INTUSSUSCEPÇÃO DE CORNO UTERINO EM CADELA

Documentos relacionados
CIRURGIAS DO SISTEMA GENITAL FEMININO. João Moreira da Costa Neto

Patologia Clínica e Cirúrgica

Útero didelfo em cadela: relato de caso

Estudo Restrospectivo da casuística...

REVISTA CIENTÍFICA ELETRÔNICA DE MEDICINA VETERINÁRIA ISSN: Ano X Número 19 Julho de 2012 Periódicos Semestral

CONTRIBUIÇÃO DO EXAME ULTRASSONOGRÁFICO ABDOMINAL NA DETECÇÃO DE HIDROPSIA FETAL INTRAUTERINA EM CADELA DA RAÇA YORKSHIRE TERRIER: RELATO DE CASO

PIOMETRA ROMPIDA EM CADELA: RELATO DE CASO

TÉCNICA CIRÚRGICA DE ABLAÇÃO TOTAL DO CONDUTO AUDITIVO DE CÃO ACOMETIDO POR OTITE. Introdução

FÍSTULA EM FACE LATERAL DE MEMBRO PÉLVICO DE CADELA, CAUSADA POR REAÇÃO AO FIO DE SUTURA UTILIZADO EM OVÁRIO-HISTERECTOMIA

INTESTINO GROSSO 29/03/2017 INTESTINO GROSSO INTESTINO GROSSO. Ceco, cólon, reto e canal anal Ceco canino saca-rolha ; C

OSTEOSSARCOMA DE ESCÁPULA EM CÃO BOXER 1

23/08/2016 HÉRNIAS HÉRNIAS EM PEQUENOS ANIMAIS HÉRNIAS HÉRNIAS PARTES DE UMA HÉRNIA: CLASSIFICAÇÃO PARTES DE UMA HÉRNIA: DEFINIÇÃO:

PRÉ-REQUISITO R4 ENDOSCOPIA GINECOLÓGICA (403) ORGANIZADOR

Programa Analítico de Disciplina VET375 Clínica Médica de Cães e Gatos

CESARIANA EM FÊMEA EQUINA: RELATO DE CASO

TÉCNICA CIRÚRGICA PARA CESARIANAS EM CADELAS E GATAS SURGICAL TECHNIQUE ENUCLEATION - REVIEW OF LITERATURE

DETECÇÃO DO CICLO ESTRAL POR MEIO DE CITOLOGIA VAGINAL DE CADELAS ATENDIDAS NO HOSPITAL VETERINÁRIO DA UNIVIÇOSA/FACISA

Classificação das cirurgias

PATOLOGIA E CLÍNICA CIRÚRGICA

PIOMETRA ABERTA EM CADELA RELATO DE CASO

COMPARAÇÃO ENTRE O FLANCO DIREITO E ESQUERDO COMO ACESSO CIRÚRGICO PARA OVARIOSALPINGOHISTERECTOMIA EM GATAS 1. Introdução

BRAÇADEIRA DE POLIAMIDA PARA HEMOSTASIA PREVENTIVA NA OVARIOISTERECTOMIA EM GATAS

USO DE FIXADOR ESQUELÉTICO EXTERNO TIPO II NA OSTEOSSÍNTESE DE TÍBIA E FÍBULA DE CADELA

Universidade Estadual De Maringá Curso De Medicina Veterinária Coordenação Do Colegiado De Curso

INTRODUÇÃO ANATOMIA DO SISTEMA DIGESTIVO

DISCURSIVA GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA ULTRASSONOGRAFIA FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PEDRO ERNESTO. wwww.cepuerj.uerj.

