Prevalência da Hipertensão Mascarada e Ausência de Descenso Noturno em Diabéticos em um Hospital de Vitória/ES

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Transcrição:

DOI: https://dx.doi.org/10.5935/2447-7826.20170014 ARTIGO ORIGINAL Prevalência da Hipertensão Mascarada e Ausência de Descenso Noturno em Diabéticos em um Hospital de Vitória/ES Osmar Araújo Calil 1 ; Afonso Dalmazio Souza Mario 2 ; Fernando Augusto Rozário Garcia 3 ; Renan Barreto da Silva Caminha 4 ; Luccas José Krause Binda 5 ; Luiz Fernando Machado Barbosa 6 ; Juliana Castiglioni Frizera 7 ; Renato Giestas Serpa 8 ; Roberto Ramos Barbosa 9 ; Tiago De Melo Jacques 10 Trabalho Submetido em 01/08/2016 Aprovado: 21/02/2017 Palavras Chaves Hipertensão Mascarada; Diabetes Mellitus Tipo 2; Pressão Sanguínea Resumo Fundamento: a ausência de descenso noturno (ADN) e a hipertensão mascarada (HM) estão associados ao maior risco de desenvolvimento de lesões em órgãos-alvo. Objetivo: analisar a prevalência de hipertensão mascarada e a ausência de descenso noturno em pacientes com diabetes mellitus tipo 2 (DM2). Método: foram relacionados 41 pacientes com DM2, sendo 20 normotensos que compuseram o grupo A, e 21 hipertensos o grupo B, atendidos de abril a novembro de 2014. Realizaram MAPA, eletrocardiograma, exames bioquímicos. Variáveis avaliadas: sexo, idade, peso, índice de massa corporal, glicemia de jejum (GJ), hemoglobina glicada (HbA1c) e creatinina. Foi feita uma análise descritiva e associação das variáveis qualitativas pelo teste exato de Fisher. Resultados: dos 41 pacientes avaliados, 68,3% eram do sexo feminino, média de idade 56,41 anos, média de creatinina 0,83 mg/dl, de GJ 138,4 mg/dl e HbA1c 7,32%. Apenas 24,4% da amostra encontravam-se com peso ideal. Na análise do grupo A, 7 pacientes (35%) apresentaram HM. Já a ADN se apresentou em 31 pacientes, correspondendo a 75,6% da amostra. Pela análise do ECG observamos alterações em 4 pacientes do grupo A e em 5 pacientes do grupo B. A ADN mostrou- 1 Doutorado em cardiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - (Cardiologista do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Vitória). 2 EMESCAM - (Interno de medicina). 3 EMESCAM - (Interno de medicina). 4 EMESCAM - (Interno de medicina). 5 6 7 8 9 10 38

se relacionada com a elevação da HbA1c de forma significativa no grupo B (p=0,03). Conclusão: concluímos que os paciente diabéticos necessitam de melhor avaliação pressórica com MAPA, uma vez que 35% dos normotensos possuiam HM. Deve-se visar um controle estrito da DM2, já que relacionamos a alteração da HbA1c com a ADN nesses pacientes, relacionada com maior risco cardiovascular. *Autor para correspondência: fernando_241@hotmail.com 39

INTRODUÇÃO O primeiro relato sobre hipertensão mascarada (HM) ocorreu em 1992 por Pickering ¹. Esse fenômeno é definido como a condição em que a medida da pressão arterial (PA) no consultório é menor que 140/90 mmhg entretanto os valores fora do consultório classificam esses pacientes como hipertensos². A prevalência da HM na população é aproximadamente a mesma da hipertensão isolada do consultório, aproximadamente 1 em 7 pessoas com pressão isolada de consultório normal pode se inserir nessa categoria. A alta prevalência de HM sugere uma necessidade de se medir a PA fora do consultório em pessoas com PA aparentemente normal². Já a ausência do descenso noturno (ADN) é definido como a ausência de decréscimo da PA superior ou igual à 10% no período noturno. A PA normalmente segue um ritmo circadiano caracterizado por uma redução de seus níveis à noite. Esse fenômeno é resultado das atividades realizadas durante o dia e do ritmo circadiano do sistema nervoso autônomo e endócrino. Alterações no ritmo circadiano desses sistemas podem resultar em alterações no descenso noturno. Esse tipo de alteração é comumente encontrada em pacientes com alterações no sistema nervoso autônomo e com formas severas de hipertensão secundária. A relevância clínica desse fenômeno está no fato de que à ADN está associada com o aumento de lesões em orgãos-alvo além de aumentar a incidência de eventos cardiovasculares e cerebrovasculares em pacientes hipertensos³. Acredita-se que o sistema nervoso autônomo seja o mediador do ciclo circadiano da variação da pressão arterial. Corroborando essa hipótese, a ADN tem sido relatada em pacientes com alteração autonômica³. Pacientes portadores de diabetes mellitus tipo 2 (DM2) também possuem, por si só, forte associação com aumento de risco cardiovascular 4. Em pacientes portadores de DM2 a incidência de ADN é maior que a da população em geral. Por esse motivo, a medida ambulatorial da pressão arterial (MAPA) em pacientes diabéticos é considerada uma importante ferramenta para estratificação do risco cardiovascular e para guiar as medidas terapêuticas 5. O presente estudo teve como objetivo avaliar a prevalência de hipertensão mascarada e ausência de descenso noturno, correlacionando esses dados com a glicemia de jejum, hemoglobina glicada e IMC, em pacientes portadores de diabetes mellitus tipo 2. MÉTODO O estudo foi realizado com os pacientes pertencentes aos ambulatórios dos serviços de endocrinologia e cardiologia do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Vitória (HSCMV), entre Janeiro de 2014 à Dezembro de 2014. Os critérios de inclusão foram: pacientes portadores de diabetes mellitus tipo 2 não usuários de insulina confirmados pelos métodos da glicemia e/ou hemoglobina glicada A1c (HbA1c), com a faixa etária de 18 a 75 anos de ambos os sexos. Os critérios de exclusão foram: pacientes com diabetes mellitus tipo 2 em uso de insulina; pacientes menores que 18 anos e maiores que 75 anos; e pacientes com insuficiência renal crônica estágio 3 ou 4. 40

