A LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL E SEU IMPACTO NA GESTÃO PÚBLICA



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Transcrição:

A LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL E SEU IMPACTO NA GESTÃO PÚBLICA Ana Karina Santos Coelho 1, José César de Faria 2 1 Universidade do Vale do Paraíba/Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas e Comunicação, Av. Shishima Hifumi, 2911, Urbanova, São José dos Campos São Paulo, ana_karinasc@yahoo.com.br 2 Universidade do Vale do Paraíba/Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas e Comunicação, Av. Shishima Hifumi, 2911, Urbanova, São José dos Campos São Paulo, jcfaria@univap.br Resumo - A partir do ano de 2000, com a Lei Complementar nº 101, mais conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal, a gestão pública na alçada Municipal, Estadual e Federal sofreu alterações na sua conduta, principalmente em relação aos gestores, exigindo maior responsabilidade sobre os gastos públicos. Esta Lei se constituiu no principal instrumento regulador das contas públicas do País, fundamentando-se em três principios básicos: imposição de limites para os gastos públicos, atribuição de responsabilidades e transparência ao gestor. A Lei de Responsabilidade Fiscal não substituiu nem revogou a Lei nº 4.320/64, a qual estabelece normas para elaboração e execução orçamentária. A Lei traz uma mudança institucional e cultural no trato com o dinheiro público, estabelecendo normas orientadoras das finanças públicas no país e rígidas punições aos gestores que não mantiverem o equilíbrio de suas contas, com isso se tem a importância e o papel da Contabilidade Pública e a do contador na gestão pública. A problemática a ser analisada refere-se à falta de controle e planejamento por parte dos gestores públicos antes da Lei de Responsabilidade Fiscal e como está a gestão com a sua aplicabilidade. Palavras-chave: Lei de Responsabilidade Fiscal, Gestores, Transparência, Contabilidade. Área do Conhecimento: Ciências Sociais Aplicadas Introdução A Lei de Responsabilidade Fiscal, como o próprio nome já diz, baseia-se na responsabilidade com o dinheiro público oriundo dos cidadãos, que cumprem com suas responsabilidades e obrigações em relação às arrecadações obtidas pelos órgãos públicos, que automaticamente passam a compor seus cofres. Com isso, a Lei trouxe uma série de novos desafios aos gestores públicos do Brasil. Dentre os princípios da Lei estão o planejamento, a transparência em relação aos gastos e a participação da sociedade. Isso se deve ao comportamento da própria sociedade que está cada vez mais interessada em participar dos assuntos políticos, econômicos e sociais do país, buscando informações que possam fazê-la entender os instrumentos que regem o destino do Brasil e, consequentemente, o de seus cidadãos. A Lei deve ser discutida, entendida pelos cidadãos, para que possam fiscalizar e exigir qualidade e transparência das contas públicas a cargo dos governantes. Existe uma diferença nesta Lei com relação às outras Leis do setor público, que é a de responsabilizar a área de gestão financeira dos órgãos e poderes públicos a partir de um acompanhamento sistemático de desempenho da Administração Pública. O objetivo deste artigo é demonstrar o impacto da Lei de Responsabilidade Fiscal na gestão fiscal das contas públicas no Brasil, o compromisso dos governantes com o plano de governo e orçamento público, obtendo transparência, e a necessidade de apresentação e aprovação pelo Poder Legislativo. O presente trabalho pretende demonstrar, em resumo, o que é a Lei de Responsabilidade Fiscal, sua aplicabilidade e o seu impacto na gestão pública, a importância da contabilidade e o papel do contador neste setor. Metodologia Para a elaboração deste artigo científico procurou-se pesquisar como base informações levantadas através de análise e seleção bibliográfica de livros e sites atuais que abordassem sobre a Lei de Responsabilidade Fiscal, e conceituar a Lei, sua aplicabilidade, seus impactos e seus objetivos na gestão pública. Explorou-se também a aplicabilidade e a importância da Contabilidade Pública e do papel do contador, que avalia as informações contábeis, orienta e dá apoio ao gestor público para uma competente e segura tomada de decisão. A Lei de Responsabilidade Fiscal A Lei Complementar nº 101, de 4 de Maio de 2.000, mais conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal ou LRF, estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. 1

