AÇÃO INTERDISCIPLINAR PARA A EMANCIPAÇÃO SOCIAL DE COMUNIDADES VULNERÁVEIS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA (2012) 1



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Transcrição:

AÇÃO INTERDISCIPLINAR PARA A EMANCIPAÇÃO SOCIAL DE COMUNIDADES VULNERÁVEIS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA (2012) 1 DALCIN, Camila Biazus 2 ; GUERRA, Leonardo Rigo 3 ; VOGEL, Gustavo Micheli 4 ; BACKES, Dirce Stein 5. 1 Trabalho de pesquisa UNIFRA intitulado: Promoção do viver saudável de crianças e adolescentes em uma comunidade vulnerável na perspectiva do empreendedorismo social. Projeto de pesquisa financiado pelo edital FAPERGS 02/2011 - Programa Pesquisador Gaúcho PQG. 2 Acadêmica de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Bolsista CNPq. Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisa em Empreendedorismo Social da Enfermagem e Saúde (GEPESES).. 3 Acadêmico do curso de graduação em Enfermagem do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Bolsista PIBIC/CNPq do edital nº 10/2012. Integrante do GEPESES 4 Acadêmico do curso de graduação em Enfermagem do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). 5 Doutora em Enfermagem Docente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Administração de Enfermagem e Saúde do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina (GEPADES) e Líder do GEPESES. E-mail: camilabiazus@hotmail.com RESUMO O estudo tem por objetivo relatar a experiência da percepção de acadêmicos do curso de graduação em enfermagem frente à uma ação social realizada com famílias em uma comunidade vulnerável. Trata-se de um relato de experiência sobre uma ação interdisciplianar que ocorreu no município de Santa Maria, RS, em uma comunidade socialmente vulnerável. A ação ocorreu em 23 de junho de 2012, com a participação de 6 cursos da saúde e 4 cursos das ciências humana do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Na visão dos acadêmicos de enfermagem, a ação foi benéfica para a comunidade e também para os mesmos, oportunizando a possibilidade de interdisciplinaridade entre os cursos de graduação. Foi possível perceber a importancia da enfermagem com prática social empreededora. Conclui-se que o enfermeiro possui um forte papel articulador entre o saber científico e da comunidade, sendo agente indispensável na abordagem interdisciplinar e no emponderamento dos indivíduos. Palavras-chave: Empoderamento; Enfermagem; Vulnerabilidade social. 1. INTRODUÇÃO As demandas atuais de saúde estão exigindo dos profissionais muito mais do que apenas tratar os problemas de saúde. Há a necessidade de romper com o assistencialismo, mudar a mentalidade de práticas voltadas para as doenças apenas, ampliando o campo de visão. Perceber os fenômenos sociais como partícipes do processo saúde-doença é inovador. Tornar a população apta a pensar sobre o seu viver saudável é empreendedor. A enfermagem vem ampliando, a cada dia, o seu espaço na área da saúde, tanto no contexto nacional quanto no cenário internacional. O enfermeiro assume um papel cada vez mais decisivo e pró-ativo no que se refere à identificação das necessidades de cuidado da população, bem como na promoção e proteção da saúde dos indivíduos em suas diferentes dimensões. (BACKES, 2008) 1