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição sob o nº 22417013. Todos os pacientes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram avaliados 41 pacientes, divididos em 2 grupos: A e B. O grupo A foi composto pelos pacientes DM2 e normotensos, já o grupo B pelos pacientes com DM2 e hipertensão arterial (HAS) controlados por medicação, sendo o valor aceito de PA < 140/90 mmhg e referentes a aferição de consultório. Todos os pacientes foram submetidos à mesma propedêutica: anamnese clínica; exame físico com pesagem em balança mecânica e cálculo do IMC (18,5 24,9: adequado; 25,0 29,9: sobrepeso; 30,0 34,9: obesidade grau I; 35,0 39,9: obesidade grau II; > 40: obesidade grau III), dosagem de GJ e HbA1c para avaliação do perfil glicêmico; e da ureia e creatinina para avaliação de função renal. Foi realizada avaliação eletrocardiográfica (análise de ritmo, bloqueios de ramos, sobrecarga e isquemia), o eletrocardiógrafo utilizado possuía 3 canais, 12 derivações, laudo interpretativo AT1, fabricante Schiller. Houve o registro das derivações clássicas unipolares, bipolares e precordiais em posição supina, com velocidade de 25mm/s e calibração standard (N), e foi complementado com o registro da derivação D2 na mesma velocidade. A mensuração da PA foi feita por meio de esfigmomanômetro de mercúrio após repouso de 10 minutos e seguindo as recomendações da VI Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial. Posteriormente foi realizada a monitorização ambulatorial de pressão arterial (MAPA) - 24 horas, que visou avaliar as variações pressóricas no período de sono e de vigília, pelo aparelho DynaMAPA, versão 5.0.382.110, fabricante Cardios. O Dyna-MAPA é um monitor de pressão arterial que permanece instalado no paciente durante um período de 24 horas, realizando medições periódicas da pressão arterial em seus valores sistólicos e diastólicos, além da frequência cardíaca, gravando os valores em sua memória, sendo a leitura dos resultados realizada através do programa DynaMAPA. Foram considerados valores normais de PA menor ou igual a 130/85mmHg para o período de vigília e menor ou igual a 110/70mmHg no período do sono, de acordo com V Diretriz de Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial (MAPA) da SBC33. Os pacientes que se queixaram de incômodo da aferição da PA durante o sono, foram submetidos a um novo exame para evitar possíveis vieses na análise. Os exames bioquímicos foram realizados pelo laboratório da Instituição. Os dados do paciente (idade, gênero, IMC, variáveis bioquímicas) e os demais dados referentes foram analisados descritivamente com o objetivo de caracterizar a amostra. A análise estatística foi feita utilizando o programa SPSS Versão 22. Foi feita uma análise descritiva e associação das variáveis qualitativas pelo teste exato de Fisher devido aos valores esperados menores do que 5 (cinco) nas caselas, considerando o nível de significância menor do que 5%. RESULTADOS Participaram deste estudo 41 pacientes, sendo que 20 eram normotensos e foram incluídos no grupo A e 21 hipertensos em vigência de terapia anti-hipertensiva, que compuseram o grupo B. A média idade foi de 53,1 anos para o grupo A e de 59,57 anos para o grupo B conforme a tabela abaixo. Do total, 28 (68,3%) pacientes eram do sexo feminino e 13 (31,7%) do sexo masculino, conforme na Tabela 1. 41

