CARACTERIZAÇÃO GEOMÉTRICA DE UM SISTEMA FLUVIAL, FORMAÇÃO ITAQUAQUECETUBA, TERCIÁRIO DA BACIA DE SÃO PAULO

Documentos relacionados
PALEOAMBIENTE DEPOSICIONAL DA FORMAÇÃO BARREIRAS NA PORÇÃO CENTRO-SUL DA ÁREA EMERSA DA BACIA DE CAMPOS (RIO DE JANEIRO)

ANÁLISE FACIOLÓGICA DE DEPÓSITOS DA FORMAÇÃO BARREIRAS(?) NA REGIÃO DOS LAGOS, ENTRE MARICÁ E SAQUAREMA (RIO DE JANEIRO)

BACIA DO PARNAÍBA: EVOLUÇÃO PALEOZÓICA

CARACTERÍSTICAS DOS RESERVATÓRIOS

Capítulo 4 Caracterização da Área de Estudos. Capítulo 4

FÁCIES SEDIMENTARES DA SUPERSEQUÊNCIA GONDWANA I NA BORDA LESTE DA BACIA DO PARANÁ, REGIÃO DE ALFREDO WAGNER/SC

Rute Maria Oliveira de Morais 1,2 ; Claudio Limeira Mello 1 ; Fábio de Oliveira Costa 3 ; Carolina da Silva Ribeiro 1

Cada par Granularidade + Estrutura constitui uma Litofácies própria, traduzindo condições de fluxo com determinadas característcias.

PROPOSTA DE REVISÃO ESTRATIGRÁFICA E ASPECTOS HIDROGEOLÓGICOS DO GRUPO URUCUIA NA BACIA SANFRANCISCANA.

Clima controlados por massas equatoriais e tropicais, climas tropicais, alternadamente, secos e úmidos

6º CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM PETRÓLEO E GÁS

RECONSTRUÇÃO PALEOAMBIENTAL DA FORMAÇÃO ALTER DO CHÃO NA ÁREA URBANA DE SANTARÉM-PA

EDITAL DE SELEÇÃO 001/2017. PROVA DE CONHECIMENTOS Data: 07/12/2017 ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: ESTRATIGRAFIA

A Geologia da Calha do Rio Paraná nas Proximidades de Porto Rico (PR)

RELATÓRIO DE CAMPO - GEOMORFOLOGIA II

DISTRIBUIÇÃO DOS ARENITOS NA BACIA DE TAUBATÉ SP

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO RELATÓRIO DE CAMPO GEOMORFOLOGIA II. Profa. Dra. Bianca Vieira. Olívia Ibri Thaís Montagna Tavares

CAPÍTULO 2 ÁREA DE ESTUDOS A proposta do Sítio Controlado de Geofísica Rasa - SCGR

DEFORMAÇÃO NEOTECTÔNICA DOS TABULEIROS COSTEIROS DA FORMAÇÃO BARREIRAS ENTRE OS RIOS PARAÍBA DO SUL (RJ) E DOCE (ES), NA REGIÃO SUDESTE DO BRASIL

o preenchimento sedimentar continental terciário da Bacia de Taubaté é

Manifestações magmáticas na parte sul da Bacia de Campos (Área de Cabo Frio) e na Bacia de Jequitinhonha

NOVA UNIDADE LITOESTRATIGRÁFICA CENOZÓICA DA BACIA DE TAUBATÉ, SP: FORMAÇÃO PINDAMONHANGABA

PROPOSTA DE PADRONIZAÇÃO DAS DENOMINAÇÕES DOS AQUÍFEROS NO ESTADO DE SÃO PAULO. José Luiz Galvão de Mendonça 1

Figura 07: Arenito Fluvial na baixa vertente formando lajeado Fonte: Corrêa, L. da S. L. trabalho de campo dia

3 Caracterização do Sítio Experimental

MODELAGEM DE RESERVATÓRIOS

UMA DÉCADA DE ESTUDOS PALINOLÓGICOS EM SEDIMENTOS TERCIÁRIOS CONTINENTAIS DA REGIÃO SUDESTE DO BRASIL

1 Na figura abaixo há uma medida estrutural tirada em um afloramento com contato geológico.

A Granito; B Gnaisse (embasamento); R Dique de Diabásio; S Derrame; P Falha

ESTRATIGRAFIA DE SEQÜÊNCIAS E HETEROGENEIDADE DOS RESERVATÓRIOS FLÚVIO-DELTAICOS DA FORMAÇÃO SÃO SEBASTIÃO, BACIA DO RECÔNCAVO.

2 Geologia 2.1. Carvão

Análise da Susceptibilidade a Processos Erosivos, de Inundação e Assoreamento em Itajobi-SP a Partir do Mapeamento Geológico- Geotécnico

03/06/2017 TRABALHO DE CAMPO VALE DO PARAÍBA MUNICÍPIOS DE JACAREÍ, SÃO JOSÉ DOS CAMPOS E TREMEMBÉ - SP

APLICAÇÃO DO RADAR DE PENETRAÇÃO SUBTERRÂNEA NA CARACTERIZAÇÃO EM SUBSUPERFÍCIE DE DEPÓSITOS DA FORMAÇÃO BARREIRAS PETROBRAS/E&P-EXP/IABS/PS

CAPITULO 1 1. INTRODUÇÃO

19 e 21/05/2016 TRABALHO DE CAMPO VALE DO PARAÍBA MUNICÍPIOS DE JACAREÍ, SÃO JOSÉ DOS CAMPOS E TREMEMBÉ - SP

Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de Geografia. FLG Geomorfologia II

CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DA IDADE DO SISTEMA DE LAGOS DO BAIXO CURSO DO RIO DOCE (LINHARES, ES)

DETERMINAÇÃO DOS LIMITES DE CONCENTRAÇÃO ENTRE CORRENTES DE ALTA E BAIXA DENSIDADE

REVISÃO ESTRATIGRÁFICA DA BACIA DE RESENDE, RIFT CONTINENTAL DO SUDESTE DO BRASIL, ESTADO DO RIO DE JANEIRO

3 Aspectos Geológicos e Geotécnicos

GEOLOGIA COSTEIRA DA ILHA DE SÃO FRANCISCO DO SUL/SC COASTAL GEOLOGY OF THE SÃO FRANCISCO DO SUL/SC ISLAND.

