A INCIDÊNCIA DE DENGUE ASSOCIADA A FATORES SOCIOECONÔMICOS NO MUNICÍPIO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ

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Transcrição:

A INCIDÊNCIA DE DENGUE ASSOCIADA A FATORES SOCIOECONÔMICOS NO MUNICÍPIO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ Gabriela Arêdes Lima 1, Bianca Rocha Araújo 1, Mateus Vargas Peres 1, Thais Helena Avemedio 1, Rafael Guerra 1, Anderson Ribeiro 2, Adriano Rodrigues de Paula 2, César Ronald Pereira 1, Richard Ian Samuels 2 1 Faculdade de Medicina de Campos, Av. Alberto Torres, nº 217, Centro, Campos dos Goytacazes, RJ, 2 Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) biodepaula@yahoo.com.br Resumo - A dengue é considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) uma arbovirose de maior relevância no mundo. O agente etiológico da doença é um vírus do gênero Flavivírus, pertencente à família Flaviridae e é classificado em quatro sorotipos (DENV 1-4). O mosquito vetor, Aedes aegypti, apresenta-se em grande parte do território nacional e isso se deve à urbanização acelerada, sem planejamento, característica dos centros urbanos de países em desenvolvimento. Sem vacina contra a dengue, o controle da população de A. aegypti torna-se importante. Levantamentos de incidência de dengue também podem direcionar os programas de controle do vetor para locais com maiores casos suspeitos e confirmados. O presente trabalho realizou um levantamento de incidência da doença dengue em 6 bairros de Campos dos Goytacazes, Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Observou que os bairros com melhor infraestrutura e população com melhor renda a incidência de dengue foi significativamente baixa, comparado com bairros de periferia. Palavras-chave: Dengue. Fatores socioeconômicos. Vigilância epidemiológica. Área do conhecimento: Ciências Biológicas. Introdução O mosquito Aedes aegypti é o principal vetor das doenças dengue, zika e chikungunya. Entretanto, a maior incidência dessas doenças concentra-se na dengue. Em 2012, a dengue foi classificada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como a arbovirose de maior relevância do mundo. Cerca de 2,5 a 3 bilhões de pessoas vivem em países expostos ao vírus da dengue e a incidência anual é em torno de 59 milhões de casos (COSTA, 2014). A incidência da doença tem aumentado principalmente em áreas urbanas e periurbanas, centralizando-os em países tropicais e subtropicais, visto que o desenvolvimento e a proliferação do vetor dependem diretamente das condições ambientais e socioeconômicas (BARBOSA et al, 2012; COSTA, 2014). A expansão da dengue apresenta como uma das causas à urbanização acelerada, sem planejamento. Outros fatores que influenciam no desenvolvimento da doença são as migrações, viagens aéreas, deterioração dos sistemas de saúde, inexistência de vacina, grande fluxo populacional entre localidades e altos índices pluviométricos e de infestação pelo vetor (BARBOSA et al., 2012). No Brasil, o mosquito A. aegypti, encontra-se disseminado por praticamente todo o território nacional (BARRETO e TEIXEIRA, 2008). O agente etiológico é um arbovírus do gênero Flavivírus, pertencente à família Flaviridae e é classificado em quatro sorotipos DENV 1-4 (BARBOSA et al, 2012). Em relação à imunidade, essa é permanente para um mesmo sorotipo e a suscetibilidade ao vírus da dengue é universal (COSTA, 2014). A respeito das manifestações clínicas, a dengue é uma doença febril aguda que causa sintomas de amplo espectro clínico, incluindo desde formas oligossintomáticas até quadros graves, podendo evoluir para o óbito (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013; COSTA, 2014). A dengue, no século XXI, foi caracterizada como uma epidemia reemergente (BARBOSA et al, 2012), a distribuição geográfica da dengue tem sido considerada desigual e dependente de fatores socioeconômicos, a análise da distribuição espacial da doença permite um direcionamento mais adequado a respeito da vigilância epidemiológica (DE ARAÚJO et al., 2008). Diante disso, o trabalho avaliou a associação entre a incidência da dengue e os fatores socioeconômicos em 6 bairros da cidade de Campos dos Goytacazes-RJ. 1

