PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO IDENTIFICAÇÃO PROCESSO TRT/SP Nº 10012345920155020465-14ª TURMA RECURSO ORDINÁRIO EM PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO ORIGEM: 05ª VARA DO TRABALHO DE SÃO BERNARDO DO CAMPO RECORRENTE: GETULIO ANSELMO CASTAGNA ADV.: MARA DE OLIVEIRA BRANT RECORRIDO: VOLKSWAGEN DO BRASIL INDÚSTRIA DE VEÍCULOS AUTOMOTORES LTDA ADV.: GUILHERME NEUENSCHWANDER FIGUEIREDO JUIZ SENTENCIANTE: RODRIGO ACUIO EMENTA EMENTA ART. 31 DA LEI Nº 9.656/98. POSSIBILIDADE DE FORMAÇÃO DE PLANO DE SAÚDE EXCLUSIVO PARA EX-EMPREGADOS DEMITIDOS OU EXONERADOS SEM JUSTA CAUSA OU APOSENTADOS. ARTS. 13 E 17 DA RESOLUÇÃO ADMINISTRATIVA Nº 279/2011 DA ANS. O art. 31 da Lei nº 9.656/98 garante ao empregado aposentado o direito de manutenção como beneficiário no plano de saúde oferecido pelo empregador, nas mesmas condições de cobertura assistencial de que gozava quando da vigência do contrato de trabalho, desde que assuma o seu pagamento integral. O art. 13 da Resolução Normativa nº 279/2011 da ANS permite que, para manutenção do ex-empregado aposentado como beneficiário de plano privado de assistência à saúde, os empregadores terão a opção de formar um plano de assistência à saúde exclusivo para seus ex-empregados demitidos ou exonerados sem justa causa ou aposentados, na forma do artigo 17, separado do plano dos empregados ativos. Oferecido pela reclamada plano de saúde próprio para inativos, não tem direito o reclamante a ser mantido no mesmo plano disponibilizado aos empregados ativos. RELATÓRIO Inconformado com a r. sentença de fls. 310/315, cujo relatório adoto e que julgou improcedente a ação, recorre ordinariamente o reclamante pelas razões de fls. 322/347, pretendendo a reforma do julgado
quanto à manutenção do plano de saúde oferecido pela reclamada quando na ativa. Contrarrazões às fls. 358/370. É o relatório. FUNDAMENTAÇÃO V O T O Regular e tempestivo, conheço. Pretende o reclamante a manutenção do mesmo plano de saúde (Volkswagen) oferecido pela reclamada quando na ativa, alegando que a recorrida tem atualmente ofertado esse plano aos que aderem ao PDV, que o plano oferecido aos inativos (Intermédica) não possui as mesmas coberturas do anterior, pois exclui doenças pré-existentes e o recorrente está sob tratamento de câncer de próstata, que a reclamada não demonstrou o custo líquido para manutenção do plano, vez que não indica os valores descontados dos funcionários, impossibilitando a apuração do real valor integral a ser suportado pelo empregado demitido (custo líquido do empregador), que a manutenção do plano não pode ser vedada pelo PDV, que não há comprovação de que os planos Volkswagen e Intermédica são equivalentes, que o valor da mensalidade no sistema de autogestão é menor do que por faixa etária, que não há necessidade de o empregado permanecer
no plano por mais de 10 anos ininterruptos e ilegalidade das Resoluções do CONSU e da ANS. O reclamante trabalhou na reclamada em dois períodos, de 05.05.1971 a 09.01.1998 (fl. 92) e de 01.08.2007 a 23.12.2011 (fls. 86/87), obtendo aposentadoria especial em 27.10.1993 (fl. 93). No segundo período, foi dispensado sem justa causa, aderindo a PDV (fls. 88/89). Quando na ativa, o reclamante contribuía para o plano de saúde coletivo oferecido pela reclamada com 3% de seu salário, no importe de R$ 87,24 no mês de nov/2011 (fl. 91), para benefício seu e de seus familiares. O plano era próprio da Volkswagen, na modalidade de autogestão. Com a demissão, em 23.12.2011, a reclamada ofereceu plano de saúde da Intermédica, na forma da Cláusula 5º do Acordo sobre Rescisão de Contrato de Trabalho (fls. 88/89), decorrente da adesão ao PDV, nos seguintes termos: "Fica assegurado ao DEMISSIONÁRIO e seus dependentes legais reconhecidos como tal pela EMPREGADORA, a condição de usuários do PLANO MÉDICO VW - PADRÃO C (ENFERMARIA), no período compreendido do dia 01.01.2012 a 31.03.2012 sendo o custo relativo ao referido benefício pago integralmente pela EMPRESA. Após este prazo fica assegurado ao DEMISSIONÁRIO e seus dependentes legais reconhecidos como tal pela EMPREGADORA, a possibilidade de aderir ao PLANO DE AGREGADOS INTERMÉDICA, com "CARÊNCIA ZERO E SEM DOENÇAS PRÉ-EXISTENTES", desde que formalizem sua adesão no prazo máximo de 30 dias contínuos, contados da 'data de término' acima identificada, obedecidas