OS AQUÍFEROS BOTUCATU E PIRAMBÓIA NO ESTADO DE SÃO PAULO: NOVOS MAPAS DE ISÓBATAS DO TOPO, ESPESSURA E NÍVEL D'ÁGUA.

2 o CONGRESSO BRASILEIRO DE P&D EM PETRÓLEO & GÁS

ANÁLISE DE FÁCIES SEDIMENTARES APLICADA À ESTUDOS DE RESERVATÓRIOS EM DEPÓSITO FLUVIAL DA FORMAÇÃO RESENDE, RJ

Vanir Tiscoski Junior CURITIBA / PR RELATÓRIO DE SONDAGENS A PERCUSSÃO

AVALIAÇÃO DO INTERESSE DE SEIS GEOSSÍTIOS DA BACIA DE RESENDE. INTRODUÇÃO

DESCRIÇÃO DE AMOSTRAS DE CALHA DO POÇO 7-CLB-1-RN PERFURADO PELA EMPRESA PARTEX BRASIL NO CAMPO COLIBRI, BACIA POTIGUAR/RN

Ambientes tectônicos e sedimentação

MORFOLOGIA E ESTRUTURAS DOS DERRAMES DA FORMAÇÃO ARAPEY

45 mm. Av. Colombo, 5.790, Bloco J-12, Zona 7, Maringá, Paraná, Brasil. Fone: (44)

Roteiro para trabalho de campo

Introdução. Objetivo Principal. Objetivos adicionais

GEOLOGIA GERAL GEOGRAFIA

Evolução geológica da Amazônia Central e Ocidental desde o Cretáceo até o Recente

Estrutura geológica e formas de relevo. Professora: Jordana Costa

GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA:ESTRUTURA GEOLÓGICA, TIPOS DE ROCHAS E RECURSOS MINERAIS. MÓDULO 04 GEOGRAFIA I

GEOMORFOLOGIA FLUVIAL: PROCESSOS E FORMAS

URI: DOI:

Luiz Carlos WEINSCHÜTZ 1 & Joel Carneiro de CASTRO 2 INTRODUÇÃO

ESTRATIGRAFIA DO QUATERNÁRIO DA PLANÍCIE DELTAICA AO SUL DO RIO PARAÍBA DO SUL, RJ

Estruturas geológicas e formas do relevo Brasileiro. Professora: Jordana Costa

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

Geologia do Brasil. Página 1 com Prof. Giba

20/04/2011 USO ESTRATIGRÁFICO DOS FÓSSEIS E O TEMPO GEOLÓGICO

ESTRUTURA INTERNA DA TERRA CROSTA

Fácies Sedimentares e Ambientes Deposicionais Associados aos Depósitos da Formação Barreiras no Estado do Rio de Janeiro

6º CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM PETRÓLEO E GÁS

CEPPE CENTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA MESTRADO EM ANÁLISE GEOAMBIENTAL

MODIFICAÇÕES SEDIMENTARES NA

Reyes-Pérez, Y.A. Tese de Doutorado 51

45 mm EVIDÊNCIA MARINHA NA FORMAÇÃO BARREIRAS DO LITORAL DO ESTADO DA BAHIA

ANÁLISE DE PROVENIÊNCIA DOS SEDIMENTOS DE FUNDO DO RIO ARAGUARI-AP COM BASE NAS ASSEMBLÉIAS MINERALÓGICAS

Morfodinâmica fluvial no baixo curso do Rio das Velhas: registros de uma mega-calha pleistocênica

CARACTERIZAÇÃO DE PERFIS TRANSVERSAIS NO SEGMENTO ENTRE A VOLTA DO ANGICAL À CONFLUÊNCIA COM O SEPOTUBA, NO RIO PARAGUAI MATO GROSSO

Orogênese (formação de montanhas): o choque entre placas tectônicas forma as cordilheiras.

Perceber o significado de escalas de tempo geológico, reconhecendo que estas representam uma sequência de divisões da história da Terra, em M.a.

CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DO LOCAL - GEOMORFOLOGIA

Universidade Privada de Angola Faculdade de Engenharia Departamento de Construção Civil

CARACTERIZAÇÃO FACIOLÓGICA E PALEOAMBIENTAL DE DEPÓSITOS SEDIMENTARES DABACIA DO MACACU NA REGIÃO DE ITAMBÍ, ITABORAÍ, RIO DE JANEIRO

é a herança para os nossos filhos e netos com a sua atmosfera rica em oxigénio, permite-nos respirar com a camada de ozono, protege-nos das radiações

Difratometria por raios X

PRIMEIRO REGISTRO FÓSSIL (ICNOFÓSSEIS) DA FORMAÇÃO TUCANO (BACIA DO TACUTU/RR): Uma ferramenta no estudo da evolução da paleopaisagem de Roraima

PROPRIEDADES SEDIMENTOLÓGICAS E MINERALÓGICAS DAS BARREIRAS COSTEIRAS DO RIO GRANDE DO SUL: UMA ANÁLISE PRELIMINAR.

