RECURSOS INCLUSIVOS E PRÁTICAS EDUCATIVAS "Se a educação não é inclusiva, não é educação." Sueli Santos (2007) Prof. Lauren Veronese 1 Prof. Marilena Assis 2 RESUMO As classes da educação de jovens e adultos (EJA) são um espaço pedagógico de inclusão e de acolhimento das diferenças dos educandos, tendo em vista as suas histórias de vida e potencialidades individuais e coletivas. A presença de alunos com deficiência visual faz com que haja uma reorganização no planejamento e execução das aulas, pois são necessários recursos inclusivos, práticas, técnicas e métodos diferenciados que atendam às peculiaridades deste segmento. Todos os alunos precisam ser envolvidos neste processo, uma vez que podem ser beneficiados com práticas que englobem todos os sentidos, em especial, recursos táteis para que o conhecimento seja apresentado e vivenciado através do concreto. As tecnologias estão ocupando um lugar importante no desenvolvimento dos alunos, suprindo necessidades e ampliando possibilidades. Desta forma a inclusão na EJA dá-se de forma ampliada provocando o desenvolvimento de recursos pedagógicos inclusivos, bem como práticas e métodos educativos diferenciados que envolvam o coletivo da sala de aula. PALAVRAS-CHAVE: Educação inclusiva. Recursos pedagógicos; Práticas educativas. Planejamento coletivo. A educação de jovens e adultos, historicamente, têm recebido alunos que vêm egressos do ensino regular diurno. A cada dia que passa, adolescentes e jovens têm aumentado os bancos escolares de EJA. Nesse mesmo contexto, encontramos também adultos, idosos e pessoas com deficiência incluídos. ASSIS e CORLASSOLI (2011, p. 3) trazem a questão que nos interessa responder aqui: como desenvolver uma prática. pedagógica 1 Lauren Veronese, professora do CMET Paulo Freire 2 Marilena Assis, professora da SIR Visual do CMET Paulo Freire
significativa nesse espaço, tendo em vista as especificidades desses sujeitos?. Para tanto, relatamos algumas práticas utilizando materiais de fácil confecção, manuseio, armazenamento e substituição, possibilitando também a sua reprodução artesanal. Estas práticas estão sendo desenvolvidas em turmas de alfabetização de uma escola de EJA, o Centro Municipal de Educação dos Trabalhadores (CMET) Paulo Freire. A história da inclusão de alunos com deficiências no CMET Paulo Freire começa em 1993, quando recebemos alunos que vinham da Escola Especial Nazareth, do COPA (Centro de Orientação e Preparação para o Trabalho), da Escola Especial de Ensino Fundamental Lygia M. Averbuck e da Escola Especial de Ensino Fundamental Tristão Sucupira Viana. (BUSETTI, 2008, p. 75). Em maio de 1998, surgiu a primeira turma de alunos surdos do CMET, através do movimento da comunidade de surdos junto ao Orçamento Participativo. No ano de 2000, criou-se no CMET Paulo Freire uma Sala de Integração e Recursos (SIR) Visual, com uma professora capacitada nessa área e cinco alunos com deficiência visual que foram incluídos nas turmas de alfabetização. Desde então, vimos desenvolvendo práticas educativas e recursos inclusivos, que não são tão somente utilizados por alunos com deficiência visual, mas por todos os alunos da turma. Em geral, todos os materiais têm como objetivo trabalhar com psicomotricidade, desenvolvimento do tato, a criatividade e conceitos específicos das diferentes áreas do conhecimento. A saber: 1) Fios de arame: material semelhante aos utilizados para fechar embalagens plásticas. Por serem maleáveis, possibilitam a representação de formas, letras, números e os mais variados símbolos. Na nossa prática, utilizamos os fios para compor a figura humana: cabeça, tronco membros proporcionais. Estes corpos podem receber roupas e rostos e tornarem-se personagens das histórias de vida dos alunos ou outras fictícias, ganhando forma e vida em filmes de animação 2) Dinheiro Chinês: trata-se do material desenvolvido por um grupo de professores da UFPE (Terezinha Carraher, David Carraher e Analúcia Schliemann) e adaptado por nós num formato inclusivo para alunos com deficiência visual. Consiste de cartão nas cores verde, vermelho, azul e amarelo em tons fortes, cortados, cada cor, num formato geométrico (triangulares, circulares, quadrangulares, retangulares). As atividades
propostas são criação de desenhos usando as formas; ditado de números; operacionalização da adição, subtração, multiplicação e divisão e os jogos com dados. Desenvolvem-se, sobretudo, estratégias de cálculo mental e uso do sistema monetário. 3) Alinhavo Inclusivo: é composto por peças quadradas perfuradas, e cadarços coloridos. O material oferece liberdade de criação, trabalho psicomotor, desenvolvimento de conceitos da matemática, formas geométricas e outros. 