Prevalência de doenças cardiovasculares em diabéticos e o estado nutricional dos pacientes



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Transcrição:

Prevalência de doenças cardiovasculares em diabéticos e o estado nutricional dos pacientes Prevalence of cardiovascular diseases in diabetic and nutritional status of patients Tatyane Rezende Silva 1, Josmaila Zanuzzi 1, Christian Douglas de Mello Silva 1, Xisto Sena Passos 2, Bárbara Miranda Ferreira Costa 3 1 Curso de Nutrição da Universidade Paulista, Goiânia-GO, Brasil; 2 Curso de Biomedicina da Universidade Paulista, Goiânia-GO, Brasil; 3 Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás, Goiânia-GO, Brasil. Resumo Objetivo Verificar a prevalência de doenças cardiovasculares (DCV), nos pacientes diabéticos adultos e idosos e seu estado nutricional em um ambulatório da rede pública de saúde de Goiânia-GO. A prevalência de diabetes melitus (DM) na população de Goiânia foi de 3,7% no ano de 2007, sendo a incidência maior em homens do que em mulheres. A história natural do diabetes é marcada pelo aparecimento de complicações crônicas como doenças cardiovasculares, sendo o principal fator desencadeante dessas doenças, o estado nutricional. Métodos Foram analisados retrospectivamente 100 prontuários de pacientes de forma aleatória sem dar preferência no período de abril de 2010 a junho de 2011 em um ambulatório da rede pública de Goiânia. Os dados coletados foram idade, sexo, dados antropométricos e presença de DM e DCV. A análise estatística foi realizada com o programa SPSS 15.0 e considerou-se como significante p<0,05. Resultados Foram coletados dados de 100 pacientes onde a prevalência de DM foi 38 (38%) e de DCV 73 (73%) e do total 30 (78,9%) possuíam as duas. A média de idade foi 50,59 anos (± 12,32), sendo 71,1% mulheres. Em relação ao estado nutricional, a maioria dos pacientes encontrava-se em sobrepeso 17 (44,7%), mas a ocorrência de diabetes foi maior entre os pacientes com obesidade II. Conclusão A prevalência de DCV nos pacientes DM foi de 78,9% e o estado nutricional de maior prevalência foi o sobrepeso com 44,7%. Descritores: Diabetes melittus, Doenças cardiovasculares; Estado nutricional; Hipertensão Abstract Objective To assess the prevalence of cardiovascular diseases (CVD) in adults and elderly diabetic patients and their nutritional status in an ambulatory of the public health system of Goiânia-GO. The prevalence of diabetes mellitus (DM) in the population of Goiânia was 3,7% in 2007, with the incidence higher in men than in women. The natural history of diabetes is marked by the appearance of chronic complications such as cardiovascular diseases (CVD), being the main factor triggering these diseases, the nutritional status. Methods Were retrospectively analyzed 100 medical records of patients randomly without giving preference in the period of April 2010 to June 2011 in an ambulatory of the public health system of Goiânia. The data collected included age, sex, anthropometric data and the presence of DM and CVD. Statistical analysis was performed with SPSS 15.0 and considered significant if p< 0,05. Results Data were collected from 100 patients which the prevalence of DM was 38 (38%) and CVD 73 (73%) and of total 30 (78,9%) had both. The mean age was 50,59 (± 12,32) years, being 71,1% women. Regarding nutritional status, most patients were overweight in 17 (44,7%), but the occurrence of diabetes was higher among patients with obesity II. Conclusion The prevalence of CVD in DM patients was 78,9% and the nutritional status of higher prevalence of overweight was 44,7%. Descriptors: Diabetes mellitus; Cardiovascular diseases; Nutritional status; Hypertension Introdução O diabetes mellitus (DM) é uma doença metabólica caracterizada por hiperglicemia e associada a complicações, disfunções e insuficiência de vários órgãos, especialmente olhos, rins, nervos, cérebro, coração e vasos sanguíneos, tendo uma alta incidência em todo o mundo 1. A classificação atual do DM, proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Associação Americana de Diabetes (ADA), é baseada na etiologia e não no tipo de tratamento. Sendo assim inclui quatro classes clínicas: DM tipo 1 e 2, outros tipos específicos e diabetes gestacional 2. Os tipos mais frequentes são o diabetes tipo 1 e o tipo 2. O primeiro compreende cerca de 10% do total de casos e o tipo 2 atinge 90% do total de casos 1,3. Segundo pesquisa da