Resenha crítica sobre o livro Volta ao mundo em 13 escolas



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Transcrição:

Resenha crítica sobre o livro Volta ao mundo em 13 escolas Volta ao mundo em treze escolas é um projeto/pesquisa do Coletivo Educação, formado por quatro pessoas interessadas em descobrir e discutir novos olhares sobre a educação. Foram visitados nove países em cinco continentes, buscando histórias e iniciativas dentro de treze espaços, que de alguma forma contribuísse para uma educação contemporânea baseada na autonomia, na felicidade e na cooperação. Este livro fala de possibilidade de mudanças, de resgate de sonhos e de esperanças. Fala de pessoas com atitudes, de posicionamentos claros e de amor pelo o que se faz. Quatro amigos. André Gravatá, Camila Piza, Carla Mayumi e Eduardo Shimahara, unidos pelo sonho de uma educação inovadora, juntos fundam o Coletivo Educ-ação e iniciam uma jornada que duraria quase dois anos, com o objetivo de escrever um livro. Nós vamos compartilhar o que de mais inspirador encontramos pelo caminho percorrido [...]. Sonhos de educação. E educação, para além da escola, é escolha do mundo que queremos no presente, dos saberes que valorizamos, do futuro que sonhamos. Educação é a ação de criar, nutrir, cultivar. É cultivar o ato de aprender. (p.9) Mais do que desenvolver teorias, o grupo queria observar pessoas, pois são elas que fazem a diferença. A educação não é feita apenas de governo, de sistemas, mas sim de atitudes, de pessoas comprometidas e sonhadoras. Os espaços visitados tiveram um olhar bastante minucioso, mas nunca um olhar apenas, como no próprio livro diz, os pesquisadores ora observavam com um olhar de educadores, ora de estudantes, ora de pai e mãe. Os pontos mais observados foram a autonomia, a cooperação e a sustentabilidade, princípios estes em comum na maioria das escolas, embora na prática nem todos são levados realmente a sério. Pilar Lacerda, educadora e ex-secretária de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC), tem uma história engraçada nesse sentido. Ela conta que o princípio da autonomia aparece na maioria dos planos pedagógicos brasileiros, que visam formar cidadãos críticos e ativos, mas raramente esses planos são respeitados. Quando ela visitava escolas, uma cena se repetia: o tal cidadão crítico sempre se encontrava na sala da diretora, sendo repreendido por sua capacidade de crítica e subversão. (p. 12) Este é um exemplo do qual vemos em muitas instituições de ensino, onde o PPP é muito bem elaborado, se preocupa com os menores detalhes para que aquela educação seja plena e consistente, porém a realidade é outra: o aluno não é valorizado, os principais pontos do plano político passam despercebidos e toda uma série de

bandeiras que são erguidas teoricamente, na prática não fazem parte do cotidiano escolar, tornando aquele mundo de sonhos numa realidade frágil e precária. Cada visita feita, cada escola encontrada, trazem consigo inúmeros ensinamentos do que uma gestão interessada no seu aluno e com coragem para inovações é capaz de fazer. Escolas que optaram pela integração entre as áreas de conhecimento dando liberdade aos seus alunos de escolher temas que mais tarde se tornam a base de todas as disciplinas. Escolas baseadas na autonomia, que enxergam no aluno potencial suficiente para entregar a ele as rédeas da situação. Instituições que acreditam na arte como ponto de partida para todo conhecimento. Que entendem que cada um tem seu valor, que cada ser é diferente um do outro e que cada aluno merece respeito e valor, independente de onde venha e de como venha. Alguns pontos em comum, me chamaram a atenção, como por exemplo, escolas que possuem seus portões abertos para toda a comunidade. Alunos, funcionários, moradores do bairro, todos tem acesso à escola, graças à coordenadoras que assim administram estas instituições, baseadas nos pensamentos do educador Paulo Freire. Em uma das escolas mencionadas no livro, as portas estão sempre abertas, moradores de rua, mesmo sem endereço fixo, podem retirar livros na biblioteca, os alunos com antecedentes negativos não são questionados por seus erros. Há também projetos sociais criados e desenvolvidos pelos próprios alunos, além de ações com impacto local, como a instalação de um semáforo no bairro, campanhas contra o cigarro, a criação de uma horta para a doação dos alimentos a uma creche próxima, ou seja, a instituição faz com que os alunos se sintam úteis para com eles mesmos e com a sociedade, e é isso que faz com que eles se sintam bem naquele lugar, se apaixonando mais por si mesmos. Percebo que esse tipo de escola têm seus pilares erguidos na confiança. Quando alguém se mostra totalmente aberto para quem quer que seja, demonstra confiança independente da sua origem ou do seu passado, o outro vai se sentir confiante e consequentemente irá retribuir este sentimento, praticando ações para que o elo de confiança que nasceu não se quebre. Acredito na lei do retorno, no sentido do que se dá, se recebe e talvez aí está a grande chave da questão: Por que as escolas não confiam em seus alunos? Por que não dar um voto de confiança para que os mesmos se sintam confiantes e bem no lugar onde estão? Por que tantas grades? Tantas portas fechadas? Tantos olhares de suspeita?

