Análise das bases de dados SUS na área de saúde mental

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Transcrição:

Ano 1, n 1/ Setembro 2011 Análise das bases de dados SUS na área de saúde mental Município de São Paulo 2004 a 2010

Apresentação O presente relatório sobre Análise de bases de dados SUS na área de saúde mental explora diversas dimensões sobre o tema em questão abordando as ações direcionadas à saúde mental no SUS, incluindo a produção, o perfil de usuários e uma análise comparativa dos diferentes tipos de serviços ofertados. Com a elaboração deste relatório a CEInfo inaugura uma nova modalidade de análise que pretende abordar temas diversos, por meio de ampla exploração das bases de dados do SUS. A análise das séries históricas da produção SUS, aqui apresentada, permitiu conhecer a evolução das ações de saúde mental na cidade e a velocidade das mudanças ocorridas. Os achados evidenciaram aumento das ações realizadas nos serviços comunitários e redução do número e da duração das internações psiquiátricas nos hospitais especializados. Foram identificadas fragilidades dos bancos de dados o que reforça a necessidade de investimento no rigor da entrada de dados nos sistemas de informação. A efetiva utilização destas informações no cotidiano dos serviços pode apoiar a tomada de decisão dos gestores e contribuir efetivamente para a melhoria da qualidade do cuidado em saúde mental na cidade de São Paulo. Margarida Lira CEInfo SMS.Gab. Coordenação de Epidemiologia e Informação CEInfo 1

Coordenação de Epidemiologia e Informação CEInfo 2

Sumário Introdução... 05 1. Ações ambulatoriais de saúde mental na rede SUS... 06 2. Ações de saúde mental na Atenção Básica... 08 3. Centros de Atenção Psicossocial Caps... 09 3.1. Produção... 14 3.1.1. Caps habilitados... 14 3.1.2.Caps não habilitados... 15 3.2. Monitoramento dos Caps... 17 3.2.1. Indicador I - Proporção de usuários cadastrados em acompanhamento no Caps em relação ao número previsto... 17 3.2.2. Indicador II - Número médio de diárias de acompanhamento por usuário cadastrado por tipo de atendimento (densidade de diárias)... 18 3.3.3. Indicador III - Número médio de diárias de acompanhamento por usuário cadastrado por tipo de atendimento (densidade de diárias)... 19 3.3. Perfil dos usuários em acompanhamento nos Caps habilitados... 20 3.3.1. Idade e sexo... 21 3.3.2. Diagnósticos... 24 4. Centros de Convivência e Cooperativa... 27 5. Atenção Hospitalar... 28 5.1. Leitos Psiquiátricos... 28 5.2. Internações Psiquiátricas... 29 5.3. Perfil dos pacientes que receberam assistência em saúde mental nos hospitais... 32 5.3.1. Idade e sexo... 32 5.3.2. Diagnóstico na internação... 33 6. Análise comparativa entre o perfil dos pacientes das internações e do Caps... 36 7. Considerações finais... 37 Coordenação de Epidemiologia e Informação CEInfo 3

Coordenação de Epidemiologia e Informação CEInfo 4

Introdução A informação em saúde é uma importante ferramenta do processo de gestão e sua disponibilização oportuna permite a tomada de decisões e o desenvolvimento de ações baseadas nas necessidades da população e na capacidade operacional dos serviços. Dentre os múltiplos problemas a serem enfrentados pelos gestores do Sistema Único de Saúde (SUS), a saúde mental vem ganhado, cada vez mais, relevância no planejamento e na execução de ações de saúde. Considerando a importância deste tema, o presente relatório buscou identificar os principais dados e informações dos Sistemas de Informações de Saúde (SIS) do SUS que pudessem fornecer subsídios para gestão da assistência em saúde mental na cidade de São Paulo. Os SIS utilizados foram o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (Cnes), o Sistema de Informação Ambulatorial (SIA/SUS) e o Sistema de Informação Hospitalar (SIH/SUS), todos de alimentação obrigatória para estabelecimentos de saúde prestadores de serviços no SUS. As bases geradas por estes sistemas disponibilizam grande quantidade de dados que permitem uma visão abrangente da rede de serviços e o acompanhamento da direcionalidade e da velocidade das mudanças planejadas pelas políticas públicas, contribuindo assim para a verificação do alcance de metas e objetivos, a reprogramação de atividades e o aprimoramento do acesso aos serviços. Estas informações também são importantes como ponto de partida para estudos e análises mais aprofundados. Dado que a rede de atenção saúde mental da cidade de São Paulo é formada por estabelecimentos de saúde sob gestão tanto da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) quanto da Secretaria de Estado da Saúde (SES), este relatório utilizou os bancos de dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde (MS), responsável por consolidar ambas as bases de dados. Coordenação de Epidemiologia e Informação CEInfo 5

1. Ações ambulatoriais de saúde mental na rede SUS As ações ambulatoriais de saúde mental distribuem-se por toda a rede de serviços SUS do município de São Paulo, composta por estabelecimentos de saúde públicos e privados conveniados ou contratados, estejam eles sob gestão da SMS ou da SES. Particularmente nos serviços não especializados em saúde mental, as ações voltadas para este campo são realizadas por equipes multidisciplinares que também atendem outros tipos de agravos e registram o total da produção realizada no SIA/SUS. Por limitação deste banco de dados não é possível identificar quais procedimentos realizados por estas equipes se destinaram especificamente à saúde mental. Desta forma, para obter-se um retrato, mesmo que parcial, deste recorte optou-se por criar um indicador denominado Procedimentos PSI composto pelo volume total de procedimentos individuais e coletivos realizados por médicos psiquiatras e psicólogos, profissionais cuja atuação, independente do tipo de serviço onde se encontram alocados, é caracteristicamente do campo da saúde mental. Para o cálculo deste indicador os estabelecimentos de saúde SUS da cidade foram categorizados em cinco grupos: (1) Unidades Básicas de Saúde (UBS); (2) Hospitais e Prontos Socorros; (3) Centros de Apoio Psicossocial (Caps); (4) Centro de Convivência e Cooperativa (Cecco); (5) Ambulatórios especializados. Na cidade de São Paulo, em 2010, 28,6% dos procedimentos PSI foram realizados em serviços sob gestão estadual e 71,4% sob gestão municipal. Na gestão estadual predominaram os procedimentos PSI realizados nos hospitais (69,5%), devido principalmente aos serviços vinculados às Faculdades de Medicina e Residências de Psiquiatria existentes na cidade, a saber: Faculdade de Medicina da USP Instituto de Psiquiatria, Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa e Escola Paulista de Medicina Unifesp. Na gestão municipal predominaram os procedimentos PSI realizados nos Caps (37,2%) e nas UBS (36,8%) (Gráfico 1). Coordenação de Epidemiologia e Informação CEInfo 6

