INGRID DESIHIÊ ANTONIORI (21004712) JOÃO LUCAS PIRES (21071112) NATÁLIA BORRASCA PEREIRA (21003412) As origens coloniais do atraso sob a visão de Bresser Pereira Trabalho apresentado à Universidade Federal do ABC como parte dos requisitos para aprovação na disciplina Trajetória das Políticas de CTI no Brasil Professora: Neusa Serra Turno: Manhã São Bernardo do Campo SP 2015
I INTRODUÇÃO Este trabalho foi apresentado à Universidade Federal do ABC no segundo quadrimestre de 2015 como requisito para aprovação na disciplina Trajetória das Políticas de CTI no Brasil sob orientação da professora Neusa Serra. O presente estudo consiste em uma breve apresentação da teoria desenvolvida por Bresser Pereira no texto As origens coloniais do atraso, no qual o autor busca responder duas questões principais: 1. Por que o Brasil ficou para trás, especialmente quando comparado aos Estados Unidos, no que diz respeito a sua revolução capitalista? 2. Esse atraso só ocorreria no século XIX? O presente estudo será apresentado em tópicos. Tais tópicos possuem os mesmos nomes daqueles desenvolvidos por Bresser durante o texto citado acima. Ao final, será apresentada uma conclusão com as ideias principais do autor e com o posicionamento do grupo frente às questões levantadas. II DESENVOLVIMENTO Atualmente, podemos ver quatro tipos de países no mundo: os países ricos, os países de renda média, os países pré industriais e os países pobres. A revolução capitalista é elemento primordial nessa classificação. O texto que esse estudo propõe analisar nos mostra uma relação entre revolução nacional/ industrial e a capacidade de um Estado de se impor sobre os países retardatários. Segundo Bresser Pereira, o Brasil é um países retardatário. O autor direciona sua análise para explicar o atraso brasileiro frente ao desenvolvimento de países que também foram colonizados no passado, mas que realizaram sua revolução capitalista antes do Brasil (mesmo tendo conquistado sua independência a posterior). 2.1 Explicação estruturalista: colonização mercantil De acordo com a teoria estruturalista, o atraso brasileiro começa na formação estrutural do Brasil colônia, e possui, como apontado por estudiosos como Caio
Prado Jr., um caráter geográfico e econômico: Por ter um clima tropical complementar ao da Europa, o colonizador português estabelece uma colonização de exploração mercantil voltada para bens agrícolas de alto valor (açúcar, pimenta, tabaco, ), que funciona bem com o sistema de latifúndios e com o trabalho escravo. Já em locais de clima semelhante ao europeu, como eram os Estados Unidos para a Inglaterra, foi desenvolvido uma colonização como base a pequena propriedade familiar. Diversas diferenças entre as colonizações brasileira e norte americana são apontadas para sustentar a explicação estruturalista sobre o atraso brasileiro. A tabela abaixo mostra algumas das diferenças existentes entre as duas colônias apontadas no texto: BRASIL colonização mercantil latifúndio e trabalho escravo economia voltada para a exportação (pouco desenvolvimento do mercado interno) clima e vegetação complementar ao europeu busca obter lucros rapidamente (e retornar para a metrópole) com condições propícias para expotação ESTADOS UNIDOS colonização de povoamento propriedade familiar desenvolvimento do mercado interno clima e vegetação semelhantes ao europeu busca estabelecer uma sociedade sem condições para exportações, desenvolvimento de manufaturados O sistema colonial mercantil escravista que definia o Brasil durante o período colonial e imperial foi um misto de feudalismo, expresso em seu caráter patriarcal e no latifúndio autossuficiente, e de capitalismo mercantil. O sistema definido por
Portugal para o Brasil permitiu uma acumulação primitiva para a metrópole (importante para que esta realizasse sua revolução capitalista) enquanto o resultado na colônia é uma produção com baixa produtividade, seja porque falta ao mercantilismo a ideia de produtividade, seja porque o trabalho escravo supõe mão de obra pouco qualificada. Vale ressaltar ainda que a renda obtida por Portugal com a colônia brasileira, em longo prazo, ajudou em sua decadência uma vez que gerou no país a doença holandesa. Na virada do século XVIII para o XIX, os EUA já haviam realizado sua revolução nacional, independência, estabelecido um mercado interno estruturado, se preparavam para realizar a revolução industrial e possuíam uma população livre com um bom nível educacional, enquanto o Brasil permanecia radicalmente atrasado e dual, com um início de mercado interno (fruto do ciclo da mineiração), e com grande parte da população analfabeta e com economia de subsistência. A ideia de que os colonizadores trouxeram a civilização para as primitivas sociedades indígenas dificulta, para os brasileiros, o entendimento de que a estrutura presente no colonialismo mercantil e no imperialismo industrial foram prejudiciais para o país. 2.2 Explicação nacionalista e imperialismo Para os nacionalistas brasileiros, o imperialismo britânico foi o grande responsável pelo atraso do Brasil, utilizando como base a lei das vantagens comparativas do comércio internacional. Bresser não nega certa influência inglesa neste atraso (cujo imperialismo industrial se manifesta já na abertura dos portos, em 1808), mas defende que o imperialismo foi relativamente neutralizado quando o Brasil se torna um Estado nação em 1822. Isso porque, para ele, o imperialismo representa um obstáculo muito maior quando é explícito quando reduz o dominado à condição de colônia do que quando se expressa via hegemonia ideológica e submissão financeira. As primeiras colônias europeias foram formadas na América Latina pois, no início das colonizações, os europeus não possuíam condições de colonizar a África e a Ásia (esta última em particular muito mais desenvolvida tecnologicamente que a Europa). Os povos da América Latina eram menos desenvolvidos que as outras
regiões, facilitando o estabelecimento do colonialismo mercantil. Após as guerras napoleônicas e a revolução industrial o quadro muda: o imperialismo no estilo espanhol e português se esgota e com as independências se estabelece um imperialismo por hegemonia, enquanto a Ásia e a África se tornam colônias dos países que realizaram suas revoluções industriais. O atraso econômico impostos à China e à Índia no século XIX demonstraram o quão importante é a autonomia nacional para que um país realize sua revolução capitalista. 2.3 Século XIX e a explicação institucionalista A teoria novo institucionalista se fortaleceu na década de 1990 e defende que foi a falta de garantia da propriedade e dos contratos no século XIX o motivo para o atraso no desenvolvimento econômico brasileiro. Para esta teoria, a explicação não seria encontrada nas estruturas, mas nas instituições, e se fossem garantidas a propriedade e os contratos o mercado daria conta do desenvolvimento econômico. Bresser argumenta que obviamente as instituições são importantes para o desenvolvimento econômico, mas discorda da visão novo institucionalista uma vez que, para os estruturalistas, as instituições são uma parte da estrutura econômica e social maior, com normas e valores presentes nas três instâncias da sociedade (a saber, econômica, política e cultural). Desta forma, não há como separar as instituições da estrutura, e a ideia de que a escolha das instituições depende apenas da vontade de um povo é equivocada. 2.4 O legado da escravidão No último tópico do texto, Bresser afirma que a independência do Brasil não significou uma transição de uma sociedade agrária letrada para uma sociedade capitalista, mas se manteve a sociedade mercantil escravista da colônia. A elite imperial era formada por latifundiários e uma pequena elite de altos burocratas, que não tinham uma ideia de nação nem interesse real em romper com a estrutura do período colonial, latifundiária e escravocrata. Desta forma, o primeiro ensaio de
desenvolvimento econômico capitalista no Brasil só se inicia após 1888, ano da abolição da escravatura. No entanto, a população negra não consegue espaço neste desenvolvimento capitalista, pois o ex escravo não foi preparado para vender sua força de trabalho e muito menos para ascender socialmente requisitos necessários para se estabelecer em um movimento capitalista. As desigualdades geradas deste fato só começam a mudar após a Revolução Capitalista Brasileira se completar (década de 1980) e após a transição democrática de 1985. III CONCLUSÃO É possível concluir que os europeus só trouxeram desenvolvimento para suas colônias quando essas foram de povoamento. No caso brasileiro, o colonialismo mercantil foi a origem do atraso em relação à revolução capitalista. O clima brasileiro complementar ao da Europa e a preocupação portuguesa com suas colônicas da África e suas atividades na Ásia foram variáveis que interferiram na escolha pela adoção da constituição de uma colônia de exploração mercantil no Brasil. Caio Prado Junior já dizia que nosso atraso em relação aos EUA deve se ao tipo de colonização aqui estabelecido. Caio Prado diz que o que ocorreu no Nordeste dos EUA foi a colonização de povoamento região com clima semelhante ao da Inglaterra, enquanto no Brasil o que houve foi a colonização de exploração mercantil, baseada no grande latifundiário e na mão de obra escrava. Os colonos não desenvolveram aqui uma sociedade semelhante a européia, mas sim uma sociedade mencantil escravista particular. Fora isso os colonos que iam para os EUA tinham um nível de conhecimento superior a aqueles que para cá vinham. O monopólio português do comércio externo brasileiro também foi um obstáculo para nós. Graças a sua colonização de povoamento, os EUA já tinham um mercado interno, que é a condição maior para a revolução nacional e industrial diferentemente do Brasil que começou a construir as características necessárias para a revolução capitalista na época da mineração.
Mesmo com a independência do Brasil, se manteve a sociedade mercantil escravista da colônia. Não havia interesse interno em romper com a estrutura do período colonial, latifundiária e escravocrata. Desta forma, o primeiro ensaio de desenvolvimento econômico capitalista no Brasil só se inicia após 1888, ano da abolição da escravatura. No entanto, um movimento capitalista necessita de duas peças chaves: pessoas preparadas para vender sua força de trabalho e com uma cultura que preveja a ideia de ascensão social. Os negros não tinham nem uma, nem outra característica. É apenas com o surgimento de um substrato psicológico adequado aos pilares do capitalismo que uma revolução desenvolvimentista nos moldes do sistema atual pôde acontecer.