SUSCITANTE: SUSCITADO: JUÍZO DA 4ª VARA DA JUIZO DA 5ª VARA DA Número do Protocolo: 42317/2008 Data de Julgamento: 07-8-2008 EMENTA CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA - VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - LEI 11.340/06 - AGRESSÃO FAMILIAR - COMPETÊNCIA DO JUÍZO CRIMINAL - INTELIGÊNCIA DO ART. 33 DA LEI MARIA DA PENHA - PROVIMENTO DO TJMT - PROCEDÊNCIA DO PLEITO. Tratando-se de violência contra a mulher, com procedimento ditado pela Lei nº 11.340/06, compete ao juízo criminal o processamento da ação judicial dela decorrente, quando ainda não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. Fl. 1 de 6
SUSCITANTE: SUSCITADO: JUÍZO DA 4ª VARA DA JUIZO DA 5ª VARA DA RELATÓRIO EXMO. SR. DES. JOSÉ LUIZ DE CARVALHO Egrégia Turma: Cuida-se de conflito negativo de competência provocado pelo Juiz de Direito da 4ª Vara Juizado Especial, tendo como suscitado o Magistrado da 5ª Vara Criminal, ambos da Comarca de Sorriso. Extrai-se dos autos que Francisco Batista Silva, em 07-5-2007, agrediu sua mulher Antonia Dias da Silva, sendo preso em flagrante como incurso na Lei no. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha). Concluso o feito ao Suscitado este declinou a competência para processar e julgar a questão, sob a premissa de que o fato deve ser do Juizado Especial e este, por sua vez, suscitou o conflito em face da incidência da Lei 11.340/06 - Lei Maria da Penha e Provimento no. 45/2007, da CGJ, do TJMT (fls. 67/93). Nesta Instância, a douta Procuradoria Geral de Justiça, em parecer do ilustre Procurador de Justiça, Dr. Benedito X. S. Corbelino, opinou improcedência pela conflito, para que seja declarado o Juízo da 4ª Vara Juizado Especial o competente para julgar o feito (fls. 105/108). É o relatório. P A R E C E R (ORAL) O SR. DR. BENEDITO XAVIER DE SOUZA CORBELINO Ratifico o parecer escrito. Fl. 2 de 6
VOTO EXMO. SR. DES. JOSÉ LUIZ DE CARVALHO (RELATOR) Egrégia Turma: Ressai dos autos que o Juiz de Direito da 4ª Vara Juizado Especial da Comarca de Sorrisos suscitou conflito negativo de competência, por entender que a competência para processar e julgar o fato decorrente de violência doméstica seja do Suscitado em face da Lei Maria da Penha e Provimento da Corregedoria Estadual e do TJMT. Analisando detidamente os autos verifico que os fatos narrados versam sobre agressão domiciliar praticada contra mulher, haja vista o conteúdo das declarações da ofendida no sentido de que o agressor é seu marido e que vem sofrendo várias violências físicas em seu próprio ambiente familiar. Com efeito, o debate surgido com a entrada em vigor da Lei nº 11.340/2006 (Lei "Maria da Penha"), sobre a competência para processamento das ações envolvendo violência doméstica contra mulher, tem gerado inúmeros conflitos negativos entre juízos de família e criminais e, desta feita, entre juizado especial e criminal. O Egrégio Conselho da Magistratura deste Tribunal de Justiça, sensível ao problema, expediu o Provimento nº 008/2007/CM, disciplinando a competência e os procedimentos das Varas Especializadas de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher. Infere-se do art. 1º, item II, parágrafo 1º do referido Provimento que: Para atrair a competência das Varas Especializadas em Violência Doméstica e Familiar contra Mulher, imprescindível tratar-se de fato-crime com registro da ocorrência na esfera policial ou em decorrência de promoção pelo Ministério Público (arts. 12, caput, e 19, ambos da Lei n.º 11.340/2006), sempre com a representação como condição de procedibilidade nas hipóteses previstas em lei. Da mesma forma, a Lei supracitada, em seu art. 33, é clara ao estabelecer que: Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Fl. 3 de 6
