RESUMO. REDVET - Revista electrónica de Veterinaria - ISSN

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Transcrição:

REDVET - Revista electrónica de Veterinaria - ISSN 1695-7504 Ocorrência de casos positivos de raiva em herbívoros na região rural de Colatina-Brasil nos anos de 2013 a 2015 - occurrence of positive cases of anger in herbívoros in the rural region of colatina-brazil in the years of 2013 to 2015) Barroso, Rogério Magno do Vale: Professor Adjunto Cirurgia Veterinária da Universidade Federal do Acre (UFAC), Brasil. E-mail: vetbarroso@yahoo.com.br Mayana Cardoso: Médica Veterinária Autônoma Fernando Vicentini: Professor Adjunto Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), Brasil Paula de Oliveira Braga: Médica Veterinária Autônoma RESUMO A Raiva é uma zoonose de grande importância para a saúde humana e animal, e ela vêm causando grandes prejuízos à pecuária no Brasil e no mundo. É causada pelo vírus do gênero Lyssavírus que, por ser altamente neurotrópico, causa uma infecção aguda no sistema nervoso central de mamíferos. Normalmente o vírus é mantido em um hospedeiro principal, podendo ser cães, gatos, homens, carnívoros selvagens ou morcego. Acidentalmente pode ser transmitido para os herbívoros, como bovinos e equinos, pela mordedura de morcegos hematófagos infectados, sendo os animais da espécie Desmodus rotundus os principais transmissores. Em bovinos a doença se caracteriza por sintomatologia nervosa, chamada de forma paralitica, onde são observados sinais como mudança de comportamento, tremores musculares, andar cambaleante, ranger de dentes, sialorréia, decúbito, movimentos de pedalagem, opistótono, entre outros sintomas. Foi realizado um levantamento de casos positivos de raiva em Colatina/Espírito Santo entre os anos de 2013 a 2015, verificando a incidência de casos, as características dos sinais apresentados pelos animais, as medidas adotadas pelo órgão, assim como o controle da doença e profilaxia. O rebanho de Colatina, entre bovinos e equinos, é de 79.038 cabeças, esses animais são extremamente suscetíveis a raiva, o IDAF Colatina relatou 5 casos confirmados da raiva na região no período analisado. O Programa Nacional Controle da Raiva de Herbívoros propõe estratégias para combate da doença como a vigilância epidemiológica, a profilaxia mediante a vacinação dos herbívoros domésticos, o cadastramento e o monitoramento dos abrigos de morcegos hematófagos, assim como combate do morcego hematófago com uso de anticoagulantes. A profilaxia da doença ainda é o ponto chave para seu combate, sendo necessária uma campanha de conscientização mais eficaz para os proprietários, uma vez que esses ainda são bem relapsos com a vacinação dos animais. Não deixando de lado os controles realizados para 1

combater o transmissor da doença, pois uma ação isolada não leva ao sucesso no combate a Raiva em herbívoros. Palavras-chave: Bovinos. Equinos. Desmodus rotundus. Neurológico. ABSTRACT Rabies is a zoonosis of great importance to human and animal health, and it have caused great damage to livestock in Brazil and worldwide. It is caused by viruses of the genus Lyssavirus, and it is highly neurotropic causing an acute infection of the central nervous system of mammals. Usually the virus is maintained in a primary host, it can be cats, dogs, humans, wild carnivores or bats. Accidentally can be transmitted to herbivores, such as cattle and horses, through the bite of infected vampire bats that are of the species Desmodus rotundus, the main transmitters. In cattle, the disease is characterized by nervous signs, called paralytic form, where are observed signs such as changes in behavior, muscle tremors, staggering gait, gnashing of teeth, drooling, sternal recumbency and side recumbency, paddling movements, opisthotonos, among