Pedagogia universitária: sob a ótica do pensamento complexo e da transdisciplinaridade Marilza Vanessa Rosa Suanno (UEG/UFG) E-mail: marilzasuanno@uol.com.br Palavras-chave: Trabalho docente, Pedagogia universitária, complexidade, transdisciplinaridade. Introdução Na presente pesquisa busca-se compreender as inovações teóricas e metodológicas apresentadas e desenvolvidas por professores universitários, em específico, professores de programas de pós-graduação strictu sensu, que tem intencionalmente trabalhado com a discussão e o enfrentamento da transição paradigmática, em específico os pesquisadores que se fundamentam na complexidade e transdisciplinaridade. Interessa-me compreender os caminhos que estão sendo construídos em uma situação de supercomplexidade (BARNETT, 2005). Segundo o referido autor estamos em uma situação de supercomplexidade quando nossas próprias estruturas para tornar o mundo inteligível estão em debate [...] Nós não sabemos e não podemos saber com nenhuma certeza quem somos. Parece que estamos à beira da alienação coletiva. Não existe nenhuma segurança no mundo (BARNETT, p.94, 2005). Vivemos em um contexto histórico no qual as estruturas pelas quais interrogamos o mundo e encontramos o nosso caminho estão se multiplicando e me interessa investigar como os professores universitários e pesquisadores que atuam no strictu sensu têm se ressignificado e ressignificado sua prática pedagógica e formativa. Boaventura de Santos Sousa (1998) apresenta que a crise da modernidade resultou em três outras crises para a universidade, sendo elas: a crise de hegemonia, a crise de legitimidade e a crise institucional. O contexto de crise apresenta-se como possibilidade de revisitar nossas concepções, desafiá-las e construir novas possibilidades de vida em sociedade, de organização institucional, de práticas formativas e práticas pedagógicas. Lucarelli (2009, p.252) compreende que o contexto de crise de hegemonia,
legitimidade e institucional que caracteriza a universidade de nossos tempos se apresenta como possibilitador, por sua vez, de movimentos orientados a uma transformação estrutural múltipla. Segundo a autora, isso faz com que a situação de ruptura se desenvolva em torno de uma conjuntura favorável a construção de práticas alternativas, por sua vez emancipatórias e que rompam com a tradição pedagógica limitativa. O objetivo dessa pesquisa é compreender o trabalho do professor universitário e as perspectivas para a pedagogia universitária sob a ótica do paradigma emergente, da Teoria da Complexidade, do pensar complexo e em movimento, e da transdisciplinaridade, multidimensional e multirreferencial. Define-se como problema investigativo desse estudo pesquisar: quais as contribuições da Teoria da Complexidade e da transdisciplinaridade para o trabalho do professor universitário e para a pedagogia universitária? Apresentamse com questões da presente pesquisa investigar: Se o modo de trabalhar pedagogicamente depende do modo de trabalhar epistemologicamente de que forma os fundamentos ontológicos, gnosiológicos e epistemológicos da complexidade e da transdisciplinaridade ressignifica ou não o trabalho do professor (a) universitário (a)? Em outras palavras, como a complexidade e a transdisciplinaridade enquanto fundamentos têm possibilitado rever e ressignificar o trabalho do docente na educação superior? Em contexto de supercomplexidade a universidade necessita de investigações que dialoguem com outros paradigmas e busquem construir um novo concreto pensado sobre a temática aqui abordada. O mundo supercomplexo não apresenta desafios de saber, mas de ser. Essa é a problemática educacional fundamental da supercomplexidade e é uma das quais a universidade evita [...] A lacuna epistemológica, entre conhecimento formal e ação, só pode ser eliminada, se é que pode, com um passo decisivo, com o comportamento pessoal em relação às situações apresentadas (BARNETT, 2005, p.179). A presente pesquisa integrante da linha de pesquisa Formação e profissionalização docente justifica-se pela crescente necessidade de redimensionar e impulsionar o processo de ensino - aprendizagem e pesquisa na
universidade e nas salas de aula na universidade brasileira. Outra justificativa é a necessidade de se aprofundar estudos sobre uma didática específica, a didática universitária. Há a necessidade de promover pesquisas sob a luz do paradigma da complexidade e da transdisciplinaridade para assim identificar suas contribuições, possibilidades e limitações frente à pedagogia universitária. A pedagogia universitária é um campo científico que tem buscado construir novos caminhos para ressignificar a universidade por meio do esforço de ressignificação da concepção e do trabalho do professor universitário. Cunha (2009) propõe três estruturantes para se pensar a pedagogia universitária: o âmbito das políticas, o âmbito da formação e o que se refere à pesquisa. E como desmembramento do segundo destacaria a prática pedagógica do professor universitário, as inovações didático-curriculares, as alternativas criadas na busca de romper com práticas rotineiras de ensino, pesquisa e extensão e de vida acadêmica. Apresenta-se como fundamental promover na universidade reflexões sobre a necessidade e a relevância de se investir na formação profissional contínua do docente da educação superior. Bem como instituir políticas, programas, espaços, lugares de formação e responsáveis por tal processo a fim de incentivar a melhoria da qualidade das práticas pedagógicas na universidade. Ainda no âmbito das políticas é fundamental rever os critérios de seleção e progressão na carreira do professor universitário, ressaltando a importância dos saberes da docência. Implantar processos de auto-avaliação institucional democrática (SUANNO, 2008) que possibilitem um esforço coletivo de autoconhecimento e enfrentamentos dos desafios e limitações institucionais e profissionais. Concordando com Cunha (2009) temos que insistir na condição pedagógica da avaliação institucional distinguindo-a do sistema estatal de regulação. No âmbito da formação profissional contínua do docente da educação superior apresenta-se como fundamental despertar a academia para as potencialidades de se construir espaços formativos no qual os professores possam socializar os saberes construídos, revisitá-los, questioná-los, ressignificálos. Contextos formativos que possibilitem rever o projeto pedagógico do curso, o currículo dos cursos, as práticas pedagógicas frente às concepções de sociedade/educação/universidade/formação, frente às novas demandas