PAPILOMATOSE BUCAL CANINA

Manejo Ambulatorial de Massas Anexiais

CLÍNICA MÉDICA DE PEQUENOS ANIMAIS

Revista Eletrônica Nutritime, Artigo 171. v.9, n 04 p Julho/Agosto 2012 LEIOMIOMA VAGINAL EM CADELA SRD

Programa Analítico de Disciplina VET362 Laboratório Clínico Veterinário

CARCINOMA TUBULOPAPILAR DE MAMA EM FELINO RELATO DE CASO

PIOMETRA RELATO DE CASO PYOMETRA - CASE REPORT

CIRURGIAS DO TRATO URINÁRIO

ANATOMIA DO SISTEMA REPRODUTOR FEMININO

Avaliação e caracterização do perfil da genitália feminina de bovinos Nelore e mestiços do oeste goiano.

CONCHECTOMIA TERAPÊUTICA ASSOCIADA À ABLAÇÃO DO CANAL AUDITIVO VERTICAL APÓS AVULSÃO PARCIAL DE PAVILHÃO AURICULAR EM CÃO RELATO DE CASO 1

[LINFOMA EPITELIOTRÓPICO]

O transplante uterino (TU) é uma nova opção revolucionária para o tratamento

Sumário RESUMO INTRODUÇÃO MATERIAIS E MÉTODOS RESULTADOS CONCLUSÃO E DISCUSSÃO... 17

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia.

ÁREAS: OBSTETRÍCIA, PATOLOGIA CLÍNICA CIRÚRGICA E ANESTESIOLOGIA

ESTUDO RETROSPECTIVO DE CASOS DE PIOMETRA ATENDIDOS NO PRIMEIRO SEMESTRE DE 2011 NO HOSPITAL VETERINÁRIO DO CESUMAR

PROLAPSO VAGINAL EM CADELA RELATO DE CASO PROLAPSE VAGINAL BITCH IN - CASE REPORT

PROLAPSO DE VAGINA EM VACA HOLANDESA 1

9º Imagem da Semana: Radiografia Tórax

ÓBITO FETAL DEPARTAMENTO DE OBSTETRÍCIA E GINECOLOGIA DA FMABC DISCIPLINA DE OBSTETRÍCIA PROF. TITULAR: MAURO SANCOVSKI

SITIOS DE INCISÃO ABDOMINAL. Prof. Dr. João Moreira da Costa Neto Departamento de Patologia e Clínicas UFBA

Programa para Seleção Clínica Cirúrgica e Obstetrícia de Pequenos Animais

RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 PROVA OBJETIVA

EXAME DE URETROGRAFIA CONTRASTADA PARA DIAGNÓSTICO DE RUPTURA URETRAL EM CANINO RELATO DE CASO

CIRURGIAS RESPIRATÓRIO CICATRIZAÇÃO RESPIRATORIO CRIPTORQUIDECTOMIA

SERVIÇO DE CLÍNICA MÉDICA DE PEQUENOS ANIMAIS DO INSTITUTO FEDERAL CATARINENSE - CÂMPUS CONCÓRDIA

TÉCNICAS DE VARREDURA ABDOMINAL ULTRASSONOGRAFIA

ALOPECIA POR DILUIÇÃO DA COR EM UMA CADELA DA RAÇA YORKSHIRE TERRIER. Introdução

DIAGNÓSTICO CLÍNICO E HISTOPATOLÓGICO DE NEOPLASMAS CUTÂNEOS EM CÃES E GATOS ATENDIDOS NA ROTINA CLÍNICA DO HOSPITAL VETERINÁRIO DA UNIVIÇOSA 1

CURSO AUXILIAR TÉCNICO DE VETERINÁRIA HANDBOOK

AUXILIAR DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA

Prof. Diogo Mayer Fernandes Clínica Cirúrgica Medicina Veterinária Faculdade Anhanguera de Dourados

RESOLUÇÃO Nº 14, DE 30 DE SETEMBRO DE 2010

ULTRASSONOGRAFIA PEQUENOS ANIMAIS

31/08/2015. Obstetrícia. Profa Elaine C. S. Ovalle. Diagnóstico. Beta- hch. hormônio gonadotrófico coriônico