other symptoms. A survey of positive cases of rabies in Colatina/Espirito Santo between the years 2013 to 2015, checking the incidence of cases, the characteristics of the signs presented by the animals, the measures adopted by organ, as well as disease control and prevention. Colatina city s flock, among cattle and horses, is 79,038 heads, these animals are extremely susceptible to Rabies. Colatina s IDAF (Institute of Agricultural and Forest Defense) reported five confirmed cases of Rabies in the region no analyzed period. The National Programme for Control of Rabies in Herbivores proposes strategies to combat the disease as epidemiological surveillance, prevention through vaccination of domestic herbivores, registration and monitoring of the shelters of vampire bats, as well as combat the vampire bat with anticoagulants. The prevention of the disease is still the key to this fight, requiring a more effective awareness campaign for the owners, but they are still too lax with the vaccination of animals. Not letting go of the controls carried out to combat the transmitter of the disease as an isolated action does not lead to success in the fight against rabies in herbivores. Keywords: Cattle. Horses. Desmodus rotundus. Neurological. 1 INTRODUÇÃO A Raiva é uma das doenças mais temidas e fatais de todos os tempos, uma zoonose de grande importância para a saúde humana e animal. Os primeiros relatos ocorreram a mais de 2.700 anos, quando já era descrita como uma doença grave, caracterizada por hipersalivação, alterações no comportamento e morte inevitável (FLORES, 2007). 2

No Brasil, a raiva tem gerado grandes prejuízos à pecuária, além disso, por trata-se de uma zoonose com grande relevância na saúde pública, não só no Brasil, mas em outras partes do mundo (REIS et al., 2003). A maioria dos casos relatados de raiva em herbívoros no Espírito Santo corresponde a espécie bovina, em virtude da predominância desse rebanho em relação aos equinos. Em bovinos a doença se caracteriza por sintomatologia neurologica, chamada de forma paralitica, que é uma das formas de manifestações neurológicas. São observados sinais como mudança de comportamento, tremores musculares, hiperestesia e hiperexcitabilidade, andar cambaleante e paresia flácida ou paralisia dos membros pélvicos, ranger de dentes, sialorréia, decúbito esternal e lateral, movimentos de pedalagem, opistótono, entre outros sintomas (PEDROSO et al., 2009; REIS et al., 2003). O diagnóstico confirmatório é realizado por meio de exames laboratoriais, uma vez que os sintomas podem ser confundidos com os de outras enfermidades, como intoxicações, doença de Aujeszky, babesiose cerebral, listeriose, encefalite equina, entre outros. As amostras encaminhadas para exame, são processadas por meio da técnica de imunofluorescência direta, prova biológica e histopatologia (PEDROSO et al., 2009; BRASIL, 2008). O município de Colatina localizado na região Noroeste do estado do Espírito Santo, com uma área de 1.416,804 km², possui estrutura fundiária baseada em pequenas e médias propriedades, sendo que 89% do total possuem menos de 100 hectares. A atividade econômica dessas propriedades baseia-se principalmente na cafeicultura e na pecuária, e apresentou no ultimo senso um total de 77.371 bovinos e 1.667 equinos na região (INCAPER, 2015; IBGE, 2015). O presente estudo apresenta relevante importância para agropecuária e saúde pública, uma vez que, a Raiva é uma zoonose letal aos humanos e animais, se fazendo necessário alertar a população da presente circulação viral. Sua profilaxia e controle, quando não realizadas de forma efetiva, podem dar a oportunidade da doença se disseminar. Dessa forma, o controle e notificação da doença devem ser rigorosos, para que se possa alcançar o controle efetivo da doença (BABBONIA et al, 2011; BRASIL, 2009a). O objetivo desse trabalho foi realizar o levantamento bibliográfico sobre a Raiva, analisando os dados fornecidos pelo INSTITUTO DE DEFESA AGROPECUÁRIA E FLORESTAL DO ESPÍRITO SANTO (IDAF) de Colatina. Os objetivos específicos do presente trabalho foram: Descrever as ocorrências de casos positivos de Raiva em herbívoros na região rural de Colatina, utilizando dados fornecidos pelos órgãos públicos. 3

