10 O desaparecimento de línguas LEF140 Prof. Maria Carlota Rosa Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 1
A edição de 2017 do Ethnologue, a vigésima edição, aponta a existência de 7.099 línguas vivas. Desse total, 920 línguas (cerca de 13%) estão morrendo. De 1950 a 2017 o Ethnologue computou a morte de 360 línguas, numa média de desaparecimento de 6 línguas ao ano. Fonte: https://www.ethnologue.com/endangered-languages Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 2
Um exemplo: a língua karipuna Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 3
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Línguas recentemente extintas no Brasil: Amanayé Arapáso Huitoto (Brazil) Krenjê Máku Múra Nukiní Torá UmutinaFonte: Urupá Xakriabá Yurutí (Brazil) Fonte: UNESCO Atlas of the World's Languages in Danger http://www.unesco.org/languages-atlas/index.php Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 5
Como uma língua desaparece? Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 6
O desaparecimento de uma língua pode ser abrupto: Morte súbita todos os falantes morrem ou são mortos (ex. línguas dos aborígenes da Tasmânia no século XIX); Morte radical os falantes param de usar a língua por autodefesa (como em consequência do massacre dos camponeses salvadorenhos de 1932). Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 7
O desaparecimento de uma língua pode ser gradual até os descendentes terem pouca ou nenhuma proficiência. Neste caso, pressupõem-se como etapas: a) o contacto linguístico; b) os membros da comunidade de menor status embora conservem o vernáculo, adquirem a língua do grupo dominante tornam-se bilíngues; c) o uso do vernáculo começa a diminuir na comunicação intragrupal; d) a geração bilíngue transmite apenas a língua do grupo dominante à geração seguinte ; e) monolinguismo. (Sánchez Avendaño, 2009) Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 8
Vitalidad y peligro de desaparición de las lenguas [Brenzinguer, M. et alii]. 2003. http://unesdoc.unesco.org/images/0018/001836/183699s.pdf Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 9
Una lengua está en peligro cuando se encuentra en vías de extinción. Sin una documentación adecuada, una lengua extinguida no podrá revivir jamás. Una lengua está en peligro cuando sus hablantes dejan de utilizarla, cuando la usan en un número cada vez más reducido de ámbitos de comunicación y cuando dejan de transmitirla de una generación a la siguiente. Es decir, cuando no hay nuevos hablantes, ni adultos ni niños. Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 10
Alrededor del 97% de la población mundial habla aproximadamente un 4% de las lenguas del mundo; a la inversa, alrededor del 96% de las lenguas del mundo son habladas por aproximadamente un 3% de los habitantes del mundo (Bernard 1996: 142). Así pues, casi toda la heterogeneidad lingüística del mundo es custodiada por un número muy pequeño de personas. Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 11
El peligro de desaparición de una lengua puede ser el resultado de fuerzas externas, tales como el sojuzgamiento militar, económico, religioso, cultural o educativo, o puede tener su causa en fuerzas internas, como la actitud negativa de una comunidad hacia su propia lengua. Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 12
A menudo las presiones internas tienen su origen en presiones externas, y unas y otras detienen la transmisión intergeneracional de las tradiciones lingüísticas y culturales. Muchos pueblos indígenas, asociando su condición social desfavorecida con su cultura, han llegado a creer que no merece la pena salvaguardar sus lenguas. Abandonan su lengua y su cultura con la esperanza de vencer la discriminación, asegurarse un medio de vida y mejorar su movilidad social o integrarse en el mercado mundial. Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 13
Fatores para orientarem a avaliação de vitalidade de uma língua Brenzinguer et alii ( 2003) Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 14
1 Transmissão entre gerações Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 15
2 Número absoluto de falantes Uma comunidade pequena está sempre em perigo Epidemias; Guerras; Desastres naturais. Consideram-se em perigo línguas com menos de 1000 falantes Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 16
Os tipos de falantes: Nativo fluente (monolíngue ou bilíngue ). Semifalante: falante bilíngue que domina imperfeitamente uma das línguas de sua comunidade, aquela que se encontra em vias de desaparecimento (porque não era sua língua mais importante na infância ) Essa língua pode ser sua língua étnica, mas não sua língua dominante. Falante terminal: último(s) falante(s) de uma língua que está morrendo, desenvolvida como língua materna ainda na infância (Quesada, 2000). Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 17
As línguas podem ser classificadas nesses contextos: Língua dominante A língua mais difundida numa comunidade plurilíngue Língua minoritária A língua de uma minoria linguística Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 18