Gráfico 1 - Número de procedimentos PSI (1) segundo tipo de gestão e tipo de estabelecimento de saúde. Município de São Paulo, 2010. 1.400.000 1.200.000 1.000.000 800.000 600.000 Cecco Hospital e Pronto Socorro Ambulatórios especializados Caps Atenção Básica 400.000 200.000 0 Estadual Municipal Fonte: Ministério da Saúde SIA/SUS (1) Indicador composto pelo volume total de procedimentos individuais e coletivos realizados pelos psicólogos e médicos psiquiatras. Os procedimentos realizados pelos psiquiatras representaram 54,0% do total de procedimentos PSI, sendo a maior porcentagem deles realizados nos Caps (39,8%). Por outro lado, foi nas UBS que se observou o maior percentual dos procedimentos realizados por psicólogos (30,8%). Considerando-se a distribuição total dos procedimentos PSI nos diversos grupos de serviços, os Caps responderam pela maior percentagem (30,8%), seguido das UBS (27,2%) e hospital/pronto socorro (24,3%). Nos ambulatórios especializados a porcentagem foi 16,7% (Tabela 1). Tabela 1 - Número e porcentagem dos procedimentos PSI (1) na rede SUS por tipo de estabelecimento de saúde, tipo de gestão e profissional. Município de São Paulo, 2010. TIPO DE GESTÃO PROFISSIONAL Total Procedimentos Estadual Municipal Psiquiatra Psicólogo PSI Tipo de Estabelecimento de Saúde N % N % N % N % N % Ambulatórios especializados (2) 67.162 12,4 248.441 18,4 80.744 7,9 234.859 27,0 315.603 16,7 Caps 80.785 14,9 503.694 37,2 407.826 39,8 176.653 20,3 584.479 30,8 Cecco 0 0,0 18.598 1,4 57 0,0 18.541 2,1 18.598 1,0 Hospital e Pronto Socorro 376.921 69,5 84.172 6,2 289.066 28,2 172.027 19,8 461.093 24,3 UBS 17.372 3,2 497.553 36,8 246.356 24,1 268.569 30,8 514.925 27,2 Total 542.240 100,0 1.352.458 100,0 1.024.049 100,0 870.649 100,0 1.894.698 100,0 (1) Procedimento PSI corresponde à soma de todos os procedimentos realizados por médico psiquiatra e psicólogo. (2) Compreende todas as unidades ambulatoriais especializadas exceto as de saúde mental. Fonte: Ministério da Saúde SIA/SUS Coordenação de Epidemiologia e Informação CEInfo 7

2. Ações de saúde mental na Atenção Básica As ações da saúde mental na Atenção Básica são executadas pelos profissionais das equipes multidisciplinares das UBS e dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (Nasf). Pelo motivo já explicitado anteriormente, só foram computados na presente análise os procedimentos realizados pelos psicólogos e pelos médicos psiquiatras. O Gráfico 2 mostra aumento de 28,7% no volume total da produção (procedimentos individuais e coletivos) dos médicos psiquiatras nas UBS entre 2004 e 2010. Em relação aos psicólogos houve um aumento de 30,7% do total de procedimentos realizados no mesmo período. 300.000 Gráfico 2 - Total de procedimentos realizados pelos psicólogos e psiquiatras nas UBS por ano. Município de São Paulo, 2004-2010. 250.000 200.000 150.000 100.000 50.000 0 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Psiquiatra Psicólogo Fonte: Ministério da Saúde SIA/SUS As consultas individuais são os procedimentos realizados mais frequentes entre os médicos psiquiatras, ao redor de 98%, e os procedimentos coletivos têm maior relevância entre os psicólogos, representando ao redor de 13,0% do total em 2004 e atingindo 16,4% em 2010 (Gráfico 3). Coordenação de Epidemiologia e Informação CEInfo 8

Gráfico 3 - Total de procedimentos realizados pelos psicólogos nas UBS por tipo de procedimento e ano. Município de São Paulo, 2004-2010. 250.000 200.000 150.000 100.000 50.000 0 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Procedimentos coletivos Procedimentos individuais Fonte: Ministério da Saúde SIA/SUS 3. Centros de Atenção Psicossocial - Caps Os Caps são serviços de saúde do SUS, regulamentados por portarias ministeriais e definidos segundo porte/complexidade (estrutura física, profissionais e atividades terapêuticas), abrangência populacional e especificidade da população a ser atendida. Os Caps I e II são para atendimento diário de adultos, o Caps III para atendimento diário e noturno sete dias na semana, o Caps infantil (Caps i) para crianças e adolescentes e o Caps álcool e drogas (Caps ad) para usuários de substâncias psicoativas. O município realiza o cadastro de seus Caps no Cnes e a sua habilitação é negociada junto à Comissão Intergestores Bipartite do Estado e à Coordenação Nacional de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas do MS. Dentre os 61 Caps sob gestão da SMS em operação no final de 2010, 15 ainda estavam aguardando habilitação do MS. A Tabela 2 mostra a expansão dos Caps da cidade de São Paulo de 2004 a 2010 em números absolutos, destacando os serviços que estão habilitados. Incluem-se aqui, além dos Caps sob gestão da SMS, mais cinco sob gestão da SES (em 2010): Caps Itapeva, Cratod e outros três vinculados à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Coordenação de Epidemiologia e Informação CEInfo 9

Tabela 2 Série histórica de expansão dos Caps segundo tipo e esfera governamental responsável pela gestão. Município de São Paulo, 2004 a 2010. Tipo de Caps 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Habilit Habilit Habilit Habilit Habilit Habilit Habilit ado. Total ado Total ado Total ado Total ado Total ado Total ado Total Caps ad (1) 8 13 8 13 8 13 8 13 8 15 14 20 15 21 Caps adulto 15 21 16 21 16 22 16 22 20 25 21 26 21 26 Caps i (2) 7 10 7 10 7 10 7 10 8 11 10 14 10 14 Total sob gestão SMS 30 44 31 44 31 45 31 45 36 51 45 60 46 61 Total sob gestão SES 3 3 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 5 5 Total 33 47 35 48 35 49 35 49 40 55 49 61 51 66 (1) Caps álcool e drogas (2) Caps infantil Fonte: Área Técnica de Saúde Mental/Coordenação da Atenção Básica-SMS/SP Para análise da cobertura de Caps foi adotado o indicador Taxa de Cobertura de Caps por 100.000 habitantes 1, criado pelo Ministério da Saúde e incluído no Pacto pela Saúde em 2008 2, segundo os parâmetros: Cobertura insuficiente/crítica: abaixo de 0,20/100.000 habitantes Cobertura baixa: 0,20 a 0,34/100.000 habitantes Cobertura regular/baixa: 0,35 a 0,49/100.000 habitantes Cobertura regular a boa: 0,50 a 0,69/100.000 habitantes Cobertura muito boa: acima de 0,70/100.000 habitante No final do ano de 2010 a taxa de cobertura de Caps na cidade de São Paulo foi 0,61, o que correspondia a uma cobertura regular a boa. De acordo com os parâmetros acima, a distribuição dos Caps entre as 24 Supervisões Técnicas de Saúde (STS) da cidade de São Paulo apresentava-se heterogênea (Mapa 2). Em três STS (Cidade Tiradentes, Campo Limpo e Capela do Socorro) a taxa de cobertura dos Caps classificava-se como insuficiente/crítica, sendo que não havia Caps na STS Cidade Tiradentes. Duas STS (Butantã e Vila Maria Vila Guilherme) apresentaram cobertura baixa e três STS (M Boi Mirim, Freguesia do Ó/Brasilândia e Mooca/Aricanduva) cobertura regular/baixa. Por outro lado, oito STS apresentaram taxa de cobertura muito boa (São Mateus, Guaianases, Santana/Jaçanã, Vila Prudente/Sapopemba, Sé, Parelheiros, Lapa/Pinheiros, e Vila 1 Calculado pelo método: [(nº Caps I x 0,5)+( nº Caps II)+( nº Caps III x 1,5)+( nº Caps i)+( nº Caps ad)] / população x 100.000. 2 Relatório VII Reunião do colegiado de coordenadores de saúde mental. Brasília DF em 17 e 18 de abril de 2008. Coordenação de Epidemiologia e Informação CEInfo 10

