O POTENCIAL DE CONTRIBUIÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA ASSESSORIA AOS MOVIMENTOS SOCIAIS NA LUTA PELA SAÚDE Maria Inês Souza Bravo * Maurílio Castro de Matos ** Introdução O presente trabalho é fruto de reflexões sobre a experiência de assessoria a movimentos sociais na luta pela política pública de saúde. Busca por meio de reflexões contribuir para o debate sobre a importância da universidade e dos seus trabalhadores na democratização do Estado e da sociedade brasileiros. Pretende, especialmente, refletir sobre o potencial de contribuição do Serviço Social para esse processo e, assim, visa colocar a relevância deste tema no debate profissional. Objetivos - Buscar estratégias para o fortalecimento do Movimento da Reforma Sanitária Brasileira; - Desenvolver ações para a contribuição do Serviço Social na luta pela democratização da sociedade e do Estado brasileiros, através da potencialização dos movimentos sociais na luta pelos seus direitos; - Contribuir para o debate do Serviço Social sobre a temática assessoria, pouco estudada na trajetória profissional, mas em voga no momento. * Doutora em Serviço Social (PUC/SP). Assistente Social. Professor Adjunta da Faculdade de Serviço Social da UERJ. Coordenadora do Projeto Políticas Públicas de Saúde: O Potencial dos Conselhos do Estado do Rio de Janeiro. ** Mestre em Serviço Social (UFRJ) e Doutorando em Serviço Social (PUC/SP). Assistente Social da Secretaria Municipal de Saúde de Duque de Caxias/RJ e Professor Assistente da Faculdade de Serviço Social da UERJ. Integrante do Projeto Políticas Públicas de Saúde: O Potencial dos Conselhos do Estado do Rio de Janeiro. Endereço: Rua Paraguaçu, 404/504, Perdizes, São Paulo, SP,CEP: 05.006-011. Telefone: (11) 3872-6239.E-mail: mauriliomatos@ig.com.br.
Metodologia O trabalho aqui apresentado se pauta em uma pesquisa bibliográfica sobre o Serviço Social, os movimentos sociais e, em especial, sobre assessoria. A análise bibliográfica é efetivada tendo como referência concreta os dados empíricos coletados no Projeto de pesquisa e extensão Política Pública de Saúde: O Potencial dos Conselhos da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Este projeto busca articular a pesquisa e a extensão, através da investigação sobre o potencial político dos conselhos de saúde e da assessoria aos segmentos comprometidos com o controle social nesta política pública. Apenas de maneira didática, quase que esquemática, apresentaremos panoramicamente o trabalho desenvolvido em cada parte do tripé ensino-pesquisaestensão. O ensino se dá através da disciplina estágio supervisionado, espaço onde se aprofundam as seguintes temáticas: política de saúde, controle social na saúde e o trabalho do assistente social na saúde. A disciplina é ministrada em forma de oficinas, com convidados externos nos debates promovidos e com a participação de outro sujeitos (professores, assistentes sociais, alunos não estagiários) envolvidos no projeto de pesquisa e de extensão. A pesquisa tem se pautado em investigações sobre o potencial político dos conselhos de saúde e a potencial contribuição dos movimentos sociais e dos trabalhadores de saúde na construção do SUS. A extensão consiste na assessoria aos diversos sujeitos sociais que se comprometem com a construção da política pública de saúde. Nesta frente, o campo de estágio tem experiências de assessoria na elaboração de planos municipais de saúde, a realização de cursos de capacitação para conselheiros e a assessoria ou o acompanhamento aos conselhos de saúde, bem como aos fóruns de articulação dos trabalhadores da saúde e dos movimentos sociais. É este último componente do tripé que privilegiamos neste trabalho.
