A GESTÃO SOCIAL E O DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL RURAL NO BRASIL: A EXPERIÊNCIA DO TERRITÓRIO DO AGRESTE DE ALAGOAS

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Transcrição:

A GESTÃO SOCIAL E O DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL RURAL NO BRASIL: A EXPERIÊNCIA DO TERRITÓRIO DO AGRESTE DE ALAGOAS Fernanda Viana de Alcantara Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB falcantara17@hotmail.com Diana Mendonça de Carvalho Universidade Federal de Sergipe-UFS - dianamendoncadecarvalho@yahoo.com.br Vanessa Costa dos Santos Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB 1Introdução O Brasil ainda vivencia dificuldades estruturais em superar as notáveis desigualdades sociais, o Nordeste em particular, ainda nos dias atuais tem como desafio o enfrentamento de problemas que dizem respeito à efetiva distribuição de renda, da valorização do local; e o que parece mais complicado, a ausência de iniciativas para o levantamento das possibilidades de criar alternativas de superação dessas dificuldades.isso em função de operar mudanças, visando superar o persistente atraso econômico, compreendendo a ausência ou a má elaboração e execução das políticas públicas, características muito presentes na região que também recebeu o rótulo do fracasso, atribuído à população nordestina e, em especial, ao pequeno agricultor que se encontra em áreas rurais, entendidas também por muito tempo como áreas de atraso econômico e social. Em decorrência de todo esse contexto somado com as recentes alterações processadas no espaço rural, o objetivo do trabalho em tela foi analisar as experiências, disponíveis para a investigação científica. E nesta direção se desenvolveu toda a investigação, na tentativa de compreender esse processo, seus pilares e os elementos nele envolvidos. E ainda, buscou-se traçar uma discussão acreditando que este processo de alteração do espaço rural se concretiza de diferentes maneiras ou singularidades no território brasileiro. Foi realizada uma análise do processo recente de intervenções estatais no espaço rural por meio de políticas públicas de desenvolvimento territorial.

A investigação também avança nesta discussão ao inserir a análise da gestão social como um desafio, processo de mediação capaz de movimentar e orientar as políticas. No que se refere aos aspectos metodológicos do desenvolvimento da pesquisa, realizou-se uma leitura da realidade para compreensão e avaliação das ações voltadas para o desenvolvimento territorial, implementadas nas áreas rurais, também se delimitou a área abordada pela pesquisa que compreende os municípios do Agreste de Alagoas que compõem o Território Rural do Agreste de Alagoas levando em consideração as ações dos últimos oito anos (2002-2010).Foi realizado o levantamento de documentos e informações básicas. Além do reconhecimento dos aspectos socioeconômicos da área de estudo, por meio da pesquisa teórica e de levantamento bibliográfico. Também foram realizadas entrevistas com lideranças, responsáveis por entidades ou órgãos que possuíam relevante conhecimento empírico da temática em questão e da área de estudo. A pesquisa de campo foi desenvolvida por meio de visita a órgãos públicos; Prefeituras Municipais, bem como de outras instituições vinculadas à questão do desenvolvimento territorial, onde se realizaram entrevistas ou diálogos que auxiliaram na obtenção de informações, dados estatísticos e documentos necessários para a análise e satisfação dos objetivos propostos. 2 Desenvolvimento Territorial Rural O território pode ser definido como uma unidade espacial determinada, bem como, por uma realidade de investigação científica sob a condição de unidade espacial de estudo.a Geografia, enquanto área do conhecimento que interpreta e analisa a vida em sociedade e suas relações com o espaço, oferece as ferramentas necessárias para a compreensão da relação de dominação e apropriação da natureza pelo homem. Neste sentido a relação homem versus meio, merece relevante atenção, sendo entendida como um processo de mediação de interesses e conflitos, entre os diferentes sujeitos sociais. Este processo define e redefine, continuamente, o modo como a sociedade subordinada ao capital, através de suas práticas, altera o meio em que vive e também como se distribuem, na sociedade, os custos e os benefícios decorrentes das