Mariana/Jabaquara). É importante ressaltar que nas STS Sé e Vila Mariana/Jabaquara encontram-se os Caps sob gestão estadual. Considerando os mesmos parâmetros para o ano de 2004, observou-se significativa melhora da taxa de cobertura, que passou de 0,44 em 2004 a 0,61 em 2010. Em 2004 havia cinco STS sem nenhum Caps e apenas quatro STS superaram a taxa de cobertura de 0,70 que significa cobertura muito boa. Os Mapas 1 e 2 apresentam a evolução da situação das STS em relação a este indicador entre 2004 e 2010. Coordenação de Epidemiologia e Informação CEInfo 11

Mapa 1 - Taxa de Cobertura de Caps por 100.000 habitantes por STS. Município de São Paulo, 2004. Fonte: Área Técnica de Saúde Mental/Coordenação Atenção Básica/SMS-SP Coordenação de Epidemiologia e Informação CEInfo 12

Mapa 2 - Taxa de Cobertura de Caps por 100.000 habitantes por STS. Município de São Paulo, 2010. Fonte: Área Técnica de Saúde Mental/Coordenação Atenção Básica/SMS-SP Coordenação de Epidemiologia e Informação CEInfo 13

3.1. Produção Os dados de produção dos Caps podem ser registrados no Boletim de Produção Ambulatorial (BPA), quando se tratam de procedimentos de apresentação consolidada, e na Autorização de Procedimentos de Alta Complexidade (Apac) no casos de procedimentos que requerem identificação do usuário atendido (instrumento exclusivo para Caps habilitados), ambos componentes do SIA/SUS. A base de dados analisada tem como fonte o MS, responsável por consolidar os dados dos Caps tanto sob a gestão da SMS quanto da SES. 3.1.1. Caps habilitados: devem ser registrados no BPA todos os procedimentos pontuais, que compreendem consultas médicas ou de outros profissionais, atividades coletivas, atendimentos domiciliares, administração de medicamentos e outros, realizados para o acolhimento, a identificação das necessidades e a posterior definição do projeto terapêutico dos usuários recém chegados à unidade Também são considerados procedimentos pontuais as atividades de apoio às equipes e aos usuários de outros serviços como avaliação de casos complexos, discussão e atendimento conjunto de casos, que, por alguma razão, não têm indicação de seguir acompanhamento no Caps. A partir da fixação do usuário no Caps com definição de seu projeto terapêutico, o atendimento prestado será registrado na Apac em forma de diárias de acompanhamento, que incluem todos os procedimentos realizados a cada dia de frequência. Para estes usuários não mais devem ser registrados procedimentos pontuais no BPA. As diárias de acompanhamento são classificadas pelo MS como procedimentos de alta complexidade e por isso requerem autorização prévia da área de regulação municipal para serem computadas. Estando autorizadas, o Caps registra os dados cadastrais e o atendimento dos usuários, em quantidade de diárias de acompanhamento equivalentes aos dias de efetivo comparecimento nos serviços. Cada autorização é válida por três meses, sendo considerada inicial no primeiro mês e de continuidade nos dois seguintes. Após três meses, se o usuário continuar em acompanhamento, o Caps deverá solicitar nova autorização. Coordenação de Epidemiologia e Informação CEInfo 14

3.1.2. Caps não habilitados: não são autorizados a computar diárias de acompanhamento na Apac, portanto todos os atendimentos realizados, mesmo após a definição do projeto terapêutico, são registrados como procedimentos pontuais no BPA. Diante do exposto, fica claro que o número de usuários cadastrados na Apac como em acompanhamento sistemático, por não incluir aqueles acompanhados pelos Caps não habilitados, não é suficiente para se analisar a assistência desta modalidade. Sendo assim, para análise da produção total dos Caps da cidade de São Paulo foram somados os procedimentos pontuais e as diárias de acompanhamento apresentadas por todos os serviços em funcionamento, habilitados ou não. A série histórica desta produção apontou aumento de 138% entre 2004 e 2010. Neste período os Caps ad apresentaram aumento de produção de 308%, os Caps adulto de 102%, os Caps i de 153% e os Caps sob gestão da SES de 93%. (Tabela 3). Tabela 3 Produção total dos Caps (1) sob gestão SUS por tipo de Caps e ano. Município de São Paulo, 2004-2010. Tipo de Caps 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Caps ad 75.865 107.809 111.117 139.142 154.396 221.955 305.717 Caps adulto 229.357 255.774 267.736 322.279 281.138 361.303 465.730 Caps infantil 40.965 47.188 48.343 71.101 73.970 80.793 107.737 Total Caps gestão SMS 346.187 410.771 427.196 532.522 509.504 664.051 879.184 Total Caps SES 114.177 211.493 217.784 217.929 213.427 218.431 217.650 Total 460.364 622.264 644.980 750.451 722.931 882.482 1.096.834 (1) Soma dos procedimentos pontuais e das diárias de acompanhamento Fonte: Ministério da Saúde SIA/SUS Ao analisarmos separadamente os dois grupos de procedimentos, observou-se predomínio da proporção dos procedimentos pontuais em relação às diárias de acompanhamento, à custa do volume de procedimentos pontuais registrados pelos Caps não habilitados que, por estarem impedidos de registrar na Apac até a conclusão do processo de habilitação, apontam toda a produção no BPA (Gráfico 4). Coordenação de Epidemiologia e Informação CEInfo 15