19º Imagem da Semana: Radiografia de Tórax

17/10/2016 ANATOMIA DO REPRODUTOR DE CANINO CIRURGIAS DO APARELHO REPRODUTOR MASCULINO ANATOMIA DO REPRODUTOR DE FELINO ANATOMIA DO REPRODUTOR

[ERLICHIOSE CANINA]

TÍTULO: EFEITO DA CASTRAÇÃO E DA REPOSIÇÃO HORMONAL SOBRE OS PARÂMETROS CORPORAIS E ÓRGÃOS GENITAIS INTERNOS DE RATOS MACHOS E FÊMEAS

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

FETOTOMIA PARCIAL POR PARTO DISTÓCICO EM ÉGUA RELATO DE CASO

Edital Nº 15 de 12 de fevereiro de 2014, publicado no Diário Oficial da União de 18/02/2014.

APLASIA DE CÉRVIX EM CADELA RELATO DE CASO. Introdução

Orientações gerais RELATÓRIO DE ATIVIDADES DO ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO

Palavra-Chave: Esôfago. Fraqueza esofágica. Regurgitação. Cão.

RADIOGRAFIA ABDOMINAL. Profª Drª Naida Cristina Borges

RELATO DE CASO - LEIOMIOMA VAGINAL EM CADELA

GABARITO PROVA TEÓRICA QUESTÕES DISSERTATIVAS

O DESAFIO DIAGNÓSTICO DO CÂNCER DE MAMA ASSOCIADO A GESTAÇÃO: ENSAIO PICTÓRICO

Curso de Cirurgia Laparoscópica Urológica Parte IV

ABSCESSO PROSTÁTICO EM UM CANINO 1

CAPÍTULO 10. GRAVIDEZ ECTÓPICA: DIAGnÓSTICO PRECOCE. 1. DEfINIçãO:

REVISTA CIENTÍFICA ELETRÔNICA DE MEDICINA VETERINÁRIA ISSN: Ano IX Número 18 Janeiro de 2012 Periódicos Semestral

ORGANIZADOR. Página 1 de 7

Obstetrícia Veterinária (Parto Fisiológico) Parto. Parto 29/10/2009. Prof. Msc. Marcelo Arne Feckinghaus

CAPÍTULO 18. MIOMAS SUBMUCOSOS: ESTADIAMEnTOS PARA TRATAMEnTO HISTEROSCÓPICO. 1. INTRODUçãO

PIOMETRA ABERTA EM UMA CADELA DE 10 MESES Open Pyometra in a 10 month old Bitch

CIRURGIÃO. Dr. Lucas Dehnhardt CRMV

INTRODUÇÃO AO LINFOMA EM GATOS

TÍTULO: COLESTEATOMA DE CONDUTO AUDITIVO EXTERNO COMO DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE PATOLOGIAS DA ORELHA EXTERNA

APENDICITE AGUDA O QUE É APÊNCIDE CECAL? O QUE É APENDICITE E PORQUE OCORRE

CITOLOGIA VAGINAL, CONTROLE DE ESTRO E INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL EM CADELA DA RAÇA AUSTRALLIAN CATTLE DOG.

Importância dos. em Ginecologia Ramon Andrade R2 Prof. Dr. Maurício Magalhães - Orientador

Patologias do 3o. e 4o. períodos do parto

ULTRASSONOGRAFIA NA AVALIAÇÃO GÁSTRICA E DUODENAL NA BUSCA DE CORPOS ESTRANHOS ULTRASONOGRAPHY IN THE RESEARCH OF GASTRIC AND DUODENAL FOREIGN BODIES

Esplenomegalia, com acentuada leucocitose, em decorrência de piometra

Ex-Presidente da Sociedade Goiana de Ginecologia e Obstetrícia. Mestre em Doenças Infecciosas e Parasitárias pelo IPTESP UFG

ABORDAGEM CIRÚRGICA DO SISTEMA DIGESTIVO EM RUMINANTES

Imagens para prova prática diagnóstico por imagem Professora: Juliana Peloi Vides

O vencimento dependerá da titulação e da produtividade de acordo com o Plano de Salário.

