OS MOVIMENTOS SOCIAIS E O SEU PAPEL FORMADOR NO PROCESSO DE AUTONOMIA DAS MULHERES DO MATO GRANDE/RN

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Transcrição:

OS MOVIMENTOS SOCIAIS E O SEU PAPEL FORMADOR NO PROCESSO DE AUTONOMIA DAS MULHERES DO MATO GRANDE/RN Alex Nascimento de Sousa ¹ ; Izabelle Rodrigues Ferreira Gomes²; Carine Santos 4 ; Joana Tereza Vaz de Moura³ ¹Universidade Federal do Rio Grande do Norte; alexndsousa@gmail.com; izabelle.rodriguesferreira@gmail.com; cariny.santos@gmail.com; joanatereza@gmail.com INTRODUÇÃO O Movimento Social é uma ferramenta da sociedade civil de se organizar coletivamente em busca de exigir as suas demandas em prol da justiça social, a partir de ações sociais de caráter sociopolítico e cultural (GOHN, 2008). Para esse feito é necessário que exista uma formação daqueles que estão envolvidos em um discurso social. Ao ser realizado essas ações, os participantes criam sentimentos de pertencimento social, formando-se sujeitos sociais. Com isso, é necessário que exista um diagnóstico da realidade de sujeitos que compõem os movimentos, ou seja, analisar a história, o presente e criar uma proposta para o futuro dos envolvidos. A exemplo disso temos as mulheres rurais, que no início da década de 1980, começaram a participar de sindicatos rurais e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), bem como começaram a formar suas próprias organizações autônomas (DEERE, 2004). Lutando pelo seu empoderamento social e político, a fim de mudar o cenário histórico, presente e um futuro próspero à procura do seu espaço. Localizado a Noroeste da capital Natal, o Mato Grande é um dos territórios apoiados pela Secretaria de Desenvolvimento Territorial, do Ministério do Desenvolvimento Agrário- SDT/MDA. O Território do Mato Grande é composto por 16 municípios, apresenta uma área geográfica total de 5.758,6 km², caracterizado por ser um território tipicamente rural, com densidade demográfica de 36,07 habitantes/km². O território apresenta concentração fundiária muito alta, tendo modelos de produção agropecuária com base na grande propriedade. Com isso, a realidade da região motivou os movimentos sociais a realizarem uma forte ação na região que resultou na desapropriação de muitas áreas improdutivas que foram convertidas em assentamentos de reforma agrícola (MOURA, 2014).

Como na maioria das localidades rurais, essa região é apenas mais um exemplo do cenário lúdico que influencia a desigualdade de gênero. À mostra disso, a proposta consiste em verificar como a atuação de movimentos sociais, principalmente de luta pelo acesso à terra e o movimento de mulheres, podem contribuir para a participação social das mulheres em suas comunidades, no sentido que Caldart (2000), reflete sobre os processos formativos realizados dentro do MST, que se formam novos sujeitos sociais e culturais, transformando os trabalhadores desenraizados e isolados. Portanto, o objetivo do artigo é relatar a experiência à campo de alunos bolsistas da UFRN do Projeto Compartilhando Saberes, vinculados ao CNPq, com intuito de buscar informações sobre a influência comportamental e a participação das mulheres jovens em assentamentos de municípios da região do Mato Grande-RN. METODOLOGIA O trabalho foi desenvolvido por bolsistas do projeto de pesquisa e extensão Compartilhando Saberes: Projeto de Intervenção para Juventude Rural no Mato Grande/RN, apoiado pelo CNPq em parceria com o INCRA/MDA, desenvolvido pelo Laboratório de Estudos Rurais da UFRN, em assentamentos e comunidades dos municípios de Pureza, Parazinho, São Miguel do Gostoso, Jandaíra e João Câmara. A pesquisa se estendeu no período de maio a agosto de 2016, nos assentamentos e comunidades Agrovila Maria das Graças, Arizona, Bebida Velha, Tabua, Canafístula, Guarapes, Pereiros e Primeiro de Junho, utilizando para coleta de informações a entrevista semiestruturada. Foram entrevistadas mulheres em faixas etárias compreendidas entre 13 a 63 anos. Totalizando 64 questionários aplicados. O questionário tentou contemplar questões relacionadas ao cotidiano das mulheres, alguns aspectos da sua vida familiar e em comunidade e também a relação com os movimentos sociais do território a fim de traçar um perfil que nos permitisse observar elementos que favorecessem a análise do objeto. A interação das mulheres com o campo e seus conhecimentos a respeito da agricultura familiar e o conhecimento sobre as políticas públicas também foram exploradas. Ao se tratar do rural, nos deparamos com uma diversidade de assuntos, entre eles, o papel da mulher nessa realidade. Onde a cada dia crescem as reivindicações pela participação política, por espaços de formação específicos, e valorização dos trabalhos realizados por elas. Foi verificado que as jovens mulheres possuem uma relação mais definida com seus familiares. Ou seja, os pais exercem uma função de poder sobre os filhos. Com isso a busca de informações que retratassem o cotidiano das jovens mulheres foi dificultada.