RELATÓRIO DO TRABALHO DE CAMPO VALE DO PARAÍBA MUNICÍPIOS DE JACAREÍ, SÃO JOSÉ DOS CAMPOS E TREMEMBÉ - SP UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

PROJECTO DE EXECUÇÃO LANÇO A IP8 NÓ DE RONCÃO (IC33) / NÓ DE GRÂNDOLA SUL (IP1) GEOLOGIA E GEOTECNIA

Palavras-chave: Formação Ererê, Análise de fácies, Bacia do Amazonas, Região dômica, Monte Alegre.

INVENTÁRIO E QUANTIFICAÇÃO DE GEOSSÍTIOS DA BACIA DE RESENDE ESTADO DO RIO DE JANEIRO

DATAÇÃO RELATIVA. 1- A figura seguinte representa uma determinada área geológica, onde se observam duas sequências estratigráficas, A e B.

ATLAS DAS CONDIÇÕES HIDROGEOLÓGICAS DO SAG NO RIO GRANDE DO SUL. José Luiz Flores Machado 1

GSA Tópicos Especiais em Sedimentação Continental Sistema fluvial estilos de canal e cinturões de canais

Gabrielli Teresa Gadens-Marcon 1 ; Iran Carlos Stalliviere Corrêa 2 1,2. UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul 1

Variação espaço-temporal do transporte de sedimentos do Rio Santo Anastácio, Oeste Paulista

CARACTERIZAÇÃO ESTRATIGRÁFICA DE CABECEIRA DE DRENAGEM LOCALIZADA NO PLANALTO DAS ARAUCÁRIAS SUL DO BRASIL

CAPÍTULO 4: ROCHAS SEDIMENTARES 4.1. INTRODUÇÃO:

Geografia 1ª série E.M. - Estrutura geológica da Terra, tipos de rocha e recursos minerais

é a herança para os nossos filhos e netos com a sua atmosfera rica em oxigénio, permite-nos respirar com a camada de ozono, protege-nos das radiações

Causas Naturais da Erosão Costeira

Transcrição:

CARACTERIZAÇÃO GEOMÉTRICA DE UM SISTEMA FLUVIAL, FORMAÇÃO ITAQUAQUECETUBA, TERCIÁRIO DA BACIA DE SÃO PAULO Rodrigo ZANÃO 1, Joel Carneiro de CASTRO 1, Antonio Roberto SAAD 1, 2 (1) Departamento de Geologia Aplicada, Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista. Avenida 24-A, 1515. Bela Vista. CEP 13506-900. Rio Claro, SP. Endereços eletrônicos: rzanao@gmail.com; jocastro@rc.unesp.br. (2) Universidade Guarulhos (UnG). Praça Teresa Cristina, 1. Centro. CEP 07023-070. Guarulhos, SP. Endereço eletrônico: asaad@prof.ung.br. Introdução Contexto Geológico Sistema Fluvial Antigos Sistemas Fluviais Breve Revisão Fácies e Ciclos de Fácies Correlação de Perfis Faciológicos Considerações Finais Referencias Bibliográficas RESUMO O presente trabalho tem como objetivo a caracterização geométrica de um sistema fluvial, exemplificado pela Formação Itaquaquecetuba. O local de estudo é uma pedreira na cidade de Itaquaquecetuba, a 35 km da cidade de São Paulo, e que está inserida no contexto geológico da Bacia de São Paulo. Sistemas fluviais constituem importantes reservatórios de hidrocarbonetos e aqui se busca a caracterização de um análogo para outros reservatórios fluviais do passado. Foram elaborados dez perfis faciológicos verticais em um lance de 200 m (espaçamento de 20 m entre os perfis), com uma altura média de 40 m para cada perfil (espessura). Foram identificados oito ciclos de fácies e a correlação dos perfis possibilitou mapear a distribuição das fácies reservatório e não-reservatório de cada ciclo. Quanto ao sistema deposicional da referida unidade, chegou-se um ambiente fluvial meandrante associado a canais do tipo ribbon, implantados em um sistema de leque aluvial. Palavras-chave: Ciclo de fácies, canal meandrante, canal ribbon, leque aluvial, geometria de reservatório. ABSTRACT R. Zanão, J.C. Castro, A.R. Saad Geometric characterization of a fluvial system, Itaquaquecetuba Formation, Tertiary of São Paulo Basin. The objective of this study is the geometric characterization of a fluvial system, exemplified by the Itaquaquecetuba Formation. The studied area is a quarry located in Itaquaquecetuba, distant 35 km from the city of São Paulo, which is inserted in the context of São Paulo Basin. Fluvial systems are important hydrocarbon reservoirs, and this study may contribute with an analogue for ancient reservoirs. It was elaborated ten facies logs along a distance of 200 m (log spacing of 20 m), with a vertical column (thickness) of 40 m for each log. Eight facies cycles, and its lateral chrono-correlation allowed to map the potential reservoir and non-reservoir facies within each cycle. Regarding the depositional model for the studied section, it is assumed an alluvial fan system composed of meandering and ribbon-type fluvial channels. Keywords: Facies cycle, alluvial fan, meandering channel, ribbon channel, sand-body geometry. INTRODUÇÃO A utilização de modelos ou guias exploratórios no desenvolvimento e explotação de hidrocarbonetos tem sido uma prática constante nas pesquisas geológicas aplicadas, em função das incertezas inerentes à natureza do depósito e dos altos custos financeiros envolvidos. Dentre os vários tipos de habitat de hidrocarbonetos, arenitos fluviais constituem importantes reservatórios no Brasil e no mundo, tais como as formações Sergi (Campo Araçás, Bacia do Recôncavo), Açu (Campo Alto do Rodrigues, Bacia Potiguar), Chaunoy, no campo homônimo (Bacia de Paris) e Nahr Umr (campo de Burgan, no Kuwait). Para se compreender o reservatório de subsuperfície, onde os dados são pontuais, recorre-se à investigação em superfície, onde se busca afloramentos correspondentes à própria unidade reservatório. Dentro desta ótica, a Formação Itaquaquecetuba, aflorante na Bacia Sedimentar de São Paulo, prestouse de forma inequívoca para esta finalidade. Na localidade de Itaquaquecetuba, Região Metropolitana de São Paulo, há um porto de areia, Itaquareia I, no qual esta unidade é explorada para obtenção de areia voltada à construção civil. Numa das frentes de exploração, as litofácies que compõem essa unidade encontram-se expostas de modo contínuo, de tal forma que são possíveis estudos estratigráficos e sedimentológicos em detalhe desse arenito reservatório. São Paulo, UNESP, Geociências, v. 25, n. 3, p. 307-315, 2006 307