Na análise da hemoglobina glicada fração A1c, a média foi de 7,32% e dos 41 pacientes avaliados, 23 (56,1%) apresentaram hemoglobina glicada alterada. Pela avaliação dos grupos, 10 (50%) pacientes do grupo A e 13 (61,9%) do grupo B apresentavam essa alteração (Tabela 4). 42

Analisando o grupo A constatamos que dos 20 pacientes, 7 (35%) apresentavam HM, sendo esta a prevalência da amostra encontrada. Destes, 5 (71,4%) pacientes apresentaram alteração da HbA1c e do IMC, e 4 (57,1%) alteração da glicemia de jejum (Tabelas 5.1 e 5.2). Correlacionando a ADN do grupo A com o grupo B, não houve significância estatística na diferença entre os dois grupos (Tabela 6.1). 43

*pvalor: significância estatística A ausência de descenso noturno esteve presente em 31 (75,6%) pacientes do estudo, sendo que 17 eram do grupo A e 14 do grupo B. Correlacionando esses pacientes citados acima com os valores de HbA1c obtidos, notou-se que 8 (47,1%) pacientes do grupo A e 12 (85,7%) do grupo B apresentavam-se fora da meta proposta. Quando avaliados os valores de GJ nos mesmos, percebeu-se alteração em 13 (76,5%) pacientes do grupo A e 11 (78,6%) do grupo B. Na relação de IMC com ADN, 11 (64,7%) pacientes do grupo A e 12 (85,7%) do grupo B apresentavam valores elevados deste índice. Já em relação a função renal, não houve alterações nos valores de creatinina nos pacientes com ADN, sendo os valores de referência considerados, 1,3 para homens e 1,2 para mulheres ( Tabela 6.2). Nas avaliações eletrocardiográficas do grupo A, 4 (20%) pacientes apresentaram alterações, dentre elas: sobrecarga atrial esquerda, bloqueio de ramo direito e alteração de repolarização ventricular. Destes, todos apresentavam ADN (Tabela 7 e 9). Já no grupo B, 5 (23,8%) pacientes apresentaram alterações do ECG, dentre elas: sobrecarga atrial esquerda, hipertrofia ventricular 44

esquerda, bloqueio de ramo direito, bloqueio de ramo esquerdo e alteração de repolarização ventricular, tendo em vista que 4 (80,0%) apresentavam ADN (Tabela 8 e 9). DISCUSSÃO O diabetes mellitus e a hipertensão arterial sistêmica são doenças inter-relacionadas e que predispõem o desenvolvimento de graves complicações cardiovasculares e lesões em órgãos-alvo, que podem ser agravadas pela presença da HM. Vale ressaltar nesse contexto que as características da HM podem estar presentes numa grande parcela desses pacientes, e não terem um diagnóstico firmado devido à indisponibilidade dos equipamentos de MAPA em grande parte dos serviços públicos de saúde 6-11. Outro fator importante relacionado aos pacientes portadores de DM2, tanto hipertensos quanto normotensos, é que em parte deles, estudos apontam para uma ausência de decréscimo pressórico no período do sono. 45