as condições de pagamento previstas na Lei nº 9.656/98 de 03 de Junho de 1998." É incontroverso que o reclamante não formulou sua opção pela adesão ao plano de saúde da Intermédica, tendo ajuizado a presente ação em 28.03.2012 perante a Justiça Estadual, que declarou sua incompetência material, tendo sido os autos remetidos a esta Justiça Especializada em 12.06.2015 (fl. 04). O art. 31, caput, da Lei nº 9.656/98 estabelece que: "Art. 31. Ao aposentado que contribuir para produtos de que tratam o inciso I e o 1o do art. 1o desta Lei, em decorrência de vínculo empregatício, pelo prazo mínimo de dez anos, é assegurado o direito de manutenção como beneficiário, nas mesmas condições de cobertura assistencial de que gozava quando da vigência do contrato de trabalho, desde que assuma o seu pagamento integral.(redação dada pela Medida Provisória nº 2.177-44, de 2001) 1o Ao aposentado que contribuir para planos coletivos de assistência à saúde por período inferior ao estabelecido no caput é assegurado o direito de manutenção como beneficiário, à razão de um ano para cada ano de contribuição, desde que assuma o pagamento integral do mesmo. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.177-44, de 2001)
2o Para gozo do direito assegurado neste artigo, observar-se-ão as mesmas condições estabelecidas nos 2o, 3o, 4o, 5o e 6o do art. 30. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.177-44, de 2001)" (destaquei). A Resolução Normativa nº 279, de 24.11.2011, editada pela ANS, regulamentando os arts. 30 e 31 da Lei nº 9.656/98, revogando as Resoluções do CONSU nº 20 e 21, ambas de 07.04.1999, vigente à época da rescisão do contrato de trabalho, determina: considera-se: "Art. 2º Para os efeitos desta Resolução, (...) II - mesmas condições de cobertura assistencial: mesma segmentação e cobertura, rede assistencial, padrão de acomodação em internação, área geográfica de abrangência e fator moderador, se houver, do plano privado de assistência à saúde contratado para os empregados ativos; Art. 13. Para manutenção do ex-empregado demitido ou exonerado sem justa causa ou aposentado como beneficiário de plano privado de assistência à saúde, os empregadores poderão:
I - manter o ex-empregado no mesmo plano privado de assistência à saúde em que se encontrava quando da demissão ou exoneração sem justa causa ou aposentadoria; ou II - contratar um plano privado de assistência à saúde exclusivo para seus ex-empregados demitidos ou exonerados sem justa causa ou aposentados, na forma do artigo 17, separado do plano dos empregados ativos. Art. 17. O plano privado de assistência à saúde exclusivo para ex-empregados demitidos ou exonerados sem justa causa e aposentados deverá ser oferecido pelo empregador mediante a celebração de contrato coletivo empresarial com a mesma operadora, exceto na hipótese do artigo 14 desta Resolução, escolhida para prestar assistência médica ou odontológica aos seus empregados ativos. Parágrafo único. O plano de que trata o caput deverá abrigar os ex-empregados demitidos ou exonerados sem justa causa e os aposentados. Art. 19. A manutenção da condição de beneficiário em plano privado de assistência à saúde exclusivo para ex-empregados demitidos ou exonerados sem justa causa ou aposentados poderá ocorrer com condições de reajuste, preço, faixa etária diferenciadas daquelas verificadas no plano privado de assistência à saúde contratado para os empregados ativos.
1º É vedada a contratação de plano privado de assistência à saúde de que trata o caput com formação de preço pósestabelecida. 2º A participação financeira dos ex-empregados que forem incluídos em plano privado de assistência à saúde exclusivo para demitidos ou exonerados sem justa causa ou aposentados deverá adotar o sistema de pré-pagamento com contraprestação pecuniária diferenciada por faixa etária. Art. 20. O plano privado de assistência à saúde exclusivo para ex-empregados demitidos ou exonerados sem justa causa e aposentados será financiado integralmente pelos beneficiários. Parágrafo único. É permitido ao empregador subsidiar o plano de que trata o caput ou promover a participação dos empregados ativos no seu financiamento, devendo o valor correspondente ser explicitado aos beneficiários.". O art. 31 da Lei nº 9.656/98 garante ao empregado aposentado o direito de manutenção como beneficiário no plano de saúde oferecido pelo empregador, nas mesmas condições de cobertura assistencial de que gozava quando da vigência do contrato de trabalho, desde que assuma o seu pagamento integral. O art. 2º, II, da RN nº 279/2011 define o que se entende por "mesmas condições de cobertura assistencial", como sendo "mesma segmentação e cobertura, rede assistencial, padrão de acomodação em internação, área geográfica de abrangência e fator moderador, se houver,