CONTEXTO GEOLÓGICO No cenário geológico cenozóico do Sudeste do Brasil, a Bacia de São Paulo encontra-se inserida no Sistema de Riftes da Serra do Mar, de Almeida (1976), sendo posteriormente nomeado Rifte Continental do Sudeste do Brasil (RCSB) por Riccomini (1989). Esta província estrutural corresponde a uma feição tectônica paralela à da faixa litorânea, com cerca de 900 km de extensão, alongada e deprimida, de direção ENE. Deste sistema de riftes fazem parte, ainda, as bacias de Curitiba, Taubaté, Resende, Volta Redonda, Itaboraí e Barra de São João, e os grábens de Sete Barras, Cananéia, Guaraqueçaba e Guanabara (Figura 1). FIGURA 1. Contexto geológico regional do Rifte Continental do Sudeste do Brasil (RCSB), onde são identificadas onze bacias rifte, sendo a de São Paulo representada pelo número 7. I: Embasamento Pré-Cambriano. II: Rochas sedimentares paleozóicas da Bacia do Paraná. III: Rochas vulcânicas toleíticas eocretáceas da Formação Serra Geral. IV: Rochas relacionadas ao magmatismo alcalino mesozóico-cenozóico. V: Bacias cenozóicas do rifte, na qual a Bacia de São Paulo é a número 7. VI: Zonas de cisalhamento pré-cambrianas, em parte reativadas durante o Mesozóico e Cenozóico. Modificado de Riccomini et al. (2004). A Bacia Sedimentar de São Paulo compreende uma depressão tectônica ovalada com aproximadamente 1000 km 2, sendo o eixo maior (cerca de 75 km) compreendido entre os municípios de Arujá e Embu- Guaçu, e o menor (cerca de 25 km) situado entre o município de Santo André e o bairro de Santana. A norte, em sua borda retilínea, esta bacia é marcada pelos sistemas de falhas Taxaquara-Jaguari e a sul apresenta contatos irregulares com o embasamento Pré-Cambriano (Takiya, 1997; Riccomini, 1989; Riccomini et al., 2004). As unidades litoestratigráficas presentes na Bacia de São Paulo são: formações Resende, Tremembé, São Paulo e Itaquaquecetuba (área de estudo). Segundo Coimbra et al. (1983), a Formação Itaquaquecetuba possui os depósitos sedimentares atribuídos a sistema fluvial entrelaçado associado a leques aluviais, de idade pertencente ao intervalo Eoceno-Oligoceno (Melo et al., 1985; Melo et al., 1986; Lima & Melo, 1989). Em sua seção-tipo, localizada no 308 Porto de Areia Itaquareia I, a Formação Itaquaquecetuba é constituída predominantemente por arenitos grossos arcoseanos, mal a medianamente selecionados, exibindo estratificações cruzadas tabulares e acanaladas, podendo estes estratos conter níveis argilosiltosos, eventualmente arenosos, de coloração castanha-escura, ricos em matéria orgânica e apresentando níveis de conglomerado com seixos de quartzo e quartzito bem arredondados (Riccomini et al., 2004). Com relação aos processos de sedimentação desta unidade, Riccomini et al. (2004) apontam para o fato de que a deposição foi controlada por falhas de direção ENE e NNW, que propiciaram a formação de cunhas clásticas conglomeráticas, de natureza polimítica, oriundas de rochas pré-cambrianas, bem como megaclastos de siltitos e folhelhos supostamente pertencentes à Formação São Paulo. Ainda, segundo estes mesmos autores, nas partes distais das cunhas ocorreriam lamitos arenosos, por vezes seixosos, São Paulo, UNESP, Geociências, v. 25, n. 3, p. 307-315, 2006

