A dúvida do consulente requer sejam feitas algumas considerações conceituais sobre os servidores públicos, o regime estatutário e sua abrangência.

Transcrição

1 Prezados senhores. 1 - No quadro de servidores do IMP de São José do Rio Pardo/SP, todos servidores são nomeados em comissão. 2 - O IMP, nunca havia pago as vantagens constantes da lei número 2712/2004 (Estatuto do Servidor Público Municipal) artigo 45, aos seus servidores em comissão de livre nomeação e exoneração, por entender que aos mesmos não teriam direito por não serem funcionários de cargo efetivo. 3 Ocorre, que dois destes servidores, entrarão na justiça pleiteando essas vantagens, com base no Art. 2, parágrafos I e III, da referida lei. I - (Servidor Público Estatutário é a pessoa legalmente investida em cargo público de provimento efetivo ou em comissão. III Cargo em comissão é o conjunto de tarefas e encargos de direção, chefia, coordenação, supervisão, assessoramento e outras funções de confiança, de livre nomeação e de exoneração do Prefeito, com jornada de 8 horas diárias. Aos servidores que entrarão na justiça em sentença transitada em julgado, feito n , foi concedido a Vantagem por Tempo de Serviço aos mesmos. Como existe neste Instituto outros servidores na mesma condição, solicito parecer desta Associação, se existe a possibilidade de conceder os mesmos benefícios administrativamente aos demais servidores com base na sentença já proferida, ou nos aconselha para não ter questionamento e possível rejeição de contas por parte do Tribunal de Contas do Estado, que os demais servidores também pleiteiem na justiça os mesmos direitos? Segue anexo, cópia atualizada da Lei 2.712, de 16 de março de 2004 e cópia da sentença que julga procedente o pedido desses servidores. Resposta: A dúvida do consulente requer sejam feitas algumas considerações conceituais sobre os servidores públicos, o regime estatutário e sua abrangência. Doutrinariamente, servidores públicos são todos os agentes que, exercendo com caráter de permanência uma função pública em decorrência de relação de trabalho, integram o quadro funcional das pessoas federativas, das autarquias e das fundações públicas de natureza autárquica 1. Portanto, são servidores públicos as pessoas que se vinculam ao Estado (no sentido genérico), por uma relação permanente de trabalho e recebem pelos serviços prestados a sua correspondente remuneração. São os profissionais da Administração. 1 Jose dos Santos Carvalho Filho, In Manual de Direito Administrativo, 18ª edição, Lúmen Juris, p. 529.

2 Segundo a natureza do vínculo jurídico que vincula o servidor ao Poder Público, os servidores públicos podem ser classificados em servidores públicos estatutários, celetistas (ou trabalhistas) e temporários. Os estatutários são aqueles cuja relação jurídica de trabalho é disciplinada por leis especificas denominadas estatutos. Nesses estatutos, estão estabelecidas todas as regras que disciplinam a relação jurídica desses servidores. O regime estatutário é, pois, o conjunto de regras que regulam a relação jurídica funcional entre o servidor público e o Estado. Abrange não só a lei que estabelece as regras básicas, como todas as demais regras fixadas em leis que dispõem sobre os servidores estatutários, bem como as de caráter organizacional, como decretos, portarias, circulares, etc. Usualmente, o regime estatutário é conhecido como regime de cargo, que pode ser cargo efetivo ou cargo em comissão 2. Os celetistas (ou trabalhistas) são aqueles cuja relação jurídica de trabalho é disciplinada pela Consolidação das Leis do Trabalho. Seu regime básico, portanto, é o mesmo que se aplica à relação de emprego no campo privado, com os destaques que são admitidos em razão de o patrão ser o Poder Público. Os servidores temporários são aqueles que constituem uma categoria excepcional dentre os servidores, recrutados nos termos do art. 37, IX, da Constituição Federal, que admite a sua contratação por tempo determinado para atender à necessidade temporária de excepcional interesse público. O regime jurídico desses servidores será estabelecido pelo ente público em lei específica, e poderá ser o regime celetista ou administrativo especial. Do exposto, verifica-se que tanto os titulares dos cargos efetivos, quanto os titulares de cargos em comissão estão submetidos aos estatutos e seus deveres e direitos estão disciplinados nas normas 2 Existem os cargos políticos que são exercidos pelos agentes políticos, aos incumbe a execução das diretrizes traçadas pelo Poder Público. Suas funções são desempenhadas na forma das disposições constitucionais, não se sujeitam as regras comuns aplicáveis aos servidores públicos em geral. A eles são aplicáveis as regras constantes da Constituição, em especial as que são pertinentes às prerrogativas e à responsabilidade política. São os Chefes do Executivo (presidente, governadores, prefeitos), seus Auxiliares (Ministros e Secretários Estaduais e Municipais) e os membros do Poder Legislativo (senadores, deputados federais e estaduais e vereadores)