Metodologia Foi realizado um estudo epidemiológico utilizando dados registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) da Secretaria Municipal de Vigilância Epidemiológica de Campos dos Goytacazes, Estado do Rio de Janeiro, Brasil, a respeito dos casos suspeitos e confirmados de dengue registrados no Centro de Referência da Dengue (CRD) dessa cidade, no período de janeiro à dezembro de 2015. Os dados foram coletados pelos acadêmicos participantes da pesquisa. Foram realizadas 20 visitas ao local para o levantamento de dados consultando documentos, prontuários sem identificação dos pacientes. Em cada uma das visitas, os dados foram registrados em planilhas e ao final da coleta eles foram reunidos e digitados em banco de dados do Excel 2013. No total, 6 bairros de Campos dos Goytacazes foram selecionados para o levantamento da incidência de dengue na população residente. Os bairros foram estratificados de acordo com as condições de infraestrutura, saneamento e habitação (casa de alvenaria, cortiços, apartamentos, favelas) obtidos por informações de imobiliárias. Esses bairros foram divididos em 3 estratos cada um com dois bairros de parâmetros socioeconômicos semelhantes. Resultados No total 831 casos de dengue foram registrados nos 6 bairros estudados de Campos dos Goytacazes. Sendo 611 suspeitos e 220 casos de dengue confirmados. Os bairros com parâmetros socioeconômicos semelhantes foram agrupados em 3 estratos. A Figura 1 mostra que o estrato 1 foi formado pelos bairros Flamboyant e Pelinca nos quais os residentes apresentavam melhores níveis de renda, melhores condições básicas de infraestrutura e saneamento, habitações mais sofisticadas e mínimo percentual de ocupações irregulares. O bairro Flamboyant teve 7 casos suspeitos e 6 casos confirmados de dengue. O bairro Pelinca apresentou 10 casos suspeitos e 2 casos confirmados de dengue. O estrato 2 foi formado pelos bairros São Caetano e São Benedito, cujos moradores apresentavam valores de renda intermediários, condições medianas de infraestrutura e saneamento, habitações do tipo casas simples até as mais sofisticadas e pequena proporção de submoradias. O bairro São Caetano teve 45 casos suspeitos e 8 casos confirmados de dengue. O bairro São Benedito apresentou 73 casos suspeitos e 23 casos confirmados de dengue. O estrato 3 foi formado pelos bairros Tapera e Santa Rosa, nos quais os residentes apresentavam piores níveis de renda, condições inadequadas e insuficientes de infraestrutura de serviços de saneamento, grande número de habitações localizadas em áreas de risco e aglomerados periféricos subnormais. O bairro Tapera teve 298 casos suspeitos e 152 casos confirmados de dengue. O bairro Santa Rosa apresentou 178 casos suspeitos e 29 casos confirmados de dengue. 2

Figura 1 Incidência de casos de dengue em 6 bairros de Campos dos Goytacazes RJ no ano de 2015. Discussão Dengue, transmitida pelo mosquito A. aegypti, é uma doença virótica febril e aguda que se sobressai como a mais importante arbovirose a afetar o homem, constituindo sério problema de saúde pública em todo o mundo (MINISTÉRIO DA SAÚDE 2016). Esta situação se agrava em países tropicais, onde as condições do ambiente, associadas à ineficácia das políticas públicas de saúde favorecem o desenvolvimento e a proliferação de A. aegypti. Esse mosquito também é vetor das doenças zika, chikungunya e febre amarela. Somente existe vacina contra febre amarela. O controle da população de A. aegypti é importante para evitar aumento da incidência dessas doenças. As incidências das epidemias de doenças estão crescendo devido ao aumento desordenado da população humana, uso de recipientes não biodegradáveis, coletas de lixo deficientes e saneamento básico inadequado, fatores que propiciam a criação do mosquito vetor (TAUIL, 2002; WHO 2008). Métodos convencionais para controlar o mosquito A. aegypti consistem na vigilância epidemiológica, aplicações contínuas de larvicidas químicos ou biológicos e pulverização de inseticidas. Existem várias formas de aplicação dos inseticidas. Os larvicidas podem ser aplicados em água, os adulticidas podem ser aplicados pelo método residual ou aspersão. Em escala maior, recomenda-se o método residual com aplicações de inseticidas nas paredes internas e externas das moradias humanas e nos abrigos de animais domésticos, ambientes considerados como locais de repouso dos mosquitos. Os inseticidas sintéticos ainda são intensivamente empregados no controle de vetores, entretanto, apresentam alto risco à saúde humana, outros animais e ao ambiente (ROSE, 2001; ZAIM, 2002), além de propiciar o desenvolvimento da população de insetos resistentes (MONTELLA et al., 2007). Os mosquitos também desenvolveram resistência aos inseticidas biológicos amplamente empregados como Bacillus thuringiensis (TILQUIN, et al., 2008). Talvez isso explique o porquê as medidas de controle até agora não conseguiram evitar graves epidemias de dengue. No Brasil a incidência de dengue em 2015 foi de 1.587.080 casos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2015) fato realmente preocupante. Estudos revelam que os fatores sociais da população humana têm grande impacto sobre a incidência de doenças vetoriadas principalmente por insetos. Pode-se dizer que, em relação a dengue, há uma complexa rede de ligação entre os fatores não-biológicos e essa doença (DE ARAÚJO et al., 2008). A epidemiologia da dengue está intimamente correlacionada a fatores socioeconômicos e espaciais. E a partir do conhecimento das áreas de maior incidência da doença podem-se formular ações prioritárias de contingência da doença como a orientação da população e o combate ao mosquito vetor (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013). Estudo realizado com o objetivo de analisar a qualidade técnico-científica da assistência aos pacientes que foram a óbito por dengue na rede pública, concluiu que o manejo clínico dos casos é 3

