PROTOCOLO Nº: 81588/17 ORIGEM: MUNICÍPIO DE FOZ DO IGUAÇU INTERESSADO: INES WEIZEMANN DOS SANTOS, ASSOCIACAO IGUACUENSE DE PROCURADORES MUNICIPAIS - AIPM ASSUNTO: Consulta PARECER: 5102/17 Consulta. Remuneração dos Procuradores Municipais. Teto aplicável. Subsídio. Honorários sucumbenciais. Conhecimento e resposta. Trata-se de consulta formulada pela Prefeita interina de Foz do Iguaçu, por meio da qual formula os seguintes questionamentos: 1.Com a criação do novo Código de Processo Civil, que instituiu os honorários de sucumbência, quanto ao pagamento dessa verba, é possível a aplicação do teto remuneratório do subsídio de Desembargador de Tribunal de Justiça ou se aplica o teto remuneratório do Prefeito Municipal aos Procuradores Municipais? 2.Os procuradores do Município devem ser obrigatoriamente remunerados por subsídios, conforme previsão contida no art. 135 da Constituição Federal? 3.Há compatibilidade da remuneração ou do subsídio com a verba honorária de sucumbência, ou seja, os Procuradores Municipais e o Procurador Geral do Município tem direito à percepção da verba honorária de sucumbência, mesmo nas carreiras nas quais já foi instituído o subsídio como forma de remuneração, nos termos do art. 39, 4º, da Constituição Federal? A peça inaugural vem acompanhada de parecer jurídico (peça 07), firmado pelo órgão de consultoria do executivo municipal, no qual se manifestou pela fixação do teto remuneratório dos Procuradores Municipais com base no subsídio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça; entendeu que a remuneração dos Procuradores do Município deve ser fixada por meio de subsídio e que não há incompatibilidade na cumulação de percepção de honorários advocatícios sucumbenciais com o subsídio/remuneração percebidos pela categoria. Admitida a consulta (Despacho nº 164/17, peça 12), a Diretoria de Jurisprudência e Biblioteca asseverou a inexistência de precedentes específicos quanto a matéria (Informação nº 20/17, peça 13). 1
Por sua vez, a Coordenadoria de Fiscalização de Atos de Pessoal, mediante o Parecer nº 1289/17 (peça 14), abordando a divergência jurisprudencial relativa ao tema, ocupou-se de examinar os fundamentos constitucionais que informam o objeto da consulta de forma literal e restritiva, concluindo que se aplica o teto dos Desembargadores do Tribunal de Justiça somente aos Procuradores Estaduais, considerando que a extensão do teto remuneratório dos Desembargadores do Tribunal de Justiça aos Procuradores Municipais, além de ofender o princípio da isonomia no tratamento dos demais servidores municipais, ofenderia também o princípio federativo, ressalvando, no entanto, a alteração posterior de entendimento quando do julgamento definitivo, pelo Supremo Tribunal Federal, do RE n. 663.696/MG. Com relação ao segundo quesito, entendeu que a remuneração dos Procuradores Municipais deve ser fixada por meio de subsídio, em nome do princípio da simetria, uma vez que com base no art. 39, 4º, os Procuradores Federais e Estaduais devem ser remunerados por meio de subsídio. Por fim, com relação ao terceiro quesito, entende a Unidade Instrutiva que os Procuradores Municipais têm direito à percepção da verba honorária de sucumbência, mesmo nas carreiras nas quais já tenha sido instituído o subsídio como forma de remuneração, tendo em vista que com o advento do novo Código de Processo Civil, em seu artigo 85, 19, há previsão expressa acerca da legalidade de pagamento de honorários de sucumbência aos advogados públicos. Após, vieram os autos ao Parquet Especializado. Prefacialmente, impõe-se registrar que a consulta preenche os requisitos legais de admissibilidade, disciplinados no art. 38 da LOTCE/PR: legitimidade da autoridade consulente (art. 39, inciso II), objetividade dos quesitos e delimitação da dúvida, objeto pertinente à competência material do controle externo, prévio exame do órgão de assessoria local e formulação em tese. No mérito, o tratamento jurídico dispensado pelo segmento técnico desta Corte bem aborda os detalhes pertinentes à dúvida explicitada pela autoridade municipal, de forma que endossamos parcialmente a linha argumentativa lá empreendida, com pontuais modificações quanto às conclusões alcançadas. De fato, o art. 37, inciso XI, com redação dada pela Emenda Constitucional nº 41 de 2003, assim estabelece: XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder Legislativo e o subsidio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do 2
subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos. (sem grifos no original) Da leitura do dispositivo, vislumbra-se que o constituinte derivado estabeleceu diversos limites remuneratórios para os agentes públicos. Há um teto geral, correspondente ao subsídio mensal percebido pelos ministros do STF, além de subtetos específicos. Para os servidores municipais, incide, como regra, o subteto correspondente ao subsídio do prefeito. No entanto, na parte final do inciso XI, há outro subteto alternativo para membros do Ministério Público, Procuradores e Defensores Públicos, equivalente ao valor do subsídio dos desembargadores do Tribunal de Justiça. O cerne da presente consulta está em esclarecer se o termo Procuradores constante na parte final do inciso XI do art. 37 da CF/88 abrangeria, também, os Procuradores Municipais, e, assim, esta categoria de servidores municipais também se submeteria ao subsídio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça como teto remuneratório. Assim, surge um aparente conflito atinente ao subteto aplicável ao subsídio dos procuradores municipais, qual seja, se eles estão sujeitos ao subteto correspondente ao subsídio do prefeito municipal ou ao equivalente ao subsídio dos desembargadores estaduais, tendo em vista que são, simultaneamente, servidores públicos do município e integram a Advocacia Pública. Caso seja feita uma interpretação literal e restritiva da Constituição, como sugerida pelo segmento técnico, aplicar-se-ia o teto dos Desembargadores do Tribunal de Justiça tão somente aos Procuradores Estaduais. Por outro lado, se a finalidade da regra contida na parte final do inciso XI do art. 37 da Constituição é prestigiar o exercício das funções essenciais à Justiça e se dentre estas se inclui a Advocacia Pública, não há qualquer razão que justifique a exclusão dos procuradores municipais do seu âmbito. Afinal, eles também são advogados públicos. Nesse diapasão, pode-se entender que caso o constituinte derivado quisesse excluir os procuradores municipais da normativa contida no art. 37, Inc. XI, tê-lo-ia feito expressamente, como ocorreu no art. 132 da Carta, que empregou a expressão Procuradores dos Estados e do Distrito Federal, in verbis: Art. 132. Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal, organizados em carreira, na qual o ingresso dependerá de concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as suas fases, exercerão a representação judicial e a consultoria jurídica das respectivas unidades federadas. Parágrafo único. Aos procuradores referidos neste artigo é assegurada estabilidade após três anos de efetivo exercício, mediante avaliação de desempenho perante os órgãos próprios, após relatório circunstanciado das corregedorias. (sem grifos no original) 3
Esse entendimento vem sido discutido no âmbito do Supremo Tribunal Federal no julgamento do Recurso Extraordinário nº 663.696/MG, com repercussão geral reconhecida e ainda pendente de julgamento final devido ao pedido de vista do Ministro Gilmar Mendes, em que a Associação Municipal dos Procuradores Municipais de Belo Horizonte questiona acórdão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG) que entendeu que o teto deve ser a remuneração do prefeito, e não o subsídio dos desembargadores, como ocorre com os procuradores estaduais. Segundo o voto do relator 1, ministro Luiz Fux, a previsão existente na Constituição Federal relativa ao teto dos procuradores estaduais e do Distrito Federal também se aplica aos procuradores municipais, desde que concursados e organizados em carreira. Segundo o ministro, que votou pelo provimento do RE, não há fundamento para se fazer uma discriminação relativamente a esses procuradores, que possuem o mesmo tipo de atuação daqueles ligados à administração estadual, e também integram, como advogados públicos, as funções essenciais à Justiça. Ainda, de acordo com o voto do Ministro Relator, seguido pelos Ministros Edson Fachin, Cármen Lúcia e, adiantando seus votos, os ministros Marco Aurélio e Celso de Mello, nos municípios onde há procuradorias organizadas, os advogados públicos desempenham funções idênticas às atribuídas aos congêneres dos estados, prestando consultoria e representando judicial e extrajudicialmente os municípios, seguindo a mesma lógica de atuação, procedimentos e recrutamento, tendo seus concursos o mesmo grau de dificuldade e profundidade daqueles aplicados pelos estados. A divergência quanto ao voto do relator foi aberta pelo ministro Teori Zavascki e acompanhado pela Ministra Rosa Weber, que consideraram que a expressão procuradores, presente no artigo 37, inciso XI, da Constituição, não se refere a um gênero, do contrário incluiria também os procuradores da União, que estariam igualmente sujeitos ao teto remuneratório dos desembargadores dos Tribunais de Justiça, ponderando que tal fato atentaria contra o federalismo, bem como sopesaram que ao se estabelecer que o teto remuneratório do município está sujeito ao do estado, também se está atentando contra o princípio federativo, pois o estabelecimento de tetos diferentes para União, estados e municípios é fixado pela própria Constituição. Nota-se, ainda, que muito embora os Procuradores e Defensores Públicos Estaduais e Distritais estejam vinculados ao Poder Executivo, seu limite remuneratório é vinculado constitucionalmente ao subteto do Poder Judiciário, o que deveria ser também aplicado aos procuradores municipais, levando em conta o princípio da simetria. Dessa forma, diversamente do que firmou a COFIM, que fundamentou seu opinativo com base na literalidade do texto constitucional, e ainda, levando em consideração a tendência de consolidação do entendimento discutido no 1 Fonte: http://www.stf.jus.br/portal/cms/vernoticiadetalhe.asp?idconteudo=314366. Acesso em 12/06/2017. 4