Realizar levantamento bibliográfico sobre a Raiva em livros e artigos científicos utilizando as bases de dados disponíveis. Analisar os questionários realizados nas propriedades positivas em busca de possíveis falhas de manejo. Descrever as ações adotadas pelos serviços oficiais agropecuários e de saúde. 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 EPIDEMIOLOGIA A raiva tem distribuição universal, ficando de fora apenas países insulares e alguns países onde a doença já foi erradicada (ANDREWS et al., 2008). O ciclo epidemiológico da doença é classificado em urbano, rural, aéreo e silvestre, sendo todos essas responsáveis por transmitir vírus aos humanos. O ciclo urbano é mantido pela transmissão entre cães e é um dos principais transmissores para humanos gerando grandes problemas a saúde publica. Tem o ciclo aéreo que é a transmissão do vírus entre os morcegos. O ciclo rural é a transmissão da raiva aos herbívoros pelo morcego Desmodus rotundus principalmente, que pertence ao ciclo aéreo. Já o ciclo silvestre é a contaminação entre animais silvestres e morcegos, esse ciclo é de grande importância por serem potencias transmissores da raiva (SILVA, 2012). A raiva dos herbívoros no Brasil pode ser considerada endêmica e em graus diferenciados, que variam de acordo com a região. Essa disseminação de forma tão preocupante se da pelo aumento da oferta de alimento, que representa crescimento significativo dos rebanhos. Assim como a ocupação desordenada que são os desmatamentos, construções de rodovias e de hidroelétricas, que alteraram o ambiente em que os morcegos viviam, fazendo com que procurarem novos abrigos e fontes de alimento. Outro fator que contribui para a disseminação da doença é a atuação insatisfatória na execução do Programa Nacional de Controle da Raiva de Herbívoros e a falha da barreira sanitária (BRASIL, 2009a). 2.2 ETIOLOGIA O vírus da raiva pertence ao gênero Lyssavírus da família Rhabdoviridae, que é altamente neurotrópico e causa uma infecção aguda no sistema nervoso central de mamíferos (SILVA, 2008). Esse vírus é referido ultimamente como Lyssavirus sorogrupo 1, uma vez que vários outros vírus semelhantes ao da raiva foram adicionados a esse gênero, existindo outros sorogrupos (ANDREWS et al., 2008). Seu genoma viral é formado por uma cadeia de RNA fita simples, o vírus é envelopado e pouco resistente ao ambiente, é facilmente degradado por 4

radiação, ácidos fortes, álcalis, pela maioria dos desinfetantes, solventes lipídicos e aniônicos (NANTES et al., 2008; BATISTA et al., 2007). 2.3 TRANSMISSÃO O vírus da raiva é mantido em um hospedeiro principal, que pode ser cães, gatos, homens, carnívoros selvagens ou morcegos (BABBONIA et al., 2011). Acidentalmente pode ser transmitido para os herbívoros, como bovinos e equinos, pela mordedura de morcegos hematófagos infectados, sendo os animais da espécie Desmodus rotundus o principal transmissor (SILVA, 2008). De acordo com o manuais de controle transmissíveis da doença, todos os mamíferos são suscetíveis ao vírus da raiva, sem mencionar a infecção em aves. A infecção das aves pelo virus da raiva é raro, mas essa ja vem sendo relatada em experimentos e ate mesmo por infecção natural (HERRIMAN, 2015). A raiva é comumente transmitida por mordeduras, mas outros tipos de transmissões já foram relatados. Em bovinos, cães e humanos há relato de