TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRÁTÍCA REGISTRADO(A) SOB N *5S *00952456* Vistos, relatados e discutidos estes autos de AGRAVO DE INSTRUMENTO n 412.882-4/8-0 0, da Comarca de SÃO PAULO, em que é agravante BANCO DE CRÉDITO E INVERSIONES MIAMI BRANCH. sendo agravada PARMALAT PARTICIPAÇÕES DO BRASIL LTDA.: ACORDAM, em Câmara Especial de Falências e Recuperações Judiciais de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO, V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores BORIS KAUFFMANN (Presidente, sem voto), JOSÉ ROBERTO LINO MACHADO e ROMEU RICUPERO. São Paulo, 15 de fevereiro de\\2006. PEREIRA CALÇAS Relator 26
PODER JUDICiÁRIO SEÇÃO DE DiREITO PRIVADO Comarca : São Paulo - 1 a Vara da Falência e Recuperações Judiciais Agravante(s) : Banco de Crédito e Inversiones Miami Branch Agravado(a)(s) : Parmalat Participações do Brasil Ltda. VOTO N 10.505 "Recuperação judicial. Pretensão do agravante, alegando ser credor da agravada, no sentido de ser juntada procuração e providenciada sua intimação de todas as decisões a serem proferidas nos autos. Indeferimento. Pedido feito antes da publicação da relação de credores elaborada pelo administrador judicial nos termos do artigo 7 o, parágrafo 2 o, da LRF. Desjudicialização da verificação e habilitação de créditos. Interesse processual do credor que só surge com a ausência do indigitado crédito da relação feita pelo administrador judicial. Agravo desprovido."
jèèk, PODER JUDICfÁRIO M ^ ^ 2 Vistos. 1. Trata-se de agravo de instrumento manejado por BANCO DE CRÉDITO E INVERSIONES MIAMI BRANCH nos autos da recuperação judiciai de PARMALAT PARTICIPAÇÕES DO BRASIL LTDA. inconformado com a r. decisão que determinou o desentranhamento de petição e procurações arroladas pelo agravante nos referidos autos. Diz que é credor da agravada e por isso tem interesse em acompanhar o processamento da recuperação judicial. Pediu o efeito suspensivo para manter sua petição e procuração nos autos, pois poderá sofrer grave prejuízo se não for intimado das decisões publicadas nos autos, caracterizada a violação do artigo 5 o, XXXIII, da CF e ao artigo 3 o do CPC. Postula o provimento do agravo, mantida sua petição e procuração no processo, a fim de que seja intimado de todas as decisões nele proíatadas. Indeferido o efeito suspensivo (fls.250), a agravada ofertou resposta, seguindo-se o parecer da D. Procuradoria Geral de Justiça pelo desprovimento do recurso. Relatados.
Agravo de Instrumento n" 412.882.4/8-00 2. A agravada estava em regime de concordata preventiva, na qual o ora agravante havia pedido sua habilitação de crédito. No entanto, com o advento da Lei n 11.101/2005, a devedora requereu a extinção da concordata preventiva e pediu a recuperação judicial, cujo processamento foi deferido em 01/07/2005, perante o D. Juízo da 1 a Vara de Recuperações Judiciais e Falências desta Capitai. Destarte, deferido o processamento da recuperação judicial em favor úa agravada, impõe-se a aplicação do artigo 7 o da Lei de Recuperações e Falências, que estabelece o seguinte: "A verificação dos créditos será realizada pelo administrador judicial, com base nos livros contábeis e documentos comerciais e fiscais do devedor e nos documentos que lhe forem apresentados pelos credores, podendo contar com o auxílio de profissionais ou empresas especializadas". "Parágrafo 1 o : Publicado o edital previsto no artigo 52, parágrafo 1 o, ou no parágrafo único desta lei, os credores terão o prazo de 15 dias para apresentar ao administrador judicial suas habilitações ou suas divergências quanto aos créditos relacionados". "Art. 8 o - No prazo de 10 dias, contados da puqjlicação da relação referida no artigo 7,
parágrafo 2 o, desta Lei, o Comitê, qualquer credor, o devedor ou seus sócios ou o Ministério Público podem apresentar ao juiz impugnação contra a relação de credores, apontando a ausência de qualquer crédito ou manifestandose contra a legitimidade, importância ou classificação de crédito relacionado". "Parágrafo único - Autuada em separado, a impugnação será processada nos termos dos artigos 13 a 15 desta Lei". Da leitura dos dispositivos acima repetidos, na exata inteligência que lhes foi dada pelo eminente representante da Procuradoria Geral de Justiça - Dr. Sérgio Seigi Shimura, houve a desjudicialização do processamento da habilitação de créditos, mercê do que, há uma ordem processual hierarquizada, pela qual, somente depois de publicada a iista de credores elaborada pelo Administrador Judicial é que surge para o credor, eventualmente omitido na mesma, o interesse de buscar a habilitação judicial. O ilustre Juiz Manoel Justino Bezerra Filho, tratando do artigo 8 o da nova Lei diz:
"A partir da publicação deste edital com a relação dos credores, os créditos podem ser impugnados pelas pessoas relacionadas no "caput" do artigo ora sob exame; somente neste momento é que há acionamento da jurisdição, pois até este momento, os atos todos são praticados ante o administrador. Impugnado o crédito, será a petição de impugnação autuada em aparado, processando-se a impugnação da mesma forma, seja para a recuperação judicial, seja para a falência (art. 13). "Se o administrador omitir o nome ou o crédito de algum credor devidamente habilitado, deverá este habilitar-se, processando-se também a habilitação em autos aparados". (Nova Lei de Recuperação e Falências Comentada, Ed. RT., 3a. edição, 2005, pág. 70). Portanto, somente após o exame realizado pelo administrador judicial e a eventual não habilitação administrativa do agravante na recuperação judicial, terá ele interesse processual para se valer da habilitação judicial, bem como de ser intimado das decisões judiciais a serem prolatadas sobre sua pretensão e demais atos do processo. Por tais razões, de se concluir que, o agravante não tem o direito de exigir a manutenção
de sua petição nos autos, nem de sua procuração, bem como de ser intimado dos atos e decisões a serem realizados na recuperação judicial da agravada, antes de ficar demonstrada a necessidade-utilidade de sua intervenção, que só surgirá com a eventual omissão de seu nome na relação de credores a ser elaborada pelo administrador judicial, nos termos do artigo 7 o, parágrafo 2 o, da LRF. 3. Isto posto, pelo meu voto, nego provimento ao agravo. DESEMBARGADOR MANOEL DE QUEIROZ PEREIRA CALÇAS / /RELATOR