A sua ausência está diretamente ligado ao desenvolvimento de lesões em órgãos-alvo e aumento de mortalidade em diversos contextos. Dentro da fisiopatologia do DM2, especula-se que a hiperglicemia altera o volume plasmático circulante, podendo interferir na hemodinâmica renal e distribuição do fluxo sanguíneo, alterando o DN da PA 12,13. No estudo dividimos 41 pacientes em 2 grupos, o grupo A de normotensos e diabéticos tipo 2, com média de idade de 53,1 anos e o grupo B de diabéticos e hipertensos em vigência de tratamento, com média de idade de 59,57 anos, observando-se, portanto, um padrão de idade maior nos pacientes que acumulam as duas comorbidades em comparação com os apenas diabéticos, apesar de não apresentar significância estatística entre os grupos. A média da GJ e HbA1c foram de 138,4 mg/dl e 7,32% respectivamente, valores acima das metas de controle proposta pela Sociedade Brasileira de Diabetes (<130 mg.dl e 7%). Esses dados equivalem a 30 (73,2%) pacientes com alteração da GJ e 23 (56,1%) pacientes com alteração da HbA1c, demonstrando a dificuldade de alcançarmos as metas glicêmicas em pacientes DM2 14. Podemos aventar que a descompensação do DM2 favorece a alteração pressórica, neste caso demonstrado pela ADN. A antropometria revelou que 31 pacientes apresentavam classificação do IMC desde sobrepeso a obesidade grau III. Tal situação corrobora estudos que relacionam a obesidade diretamente com eventos hipertensivos e o descontrole das variáveis glicêmicas analisadas no estudo. Na avaliação da MAPA, observamos que no grupo A, 35% dos pacientes apresentaram HM. A prevalência de HM relatada na literatura é de 8-20% em pacientes não diabéticos 15. Em outros estudos com com maior número de amostra foi encontada prevalência semelhante de HM em portadores de DM2, como observado por Franklin et. al., que de 229 diabéticos normotensos, 67 pacientes (29,3%) apresentavam HM. Valores próximos também foram encontrados por Leitão et. al., que encontraram uma prevalência de 30% de HM em 16, 17. diabéticos Em pacientes portadores de HM foi demonstrado que possuem maior hipertrofia ventricular, aumento da espessura medio-intimal e prejuízo na distensibilidade arterial quando comparados com pacientes sem essa alteração. Quando a HM está associada com o DM2, o controle rigoroso desses dois fatores se faz fundamental para diminuir os desfechos desfarvoráveis a longo prazo 2. Com relação à ADN, Fogari 18 mostrou em seu estudo que pacientes diabéticos apresentavam maior prevalência de anormalidades do descenso em relação aos não diabéticos, porém que não havia diferença quando comparado os grupos diabéticos/has x diabéticos/nt.41 Seguindo a mesma linha deste estudo Alison et. al. mostraram que a prevalência da ADN em pacientes hipertensos e diabéticos (DM 1 e 2) é de aproximadamente 50%, valor relativamente importante, quando comparada com a ADN dos pacientes apenas hipertensos, que foi de aproximadamente 10%, mostrando assim a necessidade de rastrear melhor o paciente diabético 19. Durante o nosso estudo 75% da população total apresentou ADN, sendo no grupo A 85% (17 de 20 pacientes) e no grupo B esse valor foi de aproximadamente 66,6% (14 de 21 pacientes). Além disso, quando analisamos a presença de ADN relacionada aos níveis de HBA1c, obtivemos uma associação com significância estatística no grupo B (P<0,03). 46

Em nosso estudo o DM2 esteve diretamente relacionado à ADN, independentemente se o paciente apresentava HAS ou normotensão, sendo assim, acreditamos que a terapia antihipertensiva pode representar uma importante contribuição na terapêutica para o paciente normotenso e diabético com ADN. Na busca da identificação de lesões em órgãos alvos, não encontramos alteração da função renal, através da dosagem de creatinina sérica, associada a HM e ADN. Em relação a avaliação de lesões cardíacas, notamos que 4 pacientes do grupo A (20%) e 5 do grupo B (23,8%) apresentavam alterações eletrocardiográficas sem diferença estatística entre os grupos. Tal fato pode ser justificado pelo número reduzido da amostra. CONCLUSÕES Concluimos que os paciente diabéticos necessitam de melhor avaliação pressórica com MAPA para diagnosticar a hipertensão, uma vez que 35% dos pacientes classificados como normotensos eram na verdade hipertensos. Deve-se visar um controle estrito da DM2, já que relacionamos a alteração da HbA1c com a ausência de DN nesses pacientes, essa relacionada com maior risco de lesão de órgãos alvo. REFERÊNCIA 1. Pickering TG. The ninth Sir George Pickering memorial lecture: ambulatory monitoring and the definition of hypertension. J Hypertens 1992;10:401-409. 2. Papadopoulos DP, Makris TK. Masked hypertension definition, impact, outcomes: a critical review. J Clin Hypertens (Greenwich) 2007;9(12):956-963. 3. Okamoto LE., Gamboa A., Shibao C., Black BK., Diedrich A., Raj SR et al. Nocturnal blood pressure dipping in the hypertension of autonomic failure. Hypertension 2009;53(2):363-369. 4. Ayala DE, Moyá A, Crespo JJ, Castiñeira C, Domínguez-Sardiña M, Gomara S et al. Circadian pattern of ambulatory blood pressure in hypertensive patients with and without type 2 diabetes. Chronobiol Int 2013;30(1-2):99-115. 5. Cuspidi C, Vaccarella A, Leonetti G, Sala C. Ambulatory blood pressure and diabetes: targeting nondipping. Curr Diabetes Rev 2010;6(2):111-115. 6. Sociedade Brasileira de Cardiologia. V Diretrizes de Monitoração Ambulatorial Da Pressão Arterial (MAPA) e III Diretrizes de Monitoração Residencial da Pressão Arterial (MRPA). Arq Bras Card 2011;97(3):1 2. 7. Sega R, Trocino G, Lanzarotti A, Carugo S, Cesana G, Schiavina R et al. Alterations of cardiac structure in patients with isolated office, ambulatory, or home hypertension: data from the general population (Pressioni Arteriose Monitorate E Loro Associazioni [PAMELA] Study). Circulation 2001;104: 1385-1392. 8. Mancia G, Facchetti R, Bombelli M, Grassi G, Sega R. Long-term 47

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