Memorando Construção Civil e Instalações Desoneração da Folha de Pagamento Setembro de 2013 Publicada em 19 de julho, a nova Lei nº 12.844, alterando a Lei nº 12.546, ampliou de forma definitiva o rol das empresas sujeitas ao novo regime da desoneração da folha de salários, reintegrando o setor da construção civil, o qual estava excluído do regime em razão da perda da vigência da MP 601. Assim, as empresas do setor de construção civil que estejam enquadradas nos grupos dos CNAEs previstos na lei, passam a ter suas folhas de salários desoneradas da contribuição patronal em substituição à contribuição sobre a receita bruta (2%). Em que pese a intenção do Governo em desonerar o setor, incentivando assim a contratação de mão de obra pelo regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), as diversas alterações nas regras deste novo regime geraram diversas dúvidas e insegurança quanto à sua aplicação, o que ocorre novamente com a publicação da Lei nº 12.844, uma vez que esta nova lei trouxe novidades e algumas incertezas. Desta forma, o presente memorando busca tratar e esclarecer os diversos questionamentos que vem sendo levantados pelo setor de construção, de forma a orientar as empresas no cumprimento de suas obrigações e riscos envolvidos. I. Qual legislação rege sobre as contribuições previdenciárias e seu novo regime? Lei nº 8.212/91, Lei nº 12.546/2011, Lei nº 12.715/2012, com as alterações promovidas pela Lei nº 12.844/2013, e Decreto nº 7.828/2012. II. Quais são as alterações em relação à contribuição previdenciária patronal? a) A contribuição previdenciária patronal de 20% sobre o total da folha de pagamento de empregados, trabalhadores avulsos e contribuintes individuais será substituída pela contribuição de 2% sobre a receita bruta, excluídas as vendas canceladas e os descontos incondicionais concedidos. b) O percentual de retenção da contribuição previdenciária sobre as notas fiscais ou faturas de prestação de serviços com cessão de mão-de-obra será reduzido de 11% para 3,5%, quando emitidas pelas prestadoras contempladas pelo novo regime de contribuição sobre a receita bruta.
III. Quais são as atividades inseridas pela Lei nº 12.844 sujeitas ao novo regime de contribuição previdenciária patronal sobre a receita bruta? As empresas enquadradas nos grupos 412, 432, 433 e 439 da CNAE 2.0 (Classificação Nacional de Atividades Econômicas), que se referem às seguintes atividades: (i) construção de edifícios; (ii) instalações elétricas; instalações hidráulicas, de sistemas de ventilação e refrigeração, obras de instalações em construções não especificadas anteriormente; (iii) obras de acabamento; (iv) obras de fundações; e (v) serviços especializados para construção não especificados anteriormente. A nova lei ainda trouxe a inclusão, a partir de janeiro de 2014, das empresas de construção de obras de infraestrutura, enquadradas nos grupos 421, 422, 429 e 431 da CNAE 2.0: (i) construção de rodovias e ferrovias, de urbanização e de tuneis e pontes, viadutos e etc.; (ii) obras de infraestrutura para energia elétrica, telecomunicações, água, esgoto, e transporte por dutos; (iii) demais obras de infraestrutura; e (iv) demolição, terraplanagem, perfurações, sondagem e demais obras de preparação de terrenos (grupo 431). Vale destacar que não estão abrangidas pelo novo regime as empresas com atividade de Incorporação de Empreendimentos Imobiliários (grupo 411). IV. Quais contribuições serão substituídas pela contribuição sobre a receita bruta? A contribuição sobre a receita substitui apenas a contribuição previdenciária patronal de 20% sobre a folha de salários, não alterando a forma de recolhimento da contribuição para o RAT e a contribuição para outras entidades e Fundos (terceiros). V. Qual o período de vigência do novo regime de contribuição sobre a receita bruta trazido pela Lei nº 12.844? A lei trouxe diferentes situações que devem ser consideradas para fins de se determinar a partir de qual data a empresa enquadrada no novo regime deverá passar a recolher a