Esta Lei veio para regulamentar os artigos 163 a 169 do Capítulo II e Titulo VI das Finanças Públicas da Constituição Federal da República de 1988, e tem por objetivo estabelecer normas de finanças públicas voltadas para responsabilidade da gestão fiscal. Para Figueirêdo & Nóbrega (2001), responsabilidade fiscal pode ser traduzida como sendo o cuidado, o zelo na arrecadação das receitas e na realização das despesas públicas, obrigando-se o gestor a agir com transparência e de forma planejada. A referida Lei busca o compromisso do gestor público com uma política fiscal responsável. A atribuição de responsabilidades ao gestor foi consolidada a partir da publicação da Lei 10.028, de outubro de 2000. Os objetivos desta Lei são os seguintes: Enfatizar o planejamento nas ações governamentais; Dotar a Administração Pública de instrumentos legais para o atingimento do equilíbrio das contas públicas mediante cumprimento de metas fiscais, bem como as medidas de correção de eventuais desvios; Estabelecer o controle social, mediante a utilização de mecanismos de transparência das contas públicas. Estão sujeitos à Lei de Responsabilidade Fiscal os Poderes Executivo, Legislativo, Judiciário e os Tribunais de Contas, bem como o Ministério Público e os demais órgãos da administração direta, fundos, autarquias, fundações e empresas estatais subordinadas. Tais órgãos podem aprovar as contas ou não. Em caso de as contas serem rejeitadas, será instaurada investigação em relação ao Poder Legislativo em questão, podendo resultar em multas ou mesmo na proibição de tentar disputar novas eleições. Uma das grandes inovações trazidas pela Lei, em termos de controle das finanças públicas, são os limites estabelecidos para as diversas áreas fiscais, que se aplicam a todos os níveis de governo e a todos os Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Segundo Reston (2000), a Lei de Responsabilidade Fiscal provocou uma mudança substancial na maneira como é conduzida a gestão financeira dos três níveis de governo. A Lei inova a Contabilidade Pública e a execução do Orçamento Público à medida que introduz diversos limites de gastos, seja para as despesas do exercício, seja para o grau de endividamento. Para Furtado (2002), tornou-se preciso saber planejar o que deverá ser executado, pois, além da execução, devem-se controlar os custos envolvidos, cumprindo o programado dentro do custo previsto. A Lei de Responsabilidade Fiscal na Gestão Fiscal A concepção, a amplitude e o alcance da Lei na gestão fiscal são facilmente entendidos no parágrafo primeiro, do seu artigo primeiro, que diz: Gestão fiscal pressupõe a ação planejada e transparente, em que se previnem riscos e se corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, mediante o cumprimento de metas de resultados entre receitas e despesas e a obediência a limites e condições no que tange a renúncia de receita, geração de despesas com pessoal, seguridade social e outras, dívidas consolidada e mobiliária, operações de crédito, inclusive por antecipação de receita, concessão de garantia e inscrição em restos a pagar. A Lei de Responsabilidade na gestão fiscal tem o objetivo de controlar o déficit público para estabilizar a dívida em um nível suportável para a condição de economia emergente. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão fazer previsões de médio prazo que vão de 3 (três) a 4 (quatro) anos para todas as suas receitas e despesas, e acompanhálas, mensalmente, bem como dispor de um bom sistema de controle de suas finanças, principalmente da dívida. Lei Complementar nº 131, de 27 de Maio de 2009 No dia 27 de maio de 2009, foi publicada a Lei Complementar nº 131, que estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências, a fim de determinar a disponibilização, em tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Esta Lei altera alguns dispositivos da Lei de Responsabilidade Fiscal, acrescentando a ela os artigos 48-A, 73-A, 73-B e 73-C. Estes artigos dizem respeito à maior transparência das contas públicas, despesas e receitas, estando disponibilizadas em tempo real, assegurando um acesso ainda maior dos cidadãos sobre a execução orçamentária, e vem incentivar a participação popular nos processos de elaboração e discussão dos orçamentos realizados em todas as esferas, dando acesso aos lançamentos e recebimento das receitas e os atos praticados pelas unidades gestoras quanto à execução da despesa. Foram atribuídos prazos para o cumprimento desta lei, sendo para: 2

