Atividade de sensibilização ambiental para coleta de sementes em Sussuí Quixadá - CE

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Transcrição:

12008 - Atividade de sensibilização ambiental para coleta de sementes em Sussuí Quixadá - CE An activity of environmental awareness for collecting seeds in Sussuí Quixadá - CE LIMA, Fátima Aurilane de Aguiar 1 ; BRITO, Caio Bezerra de Mattos²; FRAGA, Andressa Rocha 2 ; SOMBRA, Cíntia Gonçalves 2 ; NASCIMENTO, Marília Alves do 2 ; BONILLA, Oriel Herrera 3. 1 Universidade Estadual do Ceará, integrante do Programa de Educação Tutorial do Curso de Ciências Biológicas (PET Biologia - UECE), fatima_aurilane@hotmail.com; 2 Universidade Estadual do Ceará, integrante do PET Biologia - UECE, petbio@uece.br; 3 Universidade Estadual do Ceará, Tutor do PET Biologia UECE, oriel.herrera@uece.br Resumo: A recuperação de ambientes degradados consiste na restauração de suas características originais por meio, principalmente, do plantio de espécies nativas já que estas são adaptadas às condições de seu ambiente natural. Por esse motivo, foram coletadas sementes de plantas nativas da caatinga, vegetação característica da comunidade de Sussuí Quixadá - CE, objetivando criar um banco de sementes para promover a recuperação da área bastante degradada. Para tanto, o grupo PET de Biologia da Universidade Estadual do Ceará reuniu-se com crianças da comunidade, em idade escolar, sensibilizando-as sobre a importância da coleta se sementes. Foram coletadas sementes de Cumaru, Jucá, Mofumbo, Leucena, Pau Branco e Sabiá. Posteriormente, foram ministradas palestras sobre a importância da preservação da vegetação e da semente como ponto de partida para a recuperação da flora local, explicando partes constituintes das sementes e suas respectivas funções. As atividades proporcionaram a troca de conhecimentos entre os universitários que passaram seus conhecimentos ecológicos e as crianças que mostraram seu conhecimento sobre a flora local. Palavras - Chave: Recuperação. Caatinga. Banco de Sementes. Conservação. Contexto: A vegetação da caatinga é, em geral, desconhecida e por isso, muitas vezes, degradada, não se conhecendo claramente suas características e os inúmeros benefícios que esta oferece. Dessa forma, foram desenvolvidas atividades de setembro de 2010 a fevereiro de 2011 em Sussuí, uma comunidade do sertão central cearense, situada a 30 minutos do município de Quixadá, que apresenta tipicamente a caatinga arbustiva densa ou aberta como vegetação, e está inserida no clima tropical quente semiárido. Ao longo do tempo a vegetação nativa de Sussuí foi bastante degradada devido ao desmatamento e às queimadas com o intuito de preparar o local para a pecuária e a agricultura de subsistência. A água disponível, tanto superficial quanto subterrânea, é geralmente salobra, o que muitas vezes inviabiliza seu uso nas lavouras, além de ser um fator de salinização dos solos. Esses processos e o solo arenoso litólico da região fazem com que haja tendência a desertificação. Por isso, fez-se necessária a intervenção no local, visando a preservação da região e a melhoria da qualidade de vida da população. Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 6, No. 2, Dez 2011 1