Importante destacar que a escolha da metodologia se deu por compreender que a combinação de perguntas abertas e fechadas proporciona ao informante a possibilidade de discorrer sobre o tema proposto, embora siga um conjunto de questões previamente definidas, mas acontece em um contexto muito semelhante ao de uma conversa informal (LAKATOS, 2006). Facilitando o diálogo entre o entrevistador e o entrevistado. RESULTADOS E DISCUSSÕES Cada município teve uma quantidade amostral de questionários aplicados, que devido às demandas e os empecilhos, não obteve um valor total igual (Tabela 1). Tabela 1. Quantidade de questionários aplicados por munícipio, incluindo todos os assentamentos e comunidades visitados. Municípios (Mato Grande RN) Quantidade de questionários aplicados Jandaíra 10 João Câmara 10 Parazinho 8 Pureza 18 São Miguel do Gostoso 18 Dentro do contexto, ao analisar a participação das mulheres nas reuniões da comunidade, observamos que 62,5% das mulheres participavam das reuniões, todavia, a maioria não possuía voz, não interagindo com os demais (Figura 1). Figura 1. Participação das mulheres nas reuniões dos assentamentos e comunidades.

Foi possível analisar, também, que 79,7% das entrevistadas não participam de movimentos específicos para mulheres, mas participaram de espaços dos movimentos de acesso à terra, na constituição do assentamento (Figura 2). No entanto, em São Miguel do Gostoso, foi possível perceber a atuação de um grupo social que recebe o nome de Marcha Mundial das Mulheres, que infelizmente não conseguem ter uma participação mais efetiva. Figura 2. Participação das mulheres em movimentos específicos. De acordo com Silva, et al. (2010), boa parte dos estudos sobre mulheres rurais realizados no Brasil sempre tendeu a considerá-las a partir de seu lugar dentro da unidade de produção, focalizando sua condição de trabalhadoras não remuneradas e com baixa valorização. Ainda que esses estudos tenham revelado aspectos relevantes relacionados à situação de desigualdade das mulheres, como a sua importância nas atividades agrícolas e seu papel na reprodução social das famílias rurais, permanecem lacunas quanto a situações opostas e alternativas a essa desigualdade. Com isso, percebe-se que a presença dos movimentos sociais na origem dos assentamentos a partir de processos educativos formadores, realizados junto às comunidades, contribuiu em certa medida para o exercício da participação dos indivíduos, inclusive das mulheres. Contudo, essa participação se fragiliza a partir do momento que os assentamentos foram estruturados e consolidados, retomando às bases patriarcais e recolocando a mulher de volta na sua posição histórica, sem voz e sem espaço para contribuir com a organização e o desenvolvimento do seu local. Foi perceptivo também que para as entrevistadas é entendido como uma obrigação natural que a mulher tenha mais obrigações que os homens, elas têm múltiplas jornadas de trabalho e muitas vezes não conseguem reconhecer o trabalho doméstico ou autônomo como um emprego e,ou fonte de renda para a família.

CONCLUSÃO Concluímos que as mulheres da região do Mato Grande/RN possuem interação com grupos de movimentos sociais. Contudo, o papel das mesmas num contexto mais específico, que engloba a participação delas nas reuniões da comunidade e em movimentos específicos para mulheres, é dificultado devido à influência de aspectos patriarcais que infelizmente facilitam a desigualdade de gênero encontrada na região. Por esses motivos, é preciso que o papel dos movimentos sociais como formadores políticos e sociais continue a atuar na região. Sendo assim, é importante mais pesquisas sobre esses aspectos nas comunidades e assentamentos do território do Mato Grande, levantando discussões sobre como as mulheres estão conseguindo se organizar para o enfrentamento de problemas e dificuldades comuns, que passam pelo campo da invisibilidade do trabalho reprodutivo, acesso à terra, acesso a produção, entre outros fatores e como a participação social pode ser capaz de desenvolver reflexões sobre o papel social dessas mulheres, permitindo uma atuação mais ativa e consciente nas suas comunidades. Por fim, acreditamos que ao ingressar em movimentos, as mulheres rurais criam possibilidades de se afirmarem como portadoras de um saber-poder no campo da política, que lhes proporciona também repensar seu cotidiano. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CALDART, R S.; Pedagogia do Movimento Sem Terra: escola é mais do que escola. Petrópolis: Editora Vozes, 2000. DEERE, C. D.; Os direitos da mulher à terra e os movimentos sociais rurais na reforma agrária brasileira. Estudos Feministas, Florianópolis, v. 1, n. 12, p.175-204, abr. 2004. GOHN, M. G.; Abordagens teóricas no estudo dos Movimentos Sociais na América Latina. Caderno Crh, Salvador, v. 21, n. 54, p.439-455, dez. 2008. LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Resenha crítica. In: Fundamentos de metodológica científica. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2006. MOURA, J. T. V.; A representação política dos Movimentos Sociais Um estudo no colegiado territorial do Mato Grande (RN). Campo-territÓrio: Revista de Geografia Agrária, Natal, v. 9, n. 17, p.282-306, abr. 2014.

SILVA, C. B. C.; SCHNEIDER, S.; Gênero, trabalho rural e pluriatividade. Ed. Mulheres, Florianópolis, p.183-207, 2010.