3ª Conferência de Arbitragem e Mediação Marítima 26 de outubro de 2016 Auditório do Tribunal Marítimo Rio de Janeiro RJ Os Comitês de Resolução de Disputas (Dispute Boards) Nos Contratos de Construção Naval Augusto Barros de Figueiredo e Silva Neto Diretor de Dispute Boards do CBMA
O que são os Dispute Boards? Método de solução consensual de conflitos entre as partes em contratos de execução não imediata, na forma prevista nos artigos 3, 3 o, 4º e 6º da Lei 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil) Item 1.1 do Regulamento do Comitê de Resolução de Disputas do CBMA Comitê formado por um ou mais especialistas independentes, selecionados pelas partes contratantes para acompanhar a execução do contrato, aconselhando, emitindo recomendações e/ou decisões a respeito das disputas surgidas entre as partes durante a execução dos serviços. Composição usual: 1 presidente (preferencialmente advogado) + 2 membros técnicos Não é uma etapa preliminar à arbitragem ou ao Poder Judiciário Base Jurídica: Contrato
Histórico dos Dispute Boards 1975 primeiro Dispute Board: Túnel Eisenhower Colorado EUA (Comitê de Recomendação) 1981 primeiro Dispute Board internacional: EL Cajon Dam, Honduras 1995 Banco Mundial torna os Dispute Boards obrigatório para todos os projetos acima de USD 10 milhões 1995 FIDIC (International Federation of Consulting Engineers) introduz os Dispute Adjudication Boards (Comitês de Adjudicação) em alguns contratos 1996 Fundação da Dispute Resolution Board Foundation (DRBF) 1997 Banco de Desenvolvimento Asiático e o Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento passam a adotar considerar os Dispute Boards em seus contratos de financiamento 1998 Inglaterra introduz o conceito de adjudicação legal obrigatória, implementado posteriormente na Austrália, Nova Zelândia e Singapura. 1999 FIDIC adota os DAB em todos os contratos para grandes obras 2000 Banco Mundial estabelece que as decisões dos Dispute Boards passam a ser de adoção obrigatória até a sua revisão/confirmação por um tribunal arbitral
Tipos de Dispute Boards Quanto ao momento da formação: Permanente: formado no momento da celebração do contrato ou em prazo posterior à sua celebração, permanecendo ativo durante toda a vigência do contrato, independentemente da existência ou não de uma controvérsia Ad Hoc: formado somente quando da ocorrência de uma controvérsia formalmente submetida, permanecendo ativo até a emissão da decisão e após o exaurimento dos procedimentos a ela aplicáveis Quanto às suas decisões Dispute Review Board (DRB) ou Comitê Revisor: emite recomendações (adoção não obrigatória) Dispute Adjudication Board (DAB) ou Comitê Adjudicador: emite decisões (adoção obrigatória) Combined Dispute Board (CDB) ou Comitês Misto: emite recomendações e decisões
O que fazem os Dispute Boards? Evitam e solucionam disputas, sendo os seus procedimentos regulados por regras previamente estabelecidas, usualmente definidas por instituições arbitrais Prestam assistência informal, auxiliando na composição amigável de conflito relacionado ao contrato Emitem conclusões em consultas sobre interpretação de cláusulas Emitem Recomendações ou Decisões em relação aos pleitos Monitoram a evolução do projeto: acompanhamento do cronograma, diários de obras, atas de reuniões, revisando documentos etc. Visitam os locais de execução do contrato Facilitam a comunicação entre as partes Sugerem alternativas para a solução de problemas quando do seu surgimento
Vantagens dos Dispute Boards Preservação do relacionamento entre as partes Redução do número de disputas ao longo da execução do contrato Nos casos em que as disputas não são evitáveis a solução ocorre de forma rápida e economicamente eficiente A existência do Dispute Board e o compromisso de continuidade na execução do contrato tem efeito inibidor para as disputas Custo/benefício: Estatísticas da Dispute Resolution Board Foudation (DRBF) sobre as disputas contratuais submetidas aos Dispute Boards: Cerca de 99% das disputas são resolvidas em menos de 90 dias ao custo médio de 0,02% do valor em disputa 98% das disputas terminam com a decisão do Comitê Dos 2% que são submetidos à arbitragem, 1% foi mantido e o 1% que foi revertido pelo Tribunal Arbitral foi invalidado em razão de irregularidades procedimentais
Custo dos Dispute Boards Custo médio (prática mundial): de 0.05% a 0,26% dos valores do contrato Parcela fixa mensal (retainer) pagos aos membros, em valores negociáveis ou préfixados pelas Instituições Arbitrais Parcela variável Diária e despesas Taxas administrativas cobradas pelas Instituições Arbitrais para funções de secretaria e acompanhamento técnico Casos práticos: California Transportation: em projetos entre 1989 e 2011 no valor de 10.1 bilhões de dólares foram gastos 10.1 milhões com CRDs - Custo médio: 0.1% Florida Department of Transportation: em projetos entre 2002 a 2011 no valor de 11.8 bilhões de dólares foram gastos 13.5 milhões com CRDs - Custo médio: 0.11%