CÃES E GATOS - CONTROLE POPULACIONAL POR MEIO DE ESTERILIZAÇÃO CIRÚRGICA E EDUCAÇÃO PARA POSSE RESPONSÁVEL

Transcrição:

1 INTUSSUSCEPÇÃO DE CORNO UTERINO EM CADELA Leandro William BORGES¹; Plínio Mendes de OLIVEIRA²; Marcelo Carrijo DA COSTA²; Francisco Claudio Dantas MOTA 3 ; Aracelle Elisane ALVES³; 1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias (PPGCV) - Universidade Federal de Uberlândia (UFU). (leandro_william@hotmail.com) 2 Residente em Clínica Cirúrgica de Animais de Companhia Programa de Residência Uniprofissional em medicina veterinária - Universidade Federal de Uberlândia (UFU). 3 Docente do Departamento de Cirurgia de Pequenos Animais, Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Uberlândia. Resumo A intussuscepção uterina em cadelas é uma patologia rara. Este relato tratase de uma cadela SRD (sem raça definida), parida há 22 dias, com presença de corrimento vaginal sanguinolento há 15. O exame ultrassonográfico, revelou estrutura tubular (cerca 2,17 cm de diâmetro), com superfície irregular e parede espessa (cerca de 0,49 cm) no corno uterino esquerdo. O animal foi então submetido a ovariosalpingohisterectomia, onde foi confirmada a intussuscepção do mesmo. Portanto pode-se concluir que a intussuscepção uterina é uma patologia que deve ser considerada como diagnóstico diferencial nos casos de afecções do trato reprodutivo em cadelas. Palavras-chave: patologia, ovariosalpingohisterectomia, invaginação, intussuscepto, Keywords: pathology, ovariosalpingohysterectomy, invagination, intussusceptum, Revisão de literatura O útero é um órgão muscular que abriga o feto durante a gestação. Os cornos uterinos constituem a porção mais alongada do útero e o local onde ocorre o desenvolvimento embrionário. O corpo uterino apresenta comprimento relativamente curto, e sua principal função é direcionar o feto para a cérvix no momento da expulsão. A cérvix uterinaé uma região muscular mais espessada, e que separa o útero e a vagina. Ela mantém o útero fechado durante a maior parte do ciclo estral, mantendo sua condição de esterilidade (FELDMAN e NELSON, 2009). Intussuscepção é definida como o encaixe ou invaginação de um segmento deórgão tubular, para dentro do lúmen do segmento adjacente. O segmento que ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0350

2 envolve o outro é denominado intussuscipiente, enquanto que o segmento envolvido é chamado de intussuscepto (MACPHAIL, 2002). A intussuscepção intestinal tem como fatores predisponentes a hipermotilidade secundária a enterites virais, bacterianas ou parasitárias, a manipulação inadequada durante laparotomia exploratória prévia e neoplasias intestinais ou corpos estranhos (TILLEYe SMITH, 2003). Poucos são os relatos de intussuscepção uterina em cadelas. Gorham e Spink (1975) relataram a ocorrência em uma cadela da raça Chow Chow. Além deste caso há descrição de intussuscepção do corno uterinode uma cadela SRD (Beck et al., 2008), e outra da raça Cocker Spaniel (ISQUIERDO e CUETO, 2013) e em uma cadela Yorkshire Terrier (PINTO FILHO et al., 2015). O objetivo deste trabalho foi relatar um caso de intussuscepção de corno uterino em uma cadela SRD, bem como o tratamento realizado. Descrição do Caso Uma cadela SRD, com aproximadamente 5 anos de idade, 12 kg, foi atendida no Hospital veterinário da Universidade Federal de Uberlândia, com queixa de corrimento vaginal sanguinolento há 15 dias. O proprietário relatou parição de dois fetos mortos há 22 dias. Durante exame físico observou-se baixo escore corporal, apesar do proprietário relatar apetite normal. Exames complementares tais como hemograma revelou anemia normocítica normocrômica, o exame bioquímico apontou normalidade tanto na função renal quanto na hepática. Na ultrassonografia o útero apresentava uma estrutura tubular com cerca de 2,17 cm de diâmetro, com parede espessa +/- 0,49 cm e superfície irregular. Após avaliação dos resultados obtidos o tratamento de escolha foi a realização de ovariosalpingohisterectomia. O protocolo anestésico utilzado foi: medicação pré-anestésica, Morfina 0,5mg/kg por via intramuscular (IM) e Diazepan 0,5mg/kg por via endovenosa (IV); indução com Propofol 5 mg/kg (IV), seguida da colocação da sonda endotraqueal, para manutenção anestésica com gás Isofluorano diluído em oxigênio 100%. Após o estabelecimento do plano cirúrgico, e assepsia de rotina; iniciou-se a laparotomia Foi realizada incisão de pele, subcutâneo e musculatura retro umbilical na linha média abdominal, seguida da localização dos cornos uterinos na cavidade abdominal. Ao expor os cornos uterinos constatou-se a presença de estrutura ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0351