VIGITEL (Vigilância de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), no ano de 2007, a prevalência de DM na população brasileira foi estimada em 7,8% e na população de Goiânia foi de 3,7%, sendo a incidência maior em homens do que em mulheres 4. A história natural do diabetes é marcada pelo aparecimento de complicações crônicas, geralmente classificadas como microvasculares e macrovasculares. Todas são responsáveis por expressiva morbimortalidade, com taxas de mortalidade cardiovascular e outras muito superiores a indivíduos sem diabetes. Os mecanismos do aparecimento destas complicações ainda não estão completamente esclarecidos, mas a duração do diabetes e seu controle interagem com outros fatores de risco, como hipertensão arterial, fumo e dislipidemia determinando o curso das complicações micro e macrovasculares 1,5. As doenças cardiovasculares (DCV) englobam as doenças do aparelho circulatório, que compreendem um amplo espectro de síndromes clínicas, tendo como principal causa a aterosclerose, que aumenta também o risco de síndromes coronarianas agudas (SCA). A incidência das DCV chega a 20% em 7 anos, em diabéticos, contra 3,5% em não-diabéticos 6. As DCV são responsáveis por até 80% das mortes em indivíduos com DM do tipo 2, e em 1988, no Brasil, elas foram responsáveis pela maior proporção de óbitos no país, sendo a principal causa a partir dos 40 anos de idade 7. 266

O principal fator de risco para o surgimento dessas duas doenças seria o estado nutricional, que é a condição de saúde de um indivíduo, influenciado pelo consumo e utilização de nutrientes e identificada pela correlação de informações obtidas de estudos físicos, bioquímicos, clínicos e dietéticos 8. Este é classificado pelo índice de massa corporal (IMC) que é determinado pela correlação de dados de peso e altura. Quando os valores encontram-se elevados (IMC acima de 25kg/m 2 ) a probabilidade do surgimento e mortalidade por doenças cardiovasculares e diabetes é maior, devendo então ser acompanhados. Portanto, o presente estudo visa verificar a prevalência de DCV, nos pacientes diabéticos adultos e idosos e seu estado nutricional em um ambulatório da rede pública de saúde de Goiânia-GO. Métodos Trata-se de um estudo retrospectivo, do tipo transversal em que foram analisados prontuários de 100 pacientes atendidos no período de abril de 2010 a junho de 2011 da unidade de saúde CIAMS (Centro Integrado de Assistência Médico-Sanitária) do Jardim América. A coleta de dados foi realizada selecionando o primeiro paciente de cada mês e após esta foi realizado um pulo de dois pacientes, sendo o quarto o próximo a ser analisado e assim consecutivamente. Isso se repetiu durante todo o período em que foi conduzida a pesquisa, constituindo uma amostra significativa de forma aleatória sem dar preferências, seguindo sempre os critérios de inclusão e exclusão pertinentes. Dentro dos prontuários foi analisada a presença de DM e sua associação com as DCV e o estado nutricional dos pacientes atendidos no ambulatório de nutrição do CIAMS. A amostra foi constituída de prontuários de pacientes do ambulatório de nutrição e para o cálculo do tamanho amostral foi utilizado um erro amostral de 5%, um intervalo de confiança de 95% e considerando que o percentual máximo de pacientes diabéticos seja de 5%, totalizaram-se 100 pacientes. Como critérios de inclusão na pesquisa foram utilizados pacientes com histórico de atendimento no ambulatório de nutrição nos últimos dois anos; idade maior que 18 anos e pacientes de ambos os sexos. Foram excluídos os pacientes que não residiam em Goiânia e prontuários com informações incompletas. Como instrumento de coleta de informações foi utilizado uma ficha para investigação de dados sociodemográficos, presença das doenças estudadas e avaliação do estado nutricional. As informações contidas na ficha englobaram nome, sexo, idade, presença de diabetes e doença cardiovascular, dados antropométricos (peso e altura) e diagnóstico nutricional. O peso e a altura registrados no prontuário foram realizados pelo departamento de enfermagem do CIAMS. Para tomar o peso dos pacientes foi utilizada uma balança de plataforma mecânica da marca Filizola e para altura foi utilizado um estadiômetro de marca Sanny. Estes equipamentos são vistoriados anualmente pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). Já para o diagnóstico nutricional foi considerado a avaliação do IMC, que tem sua classificação