A União, Estados, Distrito Federal e Municípios com mais de 100.000 (cem mil) habitantes, 1 (um) ano; Os Municípios que tenham entre 50.000 (cinquenta mil) e 100.000 (cem mil) habitantes, 2 (dois) anos, e Os Municípios que tenham até 50.000 (cinquenta mil) habitantes, 4 (quatro) anos. Se as contas não estiverem disponíveis na Internet dentro desses prazos, ficarão impedidos de receber transferências voluntárias, que é definida como sendo a entrega de recursos correntes ou de capital a outro ente da Federação, a título de cooperação, auxílio ou assistência financeira, que não decorra de determinação constitucional, legal ou os destinados ao Sistema Único de Saúde. A referida Lei Complementar ainda vem assegurar que qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato é parte legítima para denunciar ao referido Tribunal de Contas e ao órgão competente do Ministério Público o descumprimento das prescrições estabelecidas na Lei de Responsabilidade Fiscal. Os impactos da Lei de Responsabilidade Fiscal A Lei de Responsabilidade Fiscal não substituiu e nem revogou a Lei nº 4.320/64, vigente no país há mais de 40 anos. Seus objetivos são distintos. A Lei nº 4.320/64 estabelece as normas gerais para a elaboração e o controle dos orçamentos, contabilidade e balanços. A Lei de Responsabilidade Fiscal estabelece normas de finanças públicas voltadas para a gestão fiscal na sua eficiência e na sua eficácia, que veio suprir uma lacuna da Lei nº 4.320/64, pois além de estabelecer normas orientadoras das finanças públicas, instituiu, também, severas punições para aqueles governantes que não souberem administrar os recursos públicos durante o seu mandato, deixando dívidas para seus sucessores e assumindo compromissos que sabem, de antemão, não poder honrar. A Lei nº 4.320/64 passou por algumas alterações como: conceito de dívida fundada, de empresa estatal dependente, de operações de crédito e tratamento dado aos restos a pagar. A Constituição Federal deu à Lei nº 4.320/64 o status de Lei Complementar, mas existindo algum dispositivo conflitante entre as duas normas jurídicas, prevalece à vontade da Lei mais recente. A Lei atribuiu à Contabilidade Pública novas funções no controle orçamentário e financeiro, garantindo-lhe um caráter mais gerencial. As informações contábeis passaram a interessar tanto à Administração Pública quanto aos seus gestores, e também a sociedade passa a ser participante do processo de acompanhamento e fiscalização das contas públicas para as tomadas de decisões, mediante os instrumentos que a Lei incorpora para esta finalidade. As vantagens da Lei de Responsabilidade Fiscal 1. Orçamento Participativo A Lei de Responsabilidade Fiscal veio para estimular à prática do orçamento participativo ao estabelecer como condição prévia à participação popular e a realização de audiências públicas na elaboração e discussão da Lei de Diretrizes Orçamentárias e da Lei Orçamentária Anual. O orçamento participativo dá oportunidade de expor a situação financeira, seus problemas operacionais, planos e prioridades e propicia à população apresentar reivindicações, sendo que dessa interação sairá a proposta orçamentária. 2. Transparência da Gestão A obrigatoriedade da transparência do planejamento e da execução da gestão fiscal é uma das caracteristicas marcantes da Lei de Responsabilidade Fiscal, com linguagem simples e objetiva. As informações contidas nos relatórios exigidos, além de estabelecer parâmetros e metas para a Administração Pública, permitem avaliar a gestão fiscal dos Poderes Executivo e Legislativo. Para que se tenha uma eficaz administração pública, é necessário que governo e sociedade tenham uma boa interação, podendo ser facilitada com a Lei de Responsabilidade Fiscal. 3. Herança Fiscal Dentre as vantagens da Lei está o impedimento da herança fiscal. Nos últimos 8 (oito) meses do mandato, os governantes não poderão contrair obrigação de despesa que não possa ser cumprida integralmente nesse período ou que tenha parcelas a serem pagas no exercício seguinte, sem que haja suficiente disponibilidade de caixa para esse efeito. Com isso, a decorrência é que não poderão ser feitos contratos de última hora que onerem o próximo mandato, nem deixar restos a pagar que não possam ser pagos com recursos do mandato. Assim permitirá à nova administração iniciar uma gestão executando o novo plano de governo e não esperando de um a dois anos para tanto, conforme a gravidade da herança financeira deixada. 3