Gráfico 4 - Total de procedimentos realizados pelos Caps segundo grupo de procedimentos e ano. Município de São Paulo, 2004-2010. 1.200.000 1.000.000 800.000 593.799 600.000 400.000 200.000 246.677 213.687 590.962 458.913 467.548 338.732 396.897 283.532 248.083 291.538 255.383 291.520 503.035-2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Diárias de acompanhamento Procedimentos pontuais Fonte: Ministério da Saúde SIA/SUS Para aprofundar a análise da produção dos Caps habilitados foram selecionados os estabelecimentos que durante 2010 apresentaram regularmente suas produções no BPA e na Apac. As séries analisadas apresentaram proporções estáveis de procedimentos pontuais ao redor de 10% a 20% em relação ao total de procedimentos. No conjunto analisado observou-se que a proporção de procedimentos pontuais por Caps variou entre zero e 89%, que comparado aos valores acima, levam a algumas considerações: Valores zerados ou muito baixos podem indicar falta de entendimento da necessidade de registro dos procedimentos pontuais no BPA ou pequena quantidade de novos usuários ou pequena quantidade de atividades extramuros como atividades de apoio técnico a outras unidades de saúde de seu território. Valores muito altos podem refletir grande quantidade de atendimentos de usuários que não estão em acompanhamento sistemático, com característica ambulatorial, ou estar associado a dificuldades administrativas em relação ao registro dos casos formalmente em acompanhamento no subsistema Apac. Coordenação de Epidemiologia e Informação CEInfo 16

3.2. Monitoramento dos Caps Os dados de produção do SIA/SUS, tanto de BPA e Apac, têm sido a matéria prima utilizada para o cálculo de três indicadores desenvolvidos em conjunto com a Coordenação da Atenção Básica/Área Técnica de Saúde Mental 3 a partir de parâmetros estabelecidos pelo MS, calculados e disponibilizados mensalmente pela CEInfo/GIA. A análise conjunta destes indicadores permite medir o desempenho dos Caps quanto à otimização da capacidade operacional, à adequação das propostas terapêuticas e à capacidade de promover a adesão dos usuários ao tratamento. Por considerar dados de Apac, estes indicadores são aplicáveis apenas aos Caps habilitados. 3.2.1. Indicador I: Proporção de usuários cadastrados em acompanhamento no Caps em relação ao número previsto 4 Este indicador busca medir se o Caps está atendendo o número previsto de usuários para sua capacidade conforme parâmetro do MS. O Quadro 1 indica o número de usuários previstos para cada tipo de Caps por tipo de atendimento. Este indicador é influenciado pela capacidade administrativa do Caps em registrar o cadastro e os acompanhamentos dos pacientes no instrumento Apac. Quadro 1 - Número de usuários previstos para cada tipo de Caps Número de usuários/mês Semiintensivo Tipo de Caps Intensivo Não intensivo Total Caps ad 40 60 90 190 Caps adulto II 45 75 100 220 Caps i 25 50 80 155 Caps III 60 90 150 300 Fonte: Portaria MS/SAS nº 189/2002 Na Tabela 4 observa-se a série histórica deste indicador calculada a partir da média mensal para cada ano, onde se observa que os Caps da cidade de São Paulo atenderam 42-44% dos pacientes previstos entre 2004 e 2006, aumentando para 50-52% entre 2007 e 2009. Em 2010 houve um expressivo aumento desta proporção, chegando a 86%. Os Caps i tendem a ter uma proporção mais baixa de usuários cadastrados que os Caps adulto e ad. 3 (1) Proporção de usuários cadastrados em acompanhamento no Caps em relação ao número previsto; (2) Proporção de usuários cadastrados em acompanhamento no Caps em atendimento intensivo e semi-intensivo em relação ao total de usuários cadastrados; (3) Número médio de diárias de acompanhamento por usuário cadastrado por tipo de atendimento (densidade de diárias). 4 Cálculo: Número de usuários cadastrados no mês/número de usuários previstos no mês X 100 (meta: 90%). Coordenação de Epidemiologia e Informação CEInfo 17

Proporções baixas podem indicar poucos usuários em acompanhamento. Entretanto, a análise das séries históricas identificou grandes oscilações nas quantidades registradas nos sistemas de informação e até mesmo irregularidade na apresentação destes dados, que podem estar comprometendo a análise. Observou-se ainda em alguns casos o intervalo de vários meses entre a habilitação do serviço e a alimentação do sistema. Tabela 4 - Proporção de usuários cadastrados em relação ao número previsto, média mensal anual, por tipo de Caps Gestão SUS. Município de São Paulo, 2004-2010. Tipo de Caps 2004 (%) 2005 (%) 2006 (%) Indicador I 2007 (%) Caps ad 44 40 35 47 55 47 86 Caps adulto 46 48 48 56 42 55 90 Caps i 37 29 33 43 34 49 72 Todos os Caps 44 42 42 52 50 50 86 Fonte: Ministério da Saúde SIA/SUS-Apac 2008 (%) 2009 (%) 2010 (%) 3.2.2. Indicador II: Proporção de usuários cadastrados em acompanhamento no Caps em atendimento intensivo e semi-intensivo em relação ao total de usuários cadastrados 5 Este indicador monitora se os Caps estão atuando de forma equilibrada nos três tipos de atendimento previstos pelo MS conforme definidos pela Portaria MS/SAS nº 189/2002: Atendimento intensivo - frequência diária ou acima de 12 dias no mês, para situações de grave sofrimento psíquico; Atendimento semi-intensivo - frequência entre quatro a 12 dias no mês, destinado a usuários que necessitam de acompanhamento menos frequente; Atendimento não intensivo - frequência de uma a três vezes no mês, quando os usuários não necessitam de suporte contínuo. Na Tabela 5 encontra-se a série histórica deste indicador calculada a partir da média mensal para cada ano, onde se observam proporções entre 59 a 56%, consideradas adequadas pela Área Técnica de Saúde Mental da CAB/SMS, no período de 2004 e 2007, e 5 Cálculo: Número de usuários cadastrados em atendimento intensivo e semi-intensivo no mês/número total de usuários cadastrados no mês X 100 (meta: 40% a 60%). Coordenação de Epidemiologia e Informação CEInfo 18

valores acima de 60% a partir de 2008, o que pode indicar uma acolhida proporcionalmente maior de pacientes mais graves. Tabela 5 - Proporção de usuários cadastrados em atendimento intensivo e semi-intensivo em relação ao total de usuários cadastrados, média mensal por ano, por tipo de Caps Gestão SUS. Município de São Paulo, 2004-2010. Indicador II 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Tipo de Caps (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) Caps ad 62 62 65 67 74 82 73 Caps adulto 57 54 53 49 65 54 55 Caps i 64 66 69 69 74 78 78 Todos os Caps 59 57 58 56 61 67 64 Fonte: Ministério da Saúde SIA/SUS-Apac 3.2.3. Indicador III: Número médio de diárias de acompanhamento por usuário cadastrado por tipo de atendimento (densidade de diárias) 6 Este indicador procura medir se os usuários cadastrados estão frequentando os Caps na frequência mensal que o projeto terapêutico preconiza (Portarias MS/GM nº 336//2002 e MS/SAS nº 189/2002). O cálculo é realizado por tipo de atendimento para os quais foram definidas metas específicas. O desempenho geral do Caps é monitorado pela média das diárias da soma de todos os tipos de atendimento, cujo enquadramento é feito nas faixas ruim, regular, bom e ótimo. Verifica-se na Tabela 6 que os Caps adulto mantiveram, em média, entre 2004 e 2010, o número de dias preconizados para cada tipo de atendimento. Os Caps ad apresentaram uma queda importante de 2009 para 2010, ficando neste ano abaixo do preconizado. Os Caps i não têm atingido o preconizado nos atendimentos intensivos desde 2004 (exceção 2005) e em 2010 também não conseguiram atingir os atendimentos semi-intensivos. 6 Cálculo: Número de diárias de acompanhamento no mês, total ou por tipo de acompanhamento/número de usuários cadastrados, total ou por tipo de atendimento no mês. Metas por tipo de atendimento: 1 para não intensivo, 4 para semi-intensivo e 13 para intensivo. Parâmetros para total de atendimentos: <4 - ruim; 4 e 5 - regular; 6 e 7 - bom; 8 e mais - ótimo. Coordenação de Epidemiologia e Informação CEInfo 19