Resultados Podemos começar com uma pergunta: como se dá o processo de negociação da assessoria neste campo de estágio? Afinal, o processo de assessoria é uma relação pautada no poder do saber e não no poder de mando e se cabe a quem recebe a assessoria acatar ou não as eventuais sugestões, como se dá o processo de negociação da assessoria? Ficamos no caso o projeto de pesquisa e extensão aguardando que solicitem a nossa assessoria? Ou vamos atrás e apresentamos a nossa proposta? E mais do que isso será que só com a apresentação da nossa proposta os movimentos sociais e trabalhadores de saúde aceitam? Ou necessitam conhecer, inclusive politicamente, a equipe de trabalho proponente de assessoria? Enfim, as perguntas acima esboçadas já possuem respostas na prática do projeto. Mas, não foram sistematizadas, pelo menos na forma que aqui pretendemos: pensar estratégias generalizantes para outras iniciativas similares. Ou seja, não apenas relatar a experiência de assessoria, mas refletir sobre este processo. Conforme já sinalizado, a assessoria se dá via extensão universitária e articulada intrinsecamente com a pesquisa e a extensão. Assim, quando se vai a campo não se objetiva apenas assessorar um movimento social, por exemplo, mas também buscar elementos na realidade para a pesquisa e contribuir para a formação profissional dos profissionais e dos alunos de Serviço Social. A escolha pelo tema dos conselhos de saúde e do potencial de contribuição dos movimentos sociais não é aleatória. Ao contrário, expressa uma escolha estratégica. Aqui já encontra a primeira questão, o campo de estágio (sujeito prestador da assessoria) tem uma direção clara (teórica, metodológica, de objeto) sobre qual objeto deve priorizar. Assim, vai automaticamente se propor a assessorar questões que derivam deste objeto de análise. A assessoria, neste campo de estágio, se dá tanto pela procura como pela apresentação de propostas por parte da equipe. A primeira é mais simples, pois apenas
cabe ao projeto da universidade clarear junto aos solicitantes o que de fato querem/precisam e identificar se cabe nos princípios do projeto. A partir daí, se é construído um plano de trabalho conjunto. A segunda já exige do projeto universitário um tato mais delicado, pois precisa demonstrar o quanto a assessoria, potencialmente, pode vir a qualificar a intervenção dos movimentos sociais e dos trabalhadores. Por vezes, os estagiários, acompanhados pelos profissionais, ficam durante tempos acompanhando diversas reuniões (de conselhos, de articulação sindical, de conselhos regionais...) e entre uma reunião e outra, a partir de aparentemente um simples palpite dado na reunião por algum integrante do projeto da universidade, passam a ser credenciados pelos sujeitos como assessores. Para os sujeitos dos movimentos políticos organizados, mais importante do que de poder contar com uma equipe de assessoria é o fato de acreditar no potencial da equipe que se propõe à assessoria. Podemos afirmar, a partir da nossa experiência, que os movimentos sociais e os trabalhadores de saúde (em suas entidades ou nas reuniões de conselhos ou nas reuniões entre as entidades), só nos credenciam como assessores a partir de uma análise da nossa capacidade. Assim, quando entramos inicialmente em um campo estamos, querendo ou não, sendo avaliados por esses sujeitos. Antes de isso ser um problema, é por nós identificado como uma qualidade, pois expressa a preocupação desses sujeitos, e destas entidades, em garantir à direção política de suas idéias e uma preocupação com a cooptação. À gente cabe clarear os pressupostos políticos a busca de democratização dos Estado e da sociedade brasileiros e a concepção de que assessoria, que pressupõe autonomia de quem está sendo assessorado. Considerações finais Sinalizamos algumas questões que identificamos serem importantes para o aprofundamento da temática tratada: - Como buscar estratégias de politização dos movimentos sociais, visando a sua inserção em lutas mais gerais contra o capitalismo;
- como levar para dentro da participação institucionalizada (conselhos, conferências, etc.) reivindicações e posturas concatenadas com as lutas gerais acima citadas; - como construir, dentro da rotina de trabalho dos assistentes sociais que não atuam nas universidades e sim nos serviços, uma ação profissional que estimule entre os usuários a sua organização política. Portanto, identificamos a necessidade de politizar o debate junto aos movimentos sociais e de incluir o processo de assessoria aos movimentos sociais como parte constitutiva do trabalho dos assistentes sociais nos serviços de saúde. Sem deixar de considerar, na reflexão, quais são as condições objetivas que se têm para tais ações. Referências bibliográficas BRAVO, Maria Inês. Serviço Social e Reforma Sanitária: lutas sociais e práticas profissionais. São Paulo: Cortez, Rio de Janeiro: UFRJ, 1996. IAMAMOTO, Marilda e CARVALHO, Raul. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil. São Paulo: Cortez e Celats, 1992 (8ª edição). IAMAMOTO, Marilda. Pesquisa em Serviço Social (Aula inaugural do programa de pós-graduação em Serviço Social da PUC/SP). São Paulo, 2005 (Anotações de aula). KAMEYAMA, Nobuco. A trajetória da produção do conhecimento em Serviço Social: avanços e tendências (1975-1997). In: Cadernos ABESS (08). São Paulo: Cortez, 1998. NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social no Brasil pós-64. São Paulo: Cortez, 1996. SILVA, Maria Ozanira. Contribuições da revista para o Serviço Social brasileiro. Serviço Social e Sociedade (61). São Paulo: Cortez, 1999. VASCONCELOS, Ana Maria. Relação Teoria/Prática: o processo de assessoria/consultoria e o Serviço Social. Serviço Social e Sociedade (56). São Paulo: Cortez, 1998.
VIEIRA, Balbina Ottoni. Modelo assessoria em Serviço Social. In: Modelos de Supervisão em Serviço Social. Rio de Janeiro: Agir, 1981.