4. Racionalização de Despesas A Lei tem como ênfase o controle e contenção das despesas, particularmente as despesas com pessoal, serviços de terceiros e despesas obrigatórias de caráter continuado. Despesas com o pessoal é definida como sendo o somátorio dos gastos da entidade com os servidores ativos, inativos e pensionistas, relativos a vencimentos e vantagens fixas variáveis, subsídios, aposentadorias, reformas e pensões, inclusive adicionais, horas extras, encargos sociais e contribuições; inclui, também, as despesas com pessoal terceirizado. Para as despesas com pessoal, é fixado um percentual da receita líquida, excluindo do cálculo do montante, indenizações de qualquer tipo, inclusive as que são determinadas por sentença judicial, conforme tabela 1 abaixo: Tabela 1 Limites de Despesas com Pessoal Poder/Orgão Federal Estadual Municipal Legislativo 2,5% 3,0% 6,0% Judiciário 6,0% 6,0% - Executivo 40,9% 49,0% 54,0% Ministério Público 0,6% 2,0% - Total 50% 60,0% 60,0% Fonte: O Autor As despesas obrigatórias de caráter continuado é um requisito introduzido pela Lei para assegurar que não haverá a criação de nova despesa sem fontes consistentes de financiamento, entendidas essas como aumento permanente de receita ou redução de outra despesa de caráter continuado. Considera-se como despesa obrigatória de caráter continuado, no artigo dezesete da respectiva Lei: A despesa corrente derivada de lei, medida provisória ou ato administrativo normativo que fixem para o ente a obrigação legal de sua execução por um período superior a dois exercícios. Essas limitações forçam a Administração Pública a racionalizar suas despesas; caso contrário, incorrem no corte de transferências voluntárias e demais sanções penais e políticas. 5. Crescimento das Receitas Para o crescimento da receita, é importante promover uma ampla revisão da estrutura administrativa e legal voltada para os tributos. A gestão sobre a cobrança poderá ser aperfeiçoada, passando a se cobrar no devido tempo e evitando a cobrança judicial que tem um custo elevado. Deve haver uma preocupação grande para que a fiscalização, principalmente em relação aos grandes contribuintes, seja eficaz. A Contabilidade Pública e a Lei de Responsabilidade Fiscal Para que a Lei de Responsabilidade Fiscal alcance o resultado almejado pelos legisladores, é fundamental que cada esfera de governo disponha de um corpo técnico capacitado, constituído por profissionais de diversas áreas, dentre eles, o profissional de Contabilidade. Devido à característica de seu trabalho, o profissional de Contabilidade serve como um agente de apoio e de orientação ao gestor de recursos públicos por estar em contato permanente com a legislação e com as informações contábeis, assim tendo as condições de fornecer aos gestores públicos informações atualizadas e exatas para uma competente e segura tomada de decisão. Segundo Neto (2000), é necessário que os profissionais de Contabilidade, voltados para a atuação junto à área pública, estejam preparados e cientes de sua responsabilidade para com o mais legítimo interessado nos resultados da aplicação da Lei de Responsabilidade Fiscal, qual seja, o povo brasileiro. A contabilidade é de grande importância, em especial a Contabilidade Pública, que é o ramo da ciência contábil que controla o patrimônio público, evidenciando as variações e os conseqüentes resultados, inclusive sociais, decorrentes dos atos e fatos de natureza orçamentária, financeira e patrimonial nas entidades de Administração Pública. Para que a Contabilidade Pública esteja em conformidade com a lei, são examinadas e avaliadas a integridade e confiabilidade das informações gerenciais e os meios utilizados para sua identificação, avaliação, classificação e comunicação; os sistemas estabelecidos para assegurar a observância das políticas, planos, procedimentos, leis e regulamentos que possam ter um impacto significativo sobre as operações e informações; os procedimentos destinados à proteção dos ativos, comprovando sua existência, se forem o caso; a eficiência, a eficácia e a economia na utilização dos recursos públicos; as operações ou programas destinados a verificar se os resultados alcançados são compatíveis com os objetivos estabelecidos na Lei de Responsabilidade Fiscal, se estão sendo executados em conformidade com o que foi planejado e a transparência para o controle social, possibilitando a participação da população. 4

