PREVALÊNCIA DOS FATORES DE RISCO PARA DIABETES MELLITUS TIPO 2 EM POPULAÇÃO ATENDIDA EM APARECIDA DE GOIÂNIA PELA LIGA ACADÊMICA DE DIABETES DA UFG CAMPOS NETO, Moacir Batista de¹; SANTOS, Débora Ferreira dos²; PEREIRA, Fagner de Souza²; MELO, Mariana Christino de²; BARROS, Bruno Pellaquim²; CONCEIÇÃO, Samuel Amanso da² Palavras-chave: diabetes, rastreamento, fatores de risco, campanha Introdução: O diabetes é uma doença crônica que vem atingindo um número cada vez maior de pessoas em todo o mundo, sendo hoje considerado um problema de saúde pública com proporções de uma epidemia. As previsões são de um aumento de 122% dos casos de 1995 a 2025, quando se estima que existirão 300 milhões de diabéticos no mundo (NUCCI, 2003). O aumento da incidência de diabetes em termos mundiais tem sido relacionado às modificações do estilo de vida e do meio ambiente trazidas pela industrialização. Estas modificações levam à obesidade, ao sedentarismo e ao consumo de uma dieta rica em calorias e em gorduras. O Diabetes Mellitus (DM) apresenta alta morbimortalidade, perda importante na qualidade de vida e incorre em altos encargos para o sistema público de saúde (TOSCANO, 2004). Em média, metade dos indivíduos portadores de DM desconhece sua condição, e cerca de um quinto dos que a conhecem não realizam qualquer tipo de tratamento (ORTIZ; ZANETTI, 2001). Diante de tais fatos, e reconhecendo a importância da detecção precoce dos fatores de risco para Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) no intuito de minimizar ou reduzir a oportunidade de exposição das pessoas a esses fatores, o presente estudo tem por objetivos apresentar o perfil clínico e epidemiológico da população atendida em uma campanha realizada pela Liga Acadêmica de Diabetes, um projeto da extensão da UFG, de modo a reconhecer a prevalência de condições de risco indicativas de esforços para rastreamento do Resumo revisado por: Sílvia Lêda França Moura de Paula. Ação de Extensão: Liga Acadêmica de Diabetes, código FM-123. ¹ Universidade Federal de Goiás, moacirneto1@hotmail.com ² Universidade Federal de Goiás, ladufg2010@gmail.com
DM nesta população, além de apresentar a experiência da Liga em promover a educação em diabetes durante a realização da triagem. Metodologia: Trata-se de um estudo descritivo no qual foi realizada a análise de 105 fichas preenchidas pela Liga Acadêmica de Diabetes durante campanha realizada em um bairro de Aparecida de Goiânia no ano de 2011, em parceria com uma igreja local. Durante o preenchimento das fichas, que são roteiros sistematizados, os membros da Liga, que são estudantes de Medicina, Nutrição, Educação Física, Enfermagem e Odontologia, intervinham promovendo a educação em Diabetes, explicando sobre quais são os sintomas, os fatores de risco e possíveis complicações da doença, além de tirar as dúvidas da comunidade. As variáveis utilizadas na construção do perfil da população em estudo foram: sexo; idade; escolaridade; renda familiar; antecedentes pessoais de hipertensão arterial sistêmica (HAS), diabetes, dislipidemia (DLP), síndrome do ovário policístico (SOPC) e diabetes gestacional(dmg)/macrossomia; antecedentes familiares de DM, HAS e DLP; tabagismo; etilismo; realização de atividade física; presença de sintomas relacionados ao DM (polifagia, poliúria, polidipsia, fraqueza, astenia, perda de peso); alimentação (dieta hiper/normo/hipo calórica, lipídica e proteica); glicemia; pressão arterial; circunferência abdominal e Índice de Massa Corporal (IMC), estes últimos quatro dados aferidos no local da campanha. Microsoft Excel 2007 foi utilizado para análise das fichas, montagem do banco de dados e tabelas. Resultados e discussão: A análise de 105 fichas mostrou predomínio do sexo masculino (52,38%), e faixa etária entre 41 e 60 anos (46,67%). A incidência e prevalência do DM2 aumenta acentuadamente com o progredir da idade, particularmente após os quarenta anos. Considerando que o diabetes tipo 2 é característico da idade adulta, programas de educação voltados para essa faixa etária devem ser promovidos afim de detectar precocemente a doença (ORTIZ; ZANETTI, 2001). Em relação à escolaridade, a maioria possuía apenas ensino fundamental incompleto (30,47%). Analfabetos foram