transmissão transplacentária. Transmissão por via oral, através da amamentação já foram relatados em humanos e ovinos. Em humanos, transmissões por aerossol em uma caverna com morcegos infectados e por meio de transplante córneas de cadáveres foram relatadas (ANDREWS et al., 2008). O vírus presente na saliva dos animais infectados é o principal meio de disseminação do vírus para os vetores. A excreção viral acontece pouco tempo antes da manifestação dos sinais clínicos. Em bovinos a secreção do vírus pela saliva é considerada insignificativa, por ocorrer em poucos casos, esse fato fundamenta que os bovinos sejam hospedeiros terminais, por ser baixa transmissão para outros animais (ABREU, 2012). Não existe predileção para raça ou sexo, mas devido a baixa imunidade dos animais mais jovens e a não realização do reforço vacinal, estes tornamse mais suscetíveis a doença (ABREU, 2012). O local da agressão e sua gravidade são de grande importância, quanto mais próxima ao cérebro menor o período de incubação do vírus, ou seja, mais rápida a evolução da doença (ANDREWS et al., 2008). 2.4 PATOGENIA No caso dos herbívoros, após a agressão causada pelo morcego hematófago, o vírus da raiva pode alcançar diretamente os nervos periféricos ou permanecem algumas horas nas células musculares estriadas do tecido atingido, onde haverá um processo de amplificação viral para depois chegar aos nervos periféricos. O genoma viral é transportado no interior do axoplasma dos neurônios, até chegar ao sistema nervoso central, onde atinge 5

diferentes porções do cérebro e dissemina-se, centrifugamente, para todos os tecidos do hospedeiro, atingindo outros órgãos (GERMANO, 1994). Já foi evidenciada a presença do vírus em outros órgãos, tais como língua, glândulas salivares, pulmão, fígado, glândulas adrenais, coração, trato gastrointestinal, rins e o pâncreas, possuindo assim caráter de disseminação centrífugo (GERMANO et al., 1998). As lesões causadas pelo vírus da raiva no sistema nervoso central de bovinos, são caracterizadas por meningoencefalite e meningomielite não supurativas, que são mais evidentes nas áreas do tronco encefálico, do cerebelo e da medula espinhal do que no tálamo e no telencéfalo (LANGOHR et al., 2003 e PEDROSO et al., 2009). 2.5 SINAIS CLÍNICOS Pelo tropismo do vírus as diferenças entre as manifestações clínicas nos bovinos, equinos, caprinos e ovinos não são grandes, tendo como característica principal, sintomatologia neurológica (SILVA, 2008). Em bovinos a forma paralitica é a mais comum de ser observada, pelas lesões causadas pelo vírus no sistema nervoso. A paralisia flácida e progressiva nos membros posteriores é o sinal mais marcante, incoordenação, decúbito external seguido de decúbito lateral, movimento de pedalagem, salivação intensa, opistótono, ranger de dentes. Em ovinos e caprinos os sinais são bem semelhantes (BATISTA et al., 2007; LIMA et al., 2005). Segundo Nantes et al. (2008), no caso de equinos a clínica é muito variável, onde é observado as duas formas da doença, forma paralítica e furiosa. O animal pode apresentar agressividade, postura anormal, relinchos, escoiceamento inexplicáveis, claudicação, andar com passo alto, entre outros. 2.6 DIAGNÓSTICO O diagnóstico da raiva é realizado por meio dos sinais clínicos observados, a epidemiologia da região e o exame laboratorial. A sua confirmação é baseada no teste de imunofluorescência direta, que é considerado a técnica de eleição, para diagnóstico da raiva. Outro teste utilizado é a inoculação intracerebral em camundongos, esse bem mais especifico, porém demorado. Outra possibilidade diagnostica é a técnica histológica (MARCOLONGO-PEREIRA et al., 2011; PEDROSO et al., 2009). O material para diagnostico é coletado pelo Medico Veterinário ou auxiliar treinado, partes do sistema nervoso central são coletadas após a morte do animal ou eutanásia. Nos bovinos pode ser coletado todo encéfalo ou, de preferência, fragmentos como córtex, cerebelo e hipocampo de ambos os hemisférios. Nos equídeos, coleta-se, também, o bulbo e fragmentos das porções inicial, medial e terminal da medula espinhal (BRASIL, 2009b). 6

