DERRIDA 1. Argélia: 1930 / França: 2004 2. Temas e conceitos privilegiados: Desconstrução, diferência, diferença, escrita, palavra, sentido, significante 3. Principais influências: Rousseau, Husserl, Heidegger, Saussure e Lévi- Strauss 4. Principais obras: Gramatologia, Margens da filosofia, Do Direito e da Filosofia, Cartão-Postal, A Escritura e a Diferença
Projeto ambicioso: desconstruir o logocentrismo da filosofia ocidental O logocentrismo afirma a primazia da razão, da verdade e do sentido Três aspectos de uma mesma realidade ideal / metafísica soberana de tudo o mais que existe Esse logocentrismo tem base em um fonocentrismo que atribui privilégios à voz palavra viva tomada como uma expressão sem distância nem intermediário relativamente ao pensamento
O logofonocentrismo acontece e exprime-se numa série de pares conceituais: Inteligível / Sensível Essência / Aparência Interior / Exterior Sujeito / Objeto Sentido (Significado) / Signo Voz (Fala) / Escrita Nesse contexto, o pensamento é concebido como proximidade absoluta de si a si próprio: diálogo silencioso da alma consigo própria (Platão, Fedro) A voz é sobrevalorizada como se fosse a portadora direta do sentido, do significado e a escrita é relegada para a exterioridade como suplemento, artifício contingente, perigo mortal para o pensamento.
Na tradição logocentrêntica a escrita é mero signo significando um significante que significa ele próprio uma verdade eterna, eternamente pensada e dita na proximidade de um logos presente (Gramatologia). O modelo do logos é a palavra e o pensamento tem a ilusão, ao falar, de ser a mesma coisa que ele. Essa ilusão leva o pensamento a concluir (erroneamente) que ele descobre diretamente o sentido das coisas que procura abarcar e compreender. Esse é o modo de proceder de toda a metafísica ocidental. Essa metafísica atribui um caráter secundário à escrita e, particularmente, ao ato (matéria) e ao estilo (forma) de escrever.
A metafísica ocidental induz a ilusão de que uma escrita puramente fonética (alfabética) está mais próxima da voz e do logos que as outras formas de escrita (inclusive a dos gestos e dos silêncios). Para Derrida, o ato de escrever é muito mais do que isto. Escrever é um gesto de escrever está à serviço de palavras que reivindicam o estatuto de significações puras. Desde Platão, o pensamento ocidental está sujeito à ilusão do Ser como presença e constitui-se às custas de um abandono da escrita e em benefício de um pressuposto do sentido puro que favoreceu as ideologias centralistas e unitárias (ordem do mundo, ordem mora, autoridade de Deus, do Pai, do Estado etc.).
Para Derrida, a materialidade da palavra, apesar da aparente espontaneidade da voz, pode ser também considerada uma forma de escrita: a língua, ato de proferir sons organizando-os espaçotemporalmente é, tal como o mostrou o estruturalismo um jogo regulado de diferenças, portanto de traços, do qual surge um sentido que nunca é um referente exterior ou transcendente àquelas. Estruturalismo: corrente de pensamento que se inspirou do modelo da linguistica e que apreende a realidade social como um conjunto formal de relações. O termo foi cunhado por Saussure, que se propunha a abordar qualquer língua como um sistema no qual cada um dos elementos só pode ser definido pelas relações de equivalência ou de oposição que mantém com os demais elementos. Esse conjunto de relações forma a estrutura (aquilo que dá estabilidade às relações).
A desconstrução consiste em evidenciar o pressuposto logofonocêntrico e em desestabilizar as suas montagens as suas hierarquias, pontos centrais, dicotomias, em particular a dicotomia fala/escrita. Desconstruindo o empreendimento fenomenológico (A Voz e o Fenômeno), Derrida mostra que Husserl, mesmo quando pensa se deparar com uma pura presença da experiência expressiva, admite uma autoafecção que supõe um afastamento de si, uma não plenitude, um defasamento original: o presente vivo já é traço, a voz já é escrita. A Gramatologia, enfim, é a ciência que reabilita a escrita rompendo com o fonologismo. Faz isso procurando mostrar que a linguagem original ou natural ao contrário do que o pensamento ocidental crê foi ela própria uma escrita
Derrida batiza esta escrita originária ou fundamental como arquiescrita ou arquitraço (em clara referência com arché). Essa primeira escrita ou primeira articulação é, desde sempre, uma perda de imediatidade, desmembramento de presença, fluidez para aquém da distinção fala/escrita. É um movimento de diferir (adiar) a presença temporalizando-a. A unidade distintiva objeto da gramatologia é o grafema: grama ou significante gráfico, elemento literário de base, diferença articulando a linguagem, mas não sujeita ao primado do princípio fonológico.
A arquiescrita é a diferência: primeiro movimento de diferir que caracteriza qualquer articulação e constitui assim a própria possibilidade da linguagem. O primado do logos dá lugar ao do traço que é o enredar do outro-nomesmo que é a condição do mesmo, um diferir (do idêntico) que é a condição do próprio e, ao mesmo tempo, a condição de existência do signo. O traço escapa a qualquer redução a em ente-presente; dissimula-se continuamente a si mesmo e não permite fixar a significância. A diferência é o primeiro de uma série de conceitos indecidíveis, que servem de instrumentos para a desconstrução e para desestabilização das oposições consagradas riscando a oposição instrínseco/extrínseco (A farmácia de Platão): nem remédio nem veneno, nem bem nem mal.