HISTEROCELE INGUINAL ASSOCIADA À HIPERPLASIA ENDOMETRIAL CISTICA/PIOMETRA EM CADELA RELATO DE CASO HISTEROCELE INGUINAL ASSOCIATED WITH HYPERPLASIA ENDOMETRIAL CISTICA / PIOMETRA IN BITCH - CASE REPORT Agrício Moreira DANTAS NETO¹; Roana Cecilia dos Santos RIBEIRO²; Iara Macêdo de Melo GOMES²; Leonardo de Barros SILVA²; Lylian Karlla Gomes de MEDEIROS²; Jefferson da Silva FERREIRA³ e Almir Pereira de SOUZA 4 1 Aluno de graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal de Campina Grande, Campus Patos PB. E-mail: agriciomoreira@hotmail.com 2 Médico(a) Veterinário(a) Residente, Hospital Veterinário da Universidade Federal de Campina Grande, Campus Patos PB. 3 Mestrando, Programa de Pós Graduação em Medicina Veterinária (PPGMV), Universidade Federal de Campina Grande (UFCG),Campus Patos-PB 4 Professor da Unidade Acadêmica de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Saúde e Tecnologia Rural, Patos/Paraíba, Brasil. Resumo: A histerocele inguinal é uma herniação pouco frequente em caninos, que tem como característica a protrusão do útero pelo canal inguinal, estando o quadro relacionado a situações de gestação e/ou piometra. O Complexo hiperplasia endometrial cística (CHEC) é uma alteração endometrial do útero de cadelas e gatas. Está correlacionada a altos níveis de estrógeno e exposição prolongada de progesterona seja endógena ou exógena. A piometra canina é uma enfermidade da cadela adulta caracterizada pela inflamação do útero com acúmulo de exsudatos e esta enfermidade ocorre devido a alterações hormonais e, geralmente, está associada a infecções bacterianas. Esse trabalho tem como objetivo relatar o caso clínico e cirúrgico de uma cadela com hérnia inguinal de útero com hiperplasia endometrial cística e piometra. Palavras chaves: Hérnia inguinal; piometra; hiperplasia endometrial cística; cadela. Keywords: Inguinal hérnia; pyometra; cystic endometrial hyperplasia; bitch. Revisão de literatura: Hérnia inguinal é definida como qualquer defeito na parede externa dessa região, que possa permitir protrusão de toda ou parte do conteúdo abdominal. As Anais do 38º CBA, 2017 - p.1787
hérnias inguinais podem ser congênitas ou adquiridas aparecendo com maior frequência nas fêmeas de meia idade e sem predileção racial (SLATTER, 2002). A histerocele inguinal é uma herniação pouco frequente em caninos, que tem como característica a protrusão do útero pelo canal inguinal, estando o quadro relacionado a situações de gestação e piometra (FOSSUM, 2015). O surgimento da histerocele em fêmeas também está correlacionado ao estro ou gestação, tendo como causa o desequilíbrio hormonal que leva ao enfraquecimento de tecido conjuntivo, resultando no alargamento dos anéis inguinais (READ e BELLENGER, 2003). Como diagnóstico diferencial da histerocele, temos as neoplasias mamárias, abcessos e hematomas locais e/ou até mesmo mastites (NOAKES, 2001). A piometra canina é uma enfermidade da cadela adulta caracterizada pela inflamação do útero com acúmulo de exsudatos (SMITH, 2006; BARTOSKOVA et al., 2007), podendo ser de evolução aguda ou crônica (JOHNSTON et al., 2001). Esta enfermidade ocorre devido a alterações hormonais e, geralmente, está associada a infecções bacterianas (GOBELLO et al., 2006). O complexo hiperplasia endometrial cística (CHEC) é uma alteração endometrial do útero de cadelas e gatas. Está correlacionada a altos níveis de estrógeno e exposição prolongada de progesterona seja endógeno ou exógeno (HAGMAN, 2004). Os exames de imagem, como raios-x e/ou ultrassonografia, podem ser usados para confirmar o conteúdo herniário, bem como a exploração do abdômen por palpação e tentativa de reduzí-lo (SLATTER, 2002). O objetivo do presente trabalho é relatar um caso de histerocele inguinal com hiperplasia