A intervenção foi realizada com o objetivo de sensibilizar as crianças para a conservação do ambiente, motivando-as a participar ativamente da coleta de sementes. Com esta ação, foi produzido um banco de sementes a fim de armazenar e conservar as espécies locais para cultivo. Posteriormente, construiu-se um viveiro para a produção e armazenamento das mudas, pretendendo-se promover o adensamento de áreas de vegetação em estado de intensa degradação. Descrição da Experiência As atividades foram iniciadas no mês de setembro de 2010 e realizadas uma vez por mês até fevereiro de 2011. A coleta das sementes nativas ocorreu em setembro e outubro, aproveitando-se a existência de sementes para coleta. Pôde-se observar que no mês de novembro e dezembro a quantidade de plantas encontradas com sementes foi pequena. Participaram das atividades 18 crianças na faixa etária de 08 à 14 anos, sendo estas o público-alvo das intervenções. Em visitas mensais, foram realizadas atividades lúdicas que enfatizaram o reflorestamento local e os cuidados necessários para o desenvolvimento e manutenção vegetal. Buscou-se construir um processo de educação ambiental, melhorando a relação das crianças com o ambiente, sendo bem aproveitados seus conhecimentos ambientais durante as atividades. Optou-se por trabalhar com as crianças para que estas levassem os conhecimentos adquiridos na experiência a suas casas e escolas, dando oportunidade de disseminação e perpetuação destes. Nos encontros, pôde-se compartilhar os conhecimentos obtidos na academia e os conhecimentos empíricos de quem vive no local. As coletas foram realizadas no período de estiagem, nos meses de setembro e outubro. Devido ao número reduzido de residências houve uma facilidade de convidar as crianças para participarem das atividades. Assim, no período da manhã, visitaram-se algumas residências próximas à escola da comunidade, explicando como seria a atividade e incentivando a participação das crianças. Na primeira visita, pela manhã, oito crianças ajudaram na coleta de sementes. Elas foram responsáveis pela determinação dos locais adequados, visto seu conhecimento do espaço onde cada espécie poderia ser encontrada e dos tipos vegetais presentes na região. À tarde, foram feitas a identificação e a triagem das sementes coletadas. Estas foram armazenadas em garrafas pet devidamente identificadas com o nome da espécie e a data de coleta. No dia seguinte realizou-se uma atividade lúdica. Inicialmente foi solicitado que as crianças imaginassem como gostariam de ver Sussuí após o cultivo das mudas. Em seguida, foram distribuídos papel e giz de cera colorido para que fizessem dois desenhos, o primeiro representando o que haviam imaginado e o segundo de uma das sementes coletadas e a árvore que originaria (Figura 1). Esse momento objetivou compreender a visão que as crianças tinham do ambiente da comunidade e o que elas esperavam como resultados do trabalho que estava sendo realizado. 2 Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 6, No. 2, Dez 2011

Figuras 1: Atividade lúdica realizada com as crianças. Fonte: FRAGA, 2010. Na segunda visita, já no mês de outubro, ocorreu o trabalho de coleta das sementes no período da manhã e a triagem no período da tarde. As sementes também foram devidamente armazenadas e identificadas. Outras crianças aderiram ao projeto durante o desenvolvimento das atividades, entre as viagens mensais, totalizando a participação de 18 crianças ao término do projeto. Durante as visitas posteriores, já nos meses de novembro de 2010 a fevereiro de 2011, foram realizadas palestras de aproximadamente 20 minutos, através das quais foram trabalhadas, principalmente, explicações sobre a semente, suas partes constituintes, como ocorre a germinação da mesma e quais fatores estão envolvidos neste processo. Para a realização das palestras utilizou-se recursos de data-show com a projeção de slides bastante coloridos para melhor atrair a atenção das crianças, além da utilização de sementes coletadas para mostrar, de forma prática, as partes constituintes das sementes. Na visita do mês de janeiro houve a semeadura de algumas das sementes coletadas para que as crianças aprendessem como é feita a produção de mudas. Na visita do mês de fevereiro foi aplicado um jogo elaborado pelo PET, grupo promotor da atividade, objetivando-se trabalhar a conscientização das crianças sobre os cuidados necessários para que a semente possa se desenvolver e se transformar em árvore, além de avaliar o que foi assimilado das atividades realizadas anteriormente. Este foi um trabalho de educação ambiental bastante significativo, já que auxiliou na mobilização da comunidade para a preservação do ambiente onde vivem através da influência das crianças com as quais todo o trabalho foi realizado. Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 6, No. 2, Dez 2011 3