3 compatível com intussuscepção no corno uterino esquerdo, já que o segmento cranial do mesmo encaixava-se (intussuscepto) no lúmen do segmento localizado logo a seguir no sentido caudal proximo à transição com o corpo do útero (intussuscipiente). Na tentativa de se desfazer a intussuscepção manualmente, o corno uterino se rompeu e revelou área sensível. Esta era uma área necrosada e ulcerada com hemorragia ativa em toda a circunferência da borda do intussuscepto, o qual encontrava-se encarcerado, o que poderia justificar a necrose e a úlcera devido a isquemia. Após reposicionamento dos cornos uterinos em sua conformação anatômica, foi realizada a ovariosalpingohisterectomia (OSH) seguindo técnica descrita por Stone (2007). As recomendações para o pós-operatório constaram de: Amoxicilina com clavulanato de Potássio na dose de 20mg/kg; 12/12 horas por 07 dias, Ranitidina 2mg/kg; a 12/12horas por 07 dias, cloridrato de Tramadol 3mg/kg; 8/8 horas por 05 dias, meloxican 0,1 mg/kg 01 a cada 24 horas por 05 dias, ambos via oral e curativo local com solução Nacl 0,9% estéril para limpeza da ferida local e Rifamicina tópica por duas vezes ao dia até a retirada dos pontos. Discussão Os sinais clínicos e achados no exame ultrassonográfico levaram a cogitar possíveis diagnósticos diferenciais tais como: anexos fetais remanescentes, tumores, endometrite, hiperplasia de endométrio com hemometra e torção uterina. No entanto, a possibilidade de intussuscepção uterina não foi considerada por se tratar de uma afecção rara, e pela imagem ultrassonográfica não ser suficiente para o diagnóstico definitivo desta patologia. Segundo Hecht (2011), a ausência da identificação das camadas uterinas no exame ultrassonográfico ajuda a diferenciar cornos uterinos de alças intestinais, já que o intestino possui cinco camadas identificáveis na imagem ultrassonográfica. Assim, de acordo com Bradley et al. (2009) a intussuscepção intestinal é visualizada como uma imagem multicamadas ao ultrassom. A ausência de alterações na imagem ultrassonográfica do útero pós-parto não exclui a intussuscepção uterina, conforme caso relatado por Isquierdo e Cueto (2013), cujo o diagnóstico foi por laparotomia exploratória. ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0352

