Moacyr Bernardino Dias-Filho Embrapa Amazônia Oriental www.diasfilho.com.br 1
Evolução da pecuária bovina no Brasil Passado No início dos anos 1900, a pecuária bovina era obsoleta, incapaz de abastecer, com eficiência, a demanda de carne do mercado interno Gado criado à solta, em áreas não cercadas, alimentando-se de capins de baixo valor nutritivo (pastagens naturais) Gado bovino predominante na pecuária nacional era o chamado péduro ou curraleiro: um gado raquítico, de chifres longos e de baixo rendimento de carcaça Nesse cenário da pecuária brasileira do passado, a idade de abate girava em torno de 10 anos 2
Evolução da pecuária bovina no Brasil Presente O Brasil tem o segundo maior rebanho bovino do mundo e é o maior exportador mundial de carne bovina O Brasil é o quarto maior consumidor mundial de carne bovina, sem necessitar de importação para suprir essa demanda Por ser principalmente produzida em pastagens, a carne bovina brasileira é uma das mais competitivas do planeta (baixo custo e menos vulnerável a riscos de mercado) O boi de capim brasileiro produz uma carne tida como mais saudável e com maior qualidade nutricional do que a do boi de ração estrangeiro, criado em sistema de confinamento, alimentado sobretudo com grãos 3
Dinâmica das áreas de pastagens no Brasil Evolução (%) das áreas de pastagens - 1975-2006 Fonte: IBGE Norte Nordeste Sudeste Sul Centro- Oeste Brasil 517,9 6,6-32,2-14,3-7,3 4 O crescimento relativamente baixo (4%) das áreas de pastagens foi causado: Expansão da agricultura, reflorestamento e áreas urbanas sobre as pastagens Só foi possível em decorrência do aumento de produtividade da pecuária, em geral e das pastagens, em particular Evolução (%) das taxas de lotação (bovinos) - 1975-2006 Norte Nordeste Sudeste Sul Centro- Oeste Brasil 215 41,7 62,7 50 210 92 Fonte:Adaptado de IBGE 4
Aumento de produtividade da pecuária bovina brasileira Nos últimos anos, o ritmo de crescimento do rebanho bovino vem superando o aumento das áreas de pastagem Variação (%) 1975-2006 Norte Nordeste Sudeste Sul Centro- Oeste Brasil Rebanho 1.845,9 52 10,2 25,5 183,4 100,8 Pastagem 517,9 6,6-32,2-14,3-7,3 4 Fonte: IBGE O que tem possibilitado esse aumento de produtividade? Maior disponibilidade de tecnologia (cultivares mais produtivas de capins, técnicas de manejo e recuperação de pastagens, genética do rebanho etc.) Pressões ambientais e de mercado estimulando o uso de tecnologia 5
Fatores de aumento de produtividade da pecuária brasileira a partir do século 19 Melhoramento genético do rebanho Intensificado a partir do final do século 19, com a importação de animais (principalmente zebuínos) para substituir o gado curraleiro, de chifres longos e de baixo rendimento de carcaça Aumento no uso de capins exóticos (pastagens plantadas) Para substituir pastagens naturais, insuficientes em área e inadequadas em produtividade e valor nutritivo 6
Embora o desempenho da pecuária brasileira venha evoluindo, a produtividade média das pastagens ainda está muito abaixo do seu potencial Uma causa importante dessa baixa produtividade é o montante das áreas de pastagens degradadas ou em degradação 7
Degradação de pastagens Um dos principais obstáculos para a sustentabilidade da pecuária brasileira No Brasil, cerca de 100 milhões de ha de pastagens estariam degradados ou em degradação A recuperação de parte dessas áreas poderia, no mínimo, dobrar a produção atual de carne e leite, sem a necessidade de derrubar uma só árvore 8
Fonte: Dias-Filho (2003, 2005, 2007, 2011) 9