3. Proporção de falantes no conjunto da população Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 19
4. Mudanças nos domínios de uso da língua Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 20
5 - Resposta a novos domínios e meios de comunicação Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 21
6- Disponibilidade de materiais para ensino e aprendizagem da língua Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 22
7 Atitudes linguísticas de governos e instituições Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 23
E no Brasil? Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 24
No país são faladas aproximadamente 210 línguas diferentes por cerca de 2 milhões de brasileiros que não têm o Português como língua materna. Cerca de 180 línguas são nativas (ou autóctones), ou seja, línguas indígenas, como o Guarani, Xakriabá, Cinta Larga, Kaingang, e cerca de 30 são de imigração (ou alóctones), como o Pomerano, o Vestfaliano, o Hunsrückisch, o Talian, às quais se somam ainda a língua de sinais brasileira (Libras). Embora formalmente extintas, as línguas africanas sobrevivem no léxico e em práticas diversificadas dos descendentes afrobrasileiros. (Tressmann, 2011: 25) Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 25
Alguns marcos nas políticas linguísticas no País (vide Tressmann, 2011) 1757 - Diretório que se deve observar nas Povoações dos Índios do Pará, e Maranhão, enquanto Sua Majestade não mandar o contrário Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 26
6 Sempre foi maxima inalteravelmente praticada em todas as Naçoens, que conquistáraõ novos Dominios, introduzir logo nos Póvos conquistados o seu proprio idiôma, por ser indisputavel, que este he hum dos meios mais efficazes para desterrar dos Póvos rusticos a barbaridade dos seus antigos costumes; e ter mostrado a experiência, que ao mesmo passo, que se introduzi nelles o uso da Lingua do Principe, que os conquistou, se lhes radica também o affecto, a veneração, e a obediência ao mesmo Principe. Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 27
Observando pois todas as Naçoens polidas do Mundo este prudente, e sólido systema, nesta Conquista se praticou tanto pelo contrário, que só cuidáraõ os primeiros Conquistadores estabelecer nella o uso da Lingua, que chamáraõ geral; invenção verdadeiramente abominável, e diabólica, para que privados os Indios de todos aquelles meios, que os podiaõ civilizar, permanecessem na rustica, e barbara sujeição, em que até agora se conservávaõ. Para desterrar esse perniciosissimo abuso, será hum dos principáes cuidados dos Directores, estabelecer nas suas respectivas Povoaçoens o uso da Lingua Portugueza, naõ consentindo por modo algum, que os Meninos, e Meninas, que pertencerem ás Escólas, e todos aquelles Indios, que forem capazes de instrucçaõ nesta materia, usem da Lingua propria das suas Naçoens, ou da chamada geral; mas unicamente da Portugueza, na forma, que Sua Magestade tem recõmendado em repetidas ordens, que até agora se naõ observáraõ com total ruina Espiritual, e Temporal do Estado. Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 28
Campanha de Nacionalização do Ensino na era Vargas Decreto-Lei nº 406, de 4 de Maio de 1938 Dispõe sôbre a entrada de estrangeiros no território nacional. ( Lei da Nacionalização ) http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1930-1939/decreto-lei- 406-4-maio-1938-348724-publicacaooriginal-1-pe.html Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 29
Art. 85. Em todas as escolas rurais do pais, o ensino de qualquer matéria será ministrada em português, sem prejuízo do eventual emprego do método direto no ensino das línguas vivas. 1º As escolas a que se refere este artigo serão sempre regidas por brasileiros natos. 2º Nelas não se ensinará idioma estrangeiro a menores de quatorze (14) anos. 3º Os livros destinados ao ensino primário serão exclusivamente escritos em línguas portuguesa. 4º Nos programas do curso primário e secundário é obrigatório o ensino da história e da geografia do Brasil. 5º Nas escolas para estrangeiros adultos serão ensinadas noções sobre as instituições políticas do país. Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 30
Art. 86. Nas zonas rurais do país não será permitida a publicação de livros, revistas ou jornais em línguas estrangeira, sem permissão do Conselho de Imigração e Colonização. Art. 87. A publicação de quaisquer livros, folhetos, revistas, jornais e boletins em língua estrangeira fica sujeita à autorização e registro prévio no Ministério da Justiça. Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 31
DECRETO-LEI Nº 1.545, DE 25 DE AGOSTO DE 1939 http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1930-1939/decreto-lei- 1545-25-agosto-1939-411654-publicacaooriginal-1-pe.html Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 32
Mudanças: a Constituição de 1988: Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais. 1º O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental. 2º O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem. Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 33
