O EFEITO DO ISOSTRETCHING NA POSTURA DE MULHERES MASTECTOMIZADAS Danyelle Miotto ¹, Emilio Nicolini ², Renato Durante ³, Dulcegleika Sartori 4, 2015. Trabalho de Conclusão de Curso de Fisioterapia - Faculdade Anhanguera de Bauru, 2015 1. INTRODUÇÃO Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2014; INCA, 2014) o câncer de mama é o segundo tipo de câncer mais frequente no mundo, sendo mais frequentes entre mulheres que corresponde 22% dos casos a cada ano. Estima-se que no ano de 2014, segundo o Instituto Nacional de Câncer, foram diagnosticados 57.120 novos casos. No Brasil o índice de mortalidade é elevado por conta do diagnóstico tardio. Ele surge por meio da multiplicação anormal de células que ocorre nas glândulas mamarias. Se descoberto na fase inicial tem solução (ACIOLY, 2003; TIEZZI, 2009). Algumas cirurgias empregadas, quando diagnosticado o câncer de mama podem ser, quadrantectomia, mastectomia, adenectomia, associadas ou não a retirada total ou parcial dos linfonodos axilares (CAMPOS; VILELA, 2003). A radioterapia, a quimioterapia e a hormonioterapia são procedimentos coadjuvantes do tratamento cirúrgico, sendo utilizado tanto no pré-operatório ou pósoperatório. (CAMARGO; MARX, 2000; COSTA, 2011; GUIRRO, 2002; HARRIS et al., 2002). As cirurgias tendem a causar aderência entre os planos teciduais, limitando a realização dos movimentos, assim causando danos no sistema musculoesquelético, alterações nas atividades rotineiras e fisiológicas dos movimentos articulares (PEIXOTO M.R., 2003). Rodrigues, Jammal e Machado (2008), falam que o fisioterapeuta ao ser notificado para realizar uma avaliação postural e funcional, observa possíveis desequilíbrios posturais já instalados e as limitações articulares no membro acometido. Alterações posturais podem surgir por conta de dores na região de incisão cirúrgica ou medo de movimentar o membro, por meio disto existe grandes chances de complicação
em vários sistemas do corpo. (BATISTON; SANTIAGO, 2005). Alguns autores dizem que algumas alterações no membro acometido poderão ser em flexão, abdução, e a rotação externa associada, outras mudanças seriam a postura assimétrica, como anteriorização, rotação, elevação, protusão e limitação da flexão dos ombros, hipercifose, contratura da musculatura cervical, anteriorização da cabeça, postura de autoproteção, alteração da imagem corporal, escápulas aladas e mal alinhadas devido à mudança de peso pela ausência da mama (BERNARDES et al., 2013; NISSEN, 2001; MAMEDE, 2000). O tratamento fisioterapêutico deve ser inicializado o mais breve possível, pois o tratamento tardio das mulheres mastectomizadas pode resultar em alterações posturais difíceis de reverter (ROSTKOWSKA, 2006; CHANG, 2001; HERD-SMITH, 2001). Um método de ginástica postural global chamado de isostretching utilizado pela fisioterapia atua realizando alongamento, fortalecimento muscular, correção postural e consciência da postura, utilizando como base o controle respiratório e domínio das sensações da posição corporal (REDONDO, 2006; MORAES; MATEUS, 2005). Segundo Redondo (2006), é necessário trabalhar o sistema respiratório para melhorar a mobilidade diafragmática e desenvolver uma melhor capacidade pulmonar. É necessário que o método seja divido em séries progressivas, para garantir a permanência da concentração individual durante cada exercício realizado. Segundo Spinola (2007), exercícios físicos melhora a capacidade dos pacientes com câncer de obter força muscular com a possibilidade de percorrer grandes distâncias, reduz náuseas, fadiga e consequentemente a qualidade de vida. Na literatura existem vários estudos a respeito do câncer de mama, entretanto ressaltando mais o tratamento para linfaedema, nas aderências cicatriciais e são raros aqueles que visam à intervenção precoce da fisioterapia em busca de prevenir possíveis problemas que poderão comprometer a qualidade de vida dessas mulheres (ROSTKOWSKA, E, BAK, M, SAMBORSK, W, 2006 ). Sendo assim, o objetivo deste trabalho é analisar os efeitos da ginástica postural global, isostretching, na postura de mulheres mastectomizadas, por meio de uma revisão bibliográfica.