macroestruturais, as novas demandas educativas e novos perfis de acadêmicos. Parece fundamental que a pedagogia universitária promova formação de professores universitários, que considere que os espaços de atuação profissional têm uma cultura institucional que pode favorecer ou não ao diálogo e enfrentamento das dificuldades pedagógicas. E que além de cursos de formação há de se possibilitar institucionalmente espaços e profissionais para ofertarem acompanhamento pedagógico aos professores universitários, atendendo as especificidades de suas necessidades e desafios. Ainda no âmbito da formação, parece significativo destacar a Teoria Tripolar de Formação, formulada por Gaston Pineau (2006), que apresenta que o processo formativo deva se dar em uma dinâmica tripolar (autoformação/heteroformação/ecoformação), de natureza complexa, que deve ser estudada ao longo da vida. No âmbito da pesquisa destaca-se a necessidade de problematizar a pedagogia universitária como campo de conhecimento nas suas distintas perspectivas e dimensões. Investigar as práticas pedagógicas inovadoras na educação superior, investigar professores que busquem romper com o paradigma vigente, valorizar pesquisas autobiografias e narrativas de professores universitários resgatando processos de constituição dos saberes docentes e que valorizem a condição humana da docência (CUNHA, p.372, 2009). Apresenta-se como fundamental que se investigue professores universitários de distintas áreas, seus saberes, concepções e práticas pedagógicas. Cunha (2009) propõe que pesquisadores se articulem em Redes (nacionais e internacionais) que congreguem pesquisadores e gestores no esforço de constituir epistemologicamente e politicamente a legitimidade da pedagogia universitária. E que estes possam socializar resultados investigativos e fazer frente a políticas de cunho concorrencial e mercadológico presentes na educação superior. Pesquisar as inovações pedagógicas desenvolvidas por professores universitários que dialogam com os paradigmas emergentes apresenta-se como um desafio de reconfiguração de saberes, da profissionalidade do docente da educação superior, bem como de busca de autoconhecimento, autoformação que
possibilite aos professores traçarem novas perspectivas de ser e de ser professor. Interessa-me a compreensão da profissionalidade docente emergente. A profissionalidade se traduz na idéia de ser a profissão em ação, em processo, em movimento (CUNHA, 2009b). Sacristán define profissionalidade como a expressão da especificidade da atuação dos professores na prática, isto é, o conjunto de atuações, destrezas, conhecimentos, atitudes e valores ligados a elas que constituem o específico de ser professor (1993, p.54). Identificar inovações que me permitam compreender a profissionalidade docente emergente me remete à necessidade de apresentar uma definição provisória de inovação. [...] a inovação é entendida como aquela prática protagonista do ensino ou do programa de ensino, na qual, a partir da busca da solução de um problema relativo às formas de operar com um ou vários componentes didáticos, se produz uma ruptura nas práticas habituais que se dão na sala de aula, afetando o conjunto de relações da situação didática. Identifico, conseqüentemente, a inovação didáticocurricular como práxis de tipo inventiva, dado que, ante o reconhecimento de uma situação sentida como insatisfatória, encara a resolução intencional de um problema prático ou teórico, mediante a produção de algo novo. (LUCARELLI, 2009, p.251) Investigar as rupturas epistemológicas e metodológicas é preciso para construir novas perspectivas para o trabalho docente e a pedagogia universitária. Material e Método (Metodologia) A presente pesquisa adotará como método o materialismo histórico dialético, desenvolverá pesquisa do tipo biográfica e utilizará para coleta dos dados entrevista narrativa, questionário com questões narrativas, análise de memorial de formação. Serão sujeitos da pesquisa 15 professores(as) universitários(as), em específico professores de programas de pós-graduação strictu sensu, que tem intencionalmente trabalhado com a discussão e o enfrentamento da transição paradigmática, em específico os pesquisadores que se fundamentam em paradigmas emergentes, na complexidade e na transdisciplinaridade, atuando com formação de professores e pedagogia universitária. A presente pesquisa se encontra em andamento.
Referências bibliográficas CUNHA, Maria Isabel. A educação superior e o campo da pedagogia universitária: legitimidades e desafios. In: ISAIA, Silvia e Balzan, Doris (Org.). Pedagogia universitária e desenvolvimento profissional. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2009a. CUNHA, Maria Isabel. Inovações pedagógicas: o desafio da reconfiguração de saberes na docência universitária. In: PIMENTA, Selma Garrido e ALMEIDA, Maria Isabel (Org.). Pedagogia universitária. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, USP, 2009b. BARNETT, Ronald. A Universidade em uma era de supercomplexidade. Tradução Aurea Dal Bó. São Paulo: Anhembi Morumbi, 2005. LUCARELLI, Elisa. Teoria y práctica em la universidad La innovación em las aulas. Buenos Aires: Mino y Dávila, 2009. MORAES, Maria C. O paradigma educacional emergente. Campinas: Papirus, 1997. MORIN, Edgar. O método. Porto Alegre: Sulinas, 2008.