COMPETÊNCIAS NUMÉRICAS APRESENTADAS EM MATERIAIS CURRICULARES DE MATEMÁTICA

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Transcrição:

COMPETÊNCIAS NUMÉRICAS APRESENTADAS EM MATERIAIS CURRICULARES DE MATEMÁTICA Maria do Carmo Salgado docarmo.salgado@gmail.com Resumo: Neste trabalho discutimos a presença da numeracia nos currículos de Matemátrica. São apresentados os resultados de um estudo exploratório envolvendo revisão bibliográfica e análise documental. Para a compreensão dos termos Numeracia e Alfabetização Matemática, e sua presença nos currículos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, tomamos como referência os trabalhos dos pesquisadores Ole Skovsmose, Merrilyn Goos, Vince Geiger e Shelley Dole, e Lynn Arthur Steen. Foram analisados documentos curriculares de Matemática do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, além de duas coleções de livros didáticos referentes a esses dois níveis de ensino. À partir desses estudos, concluímos que, embora as abordagens de diferentes autores tenham nuances específicas, elas possuem elementos comuns no sentido de se traduzirem em competências a serem desenvolvidas/potencializadas pelos alunos. Mediante análise dos documentos, percebemos que, ao proporem e defenderem propostas intituladas como de alfabetização matemática, numeracia, literacia, entre outras, os autores de livros didáticos abordam situações de aprendizagem que pouco convergem com as concepções apresentadas. Palavras chave: Alfabetização Matemática, Numeracia, Currículo de Matemática. Introdução A discussão que toma o desenvolvimento curricular na perspectiva construtivista e que concebe o currículo como uma práxis que se realiza nas experiências em diferentes contextos, que resultam em processos de aprendizagem formais ou informais, perpassa primeiramente pelo debate sobre os diferentes conhecimentos prévios dos alunos. Disso implica a análise de documentos e materiais que apresentam o currículo de Matemática com o propósito de identificar recomendações e atividades que oportunizem a crianças, jovens e adultos a mobilizarem seus conhecimentos para a resolução de problemas, seja no contexto escolar ou em seus mundos vida. Nesse aspecto, temos nos questionado sobre competências matemáticas a serem desenvolvidas pelos alunos na educação básica e como os materiais curriculares tem proposto situações problema para que crianças, jovens e adultos possam estabelecer relações entre o que experienciam na escola e o que vivenciam em sociedade. Assim, objetivamos apresentar parte dos resultados de uma pesquisa em que investigamos como alunos egressos da educação básica recorrem a conceitos numéricos 01346

2 para resolver problemas contextualizados em situações do cotidiano. Para este trabalho procuramos identificar a presença de numeracia em materiais que prescrevem e apresentam o currículo de Matemática. Tratou se de um estudo na perspectiva da análise documental. Foram analisados o conjunto de documentos publicados pelo Ministério da Educação no período de 1998 a 2006 para os ensinos Fundamental (3º e 4º Ciclos) e Médio denominados Parâmetros Curriculares Nacionais e duas coleções de livros didáticos, uma para cada nível de ensino. Competências relacionadas à Numeracia Reunimos na pesquisa apontamentos realizados a partir da leitura de alguns autores, com o propósito de apresentar algumas discussões sobre diferentes acepções com que a noção de Numeracia e Alfabetização Matemática têm sido abordada. Segundo Goos, Geiger e Dole (2012, p. 147 148), o termo numeracia foi originalmente definido pelo Ministério da Educação de Londres como a imagem da alfabetização matemática envolvendo pensamento quantitativo. Em entrevista concedida à Revista Paranaense de Educação Matemática, Ole Skovsmose refere se à alfabetização matemática como a capacidade de se interpretar um mundo estruturado por números e figuras, e a capacidade de atuar nesse mundo. O autor considera que, em particular, é uma preocupação da Educação Matemática Crítica, desenvolver a matemacia, e afirma pensar nessa noção como outra palavra para alfabetização matemática. (Skovsmose em entrevista cedida a Ceolim e Hermann, 2012, p. 19) Esses autores concebem o ensino de Matemática como ação escolar que permite os alunos desenvolverem competências e habilidades para lidar com as diferentes situações em seus cotidianos. Assim, os conteúdos matemáticos assumem o significado de instrumentos para o desenvolvimento do pensamento e da ação, em oposição a processos que favorecem apenas a apropriação de técnicas e procedimentos mecânicos. Steen (2002) explicita haver diferentes termos relacionados à competência de resolver problemas no cotidiano de aspectos quantitativos: literacia quantitativa, numeracia, literacia matemática, raciocínio quantitativo, ou ainda Matemática. Pontua que cada um desses termos implica diferentes nuances e conotações. Desta forma entendemos que, as abordagens de diferentes autores possuem elementos comuns no sentido de se traduzirem em competências a serem 01347