intercalados por arenitos maciços finos a médios portadores, por vezes de estruturas almofadadas resultantes de liquefação. Na Bacia de São Paulo ocorrem depósitos típicos de sistema fluvial entrelaçado, que incluem dunas subaquosas de arenitos arcoseanos, com estratificações cruzadas acanalada e tabular, de grande porte; conglomerados basais com seixos de quartzo e quartzito arredondados de barras longitudinais de canais ou brechas com fragmentos argilosos relacionados a mudanças na direção de fluxo ao longo do canal (Riccomini et al., 2004). Aparecem, ainda, troncos vegetais fósseis e megaclastos métricos de pelitos com restos vegetais. SISTEMA FLUVIAL Nesta breve revisão, destacaremos os aspectos geométricos dos depósitos fluviais, principalmente no que diz respeito à relação entre largura e profundidade do canal. Segundo Friend (1983), os canais fluviais, conforme sua geometria, podem ser classificados em três tipos: fixos (geometria em forma de ribbon), móveis (largos e rasos, com geometria de preenchimento complexa) e em forma de lençol (essencialmente não canalizado). Os canais fixos são estreitos, possuindo razão largura/profundidade menor que 15; em canais móveis tal razão é maior que 15 e ocorre migração (lateral) de canal. Já os canais em forma de lençol mostram razão largura/profundidade acima de 100. Quanto à relação entre a geometria de um canal ativo individual e a geometria resultado de um preenchimento de canal, os canais fixos podem ser considerados, em geral, com sendo multi-história (multistory) (ex.: C na Figura 2), enquanto que em canais móveis predominam modelos multilaterais (ex.: F na Figura 2). FIGURA 2. Relação entre geometria de canal individual ativo e a geometria resultante de um complexo de canais. Números representam a relação largura/profundidade. A, D: canais simples. B, E, F: complexo de preenchimento de canais largos formados por migração lateral do canal ou com pequena mudança em subsidência contemporânea. C: complexo de canais empilhados formados por agradação vertical com relativa estabilidade do canal menor em condições de rápida subsidência (Friend, 1983). De acordo com Miall (1977), rios entrelaçados são caracterizados pela alta razão largura/profundidade do canal, normalmente maior que 40 e comumente excedendo 300. Ethridge (1985) identifica três tipos de canais fluviais no passado: (1) sistemas meandrantes de textura fina; (2) sistemas de rios entrelaçados e (3) seqüências de preenchimento de vale (valley-fill). No terceiro caso, o autor se refere a vales incisos em contexto plataformal, originados por descida do nível de base ou, mais provavelmente, por subida da área-fonte devido a rejuvenescimento tectônico. O mais conhecido exemplo de vale inciso é o da base do Pensilvaniano (Andar Morrow) no meio-oeste dos Estados Unidos, São Paulo, UNESP, Geociências, v. 25, n. 3, p. 307-315, 2006 309

formado como uma resposta à orogênese Herciniana. Tais vales fluviais evoluem para estuário, dentro de um contexto transgressivo, mas possuem em comum canais fixos (ribbons associados a leque aluvial) e a forma encaixada que acarreta baixos valores da razão largura/profundidade do canal. Outro exemplo é o Leque Tórtola, situado na Bacia Loranca, Oligoceno-Holoceno da Espanha Central. Martinius (2000) mostra um modelo paleogeográfico com quatro zonas de fácies sendo, no sentido proximaldistal do leque: zona 1 - canal entrelaçado cascalhento; zona 2 - canal entrelaçado arenoso; zona 3 - canal meandrante; zona 4 - Pequenos canais de baixa sinuosidade, splays terminais e lagos. Em painéis estratigráficos, para as porções medial e distal do sistema, o autor situa a proporção de arenitos, respectivamente 29% e 17%, e destaca a ocorrência de canais ribbon nas zonas I e II da porção medial e em todas as zonas da porção distal do leque. CARACTERIZAÇÃO FACIOLÓGICA Com os trabalhos de campo foi possível a caracterização de nove litofácies, as quais são, em ordem de granulometria decrescente: 1 - Conglomerado com estratificação cruzada acanalada; 2 - Arenito grosso/conglomerático com estratificação cruzada acanalada; 3 - Arenito fino/grosso com estratificação cruzada acanalada; 4 - Arenito fino/médio com laminação horizontal; 5 - Arenito moderadamente argiloso; 6 - Arenito muito argiloso; 7 - Ritmito arenito siltito carbonoso, o arenito possui laminação cruzada clino-ascendente, e o siltito é carbonoso (impressões vegetais); 8 - Lamito mal selecionado, com grãos e seixos; 9 - Lamito síltico bem selecionado. Como um dos objetivos do trabalho é a caracterização das fácies reservatório e selante, as nove litofácies foram divididas em dois grupos. O primeiro grupo, correspondente às litofácies de 1 a 5, representa possíveis rochas reservatórios, enquanto o segundo grupo, representado pelas litofácies de 6 a 9, são não-reservatórios. Para auxiliar na caracterização das fácies, foram realizadas ensaios de análise granulométrica de 26 amostras coletadas em campo. O método utilizado foi o de peneiramento a úmido e o resultado obtido foram as curvas acumulativas. As curvas acumulativas revelaram que as amostras coletadas para análise podem ser divididas em três grupos. O primeiro corresponde aos conglomerados e arenitos grossos/médios, representados pelas amostras 1, 5, 8, 14, 15, 16, 17 e 21 (Figura 3A). Esta classe corresponde a amostras com teor de finos (< 62 µ) entre 5 e 0,5% e moda variando de grânulo a areia média. A seleção dos grãos foi obtida por meio do desvio padrão (Ø84 Ø16)/2 de cada amostra analisada na curva acumulativa. No que diz respeito à seleção dos grãos, a mesma variou de regular/boa (ex. amostra 1) a pobre (ex. amostra 8). O segundo grupo, caracterizado através das curvas acumulativas, corresponde aos arenitos modera- FIGURA 3. (A): curvas acumulativas das amostras com teor de finos (< 62µ) abaixo de 5%; (B): curvas acumulativas das amostras com teor de finos (< 62µ) entre 9 e 24%. (C): curvas acumulativas das amostras com teor de finos (< 62µ) entre 26 e 38%. 310 São Paulo, UNESP, Geociências, v. 25, n. 3, p. 307-315, 2006

