CONTRIBUÇÕES DO MÉTODO DA CAPO NA FORMAÇÃO DA BANDA WALDEMAR HENRIQUE DE MARABÁ PA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA Juliane Barbosa de Sousa Projeto Saberes- IDE delleal1@hotmail.com Karina Firmino Vieira Universidade de Brasília Pôster Resumo: O presente trabalho consiste em um relato de experiência, com um olhar de professora e instrumentista de banda, sobre a aplicação do método de ensino Coletivo Da Capo no processo de formação da Banda de Waldemar Henrique no município de Marabá PA. O referido método, possui forte influência em bandas do estado do Pará. Desta forma, através deste relato, busca- se conhecer, refletir sobre sua aplicação e contribuir com as discussões sobre esta temática. Palavras chave: método Da Capo, bandas de música; música no estado do Pará. INTRODUÇÃO Ao longo dos últimos anos, diversas pesquisas acadêmicas vêm investigando e reafirmando a importância do Método Da Capo na formação de bandas no Brasil. Da Capo, como popularmente é conhecido, foi criado pelo educador musical Joel Barbosa 1, como sua tese em 1 Autor do método Da Capo. Iniciou seus estudos na Banda da Guarda Mirim Municipal de Piracicaba, SP. Graduou- se em clarineta pelo Conservatório de Tatuí, em 1985, e pela UNICAMP, em 1989. Foi premiado com bolsas da VITAE, CNPq e CAPES, através das quais obteve o grau de Mestre e Doutor em Artes Musicais (DMA), em 1992 e 1994, respectivamente, pela University of Washington, Seattle, EUA. Sua dissertação de doutorado é sobre metodologia de ensino em grupo de instrumentos de banda. Como parte de sua dissertação, escreveu o primeiro método de banda brasileiro com esta pedagogia. Tem dado cursos sobre esta metodologia, principalmente, no Programa
seu Doutoramento nos Estados Unidos. O referido método, foi fundamentado em métodos norte- americanos de ensino instrumental, onde aborda a metodologia de ensino Coletivo e / ou individual de instrumentos de banda. O Da Capo, diferencia- se em diversas questões em relação a outros métodos de ensino instrumental utilizado em bandas no Brasil. Entre elas, podemos destacar sua metodologia de ensino coletivo, sendo esse um grande diferencial do método, onde a prática instrumental ocorre de forma paralela ao estudo teórico, diferenciando- se assim da metodologia de ensino tradicional, onde o aluno primeiro adquiri conhecimentos teóricos para depois iniciar o estudo no instrumento. Sobre essa abordagem, Moreira (2009, p 129.) Afirma que: A principal característica do método está no fato do aprendiz ter o contato com o instrumento desde a primeira aula e a possibilidade de formar, além da banda, conjuntos menores como duos, trios e quartetos, promovendo uma forte motivação nos alunos. Consiste em utilizar músicas folclóricas com células rítmicas simples, utilizando a teoria e a prática no instrumento simultaneamente, diferentemente do tradicional, que ensina o instrumento após o aprendizado da teoria e leitura musical. O método apresenta uma linguagem musical bastante clara, facilitando a compreensão dos conteúdos abordados, possuindo uma organização didática, explicando passo a passo cada etapa. Outro ponto importante a ser pontuado é a acessibilidade do material. Na era dos avanços tecnológicos, o material completo pode ser encontrado na internet, onde está disponibilizado de forma gratuita. Desta forma, professores e alunos de qualquer região do Brasil, por mais remota que seja, possuindo o acesso à internet, podem conhecer o método, sua forma de aplicação, além de adquiri- lo de forma digital. O kit completo do método é constituído por um livro guia para o professor- maestro e um livro para cada instrumento, da família das madeiras, metais e percussão. O livro do aluno divide- se da seguinte forma: 80 músicas do folclore brasileiro, 2 estudos para banda completa, 1 ditado melódico, 1 ditado rítmico, 2 exercícios para improvisação, exercícios de teoria, 2 arranjos de Nacional de Bandas da Colômbia, Fundação Carlos Gomes do Pará, Festival de Campos do Jordão, Encontros da Associação Brasileira de Educação Musical (ABEM) e Encontros Latino- Americano de Educação Musical