essencial para evitar a letalidade. Conceitua-se como caso suspeito de dengue todo paciente que apresente doença febril aguda, de duração que não exceda sete dias, associada à pelo menos dois dos sinais ou sintomas: dor retro-orbitaria, mialgia, artralgia, prostração, cefaleia ou exantema, relacionados ou não à presença de sangramentos ou hemorragias. Além disso, é importante observar se a história epidemiológica é positiva. Já o caso de dengue confirmado é considerado a partir do caso suspeito confirmado laboratorialmente (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013). Nesse sentido, no município de Campos dos Goytacazes-RJ, há o Centro de Referência da Dengue, o qual é referencial em diagnóstico e tratamento da dengue, sendo realizado nesse serviço o manejo clínico dos pacientes que procuram atendimento e a notificação dos casos. Esses são repassados para a Secretaria Municipal de Vigilância Epidemiológica e, posteriormente, os casos confirmados são registrados nos bancos de dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) (DE SOUZA, 2008a). O município de Campos dos Goytacazes é o maior do Estado do Rio de Janeiro em extensão territorial, sendo constituído por 14 distritos e 86 bairros. Segundo o Censo do IBGE (2010), o município tem 77,37% dos domicílios ligados à rede geral de abastecimento de água, o que faz os moradores optarem por outras formas de abastecimento, o que pode contribuir para a instalação de novos focos de A. aegypti (DE SOUZA, 2008b). Esse território do norte fluminense é de grande extensão territorial e apresenta heterogeneidade das populações, ocupação habitacional sem planejamento - principalmente em bairros periféricos - e diferentes condições de infraestrutura urbana tais como saneamento básico e coleta de lixo. Tais fatores influenciam na proliferação do vetor da dengue e de seu agente etiológico nessa cidade (DE SOUZA, 2008b). Tendo em vista que a pesquisa realizada no município de Campos dos Goytacazes RJ, mostrou que a incidência da dengue é diferente nos 3 estratos estudados, verificou-se que os bairros que compõem o estrato 3 Tapera e Santa Rosa (mais humildes), com estrutura sanitária deficiente e baixa condição socioeconômica foram os que apresentam os maiores índices de casos de dengue. Já os bairros do extrato 1, com melhor condição de infraestrutura e com população de bom nível socioeconômico foram os que tiveram os menores valores de casos da dengue. Diante dessa análise, é essencial conhecer o perfil da doença em cada região e quais são os fatores preponderantes para a manutenção dos altos índices de incidência da doença em determinada localidade, para que um planejamento estratégico mais específico de medidas de controle da doença seja realizado em tempo hábil no intuito de se evitar a doença na região e até possíveis óbitos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013). A partir disso, torna-se possível organizar os serviços de saúde na esfera da vigilância epidemiológica, controle do vetor e na assistência médica, visando o aprimoramento de medidas eficazes de prevenção e controle da doença e de suporte adequado aos pacientes, com objetivo de reduzir a morbidade e mortalidade (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013). Conclusão Neste estudo, observou-se que a incidência da dengue no município de Campos dos Goytacazes- RJ está intimamente relacionada à fatores socioeconômicos. Os bairros com piores condições de infraestrutura, saneamento e habitação apresentaram os maiores índices de casos suspeitos e confirmados da doença. Essa avaliação permite orientar o planejamento estratégico de ações públicas de saúde para conter a propagação da dengue e reduzir a morbi-mortalidade da doença. Referências BARBOSA, I.R. Epidemiologia da dengue no Estado do Rio Grande do Norte, Brasil, 2000 a 2009. Epidemiol. Serv. Saúde, V.21, n.1, p.149-157, 2012. Disponível em: <http://scielo.iec.pa.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s1679-49742012000100015>. Acessado em: 20 abr. 2016. 4

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