Na imunofluorescência direta utilizam-se anticorpos fluorescentes. A técnica se baseia no exame microscópico de impressões de fragmentos de tecido nervoso tratados com conjugado específico, se o antígeno rábico reage com o conjugado, quando iluminado com luz ultravioleta emite uma luz esverdeada fluorescente onde é considerado positivo (BRASIL, 2008). A prova biológica é realizada por inoculação intracerebral de uma suspensão preparada com fragmentos do sistema nervoso de animais suspeitos em camundongos, que ficam em observação durante 21 dias e se apresentarem os sintomas o resultado é positivo. Tal técnica tem uma grande desvantagem de demorar, cerca de 3 semanas, mas essa quando realizada por profissional experiente é 90% sensível (BRASIL, 2008; SILVA, 2012). A técnica histológica consiste na investigação de inclusões denominadas Corpúsculos de Negri, que representam concentrações de proteínas virais intracitoplasmáticas na célula infectada, essas inclusões são aceitas como indicações especificas da infecção com o vírus da raiva, e com o uso de microscopia ótica comum é possível observar sua presença, porem sua ausência não invalida ser positivo para a doença (BRASIL, 2008). Como teste alternativo, para a imunofluorescência direta, o diagnostico por imuno-histoquímica tem sido utilizado por ser considerado bastante seguro. Para a realização da técnica os fragmentos devem ser fixados em formol tamponado incluir parafina, com ajuda de microscópio óptico comum é possível detectar a ligação do anticorpo primário ao antígeno no tecido examinado (ACHKA et al., 2010). 2.7 TRATAMENTO A raiva é uma doença aguda, progressiva e fatal, uma vez iniciado os sinais clínicos não existe tratamento ainda para os animais. Para humanos o tratamento com vacinas anti rábicas são indicados após a exposição ao vírus, para evitar a evolução da doença (SILVA, 2012). Em humanos já foram relatados casos de cura, inclusive no Brasil, por ser considerada até então fatal esses casos de sucesso criou novas perspectivas em relação ao tratamento da doença, mas essa ainda é um desafio (BRASIL, 2011b). 2.8 PROFILAXIA A gravidade da exposição ao vírus depende do local, presença de lesões, profundidade e extensão das lesões. São considerados acidentes graves a contaminação que ocorre em locais mais inervados, próximos ao sistema nervoso, lambeduras de mucosa, lambedura em ferimentos múltiplos e profundos ou qualquer mordedura de morcego (BRASIL, 2011a). 7

No caso de profissionais que atuam em áreas de risco, como médicos veterinários, estudantes de medicina veterinária, zootecnistas, biólogos, agrônomos, profissionais de laboratório, entre outros estão expostos ao vírus da raiva, uma profilaxia preposição é indicada. A vacina pré exposição é realizada em 3 doses, os dias de aplicação são dia 0, 7 e 28, e após 14 dias da ultima dose é realizado um teste sorológico que vai indicar se o corpo produziu anticorpos suficiente (títulos de anticorpos > 0,5UI/ml), se a titulação não for alcançada deve ser aplicado uma dose completa de reforço, e reavaliar novamente a partir do 14º dia após a aplicação (BRASIL, 2011a). Para evitar o desenvolvimento da doença medidas profiláticas são tomadas em relação ao rebanho, que é a vacinação. Essa é realizada em todos os animais anualmente, preconizando o uso da vacina com vírus inativado. No caso de animais que receberem a primeira dose, após 30 dias devem ser revacinados. Animais nascidos após a vacinação é recomendado sua vacinação assim que atingirem 3 meses de idade (BRASIL, 2009a). 