Tabela 6 Número médio mensal de diárias de acompanhamento por usuário cadastrado, por ano, segundo tipo de atendimento e tipo de Caps. Município de São Paulo, 2004-2010. Procedimento Indicador III 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Caps ad 7 12 10 9 8 6 5 Acomp. pac. dep. ad cuidados intensivos 17 36 23 18 17 16 11 Acomp. pac. dep. ad cuidados semiintens. 6 9 9 8 7 5 5 Acomp. pac. dep. ad cuidados não intens. 2 3 2 2 2 2 2 Caps adulto 7 8 7 7 5 6 5 Acomp. pac. SM cuidados intensivo 16 21 17 17 14 14 14 Acomp. pac. SM cuidados semintensivos 7 9 8 8 6 6 6 Acomp. pac. SM cuidados não intensivos 2 2 2 2 1 1 1 Caps i 3 5 4 5 5 4 3 Acomp. crianças cuidados intensivos 7 15 9 9 7 7 5 Acomp. crianças cuidados semi-intensivo 4 5 4 6 6 4 3 Acomp. crianças cuidados não intensivo 2 2 1 2 1 1 1 Total 6 9 7 7 6 5 5 Fonte: Ministério da Saúde SIA/SUS-Apac 3.3. Perfil dos usuários em acompanhamento nos Caps habilitados O registro Apac permite a análise de características dos usuários em acompanhamento nos Caps habilitados. Na cidade de São Paulo, em 2010, esta base era alimentada por 77% dos Caps em funcionamento. Para delinear o perfil destes usuários foram estudadas as variáveis idade, sexo e diagnóstico. O número de usuários em acompanhamento nos Caps habilitados vem aumentando progressivamente na dependência tanto da implantação de novos Caps quanto das habilitações junto ao MS. Entre março de 2004 e setembro de 2010 houve um aumento de 298% no número de usuários cadastrados em acompanhamento nos Caps habilitados, sendo de 417% nos Caps ad, 252% nos Caps adulto e 277% nos Caps i (Gráfico 5). Coordenação de Epidemiologia e Informação CEInfo 20

Gráfico 5 - Série histórica do número de usuários em acompanhamento nos Caps habilitados - Gestão SUS por tipo de Caps. Município de São Paulo, 2004 a 2010. 10.000 9.000 8.000 7.000 6.000 5.000 4.000 3.000 2.000 1.000 - mar_04 set_04 mar_05 set_05 mar_06 set_06 mar_07 set_07 mar_08 set_08 mar_09 set_09 mar_10 set_10 Caps ad Caps adulto Caps infantil Total Fonte: Ministério da Saúde SIA/SUS-Apac 3.3.1. Idade e sexo Foram analisados os dados de 8.930 usuários cadastrados em acompanhamento no mês de setembro de 2010 pelos Caps adulto (54,7%), Caps ad (33,6%) e Caps i (11,7%) conforme Gráfico 6. Gráfico 6 - Porcentual de usuários cadastrados por tipo de Caps. Município de São Paulo, setembro de 2010. 11,7 33,6 54,7 Caps ad Caps adulto Caps i Fonte: Ministério da Saúde SIA/SUS-Apac Coordenação de Epidemiologia e Informação CEInfo 21

A análise por sexo apontou que a maioria dos usuários (61,7%) é do sexo masculino, com predomínio expressivo nos Caps ad e Caps i. Apenas nos Caps adulto houve um leve predomínio de mulheres. Importante ressaltar que as mulheres correspondem a apenas 19,8% dos usuários do Caps ad e 25,4% dos Caps i (Tabela 7). Tipo de Caps Tabela 7 Número de usuários cadastrados por tipo de Caps e sexo. Município de São Paulo, setembro de 2010. Masculino Feminino Total N % N % N % Caps ad 2.406 80,2 594 19,8 3.000 100,0 Caps adulto 2.321 47,5 2.564 52,5 4.885 100,0 Caps i 780 74,6 265 25,4 1.045 100,0 Total 5.507 61,7 3.423 38,3 8.930 100,0 Fonte: Ministério da Saúde SIA/SUS-Apac Em relação à idade, no Caps adulto verificou-se predominância das faixas de 30 a 49 anos, em distribuição homogênea, com valores decrescentes tanto para faixas maiores quanto para menores (no Caps adulto não há formalmente restrição por idade 7 ). A faixa etária com maior frequência de usuários é 45-49 anos (13,6%). Nas faixas etárias mais jovens tende a haver predomínio de homens e, a partir de 35 anos, as mulheres são a maioria (Gráfico 7). 7 A partir do início de 2008, com a introdução da tabela unificada de procedimentos, medicamentos, próteses e materiais especiais do SUS, o MS alterou os limites de idade dos Caps para: Caps adulto I, II e III: de zero meses a 110 anos; Caps ad: de seis meses a 110 anos; Caps i: de zero meses a 25 anos. Coordenação de Epidemiologia e Informação CEInfo 22

Gráfico 7 - Número de usuários dos Caps adulto segundo sexo e faixa etária. Município de São Paulo, setembro 2010. 400 350 300 250 200 150 100 50 0 <20a 20-24a 25-29a 30-34a 35-39a 40-44a 45-49a 50-54a 55-59a 60e+a Masculino Feminino Fonte: Ministério da Saúde SIA/SUS-APAC No Caps ad verificou-se importante presença de menores de 20 anos, seguida de um aumento progressivo nas faixas etárias subsequentes até 40-44 anos (13,5%), a partir da qual ocorre queda. Apesar dos Caps ad poderem atender usuários a partir dos seis meses, não há informação sobre atendimento de crianças com menos de 10 anos. O predomínio dos homens é muito expressivo em todas as faixas etárias, na razão de quatro homens para cada mulher (Gráfico 8). Gráfico 8 - Número de usuários dos Caps ad segundo sexo e faixa etária. Município de São Paulo, setembro 2010. 350 300 250 200 150 100 50 0 10-14a 15-19a 20-24a 25-29a 30-34a 35-39a 40-44a 45-49a 50-54a 55-59a 60e+a Masculino Feminino Fonte: Ministério da Saúde SIA/SUS-APAC Coordenação de Epidemiologia e Informação CEInfo 23

