APELAÇÃO CÍVEL. CONTRATO DE FOMENTO MERCANTIL. NEGOCIAÇÃO DE DUPLICATAS SIMULADAS. DEVER DE RESSARCIR. Caso em que não demonstrou a empresa emitente das duplicatas, a existência do negócio subjacente que embasou a emissão dos títulos endossados para empresa de factoring, devendo ressarcir os prejuízos que causou, conforme expressa previsão constante em contrato de fomento mercantil firmado entre as partes. RECURSO IMPROVIDO. APELAÇÃO CÍVEL DÉCIMA SEXTA CÂMARA CÍVEL COMARCA DE GARIBALDI MOBIZA INDUSTRIA DE MOVEIS LTDA MOBEZA FACTORING SERVICOS LTDA NOVA GARIBALDI FACTORING LTDA APELANTE APELADO APELADO ACÓRDÃO Acordam os Desembargadores integrantes da Décima Sexta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à UNANIMIDADE, NEGAR PROVIMENTO AO APELO. Participaram do julgamento, além da signatária, os eminentes Senhores DES. PAULO AUGUSTO MONTE LOPES (PRESIDENTE) E DES. ERGIO ROQUE MENINE. Porto Alegre, 26 de setembro de 2007. DES.ª ANA MARIA NEDEL SCALZILLI, Relatora. 1
RELATÓRIO DES.ª ANA MARIA NEDEL SCALZILLI (RELATORA) MOBEZA FACTORING SERVIÇOS LTDA. ajuizou ação contra MOBIZA INDÚSTRIA DE MÓVEIS LTDA., dizendo, em suma, que através de Instrumento Particular de Fomento Mercantil firmado entre as partes, adquiriu da ré diversas duplicatas, as quais foram emitidas sem causa subjacente, conforme averiguou posteriormente. Alegou que, segundo o disposto na legislação aplicável à espécie e o constante no contrato que entabularam, responde a ré pela higidez dos títulos negociados e pelo não pagamento do débito pelo sacado. Requereu a procedência da ação. Citada, a ré apresentou contestação. Inicialmente, denunciou à lide a empresa Nova Garibaldi Factoring Ltda., pois que todas as negociações foram realizadas na sede desta. No mérito, discorreu sobre a incidência do Código de Defesa do Consumidor no caso, e disse que nunca realizou negócios com a ré. Aduziu que em relação aos títulos mencionados pela autora, foram estes substituídos por outros, junto à Nova Garibaldi Factoring. Referiu que as empresas de factoring, de forma abusiva, buscam receber valores de títulos objetos de operação de redesconto. Postulou a improcedência da ação. O pedido de denunciação à lide foi acolhido. (fl. 191) A denunciada à lide ofertou resposta. Argüiu, preliminarmente, sua ilegitimidade ad causam. No mérito, disse que negociou títulos com a ré denunciante à lide, mas não aqueles que está sendo cobrados pela empresa autora nesta ação. Aduziu que a denunciante está litigando de má-fé. termos: Instruído o feito, sobreveio sentença vazada nos seguintes Diante do exposto, JULGO PROCEDENTE o pedido, e, em conseqüência, condeno a demandada Mobiza Indústria de Móveis Ltda ao pagamento ao autor no montante de R$30.545,30, valor este que será corrigido pelo IGP-M a contar do vencimento 2
do título e, acrescido de juros de mora de 1% ao mês a partir da citação. Outrossim, condeno a ré Mobiza nas penas de litigância de má-fé, conforme o artigo 17, II e VII, do Código de Processo Civil, aplicando-lhes multa de 1% sobre o valor da causa. Pelo princípio da sucumbência, condeno a demandada Mobiza ao pagamento das custas e honorários advocatícios, os quais arbitro em 10% do valor da condenação atualizada, conforme a norma do art. 20, 3º e 4º do CPC, considerando a natureza e a importância do trabalho realizado pelo procurador. Caso interposto recurso, desde logo, arbitro os honorários advocatícios em 20% do valor da condenação atualizada, com o objetivo de desestimular a interposição recursal e velar pela mais rápida solução definitiva da lide. Outrossim, condeno a denunciante/demandada Mobiza ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios fixados em R$1.300,00 à denunciada Nova Garibaldi Factoring Ltda. (fls. 314/318) Inconformada, apela a ré, reeditando os argumentos anteriormente expendidos. Pugna pelo provimento do recurso. Apresentadas contra-razões, foram os autos encaminhados à apreciação desta Corte, vindo-me conclusos para julgamento. Registro que foi observado o disposto nos artigos 549, 551 e 552, do Código de Processo Civil, tendo em vista a adoção do sistema informatizado. É o relatório. VOTOS DES.ª ANA MARIA NEDEL SCALZILLI (RELATORA) Eminentes Colegas: Improcede o apelo. No caso, a autora, empresa de factoring, busca o ressarcimento de títulos de crédito negociados com a ré, sob a alegação de tratar-se de duplicatas simuladas, eis que não possuem causa subjacente a embasar sua emissão. 3
Juntou, para comprovar o fato constitutivo de seu direito, além do contrato de prestação de serviço firmado entre as partes, cópia das aludidas cártulas, acompanhadas das respectivas notas fiscais emitidas pela ré e, principalmente, declaração desta comunicando sobre o desfazimento de um negócio referente a um dos títulos, e das Lojas Colombo, informando que não reconhecia a existência de compra de mercadorias da ré atinente a maioria das duplicatas objeto desta ação. Assim, incumbia a ré, já que as duplicatas endossadas à autora careciam de aceite das empresas sacadas, colacionar aos autos, no mínimo, o comprovante de entrega das mercadorias que vendeu, a fim de demonstrar a existência da avença subjacente que ensejaram na emissão das duplicatas negociadas. Logo, não comprovada a higidez dos títulos endossados, incide o disposto nas cláusulas 9ª e 10ª do contrato de fectoring firmado entre as partes (fl. 23), impondo que a ré arque com a devolução dos valores recebidos, além de eventuais penalidades previstas na avença. Também é de ser confirmada a parte da sentença que julgou improcedente a denunciação à lide, pois que, não obstante a denunciada à lide e a autora possuírem em seus respectivos quadros sociais, sócio comum, não teve participação nos títulos negociados, e que agora busca a autora se ressarcir. Feitas essas considerações, nego provimento ao apelo. É o voto. DES. ERGIO ROQUE MENINE (REVISOR) - De acordo. DES. PAULO AUGUSTO MONTE LOPES (PRESIDENTE) - De acordo. 4
DES. PAULO AUGUSTO MONTE LOPES - Presidente - Apelação Cível nº 70020489001, Comarca de Garibaldi: "NEGARAM PROVIMENTO AO APELO. UNÂNIME." Julgador(a) de 1º Grau: ROSANGELA CARVALHO MENEZES 5