determinada pela OMS (1997), sendo que adultos com IMC menor que 18,5 kg/m 2 são considerados em risco nutricional, IMC entre 18,5 e 24,99 kg/m 2 na faixa de normalidade (eutrófico), IMC entre 25 e 29,99 kg/m 2 sobrepeso e IMC maior que 30 kg/m 2 obesidade. Já para os idosos, o IMC abaixo de 22 kg/m 2 considera-se risco nutricional, de 22 a 27 kg/m 2 adequado e maior que 27 kg/m 2 sobrepeso. Os dados foram arquivados em uma planilha Excel do programa Windows Vista, ano 2007 e analisados pelo programa SPSS 15.0 (Statistical Package Social Science). Para avaliar a normalidade das variáveis foi aplicado o teste Kolmogorov-Smirnov. As variáveis com distribuição normal foram apresentadas como média e desvio padrão. Para as variáveis categóricas foi utilizado o teste qui-quadrado (x 2 ), correção de Yates ou teste exato de Fisher. Para as variáveis continuas foi utilizado o teste t (Student) ou teste de Mann-Whitney. De acordo com os aspectos éticos a coleta de dados foi realizada após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa Médica Humana e Animal do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (UFG), sob o protocolo n 106/2011. Os pacientes investigados não foram identificados em nenhum momento, tendo preservada sua identidade conforme solicitação da Resolução 196/96. Por se tratar de coleta de dados em prontuários não houve necessidade da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) pelos pacientes. Resultados Foi avaliada uma amostra total de 100 pacientes, sendo que a média de idade e estado nutricional (IMC) foram de 50,59 (± 12,32) anos e 30,32 (± 5,74) kg/m 2, respectivamente. Dos pacientes analisados 38 (38%) possuíam diabetes mellitus, sendo a ocorrência maior nos pacientes adultos com maior prevalência na faixa etária de 50 59 anos (42,1%). A maior prevalência de DM ocorreu em pacientes do sexo feminino (71,1%). Analisando o estado nutricional, pode-se observar que a maioria dos pacientes diabéticos encontrava-se em sobrepeso 17 (44,7%) (Tabela 1). A idade é um fator que contribui para a manifestação do DM, pois com o aumento da idade há uma tendência dos casos aumentarem, ou seja, a partir dos 50 anos de idade maior serão as chances do paciente de desenvolver diabetes e este risco aumenta com o passar dos anos, tornando-se decisivo para a doença (p = 0,019). Em relação ao sexo não houve resultado significativo (Tabela 1). Em relação à Tabela 1, o estado nutricional dos pacientes também influenciou no aparecimento de DM, ou seja, pacientes com obesidade grau II apresentam maiores chances de desenvolver DM (p = 0,02). O aumento do peso aumenta as chances da pessoa desenvolver a doença. Segundo este estudo, as DCV não contribuíram de forma significativa para o desenvolvimento do diabetes (p= 0,517). Com relação às DCV, pode-se observar que da amostra total dos pacientes, 73 (73%) apresentaram a doença e destes 78,9% tem o diabetes associado. Dentre os tipos de DCV a que teve maior proporção significativa foi a Silva TR, Zanuzzi J, Silva CDM, Passos XS, Costa BMF. 267

Tabela 1. Distribuição dos pacientes em cada fator e de acordo com a ocorrência de DM Fator DM Sim Não p x 2 N % N % Idade 20 l 30 0 0,0 7 11,3 30 l 40 3 7,9 9 14,5 40 l 50 8 21,1 17 27,4 0,019* 50 l 60 16 42,1 16 25,8 60 11 28,9 13 21,0 Sexo Feminino 27 71,1 47 75,8 Masculino 11 28,9 15 24,2 0,599** 0,27 Total 38 71,1 47 75,8 Estado nutricional Eutrófico 6 15,8 12 19,4 Sobrepeso 17 44,7 34 54,8 Obesidade I 4 10,5 12 19,4 0,10* Obesidade II 6 15,8 1 1,6 Obesidade III 5 13,2 3 4,8 DCV Sim 30 78,9 44 71,0 Não 8 21,1 18 29,0 0,517** 0,44 Tipo DCV Não tem 8 21,1 19 30,6 HAS 15 39,5 10 16,1 Dislipidemia mista 6 15,8 10 16,1 Hipercolesterolemia 0 0,0 7 11,3 Hipertrigliceridemia 3 7,9 7 11,3 0,54** 0,38 Dislipidemia mista + HAS 5 13,2 4 6,5 Hipercoleterolemia + HAS 1 2,6 2 3,2 Hipertrigliceridemia + HAS 0 0,0 2 3,2 Arritmia + HAS 0 0,0 1 1,6 Total 38 38,0 62 62,0 * Teste Mann-Whitney; ** Teste qui-quadrado/correção de yates/teste exato de fisher Tabela 2. Média e desvio padrão (DP) para idade, peso e IMC dos pacientes com DM DM Sim Não Média ±DP Média ±DP p* Idade 55,08 ± 10,55 47,84 ± 12,60 <0,01 Peso 82,53 ± 17,15 74,94 ± 16,91 0,03 IMC 32,14 ± 6,75 29,20 ± 4,72 0,02 * Teste t de Student Tabela 3. Média e desvio padrão (DP) para idade, peso e IMC dos pacientes com DCV DCV Sim Não Média ±DP Média DP p* Idade 52,45 ± 12,02 45,31 ±11,84 0,01 Peso 77,41 ± 17,60 79,01 ±16,73 0,69 IMC 30,27 ± 5,73 30,46 ± 5,84 0,89 * Teste t de Student hipertensão arterial sistêmica (HAS) atingindo 25 pacientes e com ocorrência de 39,5% nos pacientes diabéticos. Em pacientes diabéticos a idade, o peso e o IMC influenciaram a manifestação da doença (p< 0,01, p= 0,03, p= 0,02, respectivamente). Quanto maiores estes fatores maiores serão as chances de manifestação de DM (Tabela 2). Já em relação às DCV, apenas a idade (p= 0,01) influenciou a manifestação, mostrando que com o aumento da idade aumenta também a prevalência de DCV (Tabela 3). Em relação às DCV, a maioria dos pacientes não apre- 268 Prevalência de doenças cardiovasculares e diabetes melittus