contribuição previdenciária sobre a receita bruta, em substituição à contribuição patronal incidente sobre a folha de salários. As empresas devem respeitar as seguintes regras, conforme a data da matrícula da obra no Cadastro Específico do INSS CEI: Data da Matrícula no CEI Até 31/03/13 De 01/04/13 a 31/05/13 De 01/06/13 a 31/10/13 A partir de 01/11/13 Forma de Recolhimento da Contribuição Contribuição sobre a folha Contribuição sobre a Receita Bruta Contribuição sobre a folha ou receita bruta. Opção irretratável realizada mediante o pagamento. Contribuição sobre a Receita Bruta Apesar de não explicitado no texto legal, o entendimento majoritário é de que a regra de aplicação do regime de contribuição de acordo com a data da matrícula do CEI é aplicável apenas quando a empresa for responsável pela matrícula. A Receita Federal ainda deve confirmar sua concordância ou não com esse entendimento. Já as empresas não responsáveis pela matrícula da obra devem observar apenas o início da vigência do novo regime para o setor. Conforme dispõe o artigo 49, II, a da lei em referência, o início da vigência da contribuição sobre a receita bruta se dá a partir do primeiro dia do quarto mês subsequente ao da publicação da Lei nº 12.844, isto é, a partir de 1º de novembro de 2013. Há a possibilidade de retroatividade do início desta vigência, conforme esclarece o item VI deste memorando. VI. Há possibilidade de retroatividade do novo regime para o período entre a MP 601 e o início da vigência estabelecida na Lei nº 12.844? Tendo a Medida Provisória 601 perdido sua eficácia em 3 de junho de 2013, desde então as empresas anteriormente enquadradas na desoneração deveriam, a princípio, ter retornado ao regime antigo, recolhendo a contribuição patronal de 20% sobre a folha de salários. A Lei nº 12.844 trouxe a possibilidade de retroagir a vigência do regime sobre a receita bruta para o dia 4 de junho, sendo a opção feita quando do recolhimento da contribuição de competência de junho, que se dá no dia 20 do mês subsequente (julho). Ocorre que, a Lei 12.844 somente foi publicada em edição extraordinária do Diário Oficial da União do dia 22 de junho, ou seja, após a data de recolhimento referente à competência de junho. Portanto, as empresas que fizeram o recolhimento sobre a receita bruta referente à competência de junho (recolhimento em 20 de julho) devem continuar recolhendo a
contribuição sob o novo regime nas próximas competências. Por outro lado, as empresas que recolheram a contribuição patronal sobre a folha de salários somente passarão a recolher sobre a receita bruta a partir de 1º de novembro, devendo ainda observar, quando responsável pela matrícula CEI, as orientações constantes do item V. VII. O novo regime é obrigatório, mesmo que represente maior custo fiscal? Sim, o regime é obrigatório para todas as empresas com atividades enquadradas nos grupos da CNAE especificados na Lei nº 12.844, ainda que a alteração de regime implique em uma carga maior de contribuição, o que pode ocorrer nos casos de empresas com menor quantidade funcionários ou que terceirize maior parte da mão de obra na prestação dos serviços. VIII. O valor da retenção sobre a fatura e notas fiscais de serviços com cessão de mão de obra poderá ser compensado com a contribuição devida sobre a receita bruta? De acordo com o entendimento apresentado pela Receita federal na Solução de Consulta nº 73, 16 de julho de 2013, as empresas que prestam serviços mediante cessão de mão de obra podem compensar o valor retido com as contribuições incidentes sobre a folha de salários dos segurados, não havendo previsão para compensação com a contribuição sobre a receita bruta, cabendo a compensação com contribuições devidas nos meses subsequentes ou solicitar a restituição do saldo acumulado das retenções. Esse entendimento é questionável, pois o novo regime de contribuição não poderia prejudicar o direito de compensação, pois a retenção trata-se de antecipação do pagamento da contribuição devida pelo contribuinte. No que diz respeito à compensação do saldo acumulado dos valores retidos, vale destacar que a Receita Federal vem admitindo a possibilidade de compensar créditos previdenciários com débitos de outros tributos federais. Assim, no caso de acúmulo de crédito previdenciário, seria possível solicitar a compensação com outros tributos junto à Receita Federal. IX. As empresas em fase pré-operacional se enquadram no novo regime desde o início? Segundo orientação da própria Receita Federal (Solução de consulta nº 244/12), a substituição da contribuição sobre a folha de pagamentos pela contribuição sobre a receita bruta só é aplicável após o início das atividades tributadas pelo novo regime, devendo a empresa em fase pré-operacional contribuir sobre a folha de salários.