Casos Práticos Internacionais Barragem de Concreto para Hidrelétrica Ertan China (1991 2000) Tipo de Contrato: Valor aproximado do projeto: Tipo de Dispute Board: Composição do Dispute Board: Número de visitas: Disputas encaminhadas ao Dispute Board: Número de disputas encaminhadas para arbitragem: FIDIC entre estatal chinesa e consórcio internacional USD 5 bilhões Recomendação 2 Membros escolhidos pelas partes e o presidente pelos membros 20 visitas 40 disputas ZERO
Casos Práticos Internacionais Barragem de Concreto para Hidrelétrica Katse Lesoto (1993 1998) Tipo de Contrato: Valor aproximado do projeto: Tipo de Dispute Board: Composição do Dispute Board: Número de visitas: Disputas encaminhadas ao Dispute Board: Número de disputas encaminhadas para arbitragem: FIDIC entre estatal de Lesoto e um consórcio internacional USD 2,5 bilhões Recomendação 3 Membros escolhidos pelas partes 16 visitas 12 disputas 1 disputa (sentença arbitral confirmou a decisão)
Casos Práticos Internacionais Aeroporto Internacional de Hong Kong (1993 1998) Tipo de Contrato: Valor aproximado do projeto: Tipo de Dispute Board: Composição do Dispute Board: Número de visitas: Disputas encaminhadas ao Dispute Board: Número de disputas encaminhadas para arbitragem: 22 contratos entre autoridade aeroportuária de Hong Kong e consórcios locais, todos com a previsão de uso de Dispute Boards USD 15 bilhões Adjudicação 1 coordenador e 6 especialistas de várias áreas 16 visitas 6 disputas 1 disputa (sentença arbitral confirmou a decisão)
Os Dispute Boards no Brasil Início com a exigência do Banco Mundial (World Bank s Standard Bidding Documents for Procurement of Works - SBDW obrigatórios para contratos de valor superior a USD 10 milhões, incluindo contingências e facultativos para contratos abaixo desta faixa) Lei 8.666/93: Art. 42. Nas concorrências de âmbito internacional, o edital deverá ajustar-se às diretrizes da política monetária e do comércio exterior e atender às exigências dos órgãos competentes. (...) 5º Para a realização de obras, prestação de serviços ou aquisição de bens com recursos provenientes de financiamento ou doação oriundos de agência oficial de cooperação estrangeira ou organismo financeiro multilateral de que o Brasil seja parte, poderão ser admitidas na respectiva licitação, mantidos os princípios basilares desta lei, as normas e procedimentos daquelas entidades e as condições decorrentes de acordos, protocolos, convenções ou tratados internacionais aprovados pelo Congresso Nacional.
Os Dispute Boards no Brasil I Jornada Prevenção e Solução Extrajudicial de Litígios do Centro de Estudos Judiciários (CEJ) do Conselho da Justiça Federal agosto 2016. Três Enunciados aprovados: Os Comitês de Resolução de Disputas (Dispute Boards) são método de solução consensual de conflito, na forma prevista no 3 do art. 3º do Código de Processo Civil Brasileiro A utilização dos Comitês de Resolução de Disputas (Dispute Boards), com a inserção da respectiva cláusula contratual, é recomendável para os contratos de construção ou de obras de infraestrutura, como mecanismo voltado para a prevenção de litígios e redução dos custos correlatos, permitindo a imediata resolução de conflitos surgidos no curso da execução dos contratos As decisões proferidas por um Comitê de Resolução de Disputas (Dispute Board), quando os contratantes tiverem acordado pela sua adoção obrigatória, vinculam as partes ao seu cumprimento até que o Poder Judiciário ou o juízo arbitral competente emitam nova decisão ou a confirmem, caso venham a ser provocados pela parte inconformada Caso mais conhecido: Contrato para a construção da Linha 4 do Metrô de São Paulo (2003) Primeiro caso de utilização dos Dispute Boards em um contrato da administração pública, por exigência do órgão internacional financiador do projeto (BIRD)
O Uso dos Dispute Boards nos contratos de Construção Naval Grande potencial para o desenvolvimento do tema Contrato de Natureza híbrida (prestação de serviços, empreitada, compra e venda, transferência de tecnologia etc.) Flexibilidade na estruturação do Dispute Board Possibilidade de acompanhamento das reuniões por terceiros, desde que previamente acordado entre as partes Possibilidade de submissão ao Comitê de casos específicos de interesse das empresas (sustentabilidade, corrupção, pareceres sobre aditivos etc.) Maior transparência para as várias partes envolvidas (partes contratantes - Construtor e Comprador - e terceiros interessados - Financiadores, Garantidores, Seguradores etc.) Maior confiança na entrega e no cumprimento dos prazos = menores taxas de financiamento e menor custo de garantias e seguros
Obrigado! Augusto Barros de Figueiredo e Silva Neto augusto.figueiredo@cbma.com.br +55 21 96902-0007