endometrial cística e piometra em uma cadela atendida no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Campina Grande. Relato de caso: Foi atendida no Hospital Veterinário (HV) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), campus Patos, uma cadela, poodle, 10 anos, pesando 7,5 quilos. A tutora relatou que o animal fora atendido, aproximadamente, há 01 ano com diagnóstico de um cisto mamário, entretanto, foi observado pouco tempos antes da consulta um aumento de volume na mama inguinal esquerda. Relatou também que o animal estava se alimentando menos, estava com normodipsia, as fezes apresentavam-se pastosas, urina normal e apresentava halitose. Segue aduzindo que, por vezes o animal apresentava cansaço. Não apresentava ectoparasitas, não Anais do 38º CBA, 2017 - p.1788
era castrada e já tinha procriado duas vezes. Negou aplicação de anticoncepcional e secreção vaginal. A cadela estava com a vacinação polivalente atrasada, com a vacinação antirrábica em dia e com vermifugação atrasada. A cadela é cardiopata e é medicada com Atenolol 2mg/BID. Não tinha outros sinais clínicos significativos. Ao exame físico observou-se o paciente alerta, em bom estado geral, quadrupedal, com escore corporal 4 (1-5). As mucosas oral e ocular estavam normocoradas, TPC 1, os linfonodos poplíteos discretamente aumentados, normohidratada, ausculta cardíaca com arritmia irregular, ausculta pulmonar sem alteração e não apresentava dor na palpação abdominal. Observou-se um nódulo na mama inguinal esquerda, onde o mesmo era macio, com aproximadamente 3 centímetros de diâmetro, não ulcerado e indolor. Foi solicitado hemograma e bioquímica, ultrassonografia abdominal e eletrocardiograma. Nos resultados laboratoriais, observou-se uma leucocitose por neutrofilia com desvio à esquerda, podendo ser justificada pela presença da piometra. Eosinofilia, que pode ser justificada pelo fato do animal está com a vermifugação atrasada e monocitose. As plaquetas do animal estavam dentro dos valores de normalidade. A ultrassonografia evidenciou um aumento de volume em região inguinal esquerda com presença de visualização no anel herniário contendo útero de parede espessada irregular com presença de cisto e com conteúdo anecóico com pontos ecogênicos em suspensão intraluminal. Os achados ultrassonográficos são compatíveis com hérnia inguinal associada à hiperplasia endometrial cística / piometra. No eletrocardiograma foi constatada uma arritmia sinusal discreta, eixo elétrico cardíaco normal e os demais parâmetros dentro da normalidade para a espécie canina. Foi realizada cirurgia, na qual foi feita uma incisão retroumbilical, divulsão do tecido subcutâneo e incisão na linha alba, após, foi feita a redução do conteúdo herniado (útero), expondo a ligadura nos pedículos ovarianos e no corpo uterino com mononylon 2-0. Foi feita a herniorrafia inguinal e depois a omentopexia, miorrafia com nylon 3-0 padrão vai-vem. Finalizado com dermorrafia com mononylon 2-0 padrão wolf. No pós operatório foi utilizado Enrofloxacino (10 mg/kg) BID por 10 dias, Meloxicam (0,1 mg/kg) SID por 3 dias e Furanil (pomada) BID por 10 dias. O material foi encaminhado para o Laboratório de Patologia animal e no laudo histopatológico foi descrito um endométrio com proliferação hiperplásica das Anais do 38º CBA, 2017 - p.1789