suas ações. Daí a necessidade de se repensar a relação sociedade versus natureza como um processo social e histórico, sendo possível estabelecer suas correlações com a desigualdade, que comporta dificuldades novas, outras antigas e recorrentes. Reforça-se a importância da ciência geográfica, enquanto área do conhecimento que investiga a relação estabelecida entre natureza e homem. Visto que, o homem apresenta características sociais, técnicas, culturais e históricas, que lhe possibilitam fazer uso do recurso natural e econômico disponível em um lugar. O entendimento desta relação, que inclui aspectos diversos da sociedade, nos remete a questionar a ligação existente entre o espaço e o território, visto que frequentemente, a linguagem cotidiana confunde o espaço com o território, Raffestin afirma que: É essencial compreender bem que o espaço é anterior ao território. O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível. Ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente (por exemplo, pela representação), o ator territorializa o espaço. (RAFFESTIN, 1993, p.143) As concepções sobre espaço e território podem se confundir no uso indiscriminado dos termos, mas é preciso ter claramente definidos, para que a utilização destes conceitos seja correta, em especial neste momento em que os conceitos vão sendo apropriados por diferentes áreas e para diversos objetivos. A partir das diferentes maneiras de leitura e interpretação do conceito de território, poderíamos construir uma trajetória e fazer a analise em que se observa a existência de duas discussões que tradicionalmente se apresentam em condições opostas. De um lado, o território é visto num sentido físico, e do outro, que está inseparavelmente ligado ao próprio homem, como uma continuidade do ser e, nesta perspectiva, o homem estaria vinculado a terra e daí a necessidade de conquista de territórios para a garantia de sua sobrevivência. Não obstante, a concepção de território pressupõe a apropriação de determinada porção do espaço geográfico por um dado grupo social que tem por objetivo atribuir a esse espaço suas características através da fixação de fronteiras,

estabelecida por relação de poder, se materializando na forma física de limite. Há também a construção de sua identidade cultural por meio de relações sociais e políticas, além de sua relação com a natureza, através do trabalho social ao transformá-la diferencialmente de acordo com suas necessidades e interesses, produzindo formas espaciais diferenciadas. Assim é inegável a importância do território como categoria de análise da Geografia, conforme enfatiza Fernandes (2008): O território é uma das categorias de análise da Geografia e recentemente tornou-se um conceito muito utilizado por diversas ciências que se ocupam dos processos de produção do espaço. Essa diversidade promoveu compreensões e significações imputadas ao conceito de território de acordo com as intencionalidades dos sujeitos. (FERNANDES, 2008, p.198) As relações construídas em uma comunidade e/ou grupo social se vinculam a um território, pois a definição geográfica do mesmo implica na existência de um enraizamento dessa comunidade a um espaço para que a mesma possa firmar sua identidade sociocultural visível, numa perspectiva de inter-relação dos atributos naturais com os socialmente construídos nesse espaço. Neste sentido o território é um espaço utilizado, vivido, um campo de ação sócio-política que reflete as feições da sociedade nele inserida. Não se trata somente de um espaço específico de relações de poder ou para que estratégias militares sejam planejadas e executadas. O uso do território vai além, quando estratégias de desenvolvimento sócio espacial, capazes de contribuir para o progresso social em seus diferentes aspectos, são a ele aplicadas e produzem resultados positivos. Nesta linha de pensamento, Souza (1995) afirma que:... O uso e o controle do território, da mesma maneira que a repartição real de poder devem ser elevados a um plano de grande relevância também quando da formulação de estratégias de desenvolvimento sócio espacial em sentido amplo, não meramente econômicocapitalístico, isto é, que contribuam para uma maior justiça social e não se limitem a clamar por crescimento econômico e modernização tecnológica. (p.100-1).

Para Silva & Silva (2003), a discussão das atuais tendências sobre a questão território e desenvolvimento constituem-se num ponto muito importante para a valorização da organização social em suas escalas locais e regionais. Sem deixar de lado a questão ambiental, assim há uma relação territorialidade-desenvolvimento. Um aspecto relevante da discussão sobre território é que se segundo Saquet (2010) nos anos 1970, o conceito já se torna essencial para a reflexão de questões relacionadas ao planejamento e às diferentes visões do desenvolvimento, visto que o mesmo já está inserido nas abordagens que dizem respeito ao sentido geopolítico e/ou econômico do espaço. Aspecto que atrela elementos como poder, soberania e construção ao conceito. Segundo Saquet (2010): Na relação entre soberania e território, há pessoas e atividades. Por isso, o conceito de território não pode ser classificado como físico oufenômeno inanimado, mas como uma área onde há um elemento de centralidade, que pode ser uma autoridade exercendo soberania sobre pessoas ou sobre o uso de um lugar. Direito, política e jurisdição são atributos específicos dos homens e estão presentes na constituição do território que significa, sucintamente, uma expressão geográfica da dominação social em certa área. (SAQUET, 2010, p 68). A partir da compreensão do território como espaço de relações de poder, sociais e logo ganhando o sentido de movimento, é possível perceber a entraves que justifiquem a expansão do que podemos chamar de abordagem territorial. De acordo com algumas considerações de Raffestin (1993) ocorre à consolidação de fatores físicos, humanos, econômicos, políticos e socais, e o mesmo aponta a multiplicidade de autores no território. Com esse entendimento ampliam as abordagens que consideram as ações sobre o território com vista ao seu desenvolvimento, emergindo dai a discussão sobre o espaço vivido, o sentimento de pertencimento e de identidade que por sua vez estará direcionando para o debate do desenvolvimento territorial. O debate acerca do desenvolvimento territorial inevitavelmente sugere a retomada de outros debates, como o planejamento e em particular o desenvolvimento. Uma vez que, no Brasil ganha expressão em um contexto de crise econômica e reformas neoliberais que marcaram o início da década de 1990. E recebe maior atenção na última