2 MATERIAL E MÉTODOS Como método de estudo será realizada uma revisão de literatura, com busca nas bases de dados: Scielo, Medline, Bireme e Google Acadêmico, utilizando as seguintes palavras chaves: Câncer de mama, Mastectomia, Isostretching, Postura e Fisioterapia. Foram selecionados artigos de 2005 a 2015. Critério de exclusão: Trabalhos que não abordavam só o método isostretching como forma de tratamento, aqueles que não estavam dentro da faixa de 2005 a 2015 e artigos que tinham o N de pesquisa muito pequeno e não se tratava de um estudo de caso. 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES Durante a busca na literatura científica por meio das palavras chaves foram encontrados 15 artigos dos quais 13 foram incluídos nesta revisão, sendo que todos foram publicados em língua inglesa e/ou portuguesa. Bernardes et al. (2013), em seu estudo relata que a cirurgia causa diversas alterações como dor, fraqueza muscular, postura de autoproteção, que modifica a imagem corporal. Observou ainda que na cabeça ocorre inclinação homolateral à cirurgia e anteriorização. No ombro acontece uma elevação homolateral a cirurgia e protusão. Muitas mulheres apresentam também rotação interna homolateral de membro superior e rotação de tronco, tanto homolateral, quanto contralateral, além de hipercifose torácica e escoliose, assim como, apresentam assimetrias na pelve, principalmente elevação e anteroversão. Isostretching tem o intuito de prevenir tanto no pré como no pós-operatório as complicações, realizar reeducação da cintura escapular e do membro superior ipsilateral à cirurgia (MARTINS et al., 2012). O método isostretching é conhecido como cinesioterapia do equilíbrio, tendo como objetivo promover equilíbrio muscular, por meio de exercícios em reações agonistas e antagonistas, autocrescimento da coluna alongamentos e contrações e mobilização da pelve realizada durante a expiração profunda e controlada (MORAES, 2002), focando principalmente os pontos debilitados e musculatura paravertebral profunda (REDONDO, 2006). Tem como objetivo realizar a sustentação corporal por meio da musculatura profunda, flexibilidade e da mobilidade do músculo e da articulação, ganho no controle respiratório e concentração mental, dando a possibilidade de controle do corpo no espaço, sendo capaz de alongar partes rígidas, e fortalecer as
enfraquecidas. Oferece ainda, durante a aplicação do método a total percepção do cérebro quanto a posturas corretas e o máximo de controle muscular e da respiração (BONORINO KC, BORIN GS, SILVA AH, 2007). Redondo (2006), diz que a manutenção da postura será feita durante a expiração para solicitar a esse diafragma uma tensão da coluna e evitar um apoio demasiado sobre as vísceras. A ação da respiração sobre o diafragma fixa a coluna vertebral, promovendo um relaxamento dos músculos do pescoço e ombro, que sempre se encontram contraturados. No estudo clínico de Melchior (2007), o método foi aplicado em 25 mulheres submetidas à mastectomia, e todas frequentaram o grupo de isostretching durante seis semanas totalizando 12 sessões de atendimento, por fim observaram que a técnica foi eficaz para a recuperação dos movimentos artrocinemáticos da cintura escapular favorecendo um bom funcionamento de toda a coluna vertebral. Constatou-se em seu estudo de caso, que o método isostretching foi eficaz no equilíbrio, no ganho de força muscular, conscientização postural, e nos mecanismos proprioceptivos oferecidos por meio dele (LONGATO MW, CASTRO PR, KELLER K., RIBAS DIR, 2011). O estudo contou com a participação de 10 estudantes do sexo feminino, com idade entre 18 a 30 anos, onde foram avaliadas suas posturas de maneira estática no pré e no pós tratamento realizado durante 10 sessões, por meio dos resultados do trabalho, o isostretching quando sendo focado na ênfase do fortalecimento dos diferentes grupos musculares, atua diretamente na manutenção da postura do corpo, melhora na força muscular, melhora da flexibilidade e também no equilíbrio corporal estático (MANN L., KLEINPAUL JF, WEBER P, MOTA CB, CARPES FP, 2009 ). Em seu estudo Borghi (2008), avaliou 15 pacientes, no qual apresentavam escoliose em s e em c, foram atendidos durante 24 sessões do método, e no final do estudo a análise radiográfica mostrou alinhamento total de um paciente, redução da curvatura de outros quatros e o restante não obteve melhora, entretanto por meio dos resultados analisados pelo teste do sinal os valores foram significantes. Sanglard et al. (2007), realizou um estudo com 40 pacientes, com idade entre 60 a 69 anos, onde foi constatado após as sessões de atendimento com isostreching, melhora significante do escore de equilíbrio por meio do Instrumento de Avaliação
Tinetti, sendo assim constatado o benefício após os atendimentos. Moraes e Mateus (2005), aplicaram o método em uma paciente do sexo feminino com hipercifose torácica, e após o tratamento observou diminuição da angulação cifótica e melhora das retrações das cadeias musculares, demonstrando eficácia dessa técnica na disfunção postural. Durante 30 sessões de atendimento com o método, após ter avaliado 12 posturas de pacientes, concluíram que o método de isostretching melhora o alinhamento da coluna vertebral torácica e propicia maior flexibilidade da cadeia posterior dos indivíduos (MONTE-RASO MV, FERREIRA PA, CARVALHO MS, RODRIGUES JG, MARTINS CC, LUNES DH, 2009). O isostretching atua por meio da contração isométrica com retificação da coluna (reduz curvaturas fisiológicas) a fim de desenvolver o sistema de fibras tônicas, situando ao longo da coluna e bem próximo aos ossos. Esse fortalecimento promove sustentação da posição ereta, ganho de amplitude articular, descompressão discal posterior adquirida através do crescimento e da modificação das curvaturas em função do posicionamento. As características do método como o alto crescimento, contração muscular isométrica, deixa os sistemas musculares com mais força, participa da mobilidade da extensão e da rotação, entretanto pode se falar que é um bloqueador que vai participar da mobilidade, da extensão e da rotação. (REDONDO, 2006). Fonseca (2012), mesmo tendo visto melhora com o uso do método isostretching quanto à flexibilidade, mobilidade, e correção postural, afirma que são poucas pesquisas realizadas sobre alterações posturais e o método. 4 CONCLUSÕES Ao fazer buscas metodológicas de artigos para servirem de base para essa revisão de literatura, observou-se escassez de artigos relacionados à postura e o método isostretching quanto a paciente submetidos à mastectomia. Nas poucas pesquisas estudadas pode-se ver a eficácia do método na postura, quanto à melhora de sua flexibilidade, mobilidade e correção postural, no entanto é necessário um número maior de pesquisas, não só para aplicabilidade da técnica, mas também para colaborar para mais achados científicos.