No Caps i (0 a 25 anos) observou-se que há um aumento progressivo do número de usuários até nove anos (idade que apresenta o maior número de usuários, 9,2%). A partir desta idade há uma estabilização até os 12 anos e, a seguir, queda até os 18 anos ou mais. Há também uma diferença importante entre os sexos (três meninos para cada menina no total), que tende a reduzir-se com o aumento da idade (Gráfico 9). Gráfico 9 - Número de usuários dos Caps infantil segundo sexo e faixa etária. Município de São Paulo, setembro 2010. 80 70 60 50 40 30 20 10 0 <4a 4 anos 5 anos 6 anos 7 anos 8 anos 9 anos 10 anos 11 anos 12 anos 13 anos 14 anos 15 anos 16 anos 17 anos 18e+a Masculino Feminino Fonte: Ministério da Saúde SIA/SUS-APAC 3.3.2. Diagnósticos A seguir foram analisados os diagnósticos dos usuários, segundo a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde Décima Revisão (CID-10), por sexo, nos três tipos de Caps. Nos Caps adulto os diagnósticos mais frequentes são os do grupo da esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e transtornos delirantes (F20-F29), que corresponde a 54,6% do total de usuários, sendo que há importante diferença entre os sexos, correspondendo a 67,6% nos homens e 42,9% nas mulheres. O diagnóstico mais frequente no Caps adulto é esquizofrenia paranóide - F20.0 (27,6%), seguido por psicose não-orgânica não especificada - F29 (7,9%). Os transtornos do humor representam 28,9% do total de diagnósticos, também com diferença entre os sexos: 18,0% entre os homens e 38,7% entre as mulheres. Estes dois grupos de transtornos representam mais de 80% dos usuários dos Caps adulto (Tabela 8). Coordenação de Epidemiologia e Informação CEInfo 24

Tabela 8 - Distribuição porcentual dos grupos de diagnóstico (CID 10) dos usuários em acompanhamento nos Caps adulto habilitados. Município de São Paulo, setembro de 2010. Diagnóstico - CID 10 Masculino (%) Feminino (%) Total (%) F00-F09 Transtornos mentais orgânicos 4,1 3,1 3,6 F10-F19 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de substância psicoativa 0,6 0,2 0,4 F20-F29 Esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e transtornos delirantes 67,6 42,9 54,6 F30-F39 Transtornos do humor 18,0 38,7 28,9 F40-F49 Transtornos neuróticos, transtornos relacionados ao stress e transtornos somatoformes 3,7 6,5 5,2 F50-F59 Síndromes comportamentais associadas a disfunções fisiológicas e a fatores físicos 0,1 2,5 1,4 F60-F69 Transtornos de personalidade e de comportamento do adulto 2,1 3,6 2,9 F70-F79 Retardo mental 3,0 2,4 2,7 F80-F89 Transtornos do desenvolvimento psicológico 0,8 0,0 0,4 Fonte: Ministério da Saúde SIA/SUS-Apac Em relação aos Caps ad foi encontrado predomínio de usuários com problemas relacionados ao uso do álcool (47,1%), com diferença entre os sexos: 49,1% entre homens e 39,1% entre as mulheres. Em segundo lugar aparecem os problemas relacionados ao uso de múltiplas drogas também com predomínio do sexo masculino (30,0% entre os homens e 16,7% entre as mulheres). Em terceiro lugar foram observados os problemas relacionados ao uso da cocaína (13,7% entre os homens e 17,2% entre as mulheres). Vale ressaltar a diferença de gênero entre os usuários com problemas devidos ao uso de fumo: 2,5% entre os homens e 22,6% entre as mulheres (Tabela 9). Tabela 9 - Distribuição porcentual dos grupos de diagnóstico (CID 10) dos usuários em acompanhamento nos Caps ad habilitados. Município de São Paulo, setembro de 2010 Diagnóstico - CID 10 Masculino (%) Feminino (%) Total (%) Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de álcool 49,1 39,1 47,1 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de canabinóides 4,2 2,0 3,7 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso sedativos e hipnóticos 0,5 2,2 0,8 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de cocaína 13,7 17,2 14,4 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de fumo 2,5 22,6 6,5 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de solventes voláteis 0,1 0,3 0,2 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de múltiplas drogas 30,0 16,7 27,3 Fonte: Ministério da Saúde SIA/SUS-Apac Coordenação de Epidemiologia e Informação CEInfo 25

Nos Caps i o principal grupo de diagnósticos são os transtornos globais do desenvolvimento, que inclui o autismo e outros transtornos similares, que estão presentes em 28,2% das crianças e adolescentes, com predomínio entre os meninos (30,5%) em relação às meninas (21,5%). O autismo infantil - F84.0 é o diagnóstico mais frequente nos Caps i (18,1%). O segundo grupo diagnóstico mais frequente é o de transtornos hipercinéticos, também com predomínio entre os meninos (17,1% no sexo masculino e 7,9% no sexo feminino). Também é relevante a presença do diagnóstico de retardo mental (11,5%) e de distúrbios de conduta (9,9%). Entre as meninas, dois outros diagnósticos também são importantes: os transtornos de humor (10,5% no total e 19,2% sexo feminino) e os transtornos neuróticos (F40-F49), com frequência de 12,1%. Aparecem também de forma significativa os transtornos do grupo da esquizofrenia (8,0%) (Tabela 10). Tabela 10 - Distribuição porcentual dos grupos de diagnóstico (CID 10) dos usuários em acompanhamento nos Caps infantil habilitados. Município de São Paulo, setembro de 2010. Diagnóstico - CID 10 Masculino (%) Feminino (%) Total (%) F20-F29 Esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e transtornos delirantes 7,9 8,3 8,0 F30-F39 Transtornos do humor 7,6 19,2 10,5 F40-F49 Transtornos neuróticos, transtornos relacionados ao stress e transtornos somatoformes 5,0 12,1 6,8 F50-F59 Síndromes comportamentais associadas a disfunções fisiológicas e a fatores físicos 0,1 1,5 0,5 F70-F79 Retardo mental 11,2 12,5 11,5 F80-F83 Transtornos específicos do desenvolvimento 1,9 0,0 1,4 F84-F89 Transtornos globais do desenvolvimento 30,5 21,5 28,2 F90 Transtornos hipercinéticos 17,1 7,9 14,7 F91-F92 Distúrbio de conduta e transtornos mistos de conduta e emoção 10,6 7,5 9,9 F93-F98 Outros transtornos comportamentais e emocionais com início habitualmente na infância 7,7 9,1 8,0 F99 Transtorno mental não especificado 0,4 0,4 0,4 Fonte: Ministério da Saúde SIA/SUS-Apac Coordenação de Epidemiologia e Informação CEInfo 26