Um aspecto pedagógico que decorre deste dispositivo foi o estabelecimento de escolas indígenas, como proposta pedagógica, organização administrativa e didáticas próprias. Em consequência dos direitos assegurados, em 1998 foi publicado o Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas. Porém, os direitos linguísticos não foram estendidos aos falantes de outras línguas brasileiras, como as línguas de imigração (ou alóctones). (Tressmann, 2011: 28) Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 34
No tocante às línguas indígenas, Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 35
Eu diria que no Brasil estamos no nível 3 com tendência a passar para 4. Não há uma política oficial governativa explícita e específica, há anos pedimos que seja formulada e implementada tendo já encaminhado propostas ao MEC, até agora nada. Há reconhecimento e incentivo no âmbito educacional, da chamada 'educação indígena' definida como bilíngue...trata-se de muita retórica oficial, mas reconheço que muita coisa está sendo feita, com várias experiências de escolas indígenas onde há a presença, bem como ensino-aprendizagem, das línguas nativas. (Bruna Franchetto, comunicação pessoal em 01/10/2013) Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 36
A SITUAÇÃO EUROPEIA Carta Europeia para as Línguas Regionais ou Minoritárias A Carta Europeia das Línguas Regionais ou Minoritárias (CELRM) é um tratado europeu, que foi aprovado em 1992, sob os auspícios do Conselho da Europa, para proteger e fomentar as línguas históricas, regionais e minoritárias na Europa. (Jones, 2013:5) Texto em português: https://www.coe.int/t/dg4/education/minlang/textcharter/charter/charter_pt.p df Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 37
A expressão aceite utilizada para classificar línguas nativas da Europa, que não são línguas oficiais dos Estados, é a expressão línguas regionais ou minoritárias. Esta é a expressão utilizada pelo Conselho da Europa na sua Carta Europeia das Línguas Regionais ou Minoritárias. Estas línguas distribuem-se, de forma geral, por quatro categorias: línguas autóctones, que são línguas nativas, mas não línguas oficiais dos Estados; autóctones e transfronteiriças, correspondendo a línguas nativas que existem em mais do que um Estado, mas não são línguas oficiais desses Estados; línguas transfronteiriças, que existem enquanto língua oficial num Estado, mas são línguas minoritárias noutro; e línguas não territoriais, como por exemplo a língua romani. (Jones, 2013:5) Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 38
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8 Atitudes dos membros da comunidade Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 42
9 - Tipo e qualidade da documentação Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 43
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MOSELEY, Christopher, ed. 2010. Atlas of the World s Languages in Danger, 3rd edn. Paris, UNESCO Publishing. http://www.unesco.org/culture/languages-atlas/index.php Em julho de 2017, o Atlas apontava a existência de 2464 línguas em risco de desaparecimento. Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 45
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Referências [BRENZINGUER, M. et alii]. 2003. Vitalidad y peligro de desaparición de las lenguas. Documento adoptado por la Reunión Internacional de Expertos sobre el programa de la UNESCO Salvaguardia de las Lenguas en Peligro París, 10 12 de marzo de 2003. http://unesdoc.unesco.org/images/0018/001836/183699s.pdf FRANCHETTO, Bruna. 2008. A guerra dos alfabetos: : os povos indígenas na fronteira entre o oral e o escrito. Mana, vol.14, n.1, pp. 31-59. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0104-93132008000100002 Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 48
Referências (cont.) JONES, Meirion Prys. 2013. As línguas ameaçadas de extinção e a diversidade lnguística na União Europeia. http://www.europarl.europa.eu/regdata/etudes/note/join/2013/495851/ipol-cult_nt(2013)495851(sum01)_pt.pdf MOSELEY, Christopher, ed. 2010. Atlas of the World s Languages in Danger, 3rd edn. Paris, UNESCO Publishing. Online version: http://www.unesco.org/culture/en/endangeredlanguages/atlas QUESADA, J. Diego. 2000. Synopsis of a Boruca terminal speaker. http://www.repositorio.una.ac.cr/bitstream/handle/11056/2664/recurso_76.pdf?sequence=1 SÁNCHEZ AVENDAÑO, Carlos. 2009. Situación sociolingüística de las lenguas minoritarias de Costa Rica y censos nacionales de población 1927-2000: vitalidad, desplazamiento y autoafiliación etnolingüística. Filología y Lingüística, XXXV (2): 233-273, 2009. http://www.kerwa.ucr.ac.cr/bitstream/handle/10669/14435/1174-1711-1-sm.pdf?sequence=1 TRESSMANN, Ismael. 2011. A educação escolar nas comunidades pomeranas: ensino da língua ou na própria língua?. Revista da FARESE, 3 (1): 23-37. http://www.farese.edu.br/new/pdf/biblioteca/revista_farese/revistafaresev3n1.pdf Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia 49