4 Acredita-se que a causa da ocorrência de intussuscepção seja devido à uma motilidade exacerbada da parede intestinal. Pode estar associada com enterite secundária a parasitas, vírus e bactérias, corpos estranhos lineares, massas intestinais ou cirurgia abdominal previa e em animais mais velhos muitas vezes está associada a neoplasia (TILLEY e SMITH, 2003). De acordo com estas causas, é possível que as contrações uterinas favorecem uma alta motilidade e contração dos cornos uterinos durante a parição e no puerpério imediato, somada à uma hipertrofia, edema e elasticidade aumentada da camada muscular da parede uterina, fato este consequente do aumento de estrógeno nesta fase do ciclo estral. Assim, acredita-se que a presença de altos níveis de estrógeno que leva a maior elasticidade das fibras musculares uterinas entremeadas na parede; somada à presença de contrações uterinas e involução uterina pós-parto favorecerem a ocorrência de intussuscepção de cornos uterinos como ocorrido nesta paciente. O caso aqui discutido se assemelha ao relatado por Gorham e Spink (1975) no que diz respeito ao corrimento vaginal sanguinolento, a diferença é que neste caso a paciente tinha 5 meses de idade, o que nos mostra que esta afecção não tem correlação com idade ou raça dos animais e provavelmente pode ter outras causas. O quadro hemorrágico descrito em ambos os casos está relacionado à necrose devido à isquemia causada pelo encarceramento de um segmento uterino dentro do outro. No caso relatado por este trabalho, além da necrose havia também uma área com ulceração e com sangramento ativo, verificado como corrimento vaginal. O hemograma revelou anemia normocítica normocrômica, provavelmente pela perda de sangue na hemorragia. O tratamento cirúrgico indicado de OSH e realizado para a resolução deste caso é definitivo, seguro e eficiente já que evita recidiva. Conclusão Conclui-se que a intussuscepção uterina em cadelas está associada a alterações fisiológicas e apesar de rara deve ser considerada durante diagnóstico diferencial de patologias do trato reprodutivo de cadelas. Referências ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0353

5 BECK, C.; CARDONA, R.O.C.C.; COSSETIN, G.M.P.; ZANCHI, V. Intussuscepção uterina em um canino. In: 35º Congresso Brasileiro De Medicina Veterinária, Gramado, Anais: 264-265, 2008. BRADLEY, K. In: O BRIEN, R.; BARR, F. Manual de Diagnóstico por Imagem Abdominal de Cães e Gatos. São Paulo: Roca, 2009, p. 135-161. FELDMAN, EC.; NELSON, RW. Ovarian cicle and vaginal citology. In: Feldman EC, Nelson RW. Canine and feline endocrinology and reproduction. 23.ed. Philadelphia: W.B Saunders, 2004. p.752-774. GORHAM, M.F.; SPINK, R.R. Modern Veterinary Practice, 56: (1), 1975. HECHT, S. In: PENNINCK, D.; D ANJOU, M.A. Atlas de Ultrassonografia de Pequenos Animais. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011, p.395-414. ISQUIERDO, D.; CUETO, E. Intususcepción uterina. Relato de um caso clínico;http://www.seleccionesveterinarias.com/es/articulos/reproduccionanimal/intususcepcion-uterinarelato- de-un-caso-clinico, em 29/09/2013. MACPHAIL, C. Gastrointestinal obstruction. Clinical Techniques in Small Animal Practice, New York, v. 17, n. 4, p. 178-183, 2002. PINTO FILHO, S.T.L.; CARUS. D.S., DALMOLI. F.; ANJOS. B.L.; SEGATTO. T.; KRABBE. A.; OLIVEIRA. M.T.; PIPPI. N.L.; BRUN. M.V. Intussuscepção uterina em uma cadela Yorkshire Terrier. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.67, n.1, p.37-40, 2015. STONE, E.A. Ovário e útero. In: SLATTER, D. Manual de cirurgia de pequenos animais. 3.ed. São Paulo: Manole, 2007. Cap. 98, p.1487-1502. TILLEY, L.P.; SMITH, W.K.F. Jr. Consulta Veterinária em 5 minutos espécie canina e felina. 2.ed. São Paulo: Manole, 2003. p.870-871. ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0354