sentava nenhum tipo, porém a de maior prevalência foi a HAS e a de menor prevalência foi a arritmia associada à HAS (Tabela 4). Tabela 4. Prevalência de doença cardiovascular por cada tipo Doença cardiovascular N % Não tem 27 27,0 HAS 25 25,0 Dislipidemia mista 16 16,0 Hipercolesterolemia 7 7,0 Hipertrigliceridemia 10 10,0 Dislipidemia mista + HAS 9 9,0 Hipercolesterolemia + HAS 3 3,0 Hipertrigliceridemia + HAS 2 2,0 Arritmia + HAS 1 1,0 Total 100 100,0 Discussão No presente estudo houve uma maior prevalência de pacientes diabéticos do sexo feminino, o que pode ser observado pela maior procura por parte das mulheres pelos serviços de saúde e isso foi também verificado por outros autores 9-10. Observou-se também uma alta prevalência de HAS (25%), superior ao encontrado na população americana e em estudos epidemiológicos brasileiros 11. As comorbidades associadas de maior prevalência no grupo de pacientes estudados foram o sobrepeso e a obesidade, o que tem se tornado um importante problema de saúde pública, pois o Brasil está passando por uma transição nutricional. Dentre os fatores que favorecem esse excesso de peso pode-se observar uma ingesta de maior quantidade de alimentos gordurosos e carboidratos de absorção rápida 10. Estudos internacionais têm demonstrado o aumento crescente do diabetes, principalmente em países em desenvolvimento, com estimativa de concentração nas faixas etárias a partir dos 45 anos. Neste estudo a prevalência de DM aumentou com o aumento da idade 12. Ortiz e Zanetti 13 (2001) consideraram que o diabetes é característico na idade adulta, sendo que, sua incidência é progressivamente maior com o processo de envelhecimento, por isso programas de educação e saúde nas instituições públicas e privadas devem ser promovidos a fim de detectar precocemente a doença 13. A prevalência do diabetes mellitus associou-se ao excesso de peso neste estudo, visto que a maior proporção de pacientes com a doença é classificada como sobrepeso (44,7%). Na pesquisa de Ferreira et al. 9 (2009), o risco de diabetes aumentou com o avanço da idade e foi incrementado pelo excesso de peso, já que esses fatores tendem a estar associados e serem de alta prevalência entre adultos e idosos brasileiros 9. A presença de hipertensão arterial, sobrepeso e DCV entre os diabéticos deste estudo pode caracterizar um quadro de síndrome metabólica (SM) descrito na literatura, mostrando que esses indivíduos apresentam condições de alto risco para o desenvolvimento de DCV 12. Com o aumento da idade a prevalência das DCV eleva o risco atribuível a determinado fator de risco, e o número de eventos que se devem a ele aumenta mais que nos jovens. É importante ressaltar que nenhum desses fatores de risco superam o envelhecimento como principal fator predisponente às DCV 14. É importante ressaltar que o estudo realizado apresentou algumas limitações na coleta de dados, em decorrência dos dados serem preexistentes, registrados em sistemas de informações do SUS, que não dependem da possibilidade de controle por parte dos pesquisadores. Outra limitação foi a qualidade das informações contidas no cadastro, como: preenchimento inadequado, identificação de duplicidade de dados e falta de confiabilidade nos técnicos que preenchem os prontuários. Conclusão A prevalência de DCV associada ao DM foi de 78,9%, sendo a prevalência de DM de 38% e de DCV de 73% e em relação ao estado nutricional 44,7% dos pacientes diabéticos apresentaram sobrepeso. Tornase, portanto, importante o desenvolvimento de ações assistenciais e educacionais contínuas para o cuidado com saúde de adultos e idosos para um envelhecimento saudável. Referências 1. Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Diabetes mellitus. 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