2.9 CONTROLE O Programa Nacional Controle da Raiva de Herbívoros propõe estratégias para combate da doença como a vigilância epidemiológica, a profilaxia mediante a vacinação dos herbívoros domésticos em focos, perifocos e em áreas de risco, o cadastramento e o monitoramento dos abrigos de morcegos hematófagos, e o controle da população de morcegos da espécie Desmodus rotundus (BRASIL, 2009b). O controle dos morcegos hematófagos também é realizado, focado no combate da espécie Desmodus rotundus. Esse controle está baseado na utilização de substâncias anticoagulantes, a base de warfarina é a mais utilizada, esse controle deve ser seletivo para não atingir morcegos de outras espécies. Para que o controle seja apenas na espécie desejada os morcegos são capturados nos seus abrigos ou no local de alimentação, a pasta é passada seu dorso. Outra maneira de controle é o método indireto, onde a pasta é passada próxima ao ferimento realizado pelo morcego no animal. Quando encontrado abrigos/refúgios esses devem ser registrados e monitorados pelo menos uma vez ao ano, sendo que algumas espécies devem ser enviadas ao laboratório para diagnostico (BRASIL, 2009a). A vacinação é de grande importância, essa deve ser realizada juntamente com o controle do morcego para que seja eficiente. A ausência de vacinação, aplicação, manipulação e conservação inadequada da vacina causam falha na eficácia da mesma, dando a oportunidade da doença se instalar em alguns rebanhos. Além disso, a falta de exames clínicos e neurológicos nos animais suspeitos, faz com que a doença não seja diagnosticada e notificada, favorecendo ainda mais sua disseminação (PEIXOTO, 1998). 8

3 MATERIAL E MÉTODOS Foi realizado um levantamento de casos positivos de raiva em Colatina/Espírito Santo através dos formulários do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo IDAF entre os anos de 2013 a 2015. Das analises realizadas nesse período, coletou-se as seguintes variáveis: a incidência de casos, as características dos sinais apresentados pelos animais, as medidas adotadas pelo órgão, assim como o controle da doença e profilaxia. Os dados foram analisados de forma descritiva e por média simples. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO O rebanho de Colatina, entre bovinos e equinos, é de 79.038 cabeças segundo IBGE 2015, sendo esses animais são extremamente suscetíveis a raiva e vários casos tem sido relatado pelo IDAF. Com base nos dados do IDAF Colatina, foram relatados 5 casos confirmados de raiva na região entre 2013 a 2015, em bovinos foram confirmados 4 casos e o quinto em um equino. Os sinais clínicos dos casos de raiva em bovinos são bem característicos e semelhantes uns ao outros, nesses casos foram relatados, segundo os proprietários e os médicos veterinários oficiais, os seguintes sinais (TABELA 1): Tabela 1 Sinais clínicos dos bovinos observados nos casos de raiva em Colatina. Sinais clínicos Numero de casos Porcentagem (%) Decúbito 3 60% Movimento de pedalagem 3 60% Opistótono 2 40% Salivação intensa 2 40% Apatia 1 20% Perda do apetite 1 20% Incoordenação 1 20% Paralisia dos membros anteriores 1 20% Paralisia dos membros posteriores 1 20% Ranger de dentes 1 20% Agitação 1 20% Narinas com secreção serosa 1 20% Animal mugindo na fase final 1 20% 9

