LEVANTAMENTO DOS ASPECTOS RELACIONADOS AO USO E MANUTENÇÃO DO AASI E À TERAPIA FONOAUDIOLÓGICA EM CRIANÇAS E JOVENS COM PERDA AUDITIVA NA CIDADE DE SÃO PAULO. Palavras-chave: Saúde pública, perda auditiva e linguagem Este trabalho foi realizado na DERDIC (Divisão de Educação e Reabilitação dos Distúrbios da Comunicação) e teve como propósito levantar dados a respeito do uso do AASI e de terapia fonoaudiológica em crianças e jovens deficientes auditivas. A partir de 2003, iniciou-se processo de discussão das dificuldades vivenciadas por organizações públicas e privadas para prover, gratuitamente, os aparelhos de amplificação sonora individual à pacientes com perdas auditivas, a fim de auxiliá-los na vida cotidiana. Em decorrência dessas discussões foi publicada, em 2004, a portaria n 587/04 (1) explicitando os diversos níveis de atenção à saúde auditiva que estipularam os critérios para credenciamento das instituições que poderiam realizar diagnóstico e indicação de AASI. A DERDIC foi conveniada pelo SUS nos níveis de média e alta complexidade e atualmente está ligada à Secretaria de Saúde do Município de São Paulo, disponibilizando serviços de diagnóstico médico e audiológico para bebês, crianças, jovens e adultos, bem como terapia fonoaudiológica. Foram atendidos na instituição mais de 1000 pacientes desde o início do credenciamento, principalmente das regiões norte e sul da cidade, para qual é centro de referência. Alguns desses pacientes permaneceram na instituição, em atendimento fonoaudiológico ou na escola especial de educação básica. Por essa razão, tornou-se importante desenvolver um trabalho que possibilitasse conhecer quais procedimentos de média complexidade são realizados, segundo pacientes atendidos na Instituição. OBJETIVO
Realizar um levantamento dos aspectos relacionados ao AASI e à terapia fonoaudiológica em crianças e jovens com perda auditiva/surdez, que receberam AASI na DERDIC nos aspectos: a. Uso e manutenção do aparelho (freqüência do uso da amplificação e manutenção dos dispositivos); b. Terapia fonoaudiológica (possui atendimento fonoaudiológico na região de moradia, freqüenta ou não terapia). MATERIAL E MÉTODO Foram levantados os dados contidos nos prontuários dos sujeitos e aplicada uma entrevista com os responsáveis, que serviu como instrumento de coleta de dados quantitativos e qualitativos. Os critérios para inclusão foram: possuir idade entre 3 anos e 1 mês e 14 anos e 11 meses; com a concessão do AASI, pela DERDIC- PUC/SP, entre agosto de 2002 e agosto de 2005; e residir nas regiões Norte/Oeste ou Sul. Os sujeitos foram divididos em 2 grupos: 1) 3 anos e 1 mês a 8 anos e; 2) 8 anos e 1 mês a 14 anos e 11 meses. A pesquisa foi realizada dentro dos parâmetros éticos, preservando os sujeitos integralmente e garantindo o sigilo dos dados coletados. RESULTADOS e DISCUSSÃO Sim Não Faz terapia fonoaudiológica 68,2 31,8 Há UBS na região de moradia 100 - Há fonoaudiólogo na UBS 31,8 68,2 Faz uso do AASI 70,5 29,5 Há assist. técnica na região de moradia 27,3 72,7 Já precisou manutenção para o AASI 45,5 54,5 Tabela 1 reultados em porcentagem dos dados levantados na pesquisa A presente pesquisa apresentou dados indicativos relacionados à terapia fonoaudiológica e ao uso do aparelho auditivo após a concessão do mesmo pela DERDIC, por meio da Portaria de Saúde Auditiva. Esta prevê a atenção à pessoa com perda auditiva no que diz respeito ao atendimento completo, que pressupõe ações desde o diagnóstico até o tratamento clínico, por meio de terapia fonoaudiológica.