RE 663.696/MG, que já obteve a maioria dos votos, entende-se que o teto remuneratório de procuradores municipais é o subsídio dos desembargadores dos Tribunais de Justiça, tendo em vista a abrangência do termo procurador dentro do contexto do inc. XI do art. 37 da CF, abarcando a todos eles, independente da esfera de governo a que pertençam, seja federal, estadual ou municipal. Por sua vez, com relação ao segundo questionamento, e em observância ao principio da simetria, a remuneração dos Procuradores Municipais organizados em carreira deve ser fixada por meio de subsídio. Tratando-se de advocacia pública, tem-se que a remuneração dos procuradores municipais deverá seguir as normas que disciplinam o subsídio dos servidores públicos, consubstanciada no art. 37, 4º, da Carta Magna, por força do art. 135 da Constituição. Ademais, muito embora a Constituição tenha regulado tão-somente a advocacia pública no âmbito da União, Estados-membros e Distrito Federal, temse que os municípios não possuem ampla liberdade para estruturar a advocacia pública municipal, considerando que possuem autonomia administrativa relativa, competindo aos Municípios legislar sobre assuntos de interesse local e Suplementar a legislação federal e a estadual no que couber. Devem, pois, respeitar os princípios e diretrizes constitucionais, consoante determina o princípio da simetria. Por sua vez, o terceiro quesito indaga sobre a compatibilidade de percepção da remuneração ou do subsídio com a verba honorária de sucumbência, mesmo nas carreiras nas quais já foi instituído o subsídio como forma de remuneração, nos termos do art. 39, 4º, da Constituição Federal. Com efeito, a Lei no 8.906/94 2, determinou que os honorários de sucumbência pertencem aos advogados, sejam eles públicos ou privados, sendo que com o advento do novo Código de Processo Civil, em seu artigo 85, parágrafo 19, foram derrubadas quaisquer dúvidas acerca da legalidade do pagamento de honorários aos advogados públicos, pois foi previsto expressamente que os advogados públicos perceberão honorários de sucumbência, nos termos da lei 3. Esta Corte de Contas, quando da análise da consulta acerca da possibilidade de percepção pelos Procuradores do Estado de honorários de sucumbência 4, respondeu no sentido da possibilidade do rateio dos honorários de sucumbência, desde que haja lei local; pela possibilidade da percepção do prêmio de produtividade, pelos Procuradores, em face da existência de critérios objetivos; pela impossibilidade da percepção de honorários de sucumbência pelos Advogados do Quadro Especial, já que não há previsão em Lei, apenas em Decreto, e; pela necessidade de implementação da remuneração através de subsídios. 2 Art. 23. Os honorários incluídos na condenação, por arbitramento ou sucumbência, pertencem ao advogado, tendo este direito autônomo para executar a sentença nesta parte, podendo requerer que o precatório, quando necessário, seja expedido em seu favor. 3 Art. 85: (...) 19. Os advogados públicos perceberão honorários de sucumbência, nos termos da lei. 4 Protocolo nº 1319608. 5
Ademais, o pagamento dos honorários advocatícios aos advogados públicos não desvirtua o sistema remuneratório do subsídio trazido pela Emenda Constitucional no 19/98, pois eles não podem ser considerados como vencimentobase ou vantagem pecuniária, e sequer constituem receita pública e sequer decorrem dos cofres do Estado, pois são pagos pela parte contrária do processo 5. Dessa forma, os honorários advocatícios podem ser pagos juntamente com o subsídio, pois é um direito garantido por lei, sendo previsto, expressamente, aos advogados públicos. Diante do exposto, o Ministério Público de Contas manifesta-se pelo conhecimento e resposta à consulta, nos termos a seguir indicados: a) Seguindo a tendência de julgamento definitivo do RE n. 663.696/MG, pelo Supremo Tribunal Federal, o teto remuneratório a ser aplicado aos Procuradores Municipais é o subsídio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça; b) A remuneração dos Procuradores Municipais deve ser fixada por meio de subsídio; c) Os Procuradores Municipais têm direito à percepção da verba honorária de sucumbência, mesmo nas carreiras nas quais já foi instituído o subsídio como forma de remuneração. Curitiba, 7 de junho de 2017. Assinatura Digital FLÁVIO DE AZAMBUJA BERTI Procurador-Geral do Ministério Público de Contas 5 Revista da Informação legislativa, ano 50, número 199 jul/set.2013, pág 195. https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/50/199/ril_v50_n199_p179.pdf. Acesso em 13/06/2017. 6