Sinais como decúbito e movimentos de pedalagem que foram observados em 60% dos casos, foi relatada também por Marcolongo-Pereira et al. (2011), juntamente com opistótono, apatia, incoordenação e paralisia dos membros que foram observado em apenas 20% dos casos pela maioria dos animais já terem sido encontrados em decúbito. A paralisia dos membros segundo Batista et al. (2007), é consequência das lesões causadas pelo vírus na medula, tronco encefálico e cerebelo. É comum ocorrer lesões como meningoencefalite e meningomielite não supurativas, onde posteriormente ocorrem neuronofagia que é um processo de fagocitose dos neurônios necrosados, principalmente nos gânglios trigerminal, pertencente ao sistema nervoso periférico, com perda das funções motoras e nervosas (COELHO, 2002). Reis et al. (2003) relatou em seu trabalho vários distúrbios digestivos como salivação intensa e perda do apetite causados pela raiva, sendo esses também relatados nos casos de Colatina e presente em 40% e 20% dos casos, respectivamente. Essa salivação intensa se da pela dificuldade de deglutição como explica Batista et al. (2007). Distúrbios nervosos citados por Reis et al. (2003) corroboram com os sinais observados pelo IDAF como: incoordenação, paralisia, movimentos de pedalagem e ranger de dentes, sendo esses últimos também em menor escala. O comportamento de mugir durante o decorrer da doença é sinal compatível com raiva furiosa segundo Langohr et al. (2003), mas nesse caso ela foi presente no estágio final podendo ser causada por intensa dor. A causa de secreções nas narinas do animal citado pode ser por possível pneumonia aspirativa, pois as lesões neurológicas geram alteração fisiológica que durante a deglutição ou regurgitação pode resultar em falsa via (LEMOS, 2005). A maioria dos sinais observados estão relatados no trabalho de Lima et al. (2005), que mencionam surtos de raiva em ovinos, caprinos, bovinos e equinos na Paraíba de 2002 a 2004, mostrando que os sinais da raiva são bem semelhantes e característicos entre esses animais. No caso do equino os sinais clínicos foram observados desde o começo, sendo possível acompanhar com bastante clareza a evolução a doença pelo médico veterinário responsável da propriedade. Os sintomas iniciaram com andar cambaleante, olhar vidrado, andar em círculos, pressionar a cabeças contra as réguas do curral e por fim decúbito permanente. Nantes e Zappa (2008) também relatou caso de um equino com incoordenação, decúbito, movimentos de pedalagem e nistagmomas. Os sinais não foram muito semelhantes, sendo a incoordenação relatada em ambos. Os sinais clínicos do equino observado no surto por Lima et al. (2005) foram bem semelhantes ao relatado acima, apresentando também andar em círculos e cambaleante, pressão da cabeça contra objetos e decúbito. 10

O morcego hematófago Desmodus rotundus é o principal transmissor da Raiva, para combatê-lo o IDAF de Colatina segue o Manual Técnico de Controle de Raiva em Herbívoros (BRASIL, 2009a), sendo realizado de duas formas, direta ou indireta. Na forma direta o combate se da pela captura do morcego e aplicação direta de uma pomada a base de anticoagulante em seu dorso. Na forma indireta, aplica-se a pomada na ferida do animal sugado, no caso bovino ou equino, uma vez que o morcego tem o hábito de voltar ao mesmo animal e local para se alimentar. Essa pomada com anticoagulante após ser ingerida pelo morcego causa uma hemorragia interna levando-o a óbito. Além do combate, o IDAF Colatina prepara uma equipe que sai à procura de abrigos de morcegos. Após encontrados são cadastrados e monitorados periodicamente, pelo menos uma vez ao ano. Colatina possui 7 abrigos de morcegos cadastrados, em sua maioria são abrigos de morcegos não hematófagos, normalmente os abrigos são em bueiros a beira da estrada e pequenas cavernas, desses abrigos são coletados espécimes de morcegos hematófagos, que são enviados ao laboratório para diagnostico de Raiva (BRASIL, 2009a). Em caso de suspeita de raiva o IDAF vai até a propriedade, para avaliar o caso. Eles seguem o Formulário de Investigação de Doenças - Inicial (FORM- IN). Nesse formulário são contidas informações, como: motivo da investigação, principais sinais e achados, espécie acometida e idade além das medidas