Nestas escolas também se preza pela proximidade de aluno e professor. Enquanto se resolve dúvidas, também se conversa, também é possível se conhecer melhor, estreitando relações. Cada aluno tem uma forma de aprender, conhecendo melhor suas dificuldades, suas fraquezas, suas habilidades, seus problemas em casa, é possível criar formas que facilitem esse aprendizado. Enquanto se tira uma dúvida de matemática, o aluno pode estar contando sobre o dia que foi ao mercado com a mãe fazer compras, unindo realidade com formas de aprender, mas para isso é preciso confiança e uma certa liberdade, para que professor e aluno possam conversar de igual para igual, transformando assim o ato de aprender em algo prazeroso e compreensível. Estes espaços se destacam também pelo forte incentivo à inclusão, onde alunos surdos, cegos, cadeirantes e até mesmo deficientes intelectuais, na sua maioria, frequentam as mesmas salas dos ditos normais. Além disso, possuem momentos com os pais para a retirada de dúvidas, esclarecimentos, troca de ideias, ou seja, os pais não estão sozinhos nessa, muito menos a escola. São escolas onde se incentiva o sonho, que estimula o aluno a querer mais do que ele tem, que não se acomoda, que sempre corre atrás de melhorias, de novas ideias, e assim torna-se exemplo para os que ali estão. Os próprios alunos dizem que foi ali que aprenderam a sonhar, que descobriram a importância que tem e a capacidade de transformar seus sonhos em realidade. Neste livro também se fala de lugares onde o que se impera é a liberdade nas escolhas. Os alunos escolhem o que querem aprender. Temas são selecionados por grupos e durante aquele semestre, os professores planejam os conteúdos das matérias baseadas naquele determinado tema que vai desde a economia do país até o mundo de zumbis. O maior desafio dos professores é traçar pontos de conexão entre os questionamentos dos alunos com as áreas de ensino. Desta maneira os professores estão em constante aprendizado também, não tendo tempo para o comodismo e o conformismo. Estas instituições são consideradas escolas democráticas, que valorizam o poder de escolha do aluno, seja para construir seu próprio currículo escolar, seja para definir regras, direitos e deveres dentro da instituição. São escolas que prezam pela gestão participativa, incluindo estudantes, educadores e funcionários e não possuem um currículo fechado e ditador. Estas escolas se preocupam em ter um lugar de expressão do aluno, onde ele pode se manifestar, opinar, fazendo com que este indivíduo se sinta importante. Acredito que isso seja um grande problema nas escolas em geral. O aluno não é

valorizado como um indivíduo que pensa, que tem opinião. Suas escolhas e ideias não são levadas em conta e ele acaba se tornando uma marionete nas mãos do sistema, ou na grande maioria, se rebela por isso e desiste de ser ouvido, desacreditando em si mesmo e nos que o rodeiam. Nestes espaços, o conhecimento é construído juntamente com o aluno. Aqui também se busca os pais para dentro da escola. No livro A escola e a sociedade, o educador John Dewey diz: Aquilo que o pai mais diligente e sensato deseja para o seu próprio filho, a comunidade deverá desejá-lo para todas as crianças que crescem no seu seio. As comissões, formadas por alunos, professores e pais, serve para que todos estejam a par do que acontece na escola. Assim, contar com a participação dos pais, por exemplo, faz com que eles façam parte daquele mundo, tanto quanto os alunos e professores, ajudando a resolver problemas, deixando as decisões mais democráticas. Trazendo os pais para dentro da escola, problemas urgentes podem ser solucionados com maior rapidez, são mais saberes sendo trocados, mais ideias colocadas em prática e contar com o apoio deles, na minha opinião, é fundamental, já que o aprendizado se faz em casa e na escola, é uma parceria que precisa ser muito mais cultivada. Aqui, falou-se também em escolas que trabalham com o contra turno e tem como foco o desenvolvimento de comunidades. Neste caso trata-se de uma ong que conta com diversos projetos que resgata nos saberes da cultura popular formas divertidas de propor a aprendizagem, como por exemplo acabar com o analfabetismo por meio da fabricação de biscoitos com letras do alfabeto. Crianças gostam de comer, é um prazer para eles, então aqui une-se a vontade de comer com a intenção de aprender. Quem quer biscoitos precisa escrever seu nome. Incentivo inteligente e que funciona. Porque os educadores resolveram investir em algo que as crianças gostam, o gosto deles foi levado em conta. Os educadores têm como maior objetivo germinar ações que continuem a existir sem a necessidade da presença deles. Isto me fez lembrar de nossos projetos dentro do programa Pibid: Criar ações que possam ser continuadas por toda a comunidade escolar, sem necessariamente nossa presença. Dar autonomia aos estudantes para que se sintam capazes de desenvolver novas ações e possíveis projetos que se encaixem com seus sonhos e anseios. O fundador da ong, Tião Rocha diz, Professor é aquele que ensina, educador é aquele que aprende. Que aprende com a comunidade local. Que aprende com o aluno.

