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Transcrição:

DESAFIOS DO TRABALHO DOCENTE: UM ESTUDO DE CASO NO CMES PROJETO NASCENTE Maria Marina Dias Cavalcante - UECE Isabel Magda Said Pierre Carneiro - IFCE Introdução As transformações sociais, políticas e econômicas que vêm ocorrendo no mundo, impulsionadas, principalmente pelas novas demandas postas pelo que tem sido chamado Revolução da Tecnologia da Informação (CASTELLS, 1999) também atingem a instituição escolar suscitando reflexões sobre seu papel como espaço que fomenta o processo ensino-aprendizagem. Nesse contexto, crescem, nos sistemas educacionais, os debates a respeito da premente mudança na escola e na atuação docente frente às atuais exigências do processo educativo. Este trabalho apresenta resultados referentes aos desafios do trabalho dos professores que atuam nas primeiras séries do Ensino Fundamental ancorados em uma pesquisa mais ampla que busca analisar a relação entre a prática de pedagogos e graduandos em Pedagogia que já atuam profissionalmente em espaços escolares e a formação inicial por eles vivenciada. Para realização desse estudo, optou se pela abordagem qualitativa de investigação, a partir de um estudo de caso realizado no Centro Municipal de Educação e Saúde (CMES) - Projeto Nascente, em Fortaleza. Os dados foram obtidos através de observações diretas e entrevista semi-estruturada com 7 professores, 1 coordenadora pedagógica e 1 diretora pedagógica, enfocando os seguintes aspectos: concepção de escola, dinâmica escolar e proposta pedagógica. 2. 1 Concepção de escola A escola é uma instituição social com objetivo de desenvolver as potencialidades físicas, cognitivas e afetivas dos alunos, por meio da aprendizagem dos conteúdos que deve acontecer de maneira contextualizada desenvolvendo nos discentes a capacidade de tornarem-se cidadãos participativos na sociedade em que vivem. A instituição escolar precisa oferecer situações que favoreçam o aprendizado, onde haja sede em aprender e também razão, entendimento da importância desse aprendizado no futuro do aluno. Se ele compreender que, muito mais importante do que possuir bens materiais, é ter uma fonte de segurança que garanta seu espaço no

2 mercado competitivo, ele buscará conhecer e aprender sempre mais. Essa concepção de escola aparece na fala da coordenadora pedagógica ao apontar que o trabalho pedagógico realizado na instituição busca contribuir para a formação do ser humano de forma integral: escola é onde se trabalha a criança no seu todo. Nós temos que recebê-la com todos os seus conhecimentos prévios, seus anseios, seus problemas e suas angústias. Eu não consigo imaginar uma escola que trabalhe uma criança em compartimentos. Partindo do pressuposto de que a escola é uma instituição que visa à formação humana, a professora ressalta a importância do diálogo contínuo entre os diversos agentes educacionais, sobretudo, o apoio que o núcleo gestor dá aos docentes na realização de seu trabalho pedagógico: Eu vejo como a direção e a coordenação são muito abertas a críticas e sugestões, de forma que podemos conversar sobre nossa prática. Elas realmente estão dispostos a ensinar, não exigem ninguém pronto.... Esse comentário remete à dimensão coletiva do trabalho pedagógico. O bom funcionamento de uma escola implica uma permanente cooperação de todos os seus agentes, que não apenas os professores. Essa idéia mais uma vez aparece quando a coordenadora pedagógica se refere à complexidade da profissão docente e a execução da proposta pedagógica da instituição: eu acho que a escola para ser escola depende de todos os segmentos: pais, professores, direção, coordenação, funcionários, para que nós consigamos realizar um bom trabalho. O esforço da professoras e da coordenadora no desenvolvimento de um trabalho coletivo revela o compromisso desses profissionais com a democratização da educação escolar no país. Pode-se afirmar, assim, que o grupo de educadores do Projeto Nascente atua colaborativamente em função da construção de um perfil de cidadão, interagindo com o processo educativo que ocorre na sociedade como um todo. 2.2 Dinâmica escolar O Projeto Nascente é uma instituição que tem uma singularidade e uma identidade própria diferente das demais escolas públicas da rede municipal. Isso porque os professores ainda são estudantes universitários servindo, assim, como espaço de aprendizagem para os futuros docentes que intencionam articular na prática os conhecimentos adquiridos durante a sua formação. Em virtude dessa característica, a referida instituição está sempre em constantes mudanças, sobretudo,