A Lei nº 4.320/64 estabelece como objetivo legal da Contabilidade Pública: Evidenciar perante a Fazenda Pública a situação de todos quantos, de qualquer modo, arrecadem receitas, efetuem despesas, administrem ou guardem bens a ela pertencentes ou confiados. A Contabilidade Pública registra a previsão da receita e a fixação da despesa, estabelecidas no Orçamento Público aprovado para o exercício, escritura a execução orçamentária da receita e da despesa, faz a comparação entre a previsão e a realização das receitas e despesas, controla as operações de crédito, a dívida ativa, os valores, os créditos e obrigações, revela as variações patrimoniais e mostra o valor do patrimônio. Porém, na Contabilidade Pública, o mais relevante é o balanço orçamentário, que trata da despesa e da receita, ou seja, de que forma foi arrecadado o dinheiro e como foi aplicado. Caberá aos profissionais contadores orientar os gestores públicos para um perfeito cumprimento das normas, em obediência a um planejamento sério e adequado. Resultado Um dos pilares da Lei de Responsabilidade Fiscal é a transparência buscada pela lei, que tem por objetivo permitir à sociedade conhecer e compreender as contas públicas. Essa transparência buscada pela Lei não deve ser confundida com mera divulgação de informações, que tem por objetivo permitir um controle social mais efetivo, partindo do pressuposto de que, conhecendo a situação das contas públicas, o cidadão terá muito mais condições de cobrar, exigir e fiscalizar a Administração Pública. Com a implantação das políticas e práticas da Lei, o gestor poderá alcançar a redução do endividamento, o crescimento das receitas, o cumprimento de limites de despesas estabelecidos, e assim poderá cumprir com o equilíbrio das contas públicas. É importante destacar que, com a Lei de Responsabilidade Fiscal, o equilíbrio das contas públicas está relacionado ao fato de o gestor só poder gastar o que efetivamente for arrecadado; estabelecendo, assim, que a despesa deve ser suportada pela receita e que deve haver a monitoração desses índices por meio do plano orçamentário. Caso o gestor não cumpra com o resultado estabelecido e com as exigências da lei, será punido. Os atos praticados pelo administrador sejam de natureza orçamentária (previsão da receita, fixação da despesa, empenho, descentralização de créditos etc.), ou administrativos (contratos, convênios, acordos, ajustes, avais, fianças, valores sob responsabilidade, comodatos de bens, etc.), ou representativos de valores potenciais que poderão afetar o patrimônio no futuro, são de interesse da contabilidade pública e de extrema relevância para o direcionamento de todo um País. Discussão Com a aplicabilidade da Lei de Responsabilidade Fiscal e o seu impacto na gestão pública, por meio da ação planejada e transparente, é possível prevenir riscos e corrigir desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, para isso a Lei impôs utilização de ferramentas de apoio como: O planejamento aprimorado pela criação de novas informações, metas, limites e condições para a renúncia de receita, geração de despesas, despesas com pessoal, despesas da seguridade, dívidas, operações de crédito, Antecipação de Receita Orçamentária, concessão de garantias. A transparência prevista pela divulgação ampla, inclusive pela Internet, são os novos relatórios de acompanhamento da gestão fiscal, que permitem identificar as receitas e despesas que são os Anexos de Política Fiscal, de Metas Fiscais e Riscos Fiscais, Relatório Resumido da Execução Orçamentária e Relatório de Gestão Fiscal. Estes demonstrativos são elaborados tendo por base as informações registradas e mantidas em banco de dados pela Contabilidade Pública, que se apresenta como instrumental imprescindível no fornecimento dos dados e de transparência