que foram adotadas. Se confirmado os sinais clínicos o Medico Veterinário oficial ou profissional treinado, obrigatoriamente imunizado, faz a coleta do sistema nervoso central ou fragmentos para encaminhar para o laboratório. Essa coleta segue os critérios de biossegurança detalhadas no Manual de Diagnóstico Laboratorial da Raiva (BRASIL, 2008), com uso de instrumentos e equipamentos adequados. Todos os exames, imunofluorescência e inoculação em camundongos, são realizados no Departamento de Diagnóstico Laboratorial (DDL-IBEES) localizado no município de Cariacica/ES. O material coletado segue para o laboratório juntamente com o, que é o Formulário Único de Requisição de Exames para Síndrome Neurológica - FORM-SN, nesse formulário tem o animal acometido os dados do responsável pela coleta e pela remessa, dados sobre o animal (sinais, vacinas, entre outros), informações sobre colheita, todos dados que possam ajudar no diagnóstico. Para notificar o IDAF, o produtor ou qualquer outra pessoa, usa o Formulário de Notificação de Suspeita ou Ocorrência de Doenças Animais - FORM NOTIFICA, nele os mesmos informam sobre a ocorrência de animais doentes, para que a partir daí o IDAF comece a atuar. 11

As medidas adotadas pelo IDAF Colatina é a mesma descrita no Manual Técnico de Controle de Raiva em Herbívoros (2009), após a confirmação de casos positivos a propriedade foi interditada, todos os animais foram revacinados, essa ficou sob monitoria, onde foram realizadas 3 vistorias (30 em 30 dias) para observar se nenhum outro animal apresente o sintomas, como nenhum caso suspeito surgir depois de 90 dias a propriedade foram liberada. No caso de pessoas contactantes, essas são encaminhadas ao posto de saúde para uma imunização pós exposição, o paciente será avaliado e um esquema com soro antirrábico e vacinação, onde 5 doses de vacinas são administradas (dia 0, 3, 7, 14 e 28) como esta previsto nas Normas Técnicas de Profilaxia da Raiva Humana (BRASIL, 2011a). No caso de animais vacinados pela primeira vez, esses devem receber um reforço para garantir a efetividade da vacinação como costa no Manual de legislação: Programas nacionais de saúde animal do Brasil (BRASIL, 2009b). Das quatro propriedades positivas para raiva todos os animais afetados eram jovens. Em três dos casos investigado, as causas se deram pela falta do reforço, consequentemente o animal não conseguiu a imunização efetiva necessária, essa situação também é evidenciada no trabalho de Lima et al. (2005). No caso do equino relatado ele havia chegado de outra propriedade a 6 meses e não foi revacinado contra raiva. 5 CONCLUSÃO Conclui-se que a profilaxia da raiva ainda é o ponto chave para seu combate, sendo necessária uma campanha de conscientização mais eficaz para os proprietários, uma vez que esses ainda são bem relapsos com a vacinação dos animais. Não deixando de lado os controles realizados para combater o transmissor da doença, pois uma ação isolada não leva ao sucesso no combate a Raiva em herbívoros. REFERÊNCIAS ABREU, C. C. Imuno-histoquímica para diagnóstico rápido da raiva bovina e estudo da distribuição periférica do vírus. 2012. 75 p. Dissertação (mestrado) Universidade Federal de Lavras, Lavras. ACHKA, S. M. et al. Sensibilidade da técnica de imuno-histoquímica em fragmentos de sistema nervoso central de bovinos e equinos naturalmente infectados pelo vírus da raiva. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.30, n.3, p.211-218, 2010. ANDREWS, A. H.; BLOWEY, R. W.; BOYD, H.; EDDY, R. G. Medicina bovina: doenças e criações de bovinos. São Paulo: Rocca, 2008. BABBONIA, S. D.; MODOLOA, J. R. Raiva: Origem, Importância e Aspectos Históricos. UNOPAR Científica Ciências Biológicas e da Saúde, 13(Esp), p.349-56, 2011. 12

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