Familiar contra a Mulher, as varas criminais acumularão as competências cível e criminal para conhecer e julgar as causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, observada as previsões do Título IV desta Lei, subsidiada pela legislação processual pertinente. Parágrafo único. Será garantido o direito de preferência, nas varas criminais, para o processamento e o julgamento das causas referidas no caput. Assim, o referido artigo é claro ao definir que, até a criação e instituição de juizado próprio para apreciação da matéria, as demandas cível, de juizado especial ou criminal, envolvendo violência doméstica contra mulher, como no caso dos autos, serão processadas nas varas criminais. Logo, a conclusão que se impõe é que a competência para julgar a ação é do Juízo suscitado, pois se trata de doméstica sofrida pela autora por parte do seu esposo. Aliás, este Tribunal de Justiça, já se pronunciou sobre a matéria: CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA - LEI Nº. 11.340/2006 (LEI MARIA DA PENHA) - AÇÃO DE RECONHECIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL CUMULADA COM DISSOLUÇÃO LITIGIOSA, PARTILHA DE BENS, GUARDA E ALIMENTOS - COMPETÊNCIA DO JUÍZO CRIMINAL - ARTIGO 33, LEI Nº. 11.340/2006 - CONFLITO PROCEDENTE. A Lei Maria da Penha, nº. 11.340/2006, determina em seu artigo 33, que a competência para o processamento e julgamento das causas relativas à violência doméstica e familiar é o juízo criminal, enquanto não se instituam os Juizados da Violência Doméstica e Familiar. (TJMT Conflito de Competência nº 41108/2007; Rel. Des. Evandro Stábile; Primeira Turma de Câmaras Cíveis Reunidas; Julgamento: 04-9-2007). Ademais, mesmo que a ofendida posteriormente venha a renunciar ao direito de representar criminalmente contra o seu agressor, a competência das Varas Criminais permanece, porque, ainda que a maioria das medidas pretendidas seja correlata à esfera do juizado especial ou cível, o expediente deve ser encaminhado à Vara Criminal por expressa determinação legal. Fl. 4 de 6
Destarte, não há como falar que a competência para o julgamento e processamento do feito seja do Juizado Especial. Diante de todo o exposto, em dissonância com o parecer ministerial, JULGO PROCEDENTE o presente conflito para declarar competente o Juízo de Direito da 5ª Vara Criminal da Comarca de Sorriso/MT para conhecer, processar e julgar a causa em comento, ex vi do art. 33 da Lei nº 11.340/2006. É como voto. Fl. 5 de 6
ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a TURMA DE CÂMARAS CRIMINAIS REUNIDAS do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência da DESA. SHELMA LOMBARDI DE KATO, por meio da Turma Julgadora, composta pelo DES. JOSÉ LUIZ DE CARVALHO (Relator), DES. RUI RAMOS RIBEIRO (1º Vogal), DES. JUVENAL PEREIRA DA SILVA (2º Vogal), DESA. SHELMA LOMBARDI DE KATO (3ª Vogal), DES. MANOEL ORNELLAS DE ALMEIDA (4º Vogal) e DES. PAULO DA CUNHA (5º Vogal), proferiu a seguinte decisão: À UNANIMIDADE, JULGARAM PROCEDENTE O CONFLITO PARA FIRMAR A COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA 5ª VARA CRIMINAL DA. NO MESMO SENTIDO É O PARECER. Cuiabá, 07 de agosto de 2008. ---------------------------------------------------------------------------------------------------- DESEMBARGADORA SHELMA LOMBARDI DE KATO - PRESIDENTE DA ---------------------------------------------------------------------------------------------------- DESEMBARGADOR JOSÉ LUIZ DE CARVALHO - RELATOR ---------------------------------------------------------------------------------------------------- PROCURADOR DE JUSTIÇA GEACOR Fl. 6 de 6