4. Centros de Convivência e Cooperativa Os Centros de Convivência e Cooperativa (Cecco) são serviços com vocação intersetorial, que tem por objetivo estabelecer relações entre a clínica e o social. Situados em parques ou centros esportivos, são dispositivos que trabalham prioritariamente a partir da oferta de oficinas que utilizam linguagens artísticas, culturais e artesanais e da criação de espaços de encontro e convivência. Por não oferecer atividades específicas de tratamento, os Cecco têm posição privilegiada para compor a rede ampliada de cuidados e de interações sociais efetivas no território, porém são pouco privilegiados pela Tabela de Procedimentos do SUS na disponibilização de códigos de procedimentos que expressem suas ações. Por conta disso, a análise foi realizada a partir do total de procedimentos apresentados. A cidade de São Paulo contava com 21 Cecco no final de 2010, distribuídos em 17 STS. A análise dos procedimentos realizados por estes serviços apontou aumento 32,1% entre 2004 e 2010, com pico da produção em 2007, relacionado ao aumento dos procedimentos coletivos (Gráfico 10). 90.000 80.000 70.000 60.000 50.000 40.000 30.000 20.000 10.000 Gráfico 10 - Produção dos Cecco por ano e grupo de procedimento. Município de São Paulo, 2004-2010. - 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2.010 Procedimentos coletivos Procedimentos individuais Total Fonte: Ministério da Saúde SIA/SUS Coordenação de Epidemiologia e Informação CEInfo 27

5. Atenção Hospitalar 5.1. Leitos Psiquiátricos Na cidade de São Paulo, segundo o Cnes, os leitos psiquiátricos são ofertados tanto em hospitais sob gestão municipal quanto sob gestão estadual, tendo havido uma relação de 65% para 35% respectivamente, no período de 2005 a 2008. No biênio 2009/2010 esta proporção se alterou para 55% para 45%, levada pela redução de 51% na oferta de leitos em hospitais psiquiátricos sob gestão municipal (Gráfico 11). A atual política de saúde mental preconiza a reestruturação da assistência psiquiátrica hospitalar através da redução de leitos em hospitais psiquiátricos, em especial os de longa permanência, e o aumento de leitos psiquiátricos em hospitais gerais. Em relação aos leitos psiquiátricos em hospital geral houve, entre 2005 e 2010, um acréscimo de 88% deste tipo de leito sob gestão municipal e 20% nos de gestão estadual (Gráfico 11). Gráfico11 - Número de leitos psiquiátricos SUS (1) segundo tipo de hospital e gestão. Município de Saõ Paulo, 2005 a 2010. 900 800 700 600 500 400 300 200 100-2005 2005 2007 2008 2009 2010 Hospital psiquiátrico - Gestão Estadual Hospital geral - Gestão Estadual Hospital psiquiátrico - Gestão Municipal Hospital geral - Gestão Municipal (1) referente ao mês de dezembro de cada ano, exceto 2010 que corresponda a junho. Fonte: Ministério da Saúde Cnes Em junho de 2010, na cidade de São Paulo, foi computado um total de 1.010 leitos psiquiátricos, sendo 51% sob gestão municipal e 76% em hospitais psiquiátricos. Este número corresponde a aproximadamente 0,10 leitos por 1.000 habitantes. O MS Coordenação de Epidemiologia e Informação CEInfo 28

considera como cobertura satisfatória a existência de 0,10 a 0,16 leitos psiquiátricos/1.000 habitantes em municípios com rede substitutiva efetiva e 0,16 a 0,24 em municípios com hospital psiquiátrico e sem rede substitutiva efetiva 8. Os leitos de hospital-dia de saúde mental situados na cidade de São Paulo estão sob gestão estadual e vinculados a hospitais especializados. Em termos quantitativos, apresentaram alta de 30% entre 2005 e 2007 (de 180 para 235 leitos), a partir daí permaneceram inalterados até junho de 2010 (Fonte: Ministério da Saúde-Cnes). 5.2. Internações Psiquiátricas As internações psiquiátricas podem acontecer em hospitais gerais ou especializados (psiquiátricos). O instrumento de registro destas informações é a Autorização de Internação Hospitalar (AIH), com controle, regulação, monitoramento e auditoria de responsabilidade do gestor de saúde. A AIH é a chave de entrada para o Sistema de Informação Hospitalar (SIH). As internações psiquiátricas, dependendo de sua duração, podem ser divididas em várias AIH, sendo a primeira denominada inicial, com no máximo 45 dias de permanência AIH tipo 1, e as demais denominadas de continuidade, para casos de internação de longa permanência AIH tipo 5, com duração máxima de 31 dias. Sendo assim, um mesmo evento internação, compreendido entre a data de entrada e a data de saída do paciente, pode gerar uma ou mais AIH e a quantidade destas é que estará disponível no SIH/SUS. Portanto, as informações apresentadas a seguir dizem respeito ao quantitativo de AIH psiquiátricas e não ao número de pacientes. Entre 2005 e 2010 houve uma redução de 10,0% no número total de AIH psiquiátricas (Gráfico 12). Em relação às AIH-1 houve um aumento de 12% entre 2005 e 2006, com tendência de estabilização após 2006. Houve queda de 36,7% no número das AIH-5 entre 2005 e 2010. A queda do número total das AIH deveu-se exclusivamente à redução das AIH tipo 5 (de longa duração). 8 Brasil. Ministério da Saúde. Diretrizes para a programação pactuada e integrada da assistência à saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2006. Coordenação de Epidemiologia e Informação CEInfo 29

Gráfico 12 - Série histórica das internações psiquiátricos segundo tipo de AIH. Município de São Paulo, 2005-2010. 30.000 25.000 20.000 15.000 10.000 5.000-2005 2006 2007 2008 2009 2010 AIH 1 AIH 5 AIH total Fonte: Ministério da Saúde SIH/SUS A análise por tipo de hospital aponta decréscimo nas AIH em hospitais psiquiátricos sob gestão municipal a partir de 2007 e uma elevação nas AIH em hospitais gerais sob gestão de SMS, a partir de 2008 (Gráfico 13). 16.000 14.000 12.000 10.000 8.000 6.000 4.000 2.000 Gráfico 13 - Série histórica do número AIH total - leito psiquiátrico por tipo de hospital. Município de São Paulo, 2005-2010. - ANO 2005 ANO 2006 ANO 2007 ANO 2008 ANO 2009 PREVISÃO 2010 Hospital geral - Gestão Municipal Hospital geral - Gestão Estadual Hospital psiquiátrico - Gestão Municipal Hospital psiquiátrico - Gestão Estadual Fonte: Ministério da Saúde SIH/SUS Coordenação de Epidemiologia e Informação CEInfo 30