década, quando se abre uma lacuna para a proposição de experiências no sentido de valorizar as diversidades econômicas, sociais e políticas existentes; o que passa a ser definido como multidimensionalidades dentro da perspectiva do desenvolvimento. 3 A Experiência do Território do Agreste de Alagoas A literatura relacionada à questão do desenvolvimento territorial rural no Brasil tomou diversificada dimensão na atualidade, muitas vezes complexa, na medida em que são várias as temáticas envolvidas e os estudos de casos com suas particularidades provocam questões infelizmente não respondidas relacionadas à gestão e as dinâmicas vivenciadas em cada território. Construiu-se um logo caminho nos últimos dez anos na perspectiva da valorização do rural, com o intuito de criar vínculos entre as demandas do espaço rural e urbano tendo em vista a intenção de reduzir as desigualdades sociais no meio rural brasileiro. Neste conjunto ganhou lugar a proposição dos objetivos que visam gerar o desenvolvimento econômico e universalizar programas básicos de cidadania por meio de uma estratégia de desenvolvimento territorial sustentável,envolvendo a participação social e a integração das ações entre união, estados e municípios. São múltiplas as implicações que se observa nesta trajetória, de acordo com Favareto (2009, p. 64) trata-se de uma inovação, para ele importante e parcial. E explica que tal importância é caracterizada por considerar e apresentar um Brasil rural mais real. Relativo ao parcial aponta o elemento que justifica a reprodução de uma dicotomia entre a aceleração da economia para as áreas dinâmicas e a ampliação da cidadania para as áreas mais pobres e que integram o Brasil atrasado. Quanto à inovação, há de fato ação inovadora, mas não motivada pelo pensamento inovador, entretanto pelo óbvio e necessário como Favareto (2009) mostra, pois a lógica pensada para o Programa Territórios da Cidadania, por exemplo, de reunir ministérios e ações, reduz os esforços isolados de cada um deles, e assim possibilita mais objetividade, foco e eficiência das ações. De maneira simples, é possível afirmar que é mais fácil unir a força e trabalhar em uma direção do que, ao contrário, dividi-la

em muitas direções, ou algumas vezes até na mesma direção com estratégias diferentes e metas não definidas. Esse quadro revela que esta política pública envolve um variado quadro de atores sociais, demandas territoriais e principalmente o desafio de efetivação dessas ações sobre o território. São aspectos como o caráter descentralizado dessas ações, a tomada de decisão a partir do empoderamento dos atores e a governança que contribuem para essa efetivação, porém, internalizada por contradições, desafios e impasses. De fato, neste contexto destaca-se de acordo Sabourin (2007, p. 730), que a descentralização não se realiza por decreto,o autor acrescenta que o Estado e seus serviços estão muito ligados a uma estrutura de decisão vertical ao invés de horizontal. Conforme os registros da experiência do Território do Agreste de Alagoas, um dos desafios é a gestão social dos territórios e empecilhos, como uma nova institucionalidade ainda a ser construída de forma efetiva. Desta forma, é interessante refletir acerca dos aspectos determinantes da gestão social, que se materializa na institucionalidade dos colegiados territoriais. Na perspectiva dos avanços, considera-se a tentativa de encarar esse processo como de transformação social, onde se pode articular o produtivo e o social e confiar em composições institucionais, ou como paradigma organizacional, como a figura dos colegiados territoriais. Nas palavras de Dowbor: As tendências recentes da gestão social nos obrigam a repensar formas de organização social, a redefinir a relação entre a política, o econômico e o social, a desenvolver pesquisas cruzando as diversas disciplinas, a escutar de forma sistemática os atores estatais, empresariais e comunitárias. Trata-se hoje, realmente, de um universo em construção. (DOWBOR, 2001, p. 218). Internalizando a questão da gestão dos territórios rurais, o problema central não seria apenas a constituição em si mesma. Mas, principalmente, a funcionalidade dos arranjos construídos, planejamento, deliberação, execução, monitoramento e avaliação das ações territoriais.