Intervenções, por meio de práticas interdisciplinares, tais como ações de prevenção e promoção da saúde, possibilitam a emancipação social de pessoas moradoras de comunidades vulneráveis. A interdisciplinaridade, entendida a partir de "ações conjuntas, integradas e interrelacionadas, de profissionais de diferentes procedências quanto a area básica do conhecimento (ZANNON,1994), devem ser cada vez mais estimuladas. O trabalho interdisciplinar envolve a criatividade, originalidade e flexibilidade frente à diversidade de formas de pensar, frente aos problemas e às suas soluções (GOMES, 1997). Muito mais do que apenas a união de saberes, iniciativas que articulem os diferentes saberes geram ações que viabilizam novas concepções. Atividades interdisciplinares de saúde possibilitam que comunidades em situação de vulnerabilidade possam se tornar protagonistas do seu processo de viver saudável. O empreendedorismo social se constitui, portanto, em um importante mecanismo de mobilização e transformação da sociedade (BACKES, ERDMANN, 2009). A abordagem multidisciplinar das problemáticas de saúde não permite uma reflexão completa dos fatores complexos que envolvem o indivíduo, a família e a comunidade. Estabelecer diálogo entre os profissionais de todas as áreas configura um olhar sistêmico e propenso a alcançar a resolutividade de uma determinada situação. O empreendedorismo social gera um espírito emancipador dentro de cada pessoa. As intervenções em comunidades vulneráveis, por meio de ações interdisciplinares, são capazes de motivar os moradores a refletir sobre a qualidade de vida que desejam. O empoderamento de comunidades representa a forma prática de transformação social. 2. OBJETIVO O objetivo do estudo é relatar a experiência da percepção de acadêmicos do curso de graduação em enfermagem frente à uma ação social realizada com famílias em uma comunidade vulnerável. 3. METODOLOGIA Trata-se de um relato de experiência sobre uma ação interdisciplinar, vinculada aos projetos Exercendo a cidadania e potencializando o viver saudável pelo desenvolvimento de práticas sociais empreendedoras e Promoção do viver saudável de crianças e adolescentes em uma comunidade vulnerável na perspectiva do empreendedorismo social, financiado pelo edital FAPERGS 02/2011 - Programa Pesquisador Gaúcho PQG. Os projetos tem por objetivos, respectivamente, articular as Teorias de Enfermagem à prática cotidiana de famílias em situação sociais, ambientais e socioeconômicas precárias e conhecer a influência das relações e interações familiares no processo de viver saudável de 2

crianças e adolescentes em uma comunidade vulnerável, bem como desenvolver atividades educativas proativas e empreendedoras voltadas para promoção do viver saudável dos mesmos. O método utilizado foi a pesquisa-ação. Para alcançar os propósitos do estudo, foi realizada uma Ação Interdisciplinar de Saúde, por iniciativa de uma das moradoras da comunidade, no sentido de atender ao cuidado em saúde de forma global e sistêmica, visto que as necessidades apresentadas pela mesma estavam relacionadas a vários saberes disciplinares. A ação teve por objetivo o empoderamento da comunidade, visto que se encontra em situação social, ambiental, cultural e política vulnerável. As etapas compreenderam a realização de: - histórico das famílias e diagnóstico situacional; - levantamento das necessidades de saúde; - planejamento coletivo das ações de cuidado; - implementação do plano de cuidados; - avaliação coletiva e socialização das vivências; e - o pensar das estratégias de continuidade. O processo, como um todo, fundamentou-se nas Teorias de Enfermagem, previamente selecionadas e adequadas a cada realidade familiar. Foi mediado ainda por estratégias metodológicas, tais como: a interação efetiva e afetiva com a família; a criação de vínculos de confiança; a construção participativa e coletiva de todos os envolvidos, isto é, docentes, discentes, famílias e equipe da Estratégia de Saúde da Família (ESF). Com isso, foi percebida a necessidade da ação interdisciplinar de saúde realizada na comunidade no dia 23 de junho de 2012, com a participação de 6 cursos da saúde e 4 cursos das ciências humana do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), no sentido de possibilitar um processo ampliado de discussões e problematizações sobre saúde. Os aspectos éticos do estudo foram observados em acordo com as recomendações da Resolução CNS nº 196/96, que prescreve a ética na pesquisa com seres humanos no Brasil. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIFRA, sob o número 285/2011. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na perspectiva dos acadêmicos de enfermagem, a ação não foi benéfica somente para a comunidade, mas também acrescentou na vivência acadêmica estimulando a interdisciplinaridade, já que todos tiveram a oportunidade de interagir diretamente com as famílias, podendo assim conhecer novas realidades. É durante a formação que o acadêmico de enfermagem compreende o seu papel no sistema de saúde. Para o futuro profissional exercer uma relação dialógica com a comunidade e as demais áreas do saber, é preciso que ele se torne o elo que une as partes e o todo, e vice-versa, repensando a fragmentação da multidisciplinaridade. 3