da execução orçamentária e financeira. O controle aprimorado pela maior transparência e qualidade das informações, exigindo uma ação fiscalizadora mais efetiva e contínua dos Tribunais de Contas. A responsabilização sempre que houver o descumprimento das regras, com a suspensão das transferências voluntárias, garantias e contratação de operações de crédito, inclusive Antecipação de Receita Orçamentária. Os responsáveis sofrerão as sanções previstas no Código Penal e na Lei de Crimes de Responsabilidade Fiscal. Conclusão A Lei de Responsabilidade Fiscal e seu impacto na gestão pública exigirá uma nova postura dos gestores públicos, a eles caberá a responsabilidade de transformar a Administração Pública em um desafio muito maior do que aquele enfrentado por seus antecessores antes de a Lei entrar em vigor. 5

Aos gestores públicos é mais do que tempo de atribuir responsabilidades, inclusive penais, para àqueles que não cumprem com suas obrigações, pois o mandato não confere o privilégio da impunidade ou a prerrogativa de isenção de controle e prestação de contas à sociedade. Verifica-se que, a partir da vigência da Lei, o desequilíbrio orçamentário, o gasto excessivo com pessoal, as operações irresponsáveis de crédito, o descuido com o patrimônio público, tudo passa a ser fiscalizado e passível de sanção. Através da efetiva aplicação dos pilares em que se apoia a Lei, o planejamento, a transparência, o controle e a responsabilidade, para que se possa ter uma administração responsável e fundamentada em princípios éticos. O trabalho e a responsabilidade dos profissionais de serviços contábeis aumentaram consideravelmente, passando o administrador público as informações necessárias para orientá-lo nas decisões presentes e futuras. Conclui-se que, embora condição necessária, a Lei não é, por si, suficiente para garantir mudança de mentalidade e, em consequência, os propósitos de uma administração responsável para garantir seriedade e responsabilidade no planejamento e acompanhamento da aplicação dos recursos, além de transparência e eficiência na gestão. Tendo em vista o interesse público, é necessário que toda a população se interesse e participe dos assuntos políticos que exijam dos gestores públicos posições verdadeiras e não mascaradas e falsas de tudo aquilo que é gasto com dinheiro público. A população paga impostos altos é nosso dever saber como estão sendo aplicados, investidos e se estão sendo utilizados exatamente para o fim que lhe é destinado. Referências http://www.tesouro.fazenda.gov.br/hp/downloads/e ntendendolrf.pdf. Acesso em: 21 abr. 2009. KHAIR, A. A. Gestão Fiscal responsável. Guia de Orientação para as Prefeituras. Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS: 2001. MARQUES, Maria da Conceição da Costa. O setor público administrativo e a gestão pública. Revista Brasileira de Contabilidade, Ano XXIII, n. 138, nov/dez, 2002. MPOG Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Lei de responsabilidade Fiscal. Disponível em:http://www.planejamento.gov.br. Acesso em: 17 abr. 2009. NETO, A. E. Lei de Responsabilidade Fiscal: evolução ou revolução. Jornal do Conselho Regional de Contabilidade de Minas Gerais. Belo Horizonte, MG; abr. 2000, p.15. NÓBREGA, Marcos. Lei de Responsabilidade Fiscal e leis Orçamentárias. São Paulo: Ed. Juarez de Oliveira, 2002, p. 25-26. TCDF-Tribunal de Contas do Distrito Federal. Manual da Lei de Responsabilidade Fiscal LRF. Disponívelem:http://www.tc.df.gov.br/portal/index.p hp?option=com_docman&task=cat_view&itemid=& gid=24&orderby=dmdate_published&ascdesc=de SC. Acesso em: 19 jun. 2009. TOLEDO JÚNIOR, Flávio C. de; ROSSI, Sérgio Ciqueira. Lei de Responsabilidade Fiscal: comentada artigo por artigo São Paulo: Ed. NDJ, 2001. ANDRADE, Armando. Considerações sobre a aplicação da Lei de Responsabilidade Fiscal. Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo: CRC SP, 2001. BORN, J. S; OLIVEIRA, V. R. G. Gestão pública frente à Lei de Responsabilidade Fiscal. Revista do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS: n. 107, p.62-73, dez. 2001. FURTADO, Luiz Roberto Fortes. Um novo conceito em análise de obras públicas com relação à Lei de Responsabilidade Fiscal. Palestra proferida na SEAERJ. Rio de Janeiro, set. 2002. Lei Complementar nº 101 de 2000. Entendendo a Lei de Responsabilidade Fiscal. Disponível em: 6