1 - Leve 2 - Moderado Nível de degradação (ND) ND Aspecto visual 1 - Leve Pastagem ainda produtiva, mas já com algumas áreas de solo descoberto ou plantas daninhas. Capacidade de suporte cai cerca de 20% (em relação à pastagem não degradada) Aumento na infestação de plantas daninhas ou no percentual de 2 - Moderado solo descoberto (em relação ao Nível 1). Capacidade de suporte 3 Forte (degradação cai entre agrícola) 30% a 50% 4 Muito forte (degradação biológica) Aumento excessivo na infestação de plantas daninhas (degradação agrícola) ou no percentual de solo descoberto (em 3 - Forte relação ao Nível 2). Muito baixa proporção de forrageiras. Capacidade de suporte cai entre 60% a 80% 4 - Muito forte Predominância de solo descoberto, com sinais evidentes de erosão (degradação biológica). Proporção de forrageiras muito baixa ou inexistente. Capacidade de suporte cai acima de 80% Fonte: Adaptado de Dias-Filho (2011, 2017) 10
Indicadores de degradação Produtividade animal (produção de carne ou leite) Parâmetro universal p/ definir produtividade da pastagem (i.e., degradação) Indicador primário Capacidade de suporte (U.A./ha) Indicador mais flexível para quantificar o nível de degradação Indicadores secundários % ou biomassa de plantas daninhas % de solo descoberto Indicadores dependentes do tipo de ecossistema ou tipo de degradação % OU BIOMASSA DE FORRAGEM 11
Pastagem degradada Área com diminuição acentuada e contínua na produtividade agrícola ideal (diminuição na capacidade de suporte ideal), podendo ou não ter perdido a capacidade de manter produtividade biológica (acumular biomassa) Fonte: Dias-Filho (1998, 2003, 2005, 2007, 2011, 2017) 12
Montante das áreas de pastagens degradadas no Brasil Dado preocupante, mas também animador Preocupante Indica baixa eficiência no uso das pastagens Animador Nessas pastagens reside um enorme potencial para o aumento da produtividade da pecuária brasileira, via a intensificação racional 13
Intensificação racional ou gestão profissional da produção de bovinos em pastagens Quebrar vícios herdados do passado da pecuária brasileira: Pasto não é cultura agrícola, com carências particulares de manejo Pasto pode ser mantido produtivo, apenas regido pelas leis da natureza O boi cria a fazenda e a fazenda cria o fazendeiro 14
No Brasil, ainda é comum encontrar vícios de manejo de pastagem semelhantes aos praticados na era colonial Ausência de adubação de formação e manutenção de pastagens Uso de sementes de baixa qualidade para a formação de pastagens Descuido no controle da pressão de pastejo Uso do fogo para controlar planta daninha e eliminar forragem passada 15
Manejo preventivo (pecuária empresarial) Forma mais eficaz para evitar a degradação da pastagem: Controle rotineiro da pressão de pastejo Manutenção periódica da fertilidade do solo Controle rotineiro de plantas daninhas e insetos-praga 16
Pecuária empresarial (manejo preventivo) Manter pastagens produtivas, prevenindo a degradação Custos para manter pastagem produtiva < recuperar Manter pastagens produtivas, aumenta a oferta de serviços ambientais (prover alimento, armazenar carbono, controlar erosão etc.) Pastagens degradadas, aumentam os desserviços ambientais 17
Produzir mais em menor área de pastagem tornou-se uma necessidade de sobrevivência para a pecuária brasileira 18
A luz no fim do túnel para a produção animal em pastagens no Brasil A recuperação de pastagens degradadas e o manejo preventivo de pastagens ainda produtivas são a luz no fim do túnel para aumentar a produtividade e sustentabilidade da pecuária nacional Principal alternativa para conciliar o crescimento da pecuária nacional (preservando a segurança alimentar da população) com a preservação ambiental 19
Contato Moacyr Bernardino Dias-Filho Embrapa Amazônia Oriental, Belém, PA moacyr.dias-filho@embrapa.br www.diasfilho.com.br 20