3 desenvolvidas/potencializadas pelos alunos e mobilizadas para a resolução de problemas que emergem das diferentes relações estabelecidas com o mundo vida. Essas competências estão relacionadas à mobilização de saberes matemáticos no processo de leitura, interpretação e seleção de diferentes informações para a reflexão e a tomada de decisões. Referências à numeracia em documentos curriculares No tocante ao currículo prescrito, identificamos as acepções de numeracia e alfabetização matemática, incluída entre as competências definidas por documentos oficiais, como os Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática do Ensino Fundamental, 3º e 4º Ciclos (Brasil, 1998) e Ensino Médio (Brasil, 2000, 2002, 2006). Em relação a documentos curriculares para esses níveis de ensino, é possível identificar um discurso no sentido de, ao considerar a relevância social dos conteúdos e o desenvolvimento de um pensamento matemático, é preciso que as atividades sejam organizadas e desenvolvidas na perspectiva de que sejam oportunizadas para os alunos situações que promovam o desenvolvimento de competências relativas à alfabetização matemática, numeracia e outras denominações, embora não as nomeando especificamente. Ao formular os objetivos gerais para o Ensino Fundamental, os Parâmetros Curriculares Nacionais específicos da área de Matemática indicam sua posição sobre as finalidades dessa etapa da escolaridade e orienta os documentos das diferentes áreas curriculares nessa direção. Esses objetivos sugerem que a Matemática seja trabalhada no Ensino Fundamental como um instrumento para que os alunos, cidadãos, possam interagir em sociedade, selecionando e organizando informações; argumentar criticamente e se posicionar diante das diferentes situações; emitir opiniões baseadas no conhecimento produzido e não se deixarem convencer pelo senso comum; e resolver as mais variadas situações problema que façam parte de suas experiências no mundo. Desse modo, espera se que os alunos concebam a Matemática como instrumento que facilite e promova as suas relações em sociedade. As orientações dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio indicam que a Matemática proposta para esse nível, tem como característica o desenvolvimento de competências e habilidades que permitam os alunos a compreender o contexto histórico, cultural e social no qual estão inseridos, selecionando, organizando 01348

4 e interpretando diferentes informações, posicionando se criticamente sobre os fenômenos; estabelecer relações entre as experiências sociais e aquelas promovidas pelo ambiente escolar, percebendo que a aprendizagem ali construída tem significado em seus repertórios de vida; resolver diferentes situações problema recorrendo aos procedimentos a eles apresentados ou mobilizando seus próprios saberes e estratégias. Em relação aos livros didáticos, na coleção analisada do Ensino Fundamental II, Descobrindo e aplicando a Matemática (Mazziero e Machado, 2012), identificamos uma série de atividades que buscam ilustrar conceitos e procedimentos matemáticos pela exploração de situações consideradas da realidade ou próximas dela. Na coleção analisada do Ensino Médio, Matemática: contextos e aplicações (Dante, 2012), encontramos em menor quantidade situações relacionadas às competências de numeracia. Nestes livros, prevalecem atividades de natureza mais técnica, exigindo do aluno o uso de procedimentos baseados em fórmulas, entretanto algumas atividades propostas procuram trabalhar com conteúdos contextualizados, envolvendo situações do cotidiano do aluno. Ao compararmos as recomendações e orientações presentes nos documentos curriculares e as atividades propostas pelas duas coleções de livros didáticos, identificamos proposições para que as situações de aprendizagem levem em conta o contexto histórico, social, político e cultural dos alunos, favorecendo o desenvolvimento de competências leitoras e escritoras nas aulas de Matemática e a reflexão para a tomada de decisões; propõe se ainda que as situações não favoreçam apenas as técnicas operatórias ou o uso frequente de fórmulas, mas que aos alunos sejam oportunizadas atividades para que eles possam mobilizar e manifestar os conhecimentos já produzidos por eles em diferentes espaços, inclusive não escolar, e que possam estabelecer diferentes relações entre os conteúdos matemáticos propostos e os conhecimentos produzidos pelas diferentes áreas do saber, incluindo as tecnologias. Considerações finais Um de nossos propósitos centrais, com a realização desta pesquisa era explorar as ideias de Numeracia e Alfabetização Matemática, entre outras expressões, e discutir diferentes acepções com que essas ideias têm sido abordadas. Acerca das recomendações e orientações contidas em currículos prescritos e apresentadas em materiais curriculares, como os livros didáticos, percebemos que a Matemática proposta nos livros pouco favorece competências referentes à numeracia. 01349

5 Nos livros analisados, embora exista uma quantidade considerável de situaçõesproblema ou atividades investigativas, identificamos que muitas das situações servem de pretexto para a abordagem dos conteúdos matemáticos, prevalecendo a solicitação para que os alunos recorram a expressões e técnicas que os levem às respostas. Notamos, desse modo, uma desarticulação entre o que propõem/recomendam os documentos curriculares e o que apresentam esses materiais didáticos. Nesse contexto, entendemos a necessidade de discutir como a Matemática tem sido trabalhada nas escolas em face das transformações sociais, culturais e econômicas. Pensamos que a Matemática tem a tarefa de fazer com que os alunos encontrem desafios e soluções para questões que enfrentam na vida cotidiana Referências BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio: Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias, vol. 2. MEC/SEB, 2006. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental: Matemática. MEC/SEB, 1998. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. PCN+ Ensino Médio: Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias: Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais. MEC/SEB, 2002. BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio: Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. MEC/SEB, 2000. CEOLIM, A. J.; HERMANN, W. Ole Skovsmose e sua Educação Matemática Crítica. Revista Paranaense de Educação Matemática RPEM, Campo Mourão, FECILCAM/UNESPAR, v. 1, n. 1, p. 9 20, jul dez. 2012. (Entrevista concedida por Ole Skovsmose) Disponível em: http://www.fecilcam.br; acesso em 07 mar. 2013, às 2h. DANTE, L. R. Matemática: contextos e aplicações. São Paulo: Ática, 2012. GOOS, M.; GEIGER, V.; DOLE, S. Auditing the Numeracy Demands of the Middle Years Curriculum. PNA Revista de Investigación en Didáctica de La Matemática, Granada (Espanha), Facultad de Ciencias de la Educación de la Universidad de Granada, v. 6, n. 4, p. 147 158, 2012. MAZZIERO, A. S.; MACHADO, P. A. F. Descobrindo e aplicando a Matemática. Belo Horizonte: Dimensão, 2012. STEEN, L. A. A problemática da literacia quantitativa. Tradução de Magda Bensabat. Educação e Matemática. Lisboa: Associação de Professores de Matemática, n. 69, p. 79 88, set./out. 2002. 01350