3 de professores, conforme registra o seguinte depoimento: O Nascente é uma escola em constante mudança, pois entra e sai alunos e professores. Sempre tem essa dinâmica de mudança, inclusive aproveitando a seleção que é feita no final do ano. O começo do ano é uma forma deles aproveitarem as novas idéias que estão surgindo dentro da própria universidade. Esse o diferencial daqui que eu acho muito bom. Nas escolas da rede pública, de modo geral, a mudança constante de professores é um problema. A rotatividade de docentes desorganiza a escola em si que, a cada saída ou entrada de um novo membro, necessita de se reconfigurar. Os caminhos que estavam sendo percorridos muitas vezes são interrompidos ou desviados, prejudicando a construção de um projeto pedagógico (FURLANETTO, 2004). No Projeto Nascente, a rotatividade de professores não tem afetado negativamente no processo ensino-aprendizagem, pelo contrário, a referida instituição tem se sobressaído em termos de rendimento escolar, o que pode ser observado nos índices numéricos (estatísticas) elaborados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP), em 2007. A mudança constante de docentes também é considerada positiva pelos professores, pois é uma oportunidade que eles têm de aprender com as adversidades que ocorrem no cotidiano da sala de aula, como relata o seguinte depoimento: eu acho interessante para o professor que está na faculdade aprender como utilizar sua teoria. Acredito que isso não afete a escola porque na última reunião foi dito que ela tem melhorado bastante o nível, inclusive dos próprios professores. A articulação entre a teoria e a prática é um dos principais objetivos dos docentes universitários que procuram o Projeto Nascente. Ela é fundamental no desenvolvimento do trabalho pedagógico dos professores, pois é um momento de produção de saberes e sentidos, revelando suas concepções de homem, educação, mundo e sociedade, formas de atuar e modos desejáveis de relação social, conforme vislumbra o seguinte depoimento: [...] é fundamental abrir seleção para os alunos poderem ir se encaminhando na prática. Eu tenho certeza que a grande maioria sai sem prática nenhuma e até para conseguir um estágio em outra escola é complicado. O depoimento ressalta importância de ter a prática ao longo do curso como referente direto para constatar seus estudos e formar seus próprios conhecimentos e convicções a respeito. Nesse sentido, é importante integrar os conteúdos das disciplinas em situações da prática para que coloquem problemas aos futuros

4 professores e lhes possibilite experimentar soluções. 2. 3 Proposta pedagógica PP O projeto pedagógico - PP é o documento que norteia o trabalho pedagógico da comunidade escolar. Ele é considerado pelos professores como a expressão da cultura da instituição com sua (re) criação e desenvolvimento, pois expressa a cultura da escola, impregnada de crenças, valores, significados, modos de pensar e agir das pessoas que participaram da sua elaboração. Essa idéia é expressada a seguir: Sempre digo que a nossa proposta vai muito de como o professor ou o grupo trabalha, pois querendo ou não, nós formamos os grupos com quem trabalhamos. É tanto que se você estiver aqui próximo ano talvez a cara da proposta seja outra, porque, com certeza, vai ter outro grupo, virão outras idéias, pessoas novas. Então é uma mudança que eu acho que é constante. A obrigatoriedade do projeto político pedagógico tornou mais evidente a partir da Lei de Diretrizes e Bases da educação nacional (LDB 9394/96). O artigo 12 dessa lei dá ao estabelecimento de ensino a incumbência de elaborar o seu projeto pedagógico e os artigos 13 e 14 apontam para os professores, supervisores e orientadores a responsabilidade de participar da elaboração desse projeto. No Projeto Nascente, o PP foi elaborado em 2004 e é atualizado, anualmente, na semana pedagógica, com a participação da direção, dos professores, coordenadores, funcionários, alunos, pais de alunos e líderes comunitários a fim de discutir os aspectos positivos e negativos do que foi realizado no ano anterior e o que precisa ser melhorado para o ano subsequente. Mesmo tendo encontros anuais para atualizar a Proposta Pedagógica da escola, a diretora do Projeto Nascente reconhece que é insuficiente o tempo destinado para o aprofundamento das questões que envolvem objetivos e metas comuns à escola como um todo: nós sabemos que muitas coisas restringem-se às leis, ficam somente no papel e não saem. Desde que cheguei aqui, nós tentamos colocar em prática. Mas eu acho que a proposta deveria ser um pouco mais debatida. O tempo dos professores é o principal aspecto que dificulta o envolvimento dos professores no que se refere ao projeto pedagógico da escola, conforme o depoimento da diretora: Na verdade, você tem livre acesso a isso. Eu acho que falta é a questão é ir atrás porque não há recusa nenhuma, basta você pedir. A questão é o tempo que é corrido. Na fala da entrevistada, pode-se encontrar situações em que estão presentes

5 os desafios relacionados ao processo de trabalho docente, ora para conservação, isto é, para a rotina, ora para subversão, na tentativa de orientar a construção de novo habitus que configura o sistema de normas organizadoras do campo pedagógico. São desafios que constituem estratégias pelas quais o estatuto da profissão pedagogo se constrói. Diante desses resultados, aponta-se algumas constatações que, certamente, servirão de pistas para estudos posteriores. Algumas dessas reflexões são explicitadas a seguir. Considerações finais Os dados revelam a importância do trabalho pedagógico coletivo desenvolvido na escola como um articulador dos diversos segmentos da comunidade escolar, aspecto fundamental para sustentar a ação da escola em torno de um projeto. Por outro lado, fica evidente a dificuldade de planejar ações que possibilitem a formação de conceitos, o delineamento de propostas, a retroalimentação do processo, a mudança ou reafirmação de paradigmas, como condições de construção da situação pretendida e de superação da situação atual. Constata-se também a importância da escola como um espaço de aprendizado para os pedagogos que estão iniciando a carreira docente, favorecendo a articulação entre a teoria e a prática. Os momentos de reflexão e discussão acerca da profissão contribui para a construção a identidade do ser professor. Nessa perspectiva, coloca-se em relevo a necessidade de repensar os cursos de formação de professores objetivando uma melhor articulação entre teoria e prática à luz das demandas contemporâneas em torno do papel do docente, de sua formação e atuação pedagógica.

6 Referências bibliográficas BRASIL. Leis e Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei 9394/96, de 20/12/1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, ano134, n. 248, p. 27833-27841, dez. 1996. CASTELLS, M. A sociedade em rede a era da informação: economia, sociedade e cultura. v. 1. 3.ed. São Paulo, Paz e Terra, 2000. FURLANETTO, E.C. Formação de professores: aspectos simbólicos. Psicol. Educ. v.19. São Paulo. Dez. 2004.