4) Baralho adaptado para contagem com o sinal de número. Os naipes não foram escritos em Braille, pois esta adaptação tem como objetivo desenvolver o tato, aprender os símbolos que formam os números em Braille e somar. São vários os jogos de baralho e, alguns alunos têm conhecimento de jogos que compartilham com a turma. O jogo de Escova, que tem por objetivo totalizar 15 através da soma de cartas, é um bom exemplo. Utilizar jogos na prática educativa é um recurso importante para a integração dos alunos, como aponta FORTUNA (2008) e resgata um dos direitos fundamentais da criança e do adolescente. O artigo 16 do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei Federal 8.969/1990) discrimina, dentre os aspectos que compreendem o direito à liberdade, o de brincar, praticar esportes e divertir-se. Os adultos pouco escolarizados, cuja infância foi marcada pela necessidade de trabalhar desde muito cedo, muitas vezes não tiveram garantido esse direito. Assim sendo, a prática de jogos na EJA resgata o lúdico retratando experiências do cotidiano da vida adulta (o uso do sistema monetário e os jogos de baralho, por exemplo). No que se refere a inclusão de alunos com deficiência visual que, por limitações táteis, não podem fazer uso com agilidade do código Braille para leitura, o computador tem sido uma ferramenta imprescindível para o processo de inclusão. Estes alunos podem, por meio do Sistema DOSVOX e do N. V. D. A., que é uma plataforma para leitura de tela, acompanhar a leitura de um texto, simultaneamente, com os demais alunos da turma. A interação com o professor, e a intervenção pedagógica dá-se em tempo real. A tecnologia, irrevogavelmente, faz parte da realidade atual, do cotidiano de todos nós. Os equipamentos tecnológicos mudaram toda uma cultura e nós estamos nos adaptando a ela. Há um divisor geracional onde, quem nasceu nos últimos vinte anos, vive a tecnologia do seu tempo e nós (maiores de 40 anos) precisamos incorporá-la. Atualmente nós vamos muito além do uso do computador simplesmente para leitura e escrita. Como descrevem SAVI e ULBRICHT (2008), as mídias existem cada vez
mais atraentes, as salas de aula se tornam lugares monótonos para os alunos acostumados ao dinamismo das buscas feitas na internet, com a velocidade das mensagens instantâneas e a versatilidade do telefone celular. A tendência hoje é de que as tecnologias de informação ampliem a presença nas práticas de ensino e, nesse contexto, entende-se que os jogos digitais educacionais podem ser elementos importantes para enriquecer aulas e ambientes virtuais de aprendizagem. Os alunos com deficiência visual não podem ser privados do acesso a estes recursos tecnológicos. DOMINGUES et al (2010) trazem descrição detalhada dos recursos das tecnologias de informação e comunicação que podem ser utilizados na inclusão de alunos de baixa visão e cegueira. Estamos habituados aos recursos visuais como o traçado do lápis e do mouse. A primazia de recursos visuais nas práticas educativas limita o desenvolvimento dos outros sentidos. Realizar uma prática que envolva diferentes recursos aumenta o espectro de desenvolvimento das capacidades e habilidades humanas. O trabalho realizado com as diferenças dos educandos aponta para novas técnicas e recursos que venham possibilitar o trabalho coletivo no mesmo tempo e espaço. Os materiais que utilizamos em sala de aula devem atender as peculiaridades dos alunos, bem como serem atraentes e motivadores. Quando se planeja uma aula inclusiva deve-se ter um olhar para todas as diferenças, assim a linguagem deve ser compreensível para todos, e todos os alunos devem trabalhar com o mesmo material porém, não basta uma legislação (Projeto Político Pedagógico) e uma Gestão Administrativa serem inclusivos. Por si só não mudam as práticas educativas. Esta é individual, na sala de aula. O professor deve estar sensível às peculiaridades dos alunos da EJA e promover uma prática que atinja as suas necessidades. As experiências vivenciadas com as diferenças provocam uma desacomodação, um desconforto, um dar-se conta das nossas próprias dificuldades e habilidades, uma transposição para a necessidade de que temos de expandir o nosso olhar e escuta sensíveis e a nossa capacidade de criação. REFERÊNCIAS ASSIS, Marilena e CORLASSOLI. Adilso L. P.. ANAIS DO II ENCONTRO REGIONAL VIVENCIANDO UMA ESCOLA PARA TODOS, 2011. A inclusão de alunos com deficiência visual nas classes de educação de jovens e adultos: transformando o sujeito e transformando-se com ele. P 3.
http://www.faders.rs.gov.br/uploads/1309280825a_inclusao_de_alunos_com_deficiencia_ Visual_nas_Classes.pdf BUSETTI, Dione Maria Detanico. Os desafios da inclusão da EJA: um relato do CMET Paulo Freire. In: Inclusão Escolar Práticas & Teorias. MEDEIROS, Isabel L., MORAES, Salete C. de, SOUZA, Magali D. de (orgs). Porto Alegre, Redes Editora. 2008. p.75-81 DOMINGUES, Celma dos Anjos. A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar: os alunos com deficiência visual: baixa visão e cegueira / Celma dos Anjos Domingues... [et.al.]. - Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial; [Fortaleza]: Universidade Federal do Ceará, 2010. v. 3. (Coleção A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar) FORTUNA, Tânia. O brincar, as diferenças, a inclusão e a transformação social. Ato de Pesquisa em Educação, PPGE/ME- FURB, v.3, n 3, set/dez-2008, pp.460-472. SANTOS, Sueli Souza dos. Linguagem e subjetividade do cego na escolaridade inclusiva. Tese (Doutorado) Faculdade de Educação. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2007, p.193. SAVI, Rafael e ULBRICHT, Vania Ribas. Jogos Digitais Educacionais: Benefícios e Desafios. Novas Tecnologias na Educação. CINTED-UFRGS. V.6 Nº2, Dezembro, 2008.