Diferente da multidisciplinaridade, a qual evoca a justaposição dos recursos de várias disciplinas, sem exigir um trabalho de equipe e coordenado, a interdisciplinaridade não pode ser constituída pela simples adição de todas as especialidades. Deve fundamentar-se na negação e na superação das fronteiras disciplinares (JAPIASSU, 1976). A ação desenvolvida possibilitou, aos acadêmicos, aliar a teoria já vivenciada à prática profissional. Com isso, ocorreu uma grande troca de informações entre as partes, ampliando o conhecimento e proporcionando aos discentes experiência e qualificação profissional. O projeto contribuiu para a formação dos acadêmicos pelo fato de apresentar-lhes uma realidade a qual não estão acostumados a vivenciar, ultrapassando os portões da academia e inserindo-os diretamente no cotidiano da comunidade. A enfermagem, como prática social empreendedora, se cunhou de novos significados conceituais, possibilitados pela concepção de saúde coletiva, campo ainda em constituição e que, crescentemente, vem assumindo diversas formas e abordagens. A atuação do enfermeiro, vai além da dimensão técnico-assistencialista ou da aplicação imediata e direta dos conhecimentos técnico-científicos, e se concentra em saberes que levam em consideração as inter-relações e a dinâmica coletivo-social de todos os envolvidos no processo (BACKES et al, 2012). Transcender o pontual e o assistencialismo foram alguns dos objetivos do projeto. Alguns moradores ainda estão enraizados nessa cultura. Para vencer essa barreira, as ações de saúde precisam ser inovadoras e criativas para mudar o pensar em saúde voltado apenas para os aspectos biológicos do ser humano. Nessa direção, o cuidado de enfermagem configura-se como prática social empreendedora, pela inserção ativa e próativa nos diferentes espaços de atuação profissional e, principalmente, pelas possibilidades interativas e associativas com os diferentes setores e contextos sociais (BACKES et al, 2012). Tornar a comunidade partícipe do seu processo de viver saudável é fundamental para a emancipação e o protagonismo social. A enfermagem evolui neste campo de atuação com grandes investimentos. A ação interdisciplinar configurou-se em um espaço de aplicação teórica. Uma atividade acadêmica elaborada por um processo educativo, científico e até mesmo cultural visando à articulação do ensino e pesquisa de forma conjunta, colaborando para a integração da comunidade acadêmica e a sociedade, possibilitando assim a formação de novos saberes (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2006). 4

Figura 1 Ação Interdisciplinar realizada em uma comunidade socialmente vulnerável. 5. CONCLUSÃO O significado da ação interdisciplinar para acadêmicos do curso de enfermagem evidenciou que o enfermeiro tem um papel importante na articulação e integração dos diversos saberes. Nessa direção, a atividade teórico-prática demonstrou que é possível aproximar a academia da comunidade, no sentido de emancipá-la. A atividade em questão demonstrou, também, que, quando instigados e desafiados em suas potencialidades, os moradores de comunidades vulneráveis têm a possibilidade de tornarem-se protagonistas da sua própria história, desde que envolvidos e considerados em suas reais necessidades. REFERÊNCIAS BACKES, D. S. Viewing nursing care as a social enterprising practice [tese]. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); 2008. BACKES, D. S.; ERDMANN, A. L. Formação do enfermeiro pelo olhar do empreendedorismo social. Rev Gaucha Enferm; 30(2): 242-248, jun. 2009. BACKES, D. S.; BACKES, M. S.; ERDMANN, A. L.; BÜSCHER, A. O papel profissional do enfermeiro no Sistema Único de Saúde: da saúde comunitária à estratégia de saúde da família. Ciênc. saúde coletiva vol.17 no. 1 Rio de Janeiro Jan. 2012. GOMES, D. C. R.; organizador. Equipe de saúde: o desafio da integração. Uberlândia: Editora da Universidade Federal de Uberlândia; 1997. 5

JAPIASSU, H. Interdisciplinaridade e Patologias do Saber. Rio de Janeiro: Imago; 1976. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA (BR). Conselho Nacional de Educação, Câmara de Educação Superior. Parecer nº 3, de 7 de novembro de 2001 institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem. Brasília: Ministério da Educação e Cultura, 2001. ZANNON, C. M. A. C. Desafios à psicologia na instituição de saúde. Psicologia: Ciência Profissão 1994; 13:16-21. 6