identificados em 3,81% da população em estudo. O tempo de estudo de uma população é um indicador relevante para análise do seu nível de instrução. A importância de analisar o grau de instrução se deve ao fato de que a condição da escolaridade pode dificultar o acesso às informações e trazer menores oportunidades de aprendizagem no que se refere ao cuidado com a saúde (GRILO; GORINI, 2007). Na renda familiar, o predomínio foi de pessoas que recebiam menos de três salários mínimos (46,67%), revelando as características socioeconômicas da população em estudo. Sobre antecedentes pessoais, 30,47% da população apresentava hipertensão arterial sistêmica, 28,57% dislipidemia, 16% das mulheres relataram SOPC e 14% diabetes gestacional ou filhos com macrossomia. Ao aferir a pressão dos pacientes, 14,29% apresentaram valores compatíveis com hipertensão estágio 1 e 4,76% hipertensão estágio 2. A incidência de HAS é 1,5 a 3 vezes maior que na população não-diabética, na mesma faixa etária. Estima-se que 35% a 75% das complicações do DM possam ser atribuídas à HAS (MARCOPITO, 2005). A presença de dislipidemia também é maior entre os diabéticos, além de indicar maior associação com doenças macrovasculares. DMG e SOPC estão associados a aumento da resistência periférica à insulina. Em relação ao diabetes, 7,62% da população em estudo relatou possuir a doença. Sobre antecedentes familiares, 44,76% afirmaram possuir familiares diagnosticados com DM. Sabe-se que familiares de primeiro grau de diabéticos tipo 2 apresentam de duas a seis vezes mais chances de vir a desenvolver DM do que grupos-controle sem história familiar. Também no DM2 o componente genético é forte, o que é demonstrado pela possibilidade de cinco a dez vezes maior de um paciente com história familiar ascendente desenvolver a doença em relação à população geral, havendo concordância de 90% em gêmeos univitelinos (BANDEIRA; FORTI, 1998). Sobre tabagismo, 9,52% fumam e 20% são ex-tabagistas. Etilismo ocasional predominou em 31% da população, e 8,57% relatou etilismo frequente. Ambos não são fatores de risco específicos de DM, mas estão associados ao aumento do risco cardiovascular. No interrogatório de sintomas relacionados ao DM, houve predomínio da queixa de fadiga (31,43%), fraqueza (22,86%) e poliúria (21,9%). No cálculo do IMC, 40% da população em estudo apresentou sobrepeso e 13,33% obesidade grau I. Em relação às mulheres, 48% apresentaram obesidade abdominal contra
25,45% dos homens. Questionados sobre atividade física, 51,43% referiram não realizar atividade física. Obesidade e sedentarismo têm importante interação com a suscetibilidade genética, colaborando com o aumento da resistência à insulina e com o maior risco de desenvolvimento de DM2 (ORTIZ; ZANETTI, 2001). Sobre a alimentação, 43,81% relataram ter uma dieta normocalórica e 20% hipercalórica. Em relação à dieta lipídica, os números se repetiram (43,81% normolipídica e 20% hiperlipídica). A ingesta de maior quantidade de alimentos gordurosos e carboidratos de absorção rápida, associados ao sedentarismo, contribuem para o aumento do número de casos de obesidade. Portanto, a educação para mudanças no estilo de vida, no que se refere à dieta e à redução de peso são fatores imprescindíveis na prevenção e no tratamento do DM2. Glicemia casual não é muito útil na realização de diagnóstico, sendo utilizado principalmente no acompanhamento de pacientes diabéticos. Exceção quando maior que 200mg/dL na presença de sintomas clássicos, levando ao diagnóstico de DM. Neste estudo, 37,14% da população atendida na campanha apresentou glicemia inferior a 100mg/dL, 39,05% entre 100 e 125mg/dL e 22,86% acima de 126mg/dL. Deste último grupo, cinco pessoas apresentaram glicemia acima de 200mg/dL, sendo que apenas uma possuía diagnóstico de diabetes e outras duas apresentavam sintomas relacionados ao DM, como polidipsia e fraqueza, sugerindo o diagnóstico de DM2. A Liga orientou esses pacientes com glicemia alterada a procurarem a Unidade Básica de Saúde para melhor investigação do caso. Conclusões: O estudo mostrou prevalência de fatores de risco, modificáveis ou não, em amostra de população a/oligossintomática, e durante o rastreamento foram identificadas pessoas com possível diagnóstico de DM2, o que revela a importância do rastreamento populacional do DM2 em populações de risco, independente de sintomas sugestivos.
Referências Bibliográficas: BANDEIRA, F.; FORTI, A. Diabetes Mellitus tipo 2. Endocrinologia: diagnóstico e tratamento. Editora Médica e Científica, Rio de Janeiro, p. 151-61, 1998. GRILLO, M. F. F.; GORINI, M. I. P. C. Caracterização de pessoas com Diabetes Mellitus Tipo 2. Rev. Bras. Enfermagem, Brasília, v. 60, n. 1, p. 45-59, 2007. MARCOPITO, L. F. Prevalência de alguns fatores de risco para doenças crônicas na cidade de São Paulo. Rev. Saúde Pública [online], v. 39, n.5, p. 738-745, 2005. NUCCI, L. B. A Campanha Nacional de Detecção do Diabetes Mellitus: Cobertura e Resultados Glicêmicos. 2003. 120p. Tese (doutorado em Epidemiologia). Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2003. ORTIZ, M. C. A.; ZANETTI, M. L. Levantamento dos fatores de risco para diabetes mellitus tipo 2 em uma instituição de ensino superior. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 9, n. 3, maio 2001. TOSCANO, C. M. As campanhas nacionais para detecção das doenças crônicas não-transmissíveis: diabetes e hipertensão arterial. Ciência & Saúde Coletiva, Brasília, v. 9, n. 4, p. 885-895, 2004.