glândulas endometriais constituídas por arranjos císticos revestidos internamente por epitélio variando de cúbico a colunar, por vezes com áreas apresentando até 3 camadas. Ainda no revestimento do cisto, observa-se projeções papilares e ocasionais áreas de metaplasia escamosa. No lúmen dos cistos, foi observado infiltrado de neutrófilos íntegros e degenerados em associação com debris celulares. Lâmina própria com infiltrado linfoplasmocitário moderado e difuso. Assim, tendo o diagnóstico de hiperplasia endometrial cística associada a piometra. Discussão: Após o exame clínico e físico foi coletado o sangue para os exames hematológicos e bioquímicos e o animal foi encaminhado para a realização da ultrassonografia. Dessa feita, o diagnóstico ultrassonográfico identificou um aumento de volume na região inguinal, com visualização do anel herniário. O anel inguinal tende a dilatar-se com a obesidade e aumento da pressão intraabdominal, acompanhada pelo enfraquecimento das estruturas adjacentes. (READ e BELLENGER, 2003). Também era possível observar o útero com paredes espessas e irregulares podendo está associado a uma piometra, o que está de acordo com o que foi descrito por Fossum (2015), a cadela fez um eletrocardiograma para ser encaminhada para o procedimento cirúrgico. A cadela apresentou também uma leucocitose por neutrofilia com desvio pra esquerda. Isso se dá devido à retenção de secreção sanguinolenta no útero, a qual exerceu um efeito quimiotáctico nos neutrófilos. A elevada percentagem de bastonetes em circulação é considerada um sinal de grande necessidade de neutrófilos nos tecidos durante a inflamação (HAGMAN, 2009). A cadela foi submetida a uma herniografia inguinal de útero e OH, pois a ovário salpingo histerectomia associada à herniorrafia inguinal é considerada o tratamento de eleição nestes caso. (SLATTER, 2002). Estes dois métodos foram utilizados como principal meio para resolução da patologia descrita, sendo assim um mais um procedimento condizente com o relato. Após a cirurgia o material foi encaminhado para o laboratório de Patologia Animal onde foi confirmado a hiperplasia endometrial cística e a piometra. Conclusão: Após o atendimento clínico do animal e realização de exames complementares a cadela foi encaminhada para cirurgia e se teve sucesso na Anais do 38º CBA, 2017 - p.1790
realização da herniografia e ovariohisterectomia. Então, podemos concluir, que o exame ultrassonográfico é de suma importância para o diagnostico definitivo desse tipo de patologia e que os procedimentos clínicos e cirúrgicos foram eficazes para a correção do problema. Referências: BARTOSKOVA, A. et al. Hysterectomy leads to fast improvement of haematological and immunological parameters in bitches with piometra. Journal of Small Animal Practice, v.48, p.564-568, 2007. FOSSUM, T.W.; HEDLUND, C.S.; HULSE, D.A.; JOHNSON, A.L.; SEIM, H.B.; WILLARD, M.D., et al. Cirurgia da cavidade abdominal. In: FOSSUM, T.W. Cirurgia de pequenos animais. São Paulo: Roca, 2005. p. 264-269. GOBELLO, C. et al. A study of two protocols combining aglepristone and cloprostenol to treta open cervix piometra in the bitch. Theriogenology, v.60, n.5, p.901-908, 2006. HAGMAN, R. et al. Blood lactate levels in 31female dogs with pyometra. Acta Veterinaria Scandinavica, v. 51, n. 2, p.1-9, 2009. HAGMAN, R. New aspects of canine pyometra studies on epidemiology and pathogenesis. 55f. Uppsala, Suécia. Tese (Doutorado em Clínica de Pequenos Animais). Programa de Pós-graduação do Department of Small Animal Clinical Sciences, Swedish University of Agricultural Sciences. 2004. MATERA, E.A.; STOPIGLIA, A.V. Hérnia inguinal da cadela. Ver. Fac. Med. Vet, São Paulo, p. 369-75, 1950. NOAKES, D.E. Maternal dystocia: Causes and treatment. In: NOAKES, D.E.; PARKINSON, T.J.; ENGLAND, G.C.W. (Eds.). Arthur s Veterinary Reproduction and Obstetrics. Philadelphia: WBSaunders, 2001. p. 240-41. READ, R.A.; BELLENGER, C.R. Hernias. In: SLATTER, D. (Ed.). Textbook of Small Animal Surgery. Philadelphia: WB Saunders, 2003. p. 446-70. SLATTER, D. Textbook of small surgery. Philadelphia: WB Saunders, 2002. SMITH, F.O. Canine piometra. Theriogenology, v.66, p.610-612, 2006. Anais do 38º CBA, 2017 - p.1791