a parte autora. É notório que esses serviços de corretagem são feitos pelo empreendedor que disponibiliza stand de vendas para que terceira pessoa negocie e efetue as propostas de compra e venda. Como alegado pela parte autora, o consumidor não procura o serviço de corretagem. Ao contrário, é coagido a pagar pela prestação dos serviços prestados por essas empresas contratadas pelo empreendedor, como condição para que o negócio seja efetivado. Assim, evidente que se trata de cláusula abusiva, ferindo as regras da relação consumerista e, portanto, nula. Dessa forma, de rigor a restituição a parte autora, que deve ocorrer de forma simples. 1003626-32.2014.8.26.0127 - lauda 5

fls. 564 Ante o exposto, nos termos do artigo 269, inciso I, do CPC, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido para condenar as rés a pagarem à autora a quantia de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), de forma solidária, a título de indenização por danos morais, incidindo correção monetária desde a presente data e juros de mora de 1% ao mês desde a citação, bem como condenar as rés, de forma solidária, a restituírem os valores de R$ 2.221,80 devidamente corrigidos desde o efetivo desembolso e acrescidos de juros de mora de 1% ao mês, a contar da citação, e por fim, para condenar as rés, de forma solidária, ao pagamento de indenização por dano material, no valor de R$ 680,62 mensais, desde a data de atraso da obra - considerando-se atraso data posterior ao prazo de 180 dias estabelecido em cláusula contratual - até o habite-se, atualizados monetariamente desde o ajuizamento da ação, acrescidos de juros de mora de 1% ao mês a contar da citação. Ainda para condenar as rés, solidariamente, a devolverem os valores cobrados indevidamente e pagos pela autora a título de juros, com correção monetária pela Tabela Prática do Eg. Tribunal de Justiça de São Paulo, com incidência de juros de 1% ao mês a partir da data em que a unidade deveria ter sido entregue, bem como para determinar que o saldo residual seja atualizado pelo IGP-M até a data da entrega do imóvel e deverão as rés restituir à parte autora a diferença apurada no saldo devedor que foi corrigido pelo INCC e o saldo devedor que resultaria caso tivesse sido corrigido pelo IGP-M, que foi por ela paga e se incorporou no financiamento da autora, a título de indenização por danos materiais. Os valores devidos serão apurados em liquidação de sentença, atualizados monetariamente pela Tabela Prática do Tribunal de Justiça de São Paulo e acrescidos de juros legais de 1% ao mês a contar da data em que a unidade deveria ter sido entregue. Diante da sucumbência mínima da parte autora, condeno as rés ao pagamento das custas e honorários advocatícios que fixo em 10% do valor da condenação. No mais, JULGO EXTINTO o processo, com a apreciação do mérito, nos termos do art. 269, inciso I, do Código de Processo Civil. P.R.I. Carapicuiba, 12 de setembro de 2014. DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006, CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA 1003626-32.2014.8.26.0127 - lauda 6