RESULTADOS Nos trabalhos de etnobiologia, as comunidades tradicionais desempenham um papel fundamental na participação social do estabelecimento de políticas públicas conservacionistas. Isso devido ao seu alto conhecimento sobre a flora (etnobotânica), fauna (etnozoologia) e suas interações (etnoecologia). Durante a coleta, notou-se um grande conhecimento das crianças sobre a flora local. Quando questionado o nome de alguma planta ou tipo de semente, pelo menos uma criança do grupo respondia com precisão, reforçando a citação de Diegues (2000), na qual a valorização do saber empírico das diversas sociedades humanas, através de investigações no âmbito das etnociências, torna-se uma ferramenta necessária para o planejamento de ações que possam contribuir com a sustentabilidade dos recursos naturais manejados por tais populações. Nesse sentido, o grupo PET utilizou os conhecimentos práticos das crianças que, teoricamente, os adquiriram com seus familiares, para que após a coleta, fosse feita a separação e classificação das sementes com a colaboração das crianças. Foram coletadas sementes de croatá (Bromelia karatas L.), canafístula (Peltophorum dubium), cumaru (Dipteryx odorata), jucá (Caesalpinia férrea Mart), leucena (Leucaena leucocephala), marmeleiro preto (Croton sonderianus), mofumbo (Combretum leprosum Mart.), pau branco (Auxemma oncocalyx), sabiá (Mimosa caesalpiniifolia Benth.), embiratanha (Pseudobombax marginatum) e pereiro (Aspidosperma pyrifolium Mart.). Houve uma grande aceitação por parte das crianças, pois elas se divertiam compartilhavam experiências e contavam histórias sobre a região enquanto coletavam as sementes (Figura 2). As atividades de produção de desenhos, a participação nas palestras, o reconhecimento das partes da semente, o aprendizado sobre as formas de semeadura e sua intensa participação na aplicação do jogo, demonstram que os objetivos almejados foram alcançados. Além disso, a aceitação das atividades pelas crianças e seus familiares contribuiu para o bom desempenho dos trabalhos, ainda que algumas concepções e conceitos fossem dificéis de serem assimilados, possivelmente pela dificuldade na leitura que muitas apresentavam. Por isso, foi reservado um momento para esclarecer as dúvidas e discutir os assuntos. A aplicação do jogo didático abordando o reflorestamento e sua importância foi relevante para atingir os objetivos almejados como a integração das crianças com o meio em que vivem, a valorização da natureza e o aprendizado sobre formas de preservá-la. Houve uma grande aceitação do jogo pelas crianças, porém, algumas vezes foi necessário chamar a atenção para as frases contidas nas cartas, pois as crianças se distraiam com facilidade. No geral, houve uma aprendizagem mútua, pois as crianças aprenderam com os universitários o que foi trabalhado durante as atividades e estes, por sua vez, adquiriram conhecimentos sobre noções práticas. 4 Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 6, No. 2, Dez 2011

Agradecimentos Às crianças da comunidade de Sussuí, que se mostraram sempre dispostas a ajudar nas coletas, interessadas em aprender a importância da atividade para a restauração do ambiente e por terem nos passado seu conhecimento sobre a flora local, que antes era desconhecida por nós. Ao CNPQ pelo apoio financeiro. Ao Núcleo de Estudos e Práticas Permaculturais do Semiárido NEPPSA, pela construção do viveiro para o armazenamento das espécies semeadas. Ao professor Oriel Herrera Bonilla, pela orientação nos trabalhos desenvolvidos. À Renata Torquato, que ajudou na coleta de sementes e na conscientização das crianças sobre a importância da atividade desenvolvida. Aos demais integrantes do PET que ajudaram na efetivação das atividades. Referência Bibliográfica Figuras 2: Crianças que ajudaram na coleta de sementes. Fonte: SOMBRA, 2010. DIEGUES, A. C. O Mito Moderno da Natureza Intocada. Ed. Hucitec. São Paulo, pp. 25 39. 2000. Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 6, No. 2, Dez 2011 5