TABELA 1. Síntese dos resultados das análises granulométricas. damente argilosos, representados pelas amostras 4, 9, 10, 12, 13, 19, 20 e 23 (Figura 3B). O teor de finos nestas amostras está compreendido entre 9 e 24% e a moda varia de areia muito fina - a média. Para esta fácies não foi possível a determinação da seleção utilizando o desvio padrão, pois as curvas acumulativas não atingiam valores de Ø iguais ou superiores a 84; a seleção dos grãos foi obtida através de estimativas e o resultado variou de regular/pobre a regular. O terceiro e último grupo corresponde aos arenitos muito argilosos, representados pelas amostras 2, 3, 7, 11, 18, 22, 24, 25 e 26 (Figura 3C). Esta classe contém teor de finos que varia de 26 a 38%, enquanto a moda observada variou entre fino e fino+. Uma síntese dos resultados obtidos é mostrada na Tabela 1. As areias com melhor potencial para serem reservatório correspondem ao grupo 1, devido ao baixo teor de finos (entre 0,5% e 5%), a classe modal superior aos outros dois grupos e a seleção regular na maioria das amostras. Os arenitos moderadamente argilosos podem ser reservatórios de menor qualidade, devido ao teor de finos ser um pouco mais elevado do que no primeiro grupo, a sua classe modal e a seleção regulares. Os arenitos constituintes do terceiro grupo, com teor de finos entre 26% a 38%, não se enquadram como reservatório devido ao excesso de finos, a seleção ruim e a sua classe modal inferior. Uma analogia entre esses três grupos obtidos com a análise granulométrica e as nove litofácies pode ser realizada utilizando, por exemplo, a classe modal e o teor de finos. O primeiro grupo pode ser associado às litofácies 1, 2 e 3, o segundo com as litofácies 4 e 5 e o terceiro grupo com a litofácies 6. As amostras analisadas foram coletadas ao longo da frente de exploração estudada, estando concentradas principalmente nos perfis 1 e 9 por se tratarem das áreas extremas. Nos demais perfis, as coletas foram dirigidas àquelas fácies que exigiam uma melhor caracterização sedimentológica. As fácies areno-conglomeráticas, potenciais reservatórios, ocorrem na parte inferior do ciclo fluvial, enquanto as fácies areno-lamíticas, não-reservatório, ocorrem na parte superior. CARACTERIZAÇÃO GEOMÉTRICA DOS DEPÓSITOS FLUVIAIS Distinguem-se dois tipos de canais em vários dos ciclos observados no campo: um com significativo entalhamento, aqui designado côncavo-plano de acordo com sua geometria, e um segundo tabular. Os ciclos sedimentares e seqüências cíclicas referem-se a etapas sucessivas de preenchimento sedimentar de uma bacia, que termina com o retorno às condições iniciais. Em termos concretos, os ciclos sedimentares são representados por uma repetição ordenada de dois ou mais termos litológicos (Suguio, 2003). As fácies fluviais gradam para sedimentos finos, formando perfis verticais de granodecrescência ascendente (em forma de sino). Com isso, são formados ciclos deposicionais que, no presente caso, podem ser característicos do modelo fluvial meandrante. Entretanto, o depósito fluvial meandrante possui uma base planar, que lhe empresta uma geometria tabular, e não uma base acanalada/entalhada, típica do canal ribbon; também, o sistema fluvial meandrante possui, em sua parte superior, siltes com raízes e eventuais drapes argilosos, e não os lamitos, inclusive seixosos, do caso em análise (associados a sistema de leque aluvial). Em compensação, o modelo de canal ribbon é classicamente entalhado (Friend, 1983); em sua aplicação no passado, o canal ribbon está relacionado a canais associados a leques aluviais (Martinius, 2000). Assim, no caso da Formação Itaquaquecetuba na área de estudo, a associação de ciclos fluviais de geometria tabular com os do tipo ribbon proporciona um arcabouço estratigráfico bolo-de-camada para a São Paulo, UNESP, Geociências, v. 25, n. 3, p. 307-315, 2006 311

unidade. Foram identificados e rastreados, através de painéis fotográficos, em um segmento de 200 m, oito ciclos de afinamento ascendente, numerados em ordem crescente, da base para o topo, relacionados a ambientes fluviais implantados em sistema de leque aluvial. A Prancha 1/Painel A ilustra o canal de geometria côncavo-plana, pertencente ao terceiro ciclo e entalhado nos depósitos do segundo ciclo. Esse canal, atribuído ao sistema fluvial ribbon tem sua fácies areno-conglomerática concentrada em vários níveis, em múltiplos acanalamentos (modelo multistory típico de canais ribbon), ao contrário do modelo multilateral, próprio de canais entrelaçados (braided) (ver Figura 2). Os canais são delimitados por níveis conglomeráticos ou mesmo por brechas intraclásticas indicativas de pouco transporte. PRANCHA 1. (A): Canal fluvial ribbon entre os pontos 7 e 8. Notar acanalamentos múltiplos (em branco). (B): Canais fluviais tabulares do 2º e 3º ciclos entre os pontos 1 e 2. Notar falha normal a esquerda do ponto 1. Linha branca contínua indica base de ciclo. Tracejado: base de ciclo inferida. (C) e (D): Detalhe da fácies areno-conglomerática do 5º Ciclo evidenciando a variedade dos tipos litológicos, implicando importantes heterogeneidades em nível estratal. Na foto C é possível observar sets de arenito com estratificação cruzada tabular (At) e estratificação cruzada acanalada (Ax) passando à arenito argiloso (Aa). Notar pavimento conglomerático (Cg) recoberto por arenito laminado (Al), e este por arenito argiloso (Aa). Notar em D o afinamento granulométrico que inicia com conglomerado (Cg), passa à arenito conglomerático (Acg), arenito médio (Am) e termina com arenito argiloso (Aa), caracterizando um perfil em forma de sino. 312 São Paulo, UNESP, Geociências, v. 25, n. 3, p. 307-315, 2006