música folclórica para banda completa, 3 composições para banda, 3 estudos técnico- instrumentais e 8 exercícios de divisão musical. Bandas de Música no Estado do Pará Responsáveis pela formação de inúmeros instrumentistas de sopro e percussão em nosso país, as bandas de música atuam como um conservatório do povo (Salles, 1985), mostrando- se acessível a uma camada mais popular da sociedade. Barbosa (1996), já afirmava que a maioria dos instrumentistas de sopro e percussão que trabalham profissionalmente em bandas militares, civis ou orquestras, recebeu sua formação musical em Bandas. Para o autor, as bandas de música têm sido um dos meios mais utilizados no ensino de instrumentos de sopro e percussão em nosso país, superando o número de escolas de música. (BARBOSA, 1996.41). No estado do Pará, essa realidade não é diferente. Presentes nas mais variadas formações instrumentais, as bandas de música paraense possuem grande importância na formação de músicos sopro e percussão- no estado. Diante dessa realidade, diversos autores, vem investigando e discutindo em suas pesquisas o papel dessas bandas no cenário de ensino e aprendizagem musical no Pará. Nas duas últimas décadas, a região sudeste paraense assim como as demais regiões - vem intensificando a prática de ensino musical através das bandas de música. É comum, encontrarmos em diversos municípios dessa região, bandas que assumem o papel de escolas de música. Sobre essa realidade, Pereira (1999) afirma que as bandas de música no Brasil tornaram- se em muitos lugares, o único acesso ao ensino e aprendizagem musical, principalmente em cidades do interior, sendo responsáveis pela formação musical de seus integrantes. Compartilhando dessa mesma definição, Klander (2012) apresenta a banda como espaços legítimos de ensino de música no Brasil e afirma que: [...] em muitas cidades, o único lugar onde se pode aprender a tocar um instrumento musical. Esses agrupamentos apresentam- se como locais importantes de ensino e aprendizagem de música, onde ocorre o ensino de instrumento de forma individual ou coletiva, aulas de teoria musical, prática
instrumental em naipes e outras atividades musicais. Além disso, é intenso o convívio social dentro desses grupos, o qual proporciona diversas formas de aprendizado. (KLANDER, 2011, p. 12). Por tratar- se de uma prática que pode abranger vários contextos, o ensino de música em bandas ocorre de forma peculiar, levando em consideração o público, o objetivo do grupo, a formação instrumental, entre outros aspectos. BANDAS DE MÚSICA NO MUNICÍPIO DE MARABÁ Nos últimos anos, o ensino de música no município de Marabá vem intensificando- se com as atividades voltadas principalmente para banda de música. A prática instrumental através das bandas, é uma realidade muito presente no município, onde o mesmo é considerado referência no que diz respeito ao ensino de música nas regiões sul e sudeste do estado através das bandas, (Sousa, 2009). Dessa forma, identifica- se atualmente oito bandas de música em Marabá, atuando nos mais diferentes espaços e contextos, sendo 1 de escola especializada, 3 de projetos sociais e quatro de Igrejas Evangélicas. Apesar do número significativo de bandas atuantes em Marabá PA, nosso relato de experiência abordará apenas uma banda de música: Banda Waldemar Henrique, da escola de música Maestro Moisés Araújo. A Banda Waldemar Henrique, iniciou suas atividades no ano de 1998, sob o comando do professor e regente Amarildo Coelho. Foi a primeira banda de música formada no município, estando ligada a também primeira escola de música do município: Escola Maestro Moisés Araújo. Ao longo de seus 19 anos de atividades ininterruptas, a banda de música vem atuando de forma significativa no que diz respeito ao ensino musical e divulgação da música instrumental no município e na região. Dessa forma, justificamos nossa escolha, por entender o importante papel que a Banda Waldemar Henrique desenvolve no cenário musical de Marabá, atuando com maior número de instrumentistas e com maior tempo de atividades na cidade, formando inúmeros músicos instrumentistas de sopro e percussão que hoje atuam em diversas áreas de ensino da música.
