Nova Geografia Econômica

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Transcrição:

Nova Geografia Econômica Teoria e Implicações para Políticas Regionais ECONOMIA REGIONAL E URBANA Prof. Vladimir Maciel

Nova Geografia Econômica Características gerais: Conjunto de teorias que privilegiam a utilização de modelos de escolha racional aplicados ao espaço. Principais autores: Paul Krugman, Anthony Venables e Masashita Fujita. Outros autores importantes: Jacques F. Thisse, Diego Puga, Edward Glaeser.

Ponto de Partida Os modelos tradicionais de ERU não apresentam uma explicação para o porquê das forças que levam à aglomeração espacial (não apresentam uma estória plausível). Ou seja, essas abordagens não apresentam uma teoria consistente sobre como os agentes (empresas, consumidores e trabalhadores) se dispersam e se organizam no espaço. Busca por microfundamentação.

Base Teórica Teoria microeconômica Modelo de concorrência monopolista (Dixit- Stigltz) economias de escala e diferenciação de produtos

Modelo Básico Centro-Periferia (com mobilidade de Lm) 2 regiões (Norte e Sul) 2 setores produtivos Tradicional (agrícola) Retornos Constantes à Escala; Concorrência Perfeita. Moderno (manufatureiro) Retornos Crescentes à Escala; Concorrência Monopolista. 2 fatores produtivos La (trabalho na agricultura) Não-móvel, igualmente distribuído entre as regiões e não qualificado. Lm (trabalho na manufatura) Móvel entre as regiões e qualificado.

Lógica do Modelo Situação inicial: equilíbrio simétrico. Choque: uma empresa migrar, por exemplo, do Norte para o Sul. Ajuste: atuação de forças centrípetas, centrífugas e efeitos cumulativos a partir da migração de trabalhadores do Norte para Sul (na busca de maiores salários reais). Resultado: a formação de um centro produtor e exportador de manufaturados (Sul por ex.) e de uma periferia produtora de agrícolas e importadora de manufaturas (Norte por ex.).

Síntese do Modelo Básico Centro Periferia (com mobilidade de Lm)

Ganhos da Aglomeração e Custos de Transporte

Limites Teóricos No lado da oferta não existe nenhuma interdependência estratégica entre as firmas. Formação de preços lembra a do setor competitivo. As firmas são totalmente móveis (não há sunk costs ). Custo de transporte do tipo melting costs é questionável.

Críticas O modelo é estático. As firmas são agentes passivos e homogêneos. A renda fundiária (renda da terra) é ausente. Não há uma discussão mais sistemática e ampla sobre os mercados e as regiões periféricas. Não se incorporam lugares complexos (o espaço é homogêneo clean space ). Não se lida com os aspectos e relações sociais das aglomerações.

Implicações para Políticas para Desenvolvimento Regional Políticas de Transportes. Políticas Regionais de Inovação Tecnológica, Educação e Disseminação de Informação. Políticas Regionais de Emprego. Políticas Regionais de Incentivos Fiscais.

Custos de Transportes Ambigüidade em relação aos efeitos dos custos de transporte: Argumento tradicional: redução dos custos de transporte integra regiões mais isoladas aos grandes centros, favorecendo seu desenvolvimento. Contra-argumentação: pela análise da NGE, uma redução do custo de transporte pode ampliar a concentração regional e levar regiões periféricas à regressão econômica uma estrada é uma via de mão-dupla.

Política de Transportes Para ser bem sucedida: integrar prioritariamente regiões cujas indústrias sejam complementares e não concorrentes. No caso de 2 regiões com setores concorrentes (substitutos): integrar região periférica cujas indústrias tenham condição de concorrer. Desenvolver sistemas intra-regionais de transportes (favorece o acesso aos mercados locais).

Inovação e desenvolvimento local Atividades econômicas tendem por si só a se aglomerarem. As aglomerações produtivas regionais (centros industriais) crescem a taxas acima da média nacional. Inovações tecnológicas ocorrem com mais intensidade em aglomerações e, ao ocorrerem, reforçam ainda mais a expansão dos centros consolidados.

Política Regional para Inovação Regiões periféricas deveriam adensar-se por meio de atração de capital: Por barateamento da mão-de-obra; Por estímulos diretos à migração de K. Estimular a disseminação e difusão sem custo de tecnologias: Descentralização de núcleos de P&D; Criação de parques tecnológicos e e universidades. Política de qualificação de mão-de-obra. Seleção de centros intra-regionais para localizar os núcleos tecnológicos: ambiente econômico minimamente diversificado.

Mercados de Trabalho Regionais Existência de bolsões regionais de desemprego. Assimetria dos mercados de trabalho regionais.

Políticas Regionais de Emprego Capacitação técnica e qualificação da mão-de-obra nos bolsões de desemprego. Regiões mais carentes de educação => ênfase na educação básica. Coordenação e escala das políticas regionais: não devem se ater aos limites municipais e estaduais (limites administrativos) a escala tem que ser regional, senão haverá falhas de coordenação e exportação de custos de treinamento. Definição de políticas salariais regionais (salários mínimos regionais em vez de nacionais).

Incentivos fiscais Há fatores aglomerativos (como encadeamentos de custo e de demanda) que podem compensar os incentivos governamentais. Esforço fiscal de uma região é inversamente proporcional ao tamanho do seu mercado local e do grau de diversificação na sua oferta de insumos.

Políticas Regionais de Subsídios e Isenções Fiscais Pouco eficientes: Uniformização tributária interregional favorece a reafirmação dos atuais pólos de atividade. Liberalização tributária e guerra fiscal são muitos custosas e tem resultados limitados (dados os fatores aglomerativos das regiões centrais): Os setores mais propensos à desconcentração são aqueles que possuem menos elos intra e intersetoriais (baixos efeitos de encadeamento e de dinamização da economia local). São mais atraídas as indústrias leves (mais intensivas em mão-de-obra) e produtoras de bens homogêneos.

O que ler José Pedro Pontes; A Política Regional Portuguesa e as Economias de Aglomeração. Págs. 34-44. Ricardo Machado Ruiz; Políticas regionais na nova geografia econômica. Págs. 143-160.