5 REFERÊNCIAS Organização Mundial de Sáude. Programa de Câncer, São Paulo, 2012. Disponível em:<http://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=4710:movimentooutubro-rosa&itemid=839>. Acesso em 10 de mar. 2015. Estimativa 2014. Instituto Nacional do Câncer, São Paulo, 2014. Disponível em: <http://www.inca.gov.br/estimativa/2014/index.asp?id=1>. Acesso em: 28 de abrl. 2015. ACIOLY, M. Carcinoma Mamário: orientações fisioterapêuticas na fase ambulatorial, SantaFisio, São Paulo, 2003. Disponível em: <http://www.santafisio.com/trabalhos/ver.asp?codigo=177>. Acesso em 03 de jun. 2015. TIEZZI, D.G. Epidemiologia do câncer de mama, Rev. Bras. Ginecol. Obstet., Rio de Janeiro, 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s010072032009000500001&lang=pt>. Acesso em: 28 de abrl. 2015. CAMARGO, M.C.; MARX, A.G. Reabilitação Física no Câncer de Mama, São Paulo: Roca, 2000. CAMPOS, R.B.; VILELA, W.G. Neoplasia de Mama e Reabilitação Fisioterapêutica no Pós Cirúrgico da Mastectomia, Trabalho de Conclusão de Curso de Fisioterapia (Monografia), Universidade Católica de Goiás, Goiânia: UCG, 2003. COSTA, I. M. Mulheres mastectomizadas acesso à informação e aprendizagem de capacidades, Mestrado de Enfermagem de Reabilitação, Escola superior de Enfermagem do Porto, Porto Alegre, 2011. GUIRRO, E.C.O.; GUIRRO, R.R.J. Fisioterapia Dermato-Funcional Fundamentos, Recursos e Patologias, 3º edição. São Paulo: Manole, 2002. HARRIS, J.R. et al. Doenças da Mama, 2º edição. Rio de Janeiro: Médica, 2002. PEIXOTO, M.R. Avaliação e método de tratamento das aderências cicatriciais segundo a crochetagem, Rio de Janeiro, 2003. RODRIGUES, L.R.; JAMMAL, M.P.; MACHADO, A.R.M. Fisioterapia na reabilitação de mulheres operadas por câncer de mama, São Paulo: O mundo da saúde, 2008. BATISTON, A.P, SANTIAGO, S.M. Fisioterapia e complicações físico- funcionais após tratamento cirúrgico do câncer de mama, São Paulo: Fisioterapia e Pesquisa, 2005;12(3):30-5. BERNARDES, C. et al. Alterações posturais em mulheres submetidas à mastectomia e em mulheres com hipertrofia mamária: uma revisão bibliográfica, Faculdade da Serra Gaúcha, Caxias do Sul, 2013. MAMEDE, M.V. Orientações Pós Mastectomia: O Papel da Enfermagem, Rev. Bras. Cancerologia, 2000;46(1):57-62. NISSEN, M.J. Quality of Life after Breast Carcinoma Surgery, American Cancer Society, v.91, n.7, p.1238-1246,2001. ROSTKOWSKA E.; BAK M.; SAMBORSKI W. Body Posture in Women After Mastectomy and its Changes as a Result of Rehabilitation. Adv. Med. Sci., v.51, p.287 97,2006. CHANG, J.H. The Impact of a Multidisciplinary Breast Cancer Center on Recommendations for Patient Management, American Cancer Society, v.91, n.7, p.1231-1237,2001. HERD-SMITH, A.H. Prognostic Factors for Lymphedema after Primary Treatment of Breast Carcinoma, American Society, v.92, n.7, 2001.
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