A Prancha 1/Painel B revela o segundo tipo de arquitetura deposicional, do tipo tabular. Observam-se dois ciclos (2º e 3º) com espessuras individuais de 4,5 m e textura areno-conglomerática amarelada gradando para lamito acinzentado. Tais litotipos, em conjunto com uma porção arenosa intermediária, de coloração acinzentada, são bem visíveis no segundo ciclo. Na Prancha 1/Fotos C e D é possível observar a grande heterogeneidade, em nível estratal, das diferentes fácies conglomeráticas, sendo possível ainda constatar significativas variações litológicas verticais tanto como horizontais. Na Prancha 2/Painéis A e B é possível observar os ciclos fluviais de afinamento ascendente. As porções do Painel A onde aparecem os pontos 3 a 6 corresponde à parte superior da bancada, em que foram delimitados os ciclos C4 a C7, enquanto que no Painel B, que compreende ao intervalo dos pontos 5 a 8, foram delimitados os ciclos C2 e C3. PRANCHA 2. (A): Painel fotográfico da parte superior do afloramento, entre os pontos 3 e 6. Estão demarcados os ciclos C4 a C7. (B): Painel fotográfico da parte inferior do afloramento, entre os pontos 5 e 8. Estão demarcados os ciclos C2 a C3. CORRELAÇÃO DE CICLOS DE FÁCIES A disposição de lavra da bancada de areia da Pedreira Itaquareia I permitiu a seleção e levantamento de 10 perfis verticais, distando aproximadamente 20 m entre os mesmos e possuindo altura média de 40 m. Visando simplificar o entendimento e correlação entre os perfis, foram estabelecidas duas fácies principais, reservatório e selante, que vão ao encontro com o objetivo do trabalho. Para tal, levou-se em consideração a descrição detalhada das litofácies identificadas associadas aos resultados obtidos com as análises sedimentológicas. As fácies reservatório compreendem os conglomerados e arenitos (sem lamito São Paulo, UNESP, Geociências, v. 25, n. 3, p. 307-315, 2006 excessivo), enquanto que as fácies selantes compreendem os arenitos excessivamente lamíticos e os próprios lamitos. Com base no acima exposto, é possível traçar uma correlação entre os oito ciclos de fácies descritos anteriormente. As fácies reservatório compreendem as litofácies de 1 a 5, enquanto que as fácies selantes correspondem às litofácies de 6 a 9. A correlação entre os perfis possibilitou visualizar e caracterizar as geometrias dos corpos citados anteriormente. Observando o 5º ciclo (A5 + L5), entre os perfis 5 e 10, por exemplo, nota-se a existência de 313

corpos com geometria tabular, enquanto que na parte basal entre os perfis 6 e 9 são observados corpos na forma de canal (A2 e A3). Corpos lenticulares são observados envolvendo tanto as fácies reservatório quanto as selantes, tendo como respectivos exemplos os verificados entre os perfis 7 e 8 (altura entre 25 e 27 m a partir da base) e entre os perfis 5 e 6 (altura entre 3 e 5 m a partir da base). Uma situação atípica é verificada na parte superior (a partir de 32 m da base) entre os perfis 1 a 5, englobando os lamitos L7 e L8 e o arenito A8. Nessa porção ocorre uma espessura medida de 9 m de lamito intercalados com corpos de arenito (perfil 1) que se espessam em direção ao perfil 4, onde ocorre a interdigitação lateral com corpos métricos do arenito A8, totalizando um conjunto de 14 m de espessura. Após a correlação dos perfis obteve-se um painel que permite visualizar a distribuição geométrica bidimensional de potenciais reservatórios e selantes ilustrada na Figura 4. FIGURA 4. Seção de correlação entre os perfis faciológicos, destacando a geometria 2-D de rochas-reservatório (tons claros) e não-reservatório (tons escuros). CONSIDERAÇÕES FINAIS O estabelecimento de fácies reservatório e selante foi alcançado com sucesso, sendo possível, de posse de tais geometrias, estabelecer uma caracterização geométrica de reservatórios e selantes em todo o afloramento. Dessa forma, o presente trabalho constitui-se como um análogo útil para antigos sistemas fluviais. A integração das informações contidas na análise das fácies, do ciclo de fácies e da análise granulométrica 314 sugere que, dentro da fácies reservatório, os melhores arenitos reservatórios são aqueles com moda elevada e seleção regular ou superior, presentes no início de cada ciclo sedimentar. No que diz respeito ao sistema deposicional da Formação Itaquaquecetuba, este tem sido interpretado como sendo fluvial entrelaçado associado a leques aluviais (Coimbra et al. 1983, Riccomini et al. 1989). Após a análise dos dados aqui obtidos, abre-se uma São Paulo, UNESP, Geociências, v. 25, n. 3, p. 307-315, 2006