X. Como deve ser feito o recolhimento das contribuições para as empresas enquadradas no regime de desoneração? O recolhimento da contribuição patronal sobre a folha continua a ser feito em Guia da Previdência Social GPS, por estabelecimento da empresa, com aplicação do redutor. A contribuição substitutiva incidente sobre a receita bruta deve ser recolhida em DARF, de forma centralizada pelo estabelecimento matriz, utilizando-se do código 2985 para serviços e 2991 para indústria. (Base legal: Ato Declaratório Executivo CODAC nº 86/2011) XI. No tocante ao recolhimento previdenciário em processos trabalhistas, como a empresa deverá proceder caso esteja sujeita ao novo regime de contribuição previdenciária? As contribuições previdenciárias decorrentes de reclamações trabalhistas serão recolhidas de acordo com o período do seu fato gerador. Caso sejam valores de período anterior ao novo regime, deverão ser recolhidas com base na folha de pagamento. Tratando-se de contribuições cujos fatos geradores após o início da vigência da contribuição sobre receita bruta, estas não serão recolhidos sobre a folha de salários. Em decorrência da inexistência mencionada de dispositivo legal disciplinando tal procedimento, é recomendado que a empresa consulte antecipadamente o respectivo órgão regional competente em matéria de arrecadação da RFB, para confirmar o procedimento a ser adotado. XII. No caso de empresa que apura faturamento em duas atividades distintas, estando somente uma delas sujeita às novas regras da Lei nº 12.844, como se deve apurar a contribuição previdenciária patronal? A empresa que exercer atividades distintas, isto é, enquadradas em grupos da CNAE abrangidos e não abrangidos pela desoneração, deve considerar apenas a CNAE principal para que seja determinado se a empresa deve contribuir sobre a folha de salários ou sobre a receita (art. 9, 9º da Lei 12.546). Para esse propósito, considera-se CNAE principal o da atividade que representa maior receita para a empresa. XIII. Empresas do setor de construção civil optantes pelo SIMPLES estão sujeitas ao novo regime? As micro e pequenas empresas optante pelo regime do SIMPLES Nacional, em regra, não estão sujeitas ao recolhimento da contribuição previdenciária sobre a receita bruta. No entanto, conforme orientação da Receita Federal, a micro e pequena empresa do setor de construção civil, enquadrada no Anexo IV da Lei do Simples (LC 123/06), são exceção à regra e devem se sujeitar ao regime da desoneração. (Base legal: Solução de Consulta nº 35/13)
XIV. Além das novas regras para apuração da contribuição patronal, a Lei nº 12.844 trouxe alguma outra medida de desoneração fiscal? A lei também dispôs que, desde 1º de janeiro de 2013, para cada incorporação imobiliária submetida ao Patrimônio de Afetação e ao Regime Especial de Tributação (RET), a carga fiscal foi reduzida de 6% para 4% da receita bruta, a qual corresponderá ao pagamento mensal unificado do seguinte imposto e contribuições, corroborando a previsão desse beneficio que existia na extinta Medida Provisória.. HBC Advogados Associados Rua Fidêncio Ramos, 195 Cj.85 CEP 04551-010 Vila Olímpia São Paulo SP Tel. (11) 3842.4485 hbclaw@hbclaw.com.br www.hbclaw.com.br