Como retrato, o Agreste de Alagoas, embora exista uma constituição abrangente, verifica se que os atores sociais mais ativos do Territorio no Colegiado totalizaram um número de doze pessoas, todos eles são representantes dentro do conjunto das setenta entidades que compõem o Colegiado. Estes atores agem no arranjo por alguns anos e possuem uma concepção bem definida do que seja gestão social do território e de fato representam pouco mais de 15% do universo e são considerados como os mais antigos, ou seja, com maior período de atuação, e que acumulam experiências no campo político e institucional. Assim, para discutir de maneira mais específica a gestão na atual conjuntura do território nos últimos anos, realizaram-se inquéritos, diálogos e entrevistas com esses membros, e desta maneira foi possível verificar que há contradições, e de certa foram contrassensos, face à natureza estratégica do colegiado enquanto instância de deliberação das demandas pautadas e do papel de alguns atores sociais no processo interno. Por meio da relação estabelecida entre teoria e prática via trabalho de campo, visitas às comunidades e instituições que participaram de forma direta ou indireta no processo de constituição da política de desenvolvimento territorial, bem como da realização de entrevistas com diversos atores sociais, a aplicação de questionários por amostragem aleatória; as impressões e resultados desta pesquisa revelaram que os pilares da referida política estão em processo de construção e sem as bases da governança e da participaçao de sustentação os avanços até aqui conquistados podem ser paralisados. O que representaria um retrocesso em toda a trajetória construída. 4 Resultados De fato os resultados indicam que a intervenção no espaço rural não representa uma transformação imediata. Embora os dados revelem alterações como, redução dos índices de pobreza no espaço rural brasileiro nos últimos dez anos, tem-se consciência de que a política, a qual se refere, é de longo prazo. Nessa abordagem, entende-se que as ações e propostas em execução, denominadas de intervenção no espaço rural, configuram-se como um processo.

Portanto, o estudo não apresenta a política de desenvolvimento territorial no espaço rural como uma mudança eficaz e instantânea. É evidente, que neste cerne está presente e exerce influência o aspecto da diversidade, característica marcante o território brasileiro, daí o entendimento de que esta diversidade é uma determinante direta na diferenciação de como tal processo se materializa no território. Tal compreensão se fez com base nas leituras dos diversos estudos realizados por pesquisadores nas diversas partes do país, do diálogo estabelecido nos eventos científicos e de forma mais empírica no acompanhamento das experiências desenvolvidas no Território do Agreste de Alagoas. Toda a análise indica que há um processo em aberto, que se esbarra na dificuldade de gerar o capital social, fortalecer as representações de base territorial, promover a governança e assegurar a gestão social. 5 Referencias ABRAMOVAY, Ricardo. O capital social dos territórios: repensando o desenvolvimento rural. Vol. 4 nº 2, abril / junho 2000. Economia Aplicada.. Paradigmas do Capitalismo Agrário Em Questão. Hucitec, USP- São Paulo, 1993. ARAÚJO, Tânia Bacelar. Ensaios sobre o desenvolvimento brasileiro: heranças e urgências. Rio de Janeiro: REVAN/FASE, 2000. BAQUERO, Marcelo. Construindo uma outra sociedade: O capital social na estruturação de uma cultura política participativa no Brasil.Rev. Sociol. Pólit., Curitiba, 21, p. 83-108, nov. 2003. BAQUERO, M.& PRÁ J. R. 1995. Matriz histórico-estrutural da cultura política no Rio Grande do Sul e padrões de participação política. Cadernos de Ciência Política. Série pré-edições. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, N.3 BRANDÃO, Carlos Antônio. O Processo de Subdesenvolvimento, As Desigualdades Espaciais e o Jogo das Escalas. In: Superintendências de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia. Desigualdades Regionais. Salvador: SEI, 2004. CORREA, Roberto Lobato. Região e Organização Espacial. São Paulo: Ática, 1986.

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