nova possibilidade para a interpretação do sistema deposicional dessa unidade, além da estabelecida pelos autores acima citados, a saber os seguintes fatos: 1 - predomínio de corpos tabulares ao longo da seção; 2 - ocorre nítido afinamento ascendente dentro de cada ciclo de fácies observado; 3 - os lamitos observados ao longo da seção podem ser considerados espessos, de ordem métrica. Através da análise dos fatos acima revelados acredita-se que, pelo menos no que diz respeito à área estudada, o sistema deposicional representado seja o fluvial meandrante associado a canais do tipo ribbon. Estes canais ocorrem, por exemplo, quando há soerguimento da área fonte e estão comumente associados a leques aluviais. Dentro do contexto da área, foi notado que esta possui histórico tectônico ativo, fato esse observado através da existência de falhas adjacentes à seção levantada. Dentro desse modelo, a área anômala na parte superior dos perfis 1 a 5 seria extravasamento de canais para planícies adjacentes, ocorrendo a interdigitação lateral. Os canais tipo ribbon que cortam as seqüências subjacentes, com até 7 m verificados, representariam incrementos da área-fonte. Estudos detalhados das áreas adjacentes à estudada tornam-se necessários para que ocorra a confirmação da nova interpretação para o sistema deposicional da Formação Itaquaquecetuba. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ALMEIDA, F.F.M. The System of Continental Rifts bordering the Santos Basin, Brazil. Anais da Academia Brasileira de Ciências, v. 48, Suplemento, p. 15-26, 1976. 2. COIMBRA, A.M.; RICCOMINI, C.; MELO, M.S. A Formação Itaquaquecetuba: evidencias de tectonismo no Quaternário paulista. In: SIMPÓSIO REGIONAL DE GEOLOGIA, 4, 1983, São Paulo. Atas... São Paulo, Sociedade Brasileira de Geologia, 1983, p. 253-266. 3. DELLA FÁVERA, J.C. Fundamentos da Estratigrafia Moderna. Rio de Janeiro: Editora da Universidade do Rio de Janeiro, 263 p., 2001. 4. ETHRIDGE, F.G. Reservoir characteristics of ancient fluvial deposits with emphasis on Rocky Mountain and Mid Continent Regions. Society of Economic Paleontologists and Mineralogists, Short Course, n. 16, p. 217-240, 1985. 5. FRIEND, P.F. Towards the field classification of alluvial architecture or sequence. In: J.D. COLLISON & J. LEWIN (Eds.), Modern and ancient fluvial systems. International Association of Sedimentologists, Special Publication, n. 6, p. 345-354, 1983. 6. LIMA, M.R. & MELO, M.S. Palinologia de sedimentos da Bacia de São Paulo. In: WORKSHOP GEOLOGIA DA BACIA DE SÃO PAULO, 1989, São Paulo. Coletânea das Comunicações... São Paulo: Instituto de Geociências, USP e Sociedade Brasileira de Geologia/Núcleo de São Paulo, 1989, p. 35-37. 7. MANCINI, F. Estratigrafia e aspectos da tectônica deformadora da Formação Pindamonhangaba, Bacia de Taubaté, SP. São Paulo, 1995, 107 p. Dissertação (Mestrado) Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo. 8. MARTINIUS, W.A. Labyrinthine facies architeture of the Tórtola Fluvial System and controls on deposition (Late Oligocene-Early Miocene, Loranca Basin, Spain). Journal of Sedimentary Research, v. 70, n. 4, p. 850-867, 2000. 9. MELO, M.S.; CAETANO, S.L.V.; COIMBRA, A.M. Tectônica e sedimentação na área das bacias de São Paulo e Taubaté. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 34, 1986, Goiânia. Anais... Goiânia: Sociedade Brasileira de Geologia, 1986, v. 1, p. 321-336. 10. MELO, M.S.; VINCENS, A.; TUCHOLKA, P. Contribuição à cronologia da Formação Itaquaquecetuba, SP. Anais da Academia Brasileira de Ciências, v. 57, n. 2, p. 175-181, 1985. 11. MIALL, A.D. A review of the braided rivers depositional environment. Earth Science Review, v. 13, n. 1, p. 1-62, 1977. 12. RICCOMINI, C. O Rift Continental do Sudoeste do Brasil. São Paulo, 1989, 256p. Tese (Doutorado) Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo. 13. RICCOMINI, C.; SANT ANNA, L.G.; COIMBRA, A.M. Paleogene paleoclimates. Southeastern Brazil: evidence from clay minerals. In: INTERNATIONAL GEOLOGICAL CONGRESS, 30, 1996, Beijing. Abstracts... Beijing: International Union of Geological Sciences, 1996, v. 2, p. 1972. 14. RICCOMINI, C.; SANT ANNA, L.G.; FERRARI, A.L. Evolução Geológica do Rift Continental do Sudeste do Brasil. In: V. MANTESSO-NETO, A. BARTORELLI, C. DAL RÉ CARNEIRO, B.B. de BRITO-NEVES (Orgs.), Geologia do Continente Sul-Americano: Evolução da Obra de Fernando Flávio Marques de Almeida. São Paulo: Beca Editora, p. 351-373, 2004. 15. SALVADOR, E.D. & RICCOMINI, C. Neotectônica da região do Alto Estrutural de Queluz, SP-RJ, Brasil. Revista Brasileira de Geociências, v. 25, p. 151-164, 1995. 16. SELLEY, R.C. Concepts and methods of subsurface facies analysis. American Association of Petroleum Geologists, Continuing Education Course Notes, Series 9, 82 p., 1978. 17. SUGUIO, K. Geologia Sedimentar. São Paulo: Edgard Blücher, 399 p., 2003. 18. TAKIYA, H. Estudo da sedimentação Neogênico- Quaternária no município de São Paulo; Caracterização dos depósitos e suas implicações na geologia urbana. São Paulo, 1997, 152 p. Tese (Doutorado) Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo. Manuscrito Recebido em: 2 de abril de 2006 Revisado e Aceito em: 12 de dezembro de 2006 São Paulo, UNESP, Geociências, v. 25, n. 3, p. 307-315, 2006 315