Aspectos clínicos epidemiológicos de crianças com paralisia cerebral assistidas pela clínica escola de Fisioterapia UNIP-São José dos Campos



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Transcrição:

Aspectos clínicos epidemiológicos de crianças com paralisia cerebral assistidas pela clínica escola de Fisioterapia UNIP-São José dos Campos Clinical aspects epidemiologic of children with cerebral palsy in clinic school of Physical Therapy UNIP- São José dos Campos Carolina Lobo Guimarães 1, Tairyne Christine de Oliveira Pizzolatto 1, Ana Cristina Salomon Coelho 1, Sergio Takeshi T. de Freitas 1 1-4 Curso de Fisioterapia da Universidade Paulista, São José dos Campos-SP, Brasil. Resumo Objetivo Caracterizar o perfil clínico das crianças atendidas na clínica escola de fisioterapia da UNIP, para uma melhor abordagem terapêutica facilitando futuros diagnósticos. A Encefalopatia Crônica não Progressiva Infantil (ECNPI) ou Paralisia Cerebral (PC) é consequência de uma lesão que afeta o Sistema Nervoso Central durante sua fase de desenvolvimento e maturação, podendo ocorrer no período pré, peri ou pós natal. Apesar da alta incidência, principalmente em países em desenvolvimento, não há relatos conclusivos acerca de sua epidemiologia no Brasil. Métodos Foi realizado um estudo descritivo analítico através do levantamento de 70 prontuários, onde estatisticamente foram analisados a idade gestacional, etiologia, tipo de parto, tipo motor de ECNPI, classificação topográfica e uso de órteses. Resultados Demonstrou-se predomínio do sexo masculino dentre todas as idades avaliadas e maior incidência etiológica e topográfica de quadriplegia espástica (32,86%). Referente à classificação da função motora máxima, pode-se afirmar que 30% dos pacientes não realizavam nenhuma atividade funcional de forma independente. Conclusão Os resultados do presente estudo ilustram o perfil clínico, epdemiológico e funcional de crianças portadoras de Paralisia Cerebral assistidas pela clínica escola de fisioterapia da Universidade Paulista UNIP Campus São José dos Campos, e fornecem subsídios que fundamentam as estratégias de avaliação e intervenção fisioterapêutica para otimização do tratamento. Descritores: Paralisia Cerebral; Epidemiologia Abstract Objective Characterization clinic profile of children served at the clinic school of Physical Therapy UNIP to better approach Therapeutic facilitating diagnostics future. The Chronic Encephalopathy not Progressive Infantile (ECNPI) or cerebral palsy (CP) is a result of an injury that effects the central nervous system during its development and maturation that can happen in the pre, peri and post natal. