Empreendedores fundadores e a sua participação em Cooperativas



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Transcrição:

25 Empreendedores fundadores e a sua participação em Cooperativas Rosimeire Ayres. Mestre em Administração de Recursos Humanos pela UNIMONTE; Pós-Graduação em Informática (UNISANTA) e Metodologia do Ensino Superior (Mackenzie); Várias Especializações em Administração e Planejamento (FGV, UNISANTOS); Bacharel em Matemática(Fundação Santo André). Trabalha há 25 anos com organização, sistemas & métodos e administração geral, ocupando funções gerenciais e de direção. Professora universitária na área de administração (UNIMES, UNIMONTE e UNISANTA) e Consultora de Empresas. RESUMO Ser empreendedor é possuir características diferenciadas, tais como assumir riscos, necessidade de realização e autoconfiança. O empreendedor é atraído pela independência e liberdade de supervisão impostas por regras burocráticas das organizações, procura libertar-se dos limites de pagamento padronizado para funcionários regidos pela CLT e das rotinas de empregos não-desafiadores. Para aqueles que não querem ser empregados, existem várias opções: comprar uma empresa existente, criar uma nova empresa, ser sucessor em uma empresa familiar, adquirir uma franquia ou fundar e participar de uma Cooperativa. E é justamente sobre este último o assunto deste artigo, explicando a participação do empreendedor como fundador e sócio-cooperado de uma cooperativa. Analisando-se o quadro - 1 abaixo, verifica-se que existem vantagens para um empreendedor fazer parte de uma cooperativa, dependerá obviamente estar em 1 o lugar predisposto a trabalhar em equipe e que nessa equipe todos são sócios, porém, não existe um sócio majoritário ou comandante maior, tudo é resolvido mediante votação. Quadro 1 Diferenças entre Empresário x Sócio-cooperado. Empreendedor ( Sócio-cooperado) Empreendedor (Empresário) Cooperativa administra. Administra sozinho. Cooperativa desenvolve. Desenvolve sozinho. Cooperativa investe. Investe sozinho. Cooperativa compra equipamentos. Compra cozinho. Cooperativa treina via FATES. Desenvolve treinamento sozinho. Cooperativa busca clientes. Procura cliente sozinho. Não vai à falência. É dissolvida. Vai à falência. Responsabilidade diluída com os demais Assume responsabilidade total. sócios. Atua em cooperação. Atua sozinho. Cooperativa gera renda. Busca renda sozinho. Fonte: (Queiroz, 1997:57-8) adaptado pela pesquisadora.

26 EXPLICANDO O MOVIMENTO COOPERATIVISTA O movimento cooperativista não é nenhuma novidade, trata-se da união de pessoas para a formação de cooperativas seja ela nos segmentos agropecuário, trabalho, mineração, produção, serviço, educacional, crédito, consumo, habitacional, ou especial. A origem do movimento cooperativista surgiu na Inglaterra em 1844, onde 28 operários, todos tecelões, fundaram a Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale Ltda (figura 1), organizaram uma cooperativa de consumo para que todos pudessem ter acesso à compra de alimentos, vestuários, ferramentas e materiais necessários à execução de diferentes trabalhos, sem depender dos grandes negociantes. Era uma cooperativa de consumo, formada por tecelões denominada Rochdale Society of Equitable Pioneers. No Brasil o movimento cooperativista iniciou-se em 1847, quando o médico francês Jean Maurice Faivre, funda a colônia Tereza Cristina, nos sertões do Paraná. Essa organização contribui para a memória coletiva, como elemento formador do cooperativismo brasileiro. A NECESSIDADE DO CONHECIMENTO E PRÁTICA DOS PRINCÍPIOS COOPERATIVISTAS. Você como empreendedor e que pretende entrar para uma cooperativa ou mesmo fundar uma, deverá conhecer os Princípios Cooperativistas vigentes desde 1966 e votados pela ACI Aliança Cooperativa Internacional, no seu XXXI congresso em Manchester, Inglaterra. Os famosos sete princípios passam a ter a seguinte redação: 1. Adesão livre e voluntária; 2. Controle democrático pelos sócios; 3. Participação econômica dos sócios; 4. Autonomia e Independência; 5. Educação, treinamento e informação; 6. Cooperação entre cooperativas; 7. Preocupação com a comunidade (OCESP, 1996). A PARTICIPAÇÃO DO EMPREENDEDOR NA COOPERATIVA. O empreendedor deverá estar consciente que em uma cooperativa, não existem donos, todos são sócios autônomos e não existem chefes. Para fundar uma cooperativa, é necessário observar algumas características estabelecidas pela Lei 5.764/71, que define a Política Nacional de Cooperativismo, quais sejam: a) Número mínimo de vinte associados; b) Capital variável, representado por quotas-partes, para cada associado, inacessíveis a terceiros, estranhos à sociedade; c) Limitação do número de quotas-partes, para cada associado; d) Singularidade de voto, podendo as cooperativas centrais, federações e confederações de cooperativas, exceção feita às de crédito, optar pelo critério de proporcionalidade;

27 e) Quorum para as assembléias, baseado no número de associados e não no capital; f) Retorno das sobras líquidas do exercício, proporcionalmente às operações realizadas pelo sócio-cooperado; g) Prestação de assistência ao associado; h) Fornecimento de serviços a terceiros atendendo a seus objetivos sociais. O PAPEL DO CONSELHO ADMINISTRATIVO E FISCAL NA COOPERATIVA. O Conselho Administrativo e Fiscal é eleito em Assembléia Geral. O dia, hora e local da assembléia deverá ser divulgado em jornal de ampla divulgação e conhecimento dos sócios. Os sócios-cooperados reunidos elegem o Conselho de Administração e o Conselho Fiscal. A assembléia é o órgão máximo da cooperativa. Dentro dos limites legais e estatutários é que se deliberam os destinos da sociedade, tomando resoluções convenientes ao desenvolvimento e à defesa da cooperativa, sendo certo que suas deliberações vinculam a todos os cooperados, ainda que ausentes ou discordantes. Para o Conselho Administrativo são eleitos os diretores: Presidente Vice- Presidente e demais diretores que o grupo ache necessário, tais como Comercial, Administrativo, etc. Também são definidas as atribuições de cada diretor, bem como o pró-labore. Tudo será aprovado e registrado no Estatuto Social, para um mandato de até 4 anos. Os eleitos deverão ser sócios-cooperados e não podem ter vínculo familiar até o 2 o grau. O Conselho fiscal é eleito anualmente, e registrado na Ata da assembléia, onde são estabelecidas suas responsabilidades como auditores do conselho administrativo, bem como valor da cédula de participação mensal. Tudo é claro e transparente para todos os sócios. O ESTATUTO SOCIAL DA COOPERATIVA Elaborar o Estatuto Social da Cooperativa conforme estabelece a Lei 5.764/71. O Estatuto deverá ser aprovado em Assembléia Geral e registrado na Junta Comercial. Todo sócio-cooperado deverá ter acesso à cópia do estatuto para conhecimento de seus direitos e deveres para com a cooperativa. Qualquer assunto que não esteja no estatuto deverá ser colocado para votação em Assembléia. Sugere-se a contratação de um advogado para elaboração desse estatuto. O Sebrae e a OCB podem realizar essa consultoria especializada. O EMPREENDEDOR NA AUTOGESTÃO DA COOPERATIVA. O empreendedor como sócio-cooperado deverá participar na elaboração do planejamento da sociedade cooperativa, com objetivos e metas tangíveis a serem alcançadas, estabelecendo-se estratégias, ações e prazos. Poderá ser realizado um comitê constituído por sócios, para execução e acompanhamento do planejamento. A cooperativa poderá contratar consultores e funcionários para auxilia-los nos processos que se fizerem necessários para o atendimento dos objetivos.

28 A autogestão é autocontrolar-se, autoadministrar-se, autofiscalizar-se. É importante que o Estatuto Social já estabeleça as normas e procedimentos necessários, tais como: a) Procedimentos para adesão do sócio-cooperado.... uma empresa qualquer que errou no processo seletivo e contratou a pessoa com perfil inadequado para o cargo: nenhum programa de treinamento, por melhor que seja, vai resolver esse problema! (Rios, 1998:99-100). b) Divulgação dos contratos fechados e vagas existentes através de Boletim Informativo encaminhados aos sócios-cooperados e afixados na cooperativa. c) Procedimentos para o sócio-cooperado desligar-se da cooperativa. O sócio-cooperado não pode ser demitido de uma cooperativa. Pode somente ser eliminado do quadro associativo, em virtude de infração legal que possa trazer dificuldades à cooperativa, ou disposições descritas no estatuto social. Na exclusão por morte do sócio-cooperado, todos os direitos e obrigações são transferidos aos herdeiros ou beneficiários legais, conforme disposições descritas no estatuto social. d) Ter sócios-cooperados como gestor de negócio ou gestor de contrato. Quaisquer problemas são dirigidos ao gestor do contrato que procura solucioná-los, ele é a ponte entre o sócio-cooperado e o cliente/contratante. e) Meios para auto-sustentação econômico-financeira f) Realizar avaliação de satisfação do sócio-cooperado com a cooperativa g) Procedimentos para cobertura de sócio-cooperado em contratos. O sóciocooperado pode participar em mais de um contrato e em diferentes funções, sendo remunerado pelo volume de trabalho que realiza, seu ganho é por produtividade, trabalhou ganhou, não trabalhou não ganhou. Quando o sóciocooperado não puder comparecer ao trabalho agendado no cliente, deve contatar o gestor do contrato, para que providencie o envio de outro sócio-cooperado, ou seja, o cliente sempre será atendido, não havendo a pessoalidade. h) Um programa de capacitação cooperativista para dirigentes, funcionários e associados. i) Um programa de organização do quadro social. j) Existência de condições de transparência administrativa entre os conselhos, auditoria e assessorias. O EMPREENDEDOR E A UTILIZAÇÃO DO FATES PARA TREINAMENTO. O FATES - fundo de assistência técnica, educacional e social - é um dos fundos obrigatórios das cooperativas previstos no art. 28 da lei 5.764/71:... destinado à prestação de assistência aos associados, seus familiares e, quando previsto nos estatutos, aos empregados da cooperativa, constituído por 5% (cinco por cento) pelo menos das sobras líquidas apuradas no exercício. Para Benato (1997a: 85), um programa de capacitação é um programa de educação, que visa transformar um associado comum num associado consciente. Caplow citado por Wood (2000:169) descreve: Os comportamentos apropriados a uma posição organizacional não são adquiridos de uma vez e completamente, quando a posição é assumida, mas são aprendidos e reaprendidos durante o período de uma carreira.

29 A educação cooperativista é um processo e não atos isolados alguns até positivos, porém de resultados apenas imediatos. Sendo um processo, começa pelo estabelecimento de critérios adequados para a admissibilidade do interessado em filiar-se ao sistema cooperativo. OS CUIDADOS DO EMPREENDEDOR NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO DA COOPERATIVA. a) O sócio-cooperado não deve receber ordens ou punições dos tomadores. Os sócios-cooperados são profissionais autônomos e executam as suas atividades no tomador do serviço, de forma livre e não hierarquicamente limitados, eliminando o conceito de departamentalização controlada, ou seja, cada um executa a sua tarefa conforme lhe é designada. A cooperativa congrega profissionais de várias especialidades e os distribui na execução das atividades terceirizadas, assumidas junto ao tomador. b) O trabalho deverá ser prestado somente na atividade-meio do contratante e mediante contrato. É importante destacar que a relação cooperativista é uma forma de terceirização. A palavra terceirização segundo Queiroz (1998: 53), é uma técnica administrativa que possibilita o estabelecimento de um processo gerenciado de transferência, a terceiros, das atividades acessórias e de apoio ao escopo das empresas que é a sua atividade-fim, permitindo a estas se concentrarem no seu negócio, ou seja, no objetivo final. Portanto deverá existir um contrato de prestação de serviços, que tem características diferentes do contrato de emprego. O contrato de prestação de serviços sempre envolverá pessoas jurídicas, tendo de um lado, a tomadora, e do outro, a prestadora de serviços, que neste caso será uma cooperativa. Sendo objeto do contrato a compra e venda de serviços, o que importa para a empresa contratante é o resultado final: compram-se serviço, e não o trabalho de alguém em especial. No contrato é discriminada a forma de remuneração do sócio-cooperado, que deverá ser por produtividade ou trabalho realizado. O empreendedor deverá ter atenção especial com a Lei n. º 6.019 de 3/1/74: A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formando-se o vínculo diretamente com o tomador dos serviços. Portanto é imprescindível a leitura e conhecimento de toda a legislação estabelecida para as cooperativas, ou se for o caso, ter uma excelente consultoria, para que os erros não sejam fatais. c) A intermediação de mão-de-obra. A intermediação de mão-de-obra é conhecida como Fraudofraudocooperativas, gatocooperativas e as coopergatos e surgem com mais freqüências na área agrícolas, onde a desinformação e a simplicidade do trabalhador é comum. São também encontradas nas áreas urbanas com mais freqüências na área da construção civil e terceirização de áreas simples (cf. Ferrari, 1999:39). Essas cooperativas de risco arregimentam mão-de-obra, normalmente fora da área de sua atuação, e transportam os trabalhadores para os locais de trabalho e lá os alojam em instalações precárias e totalmente desconfortáveis.

30 Intermediar é estar no meio, é interceder. Nas relações de trabalho, a intermediação é proibida porque o intermediário normalmente é aquele que se coloca entre o tomador e o prestador do serviço ou trabalho, com o objetivo de obter vantagens às custas de ambos. Esse tipo de cooperativa de risco se forma, com atitudes ardilosas e ilusórias, conduzidas por pessoas inescrupulosas que convencem os trabalhadores a se associarem a uma cooperativa de trabalho, mostrando-lhes condições e situações mascaradas. São cooperativas que: Não distribuem os lucros aos sócios-cooperados; Os sócios não são informados de seus direitos e deveres na sociedade que participam; Os sócios-cooperados não participam de assembléias e não exercem as prerrogativas que a Lei 5.764/71 lhes concede; Não existe o FATES (Fundo para Treinamento) ou quaisquer fundos; Não realizam treinamento sobre o cooperativismo, com todos os esclarecimentos dos direitos, deveres e obrigações; O Estatuto Social não é distribuído aos sócios; As decisões são tomadas por um grupo de pessoas, sem a aprovação dos demais cooperados, ou por um administrador contratado por uma remuneração elevada; Os destinos da sociedade são dirigidos pelo gato. Os conselhos administrativo e fiscal são meras figurações. Esse tipo de cooperativa é uma fraude e precisa ser combatido, pela fiscalização da DRT, do INSS, pelos Sindicatos, pela Justiça do Trabalho, pelo movimento cooperativista e denunciado pelos sócios-cooperados. O EMPREENDEDOR E OS CUIDADOS COM A PREVIDÊNCIA SOCIAL NA COOPERATIVA. Todo sócio-cooperado deverá realizar sua inscrição como autônomo no INSS, somente desta forma haverá garantias tanto para a cooperativa quanto para o sócio-cooperado. Para o sócio-cooperado autônomo, o art. 202 da Constituição Federal de 1988 assegura aposentadoria. O 15, inciso IV, do art. 9. do Decreto n. º. 3.048/99 determina que são trabalhadores autônomos, entre outros: o trabalhador associado à cooperativa que, nessa qualidade, presta serviços a terceiros. Portanto, para a Previdência Social a cooperativa é considerada uma empresa, assim como o trabalhador a ela associado; são segurados obrigatórios e, portanto devem a ela contribuir para dela poderem usufruir das prestações e benefícios constantes de seus planos. A Instrução Normativa n. º 05/96, no subitem n. º 01, estabelece que o tomador de serviços é responsável pelo recolhimento de 15% sobre o total da nota fiscal emitidas por intermédio de Cooperativas. Já os sócios-cooperados, cadastrados como trabalhadores autônomos, a partir de 14/11/99 passam a recolher 20% sobre a remuneração recebida.

31 A VISÃO SINDICAL DA TERCEIRIZAÇÃO ATRAVÉS DE COOPERATIVAS. As cooperativas não participam de sindicatos patronais e os seus sócioscooperados não são filiados a nenhuma categoria sindical, em virtude de a sua caracterização organizacional não ser trabalhista, mas sim eminentemente civil. Conforme Queiroz (1997:124), as cooperativas de trabalho são vistas pelos sindicatos como entidades concorrentes e que fraudam os direitos trabalhistas. Eles sentem que as cooperativas estão desviando os trabalhadores dos sindicatos, provocando redução nos recolhimentos das mensalidades, diminuindo a base e o poder de influência sindical. O empreendedor deve manter boas relações com os sindicatos, ambas as organizações são instrumentos importantes, porque preparam seus associados para a autogestão. Na medida em que aumenta o desemprego e, por outro lado, reduzem-se, as possibilidades de o trabalhador empregar-se, é importante que os sindicatos profissionais estimulem alternativas de trabalho juntamente com os empreendedores que participam do movimento cooperativista. Comentários gerais O empreendedor e a sociedade devem ser preparados para reconhecer, explícita e claramente, que o trabalho associado em uma cooperativa é uma relação diferente daquela do trabalho assalariado e subordinado. Uma relação cooperativada só trará vantagens para todos se forem tomados os cuidados que passam pela escolha dos parceiros, quer sejam os sócios que farão parte da cooperativa quer sejam os clientes/contratantes. Caso contrário, a relação pode resultar em fracasso, pela adoção de práticas inadequadas. É importante que haja profissionalismo da diretoria e um conselho fiscal próativo e focado nas auditorias preventivas. Uma cooperativa deve realizar a política de boa vizinhança com sindicatos, conselhos profissionais, associações comerciais, escolas e outras instituições afins. É necessário que haja um planejamento estratégico centrado em: Plano diretor de marketing; Treinamento de recursos humanos e desenvolvimento de educação/cultura cooperativista; Captação de novos clientes. E finalizando, é imprescindível que não haja a exploração do trabalhador simplesmente para obter a redução de custos, tendo como paradoxo à história do capital-trabalho. A cooperativa é uma alternativa crescente no contexto econômicosocial quer seja para o empreendedor como sócio-cooperado e prestando serviço ou para o empreendedor que contrata uma cooperativa.

32 Referências Bibliográficas BENATO, João Vitorino Azolin. O ABC do Cooperativismo. 4 a. ed. São Paulo: OCESP, 1997a. BRASIL. Constituição Federal de 1988. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988. BRASIL. Decreto Lei n. 5.764, de 16/12/71. Ministério da Agricultura. INCRA. Secretaria de Agricultura e Abastecimento. Disciplina a política nacional de cooperativismo. BRASIL. Decreto Lei n. 6019 de 03/01/1974. Disponível em:< http://www.ocb.org.br> Acesso em 10/11/2001. BRASIL. Decreto Lei n. 3048 de 1999. Aprova o regulamento da Previdência Social e as cooperativas. CAPLOW, t. Principle of organization. New York: Hartcout Brade & Word, 1994. In: DOLABELA, Fernando. Oficina do Empreendedor. São Paulo: Cultura Editores Associados, 1999. FERRARI, Irany. Cooperativa de Trabalho exigência legal. São Paulo: LTr, 1999. GIOSA, Lívio. Terceirização. São Paulo: STS, 1997. OCB Organização Cooperativas Brasileiras. Coleção História do Cooperativismo. O cooperativismo no Brasil. OCB. Brasília, 1993. QUEIROZ, Carlos Alberto Ramos Soares de. Manual da cooperativa de serviços e trabalho. São Paulo: STS, 1997. RIOS, Luiz Oliveira. Cooperativas brasileiras: manual de sobrevivência & crescimento sustentável. São Paulo: STS, 1998. SARATT, Newton. Cooperativas de Trabalho: um diferencial inteligente. Porto Alegre: Ipsis Litteris, 1997. SEBRAE. Manual prático de Cooperativismo de Trabalho. São Paulo: Sebrae, 1997.