Banda Waldemar Henrique e o Método Da Capo: considerações sobre sua aplicação. O método de ensino coletivo e/ou individual Da Capo, sempre esteve presente na história da Banda Waldemar Henrique. De acordo com nossa observação de professora e instrumentista de banda de Marabá, grande parte das bandas atuantes no município tiveram influência do método Da Capo. O criador do método, professor Dr. Joel Barbosa, sempre esteve presente no estado do Pará através da Fundação Carlos Gomes, onde atua como professor do curso de Bacharelado em Clarinete, além de outras iniciativas como festivais e encontros. Essa parceria, permitiu e ainda permite-, que ele ministrasse diversos cursos sobre bandas de música para regentes e instrumentistas das mais diversas regiões do estado. Muitos desses cursos, permitiram que o professor Joel Barbosa divulgasse o método Da Capo e os princípios da metodologia de ensino coletivo, dando instruções aos professores e alunos sobre como utilizarem o utilizarem. Dessa forma, regentes de diversos municípios do estado do Pará, tiveram acesso ao material e a cursos que orientavam a sua aplicação. Por isso, é comum encontrarmos bandas em diversas regiões do estado que utilizam o Método da Capo, devido o contato direto que os regentes tiveram com o material e as instruções adequadas de uso. Em Marabá, essa realidade não foi diferente. A Banda Waldemar Henrique, foi a primeira banda de música a utilizar o método Da Capo no município de Marabá e na região sudeste do estado do Pará. Conduzida pelo regente prof. Amarildo Coelho - que participou de cursos de prática de bandas com o prof. Joel Barbosa - a Banda Waldemar Henrique criada oficialmente em 1998, mas passou a utilizar o método no ano de 1999. Desde então, a Banda vem utilizando o método da Capo de forma ininterrupta. A aplicação do método na Banda Waldemar Henrique é dividida em três fases principais, a qual descreveremos a seguir: Aprendizagem Instrumental 1: nesta etapa, o aluno inicia as aulas de instrumento de sopro. Entretanto, os alunos nesta fase já são musicalizados, com domínio de leitura rítmica,
melódica e execução instrumental prática de flauta doce-. Estes sãos os requisitos mínimos para que se inicie nas aulas de instrumento de banda. Entende- se por parte dos professores responsáveis por esta etapa, que ensinar um instrumento de sopro para um aluno musicalizado, torna o processo de aprendizagem mais rápido e simples. Desta forma, o aluno que tem interesse em aprender um instrumento de sopro, deve se matricular nos cursos de musicalização, ofertados pela escola de música Moisés Araújo. Neste curso, o aluno aprende teoria musical, noções de solfejo e a prática instrumental através da flauta doce soprano. Esta etapa dura aproximadamente um ano e meio a dois, dependendo também do desenvolvimento do aluno. Após esse período de musicalização, o aluno é avaliado pelo professor de instrumento / regente da banda, que afirma se ele está apto para iniciar as aulas no instrumento de banda. As aulas de instrumentos - utilizando o método Da Capo a princípio ocorrem de forma coletiva (naipes de clarinetes, naipes de trompetes, naipes de flautas, etc...) onde são trabalhados aspectos de emissão de som, embocadura, postura e respiração, ensinando a digitação de notas de simples emissão, seguindo sempre as orientações do método. Essa fase, tem por objetivo principal familiarizar o aluno com o instrumento escolhido. Geralmente, dura em torno três a quatro semanas, e os grupos de estudos são constituídos de três a seis alunos do mesmo naipe de instrumento. Aprendizagem Instrumental 2: após concluírem a fase um de familiarização com o instrumento, os alunos aprendem notas de outros registros e prosseguem os estudos estudando as lições do método Da Capo, que apresentam estudos simples e claros, que podem ser trabalhados em forma de duos, trios, e banda completa. Nesta etapa, é comum que os alunos estudem em grupos, pois as lições também são dadas de forma coletiva. Entretanto, o professor de instrumento, que também atua como regente da banda, ao perceber que determinado aluno apresenta alguma dificuldade, passa a fazer um acompanhamento individual, para que o mesmo se iguale ao grupo. Esta fase geralmente dura em torno de 2 a 3 meses.