3 neles previstas. Dentre os direitos, ressalta-se o da remuneração do cargo e todas as vantagens pecuniárias previstas para os estatutários. Não se pode confundir o regime de trabalho dos servidores estatutários com o regime de previdência obrigatório a que estão sujeitos. O regime de previdência dos titulares de cargos efetivos é o regime próprio de previdência social, nos termos da disposição contida no art. 40 da Constituição Federal, não obstante ainda persistir em alguns Municípios (embora em afronta à Constituição Federal) o regime geral de previdência social para os servidores efetivos, estatutários. O regime de previdência dos titulares de cargos em comissão e dos temporários é o regime geral de previdência (RGPS), por força do disposto no 13 do art da Constituição Federal, na redação da EC 20/98. O estatuto aprovado para os servidores do Município consulente (Lei 2.712/2004) estabelece no seu art. 1º. que: Art. 1º. -Esta lei disciplina os direitos, deveres e responsabilidades a que se submetem os Servidores Públicos da Administração Direta, Autarquias e Fundações Públicas do Município de São José do Rio Pardo, e denominar-se-á Estatuto dos Servidores Públicos do Município de São José do Rio Pardo. Seu art. 2º define o servidor público estatutário como a pessoa legalmente investida em cargo público de provimento efetivo ou em comissão. Assim, não há a menor dúvida de que o servidor titular do cargo em comissão, exclusivamente, ou o servidor efetivo da Administração Direta que estiver no exercício de cargo em comissão na Autarquia, também tem sua relação jurídica disciplinada pelo estatuto, inclusive os direitos e vantagens pecuniárias. Entre essas vantagens pecuniárias, o art. 57 da lei estatutária dispõe que: Ao servidor ocupante, exclusivamente, de cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração bem como de outro cargo temporário ou de emprego público, aplicase o regime geral de previdência social.

4 Art O adicional por tempo de serviço é devido à razão de 5% (cinco por cento) por cada 3 (três) anos de efetivo exercício no serviço público municipal, incidindo sobre o vencimento do servidor, incorporando-se o valor correspondente à remuneração do servidor para todos os efeitos legais. 1º O direito ao recebimento do adicional por tempo de serviço ocorrerá a partir do mês em que o servidor completar o triênio, independentemente de qualquer requerimento de sua parte. 2º A contagem para aquisição do triênio será observada a partir do último adicional concedido, ou da data da posse do servidor, a qual deverá ser apurada pela Divisão de Recursos Humanos. Como se pode verificar, faz jus ao adicional por tempo de serviço o servidor, que, na forma do art. 2º do Estatuto, é o agente que se vincula à Administração Municipal por cargo efetivo ou cargo em comissão. De se dizer que os Estatutos de outros entes autorizam o pagamento dos adicionais por tempo de serviço apenas aos titulares de cargos efetivos, outros, não vinculam ao exercício no serviço público municipal, mas ao serviço público em geral. Como se sabe, os Municípios detêm autonomia (art. 30, I, da Constituição Federal) para dispor sobre o regime jurídico de seus servidores, desde que não contrariem as normas constitucionais, de obrigatória observância pelos entes federativos 4, de maneira que o art. 57 do estatuto se aplica aos servidores efetivos e aos servidores titulares de cargo em comissão. A lei não fez nenhuma distinção, destinando o adicional ao servidor genericamente considerado. Havendo previsão legal, não vislumbramos óbice à concessão via administrativa, pela Autarquia, dos adicionais por tempo de serviço aos seus servidores, mediante requerimento dos interessados, lembrando que a concessão poderá ensejar pedidos de pagamentos retroativos relativos aos últimos cinco anos, a partir da data da implementação do benefício, o que demandará análise quanto à repercussão no orçamento da autarquia. Anoto, apenas, que em se tratando de matéria pertinente à aplicação do regime estatutário no Município, que abrange todos os servidores municipais, inclusive do Executivo, Legislativo e Autarquias, tendo em conta que é do chefe do Executivo a competência para dispor sobre o 4 As normas dispostas na Constituição Federal sobre servidores não podem ser contrariadas, como, por ex., o art. 37, 39, 40, 41.

5 regime jurídico do servidor (art. 61, 1º.,II, c, da Constituição Federal), e levando em consideração que a medida tem repercussão orçamentária e financeira nas contas públicas 5, seria de bom alvitre que, preliminarmente, se encaminhasse pedido ao Prefeito para que ele normatize a matéria (mediante despacho normativo), para aplicação uniforme e isonômica a todos os servidores municipais, titulares de cargos em comissão. É o parecer, sub censura, agosto de Magadar Rosália Costa Briguet OAB/SP no Como dito, a concessão poderá ensejar pedidos para pagamentos retroativos, que, sendo indeferidos, poderão ser judicializados, levando-se em conta que, nesses casos, a prescrição é quinquenal.