No Encontro Internacional de Audiologia de 2000 (2) foi sugerido um modelo acessível de atendimento e intervenção audiológica de (re) habilitação para a população brasileira. Algumas das recomendações foram: (re) habilitação; uso de amplificação; acompanhamento otológico e audiológico; suporte terapêutico, educacional, emocional, social e legal fornecido ao deficiente auditivo e sua família. Sabe-se que um trabalho de orientação e acompanhamento com as famílias pode ser de grande valor para o desenvolvimento adequado da pessoa com perda auditiva/surdez (3). No presente estudo 68,2% dos responsáveis referiram que seus filhos freqüentavam terapia fonoaudiológica, sendo 80% do grupo 1 independentemente da região de moradia. Esse fato parece indicar que há mais atenção voltada para as crianças menores, quando comparadas às maiores, tanto por parte de serviços oferecidos, quanto pelos pais, que parecem aderir melhor ao tratamento. Ao se comparar as regiões de moradia, os sujeitos entrevistados residentes na Zona Sul têm seu tratamento realizado principalmente na DERDIC, já os residentes na Zona Norte/Oeste também são assistidos, mas não em um serviço centralizado, como nessa instituição. Foi feito um levantamento no portal da Prefeitura de São Paulo, no que se refere às UBSs existentes nas Zonas de referência para esse estudo: Zona Norte (subdivisões: Tremembé e Jaçanã; Vila Maria e Vila Guilherme); Zona Oeste (subdivisões: Butatã, Lapa e Pinheiros); e Zona Sul (subdivisões: Campo Limpo, Capela do Socorro, Cidade Ademar, Ipiranga, Jabaquara, M Boi Mirim, Parelheiros, Santo Amaro e Vila Mariana). O total de Unidades Básicas de saúde existentes nas regiões foi de 213, sendo 106 nas Zonas Norte/Oeste e 107 na Zona Sul. As famílias referiram a existência das UBSs na região de moradia (100%), mas apenas 31,8% afirmaram que há fonoaudiólogo e, que em geral, são em número reduzido e com outros focos de atenção que não às terapias para as crianças com perda auditiva. Esse dado mostra, mais uma vez, a ausência, na estrutura pública, de profissionais fonoaudiólogos em número suficiente para atender à demanda específica dessa população em seus locais de moradia. Tal fato revela a dificuldade enfrentada pelas famílias em darem seguimento ao tratamento para seus filhos, o que implica em grandes deslocamentos para obter atendimento e, muitas vezes, na desistência de investimento familiar nessa área.
Outro fator relevante é o uso dos aparelhos de amplificação sonora individuais. 70,5% dos entrevistados referiram usar os aparelhos habitualmente, sendo 87,5% pertencentes ao grupo 1 e residentes na Zona Sul. Essas crianças têm, em sua maioria, atendimento na DERDIC, instituição que conta com boa estrutura física e técnica. Esse fato demonstra a importância do acompanhamento integral e constante das crianças com perda auditiva por um profissional fonoaudiólogo. Os pacientes do grupo 2 responderam, na maior parte das vezes, usar somente no período escolar e durante as terapias. Entre os que responderam não fazer uso dos aparelhos auditivos (29,5%), as queixas se referiram ao alto custo das pilhas, a quebra, ao preço da manutenção e a presença de desconforto ao usar. Em relação a manutenção, apenas 27,3% dos entrevistados afirmaram que há assistência técnica na região de moradia enquanto que, do total dos entrevistados, 45,5% relataram já terem precisado de manutenção. A referida portaria prevê o acompanhamento periódico do uso e benefício dos aparelhos, como para regulagem dos mesmos ou troca, quando necessário. No entanto, esses pacientes com queixas, não retornaram à DERDIC para fazer valer seus direitos. Isso pôde ser constatado no processo de desenvolvimento da pesquisa, quando houve grande dificuldade no contato com os pacientes que já haviam recebido os aparelhos e que haviam mudado de endereço ou telefone. Tal fato parece indicar que algumas famílias buscam a restauração da audição normal de seus filhos, o que não acontece, pois os aparelhos auditivos são dispositivos auxiliares, que não substituem a "audição ruim" por uma "boa". A maior parte dos sujeitos tem perdas severas ou profundas e ao perceberem as limitações da amplificação, deixam de fazer o investimento necessário, pois os resultados surgem a longo prazo e dependem de um conjunto de ações da família nos cuidados com seus filhos em diversos aspectos de suas vidas (terapias, escola, manutenção dos aparelhos, etc). CONCLUSÃO A partir dos resultados apresentados, pôde-se concluir que a maioria dos pacientes usa o AASI, mesmo relatando que existe grande dificuldade financeira para manter a troca de bateria, além de destacarem a falta de assistência em relação à problemas técnicos do aparelho e à terapia fonoaudiológica nas UBSs, uma vez que grande parte dos responsáveis relata que seus filhos fazem terapia fonoaudiológica em outros lugares, que não no posto de saúde mais próximo de casa, como, por exemplo, na DERDIC ou em fonoaudiólogas particulares. Em relação à assistência
técnica muitos deles reclamam do custo de tais consertos e da distância até o local de assistência. É de extrema importância que se possa oferecer um trabalho de apoio aos deficientes auditivos e às famílias, que se estenda para além das sessões de adaptação do AASI previstas na Portaria de Saúde Auditiva. Para que isso possa acontecer é necessária a contratação de um número maior de fonoaudiólogos pela rede pública de saúde para que possa se desenvolver um trabalho melhor e mais eficaz de inclusão do deficiente auditivo na sociedade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Harrison KMP, Lewis DR. Portaria de Saúde Auditiva (n 587/04) 2003-2004. Disponível em: www.saude.gov.br 2. Moret ALM, Ficker LB, Martinez MANS. Fórum de (Re) Habilitação Auditiva/2000 XV Encontro Internacional de Audiologia. Rev Dist da Com. 2000;11(2):339-348. 3. Harrison KMP. A surdez na família: uma análise de depoimentos de pais e mães [tese]. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo- Faculdade de Fonoaudiologia;1994.