Ressalta- se que devido a Escola de Música Maestro Moisés Araújo não possuir um quantitativo de salas suficientes para o estudo em grupo ou individual, é comum que as aulas de instrumentos ocorram ao ar livre, em uma área ao redor da escola, como mostra a figura abaixo: FIGURA 1 Aula ao ar livre naipe de clarinetes. Fonte: Arquivo pessoal da autora. Aprendizagem Instrumental 3: nesta fase, que corresponde a etapa final de aplicação do método Da Capo, as lições apresentam mais dificuldades e complexidade. Dessa forma, os alunos passam a estudar as lições de forma individual, pois cada um vai apresentando um desenvolvimento próprio. Esses estudos são sempre orientados pelo professor de instrumento. Entretanto, apesar do estudo individual, as lições do método são executadas com a banda completa, ou seja, todos os naipes juntos, seguindo a estrutura de um ensaio de banda. Nesta etapa, forma- se uma espécie de Banda C, composta por alunos iniciantes no instrumento, e atuando como uma espécie de Laboratório para a banda principal. O repertório é constituído de lições do próprio método Da Capo, onde são trabalhados diferentes dinâmicas, articulações e fraseados, incluindo também formas, estilos e gêneros variados. Desta forma, os alunos vão se familiarizando com a estrutura de ensaio da banda.
Considerações sobre a utilização do método Da Capo. De acordo com nosso olhar de professora e instrumentista, verifica- se que o ensino proposto pelo método tem alcançado seus objetivos com êxito e com resultados positivos na Banda Waldemar Henrique. De acordo com relatos dos responsáveis por esse processo professores e regentes-, o método permite um trabalho para a banda completa, proporcionando um suporte de ensino sólido, onde há uma aprendizagem eficácia e satisfatória, devido ao suporte metodológico e a organização do que o método proporciona. Diferentes dos métodos tradicionais, onde a abordagem é especificamente prática, o método Da Capo enfatiza a prática coletiva em conjunto com a teoria musical aplicada, além de trabalhar o canto, a percepção e o solfejo, utilizando a música de tradição oral brasileira. CONCLUSÃO Nosso relato apresentou- se de forma breve a aplicação do método Da Capo na Banda Waldemar Henrique de Marabá Pará. Sem dúvida, o método se mostra como uma possibilidade viável de formação de bandas e instrumentistas, com resultados satisfatórios e uma metodologia de ensino adaptável em qualquer contexto e espaço educacional. Entretanto, acredita- se que discussão e pesquisas sobre o ensino de música em bandas no Brasil não se esgotam. Com isso esperamos ter contribuído com as discussões nesta temática, deixando uma porta aberta para futuros trabalhos, que relatem principalmente sobre essa prática nas regiões sul e sudeste do estado do Pará, onde as pesquisas ainda são escassas.
Referências BARBOSA, Joel L.S. Considerando a viabilidade de inserir música instrumental no ensino de primeiro grau. Revista da Abem, Porto Alegre, n.3 ano 3 p 39-49, jun 1996. KLANDER, Maria Ana. Bandas Musicais do Meio Oeste Catarinense: Características e processos de Musicalização. Florianópolis, 2011. PEREIRA, José Antônio. A Banda de Música; Retratos Sonoros Brasileiros. São Paulo: UNESP, 1999. MOREIRA, Marcos dos Santos. O método Da Capo na aprendizagem inicial da Filarmônica do Divino, Sergipe. Congresso Nacional da Associação nacional de Pesquisa e Pós Graduação em Música. V.15, n.1 p.126 140. Jun 2009. SALLES, Vicente. Sociedade Euterpe. Brasília edição do autor. 1995 SOUSA, Juliane Barbosa de Sousa. A Aplicação do Método Da capo na Banda Shallon Marabá - PA. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade do Estado do Pará. Belém Pa. 2009