No hospital geral as internações psiquiátricas realizadas são registradas na AIH tipo 1 (normal), para um máximo de 45 diárias, não cabendo emissão de AIH tipo 5 (longa permanência). Na cidade de São Paulo o número de AIH psiquiátricas nos hospitais gerais cresceu 66,0% entre 2005 e 2010, sendo 82,6% nas unidades sob gestão municipal e 43,6% nas unidades sob gestão estadual. No hospital psiquiátrico, a internação do paciente começa com autorização de uma AIH tipo 1 como no hospital geral. Sendo necessária a continuidade deste evento, o hospital deve solicitar ao gestor uma AIH tipo 5 de longa permanência. Em média 55% das AIH apresentadas por estes hospitais são de longa permanência. A série histórica das AIH nos hospitais psiquiátricos deve ser analisada em dois recortes. Entre 2005 e 2007 observou-se um acréscimo de internações (5,5%), menor nas unidades municipais (1,9%) em comparação com as unidades estaduais (14,3%). No período 2007 a 2010, enquanto foi observada uma queda expressiva de 51,9% nas AIHs dos hospitais psiquiátricos sob gestão municipal, aqueles sob gestão estadual mantiveram relativa estabilidade no número de internações (queda de 1,4%). Este fato se deveu fundamentalmente à redução da oferta de leitos em hospital psiquiátrico pelo município, conforme já explicitado anteriormente, fenômeno não constatado nas unidades estaduais. O hospital-dia é um recurso intermediário entre a internação e o ambulatório. Os procedimentos são realizados e apresentados por meio de uma AIH tipo 1. A produção de AIH de hospital dia tem permanecido praticamente sem alterações, girando em torno de 150 AIH/mês. Apesar da limitação da análise das AIH devido à repetição mensal de AIH tipo 5 para internações prolongadas (maiores que 45 dias), o estudo da média de permanência pode ser útil para o acompanhamento da direcionalidade da política de saúde mental. A média de permanência das internações psiquiátricas na cidade de São Paulo vem apresentando queda desde 2005 com redução de 37% entre 2005 e 2010. Esta queda deveu-se à redução de 51% da média de permanência nos hospitais sob gestão municipal (Gráfico 14). Coordenação de Epidemiologia e Informação CEInfo 31

Gráfico 14 - Série histórica da média de permanência (dias) em leitos psiquiátricos (por AIH-1) segundo tipo de gestão. Município de São Paulo, 2005-2010. 50 45 40 35 30 25 20 15 43 24 35 38 22 42 32 33 21 34 24 30 23 21 23 22 22 23 10 5 0 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Estadual Municipal Total Fonte: Ministério da Saúde SIH/SUS 5.3. Perfil dos pacientes que receberam assistência em saúde mental nos hospitais Em 2010 foram computadas 22.156 AIH, sendo 14.862 AIH tipo 1 (67,1%) e 7.294 AIH tipo 5 (32,9%). Em relação ao gênero, os homens responderam por 54,1% do total de AIH, sendo 55,8% das AIH tipo 1 e 51,1% das AIH tipo 5. 5.3.1. Idade e sexo A análise conjunta de sexo e idade apontou um padrão distinto entre os gêneros. Nas AIH-1 o pico de maior frequência entre os homens foi 25-29 anos e entre as mulheres 40-49 anos. Quando se analisa as AIH-5 o perfil do sexo masculino permanece inalterado e o sexo feminino apresenta o pico de frequência mais alargado, cobrindo a faixa etária de 40 até 55 anos. (Gráficos 15 e 16). Coordenação de Epidemiologia e Informação CEInfo 32

Gráfico 15 - AIH tipo 1 de leitos psiquiátricos por sexo e faixa etária. Município de São Paulo, 2010. 1.400 1.200 1.000 800 600 400 200 0 <10a 10-14a 15-19a 20-24a 25-29a 30-34a 35-39a 40-44a 45-49a 50-54a 55-59a 60-64a 65-69a 70e+a Masculino Feminino Fonte: Ministério da Saúde SIH/SUS Gráfico 16 - AIH tipo 5 de leitos psiquiátricos por sexo e faixa etária. Município de São Paulo, 2010. 600 500 400 300 200 100 0 <10a 10-14a 15-19a 20-24a 25-29a 30-34a 35-39a 40-44a 45-49a 50-54a 55-59a 60-64a 65-69a 70e+a Masculino Feminino Fonte: Ministério da Saúde SIH/SUS 5.3.2. Diagnósticos na internação O principal grupo de diagnósticos encontrado foi esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e transtornos delirantes (F20-F29), que atingiu 49,2% do total das AIH (Tabela 11). Verificou-se, no entanto, que o peso maior deste tipo de problema apareceu nas AIH tipo 5, com frequência de 59,5%. Dois outros grupos de transtornos também Coordenação de Epidemiologia e Informação CEInfo 33

apresentaram porcentual maior nas AIH tipo 5 que nas AIH tipo 1, o transtornos mentais orgânicos inclusive os sintomáticos (F00-F09) e o retardo mental (F70-F79). Dois outros grupos apresentaram menor frequência de AIH tipo 5 em relação às AIH tipo 1: transtornos do humor (F30-F39) e, especialmente, os transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de substância psicoativa (F10-F19). Tabela 11 - Número e porcentagem das AIH por grupos de diagnósticos (CID-10) e tipo de AIH. Município de São Paulo, 2010. AIH-5 Longa AIH-1 Normal permanência AIH Total Diagnóstico N % N % N % F20-F29 Esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e transtornos delirantes 6.560 44,1 4.337 59,5 10.897 49,2 F30-F39 Transtornos do humor 3.587 24,1 1.480 20,3 5.067 22,9 F10-F19 Transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de substância psicoativa 3.298 22,2 480 6,6 3.778 17,1 F00-F09 Transtornos mentais orgânicos inclusive os sintomáticos 553 3,7 417 5,7 970 4,4 F70-F79 Retardo mental 314 2,1 350 4,8 664 3,0 F60-69 Transtornos da personalidade e do comportamento do adulto 228 1,5 35 0,5 263 1,2 F50-F59 Síndromes comportamentais associadas a disfunções fisiológicas e a fatores físicos F40-F49 Transtornos neuróticos, transtornos relacionados ao stress e transtornos somatoformes 82 0,6 116 1,6 198 0,9 132 0,9 26 0,4 158 0,7 F80-F89 Transtornos do desenvolvimento psicológico 89 0,6 53 0,7 142 0,6 F99 Transtorno mental não especificado 17 0,1 0 0,0 17 0,1 F90-F98 Transtorno do comportamento e transtornos emocionais que aparecem habitualmente durante a infância ou a adolescência 2 0,0 0 0,0 2 0,0 Total 14.862 100,0 7.294 100,0 22.156 100,0 Fonte: Ministério da Saúde SIH/SUS Nas Tabelas 12 e 13 estão relacionados os quinze diagnósticos mais frequentes nos hospitais gerais e nos hospitais especializados. A esquizofrenia e psicose não orgânica são os principais diagnósticos nos dois tipos de hospital, mas não apresentam a mesma magnitude. Nos hospitais gerais correspondem a 36,7% do total das AIH, e nos hospitais psiquiátricos, a 55,3%. Os transtornos mentais devidos ao uso de álcool respondem por 16,8% das AIH nos hospitais gerais, e 2,2% nos hospitais psiquiátricos. Coordenação de Epidemiologia e Informação CEInfo 34