(p.68). E aqui a escuta é o maior aprendizado colocado em prática. O que o aluno tem para dizer é ouvido e valorizado. É onde se ensina e se aprende ao mesmo tempo. Os educadores deste projeto são estimulados a enxergar o lado cheio do copo. Valorizar o que o aluno tem de bom e não esperar que ele só aprenda o que o professor tem para ensinar, como se o que ele sabe não serve para nada. O comodismo e o conformismo é um dos principais vilões do ensino/aprendizado. Professor acomodado não motiva nem o aluno nem ele mesmo. Nesta Ong me chamou a atenção o MDI, que trata-se de uma questão: De quantas maneiras diferentes e inovadores é possível fazer tal coisa? E assim os professores são incentivados a ir em busca destas tantas respostas quando se organiza um MDI, pode ser em relação a um aluno que não consegue aprender a ler ou em relação a uma rua que poderia ser melhorada, os temas são infinitos. Muitos alunos com dificuldades na escola acabam encontrando nos projetos da ong maneiras inovadoras para sanar suas maiores dúvidas. Voltam para a escola com seus saberes renovados e com sua autoestima elevada, já que neste lugar o pouco ou muito que sabem é valorizado, então eu me pergunto: Se um projeto de contra turno fora da escola pode ajudar tanto, fazer tanto, como um dentro da escola não consegue? É preciso se reinventar. Durante as visitas realizadas, foram encontradas escolas que valorizam a arte. As habilidades artísticas dos alunos são sempre bastante incentivadas, mas não com a finalidade de formar artistas mas sim por que se acredita na postura de um artista.. Segundo o educador Mariano Leguizamon, Um artista é alguém que se entrega a uma atividade, cuja dedicação intensa ao trabalho resulta em peças e ações únicas. [...] O ato de entrega do artista pode nos ensinar bastante sobre isso. (p.89) Concluindo... Sinto que as escolas precisam confiar mais em seus alunos. Acreditar em suas capacidades. Lhes dar o poder da palavra, permitir que opinem mais, que discordem mais, mas com consciência. É no exercício da democracia que os alunos aprendem a ser responsáveis, constroem os próprios limites com a ajuda dos educadores. (p. 57) Parece-me que ninguém quer perder tempo mostrando aos alunos o quanto aquilo tem importância e pode ser 'legal'. Numa escola próxima, contrataram um profissional para fazer uma linda e grande horta nos fundos da escola, os alunos deveriam ajudá-lo e aprender com ele, no entanto só ele trabalhava, e os alunos

aproveitavam aquele momento na horta para 'matar aula'. Aquilo geraria uma grande popularidade para a instituição, já que ao final do trabalho o jornal iria fazer uma matéria divulgando a escola e o belíssimo trabalho feito pelos alunos. Em nenhum momento tive o prazer de ver alguém falando daquele processo aos alunos. Ninguém explicou sobre plantas, sobre terra, ninguém falou do efeito do sol sobre as mudas de alface que ali eram plantadas, enfim, ninguém falou nada, porque havia um profissional responsável por aquele trabalho e talvez este não fosse um assunto que interessasse os alunos. Mas alguém fez com que esse assunto se tornasse interessante? Porém, diante da leitura deste livro, diante de tantas ações, de tanta coragem para se fazer o diferente, diante de tantos sonhos e esperança, passo a acreditar mais no poder de mudança em todo âmbito educacional. Mas também, contudo, acredito que é preciso de mais pessoas dispostas a estas mudanças. As escolas públicas pode exercer a autonomia que está prevista na lei, repensando seu currículo, seu sistema, sua forma de abordar o conhecimento. Um dos pontos-chave a ser entendido é que os limites da educação brasileira, oficializados na LDB, são mais amplos do que se imagina. A lei dá autonomia para que as escolas experimentem processos mais significativos para as suas realidades, com liberdade para que outros formatos sejam colocados em prática. [...]. A lei possibilita que as escolas sejam planejadas de acordo com suas demandas locais, que não é obrigatório seguir um modelo único e massificado. Ou seja, qualquer escola pública tem abertura para criar um projeto pedagógico diferente. (p. 61) Mas é necessário estar disposto e preparado para os novos desafios que serão encontrados pela frente, é necessário quebrar alguns paradigmas, é preciso romper barreiras, é preciso manter os pés no chão mas o coração nas alturas, a procura dos melhores sonhos e dos mais ousados. É preciso manter a chama da esperança. Dorothy Ling Termino minha reflexão com as palavras e anseios da artista e professora Nossa intensa tarefa da busca de si e do cultivo interior nos levou, naturalmente, a questionar todo o sistema massivo e obrigatório de ensino público ao qual todos estamos submetidos e que, em algum momento, passou a se chamar de educação, com a qual nada tem a ver. (p. 87)