do plano privado de assistência à saúde contratado para os empregados ativos". Portanto, não é lícita a interpretação que o autor faz das normas em questão, no sentido de que "mesmas condições de cobertura assistencial" significaria manter disponível ao empregado aposentado a possibilidade de pagar os mesmos valores das cotas-parte do empregado e do empregador referentes ao plano de saúde usufruído quando na ativa. Também não cabe a interpretação de que a expressão "CARÊNCIA ZERO E SEM DOENÇAS PRÉ-EXISTENTES" aposta na Cláusula 5ª do Acordo sobre Rescisão do Contrato de Trabalho afastasse da cobertura do plano de saúde da Intermédica as doenças pré-existentes dos empregados inativos demitidos, pelo contrário, haveria inexistência de carência e de restrições de tratamento às doenças pré-existentes, justamente para dar efetividade à continuidade do plano de saúde anteriormente usufruído na ativa. No mais, não há evidências de que a Intermédica se recusaria a continuar o tratamento da doença do reclamante (câncer de próstata). O art. 13 da RN nº 279 permite que, para manutenção do ex-empregado aposentado como beneficiário de plano privado de assistência à saúde, os empregadores terão a opção de formar um plano de assistência à saúde exclusivo para seus ex-empregados demitidos ou exonerados sem justa causa ou aposentados, na forma do artigo 17, separado do plano dos empregados ativos. E foi justamente essa a opção da reclamada, ao oferecer ao recorrente plano de saúde específico para inativos. O art. 17 define que esse plano exclusivo deverá ser oferecido pelo empregador mediante a celebração de contrato coletivo celebrado com a mesma operadora, o que foi observado, pois o plano de
saúde dos empregados ativos era autogerido pela reclamada, e assim continuou a ser no plano disponibilizados aos inativos. Ao contrário do sustentando, as condições de reajuste, preço e faixa etária para manutenção da condição de beneficiário em plano privado de assistência à saúde exclusivo para ex-empregados aposentados, podem ser diferenciadas daquelas verificadas no plano privado de assistência à saúde contratado para os empregados ativos, como dispõe expressamente o art. 19 da Resolução. Devendo o empregado aposentado assumir o pagamento integral para ser mantido no plano, nas mesmas condições de cobertura assistencial de que gozava quando vigente o contrato de trabalho, os valores pagos pela empregadora e que deveriam ser assumidos pelo exempregado inativo foram comprovados nas planilhas de fls. 287/289, juntadas com a réplica, na coluna "Custo Líquido do Plano para Empresa". Nem se alegue que a RN nº 279/2011 extrapola seus limites regulamentares. O art. 35-A, da Lei nº 9.656/98, invocado pelo recorrente, trata do Conselho de Saúde Suplementar (CONSU), e a Resolução foi editada pela ANS. No mais, o art. 4º, XI, da Lei nº 9.961/00 define que compete à ANS "estabelecer critérios, responsabilidades, obrigações e normas de procedimento para garantia dos direitos assegurados nos arts. 30 e 31 da Lei no 9.656, de 1998". Assim, a Resolução foi editada dentro das competências regulamentares da Agência. A adesão ao PDV não é o principal fundamento para a validade do plano de saúde oferecido pela reclamada, mas sim a autorização para tanto conferida pelas disposições da Lei nº 9.656/98 e da Resolução Normativa nº 279/2011 da ANS.
Não houve comprovação de que o plano oferecido aos empregados inativos (Intermédica) não tivesse as mesmas condições de cobertura assistência do plano dos ativos (Volkswagen), entendidas como mesma segmentação e cobertura, rede assistencial, padrão de acomodação em internação, área geográfica de abrangência e fator moderado. O reclamante não contribuiu para o plano de saúde por mais de dez anos, pois o primeiro período de trabalho (de 05.05.1971 a 09.01.1998) é anterior à vigência da Lei nº 9.656, de 03.06.1998. Quanto ao segundo período, pelo exposto, não faz jus ao plano de saúde dos ativos. Ao contrário do sustentado, mesmo para o empregado dispensado em 2015, a reclamada ofereceu "PLANO DE SAÚDE PARA INATIVOS DA VOLKSWAGEN", e não o mesmo plano de saúde dos ativos, na modalidade de autogestão, conforme previsto na Cláusula 5ª do Acordo sobre Rescisão de Contrato de Trabalho juntado com o apelo (fls. 352/353), não havendo nenhuma violação ao princípio da isonomia. Portanto, não tem direito o reclamante a ser mantido no mesmo plano de saúde disponibilizado aos empregados ativos. Mantenho. MÉRITO Recurso da parte Item de recurso Conclusão do recurso ACÓRDÃO
Cabeçalho do acórdão Acórdão Presidiu o julgamento o Exmo. Sr. Desembargador MANOEL ARIANO (Regimental). Tomaram parte do julgamento os Exmos. Srs. Magistrados: MANOEL ARIANO, FERNANDO ÁLVARO PINHEIRO e MARCOS NEVES FAVA. Relator: o Exmo. Sr. Desembargador MANOEL ARIANO. Revisor: o Exmo. Sr. Desembargador FERNANDO ÁLVARO PINHEIRO. Ante o exposto, ACORDAM os Magistrados da 14ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região em: por unanimidade de votos, NEGAR PROVIMENTO ao recurso do reclamante, mantendo integralmente a r. sentença de origem. ASSINATURA MANOEL ANTONIO ARIANO DESEMBARGADOR RELATOR VOTOS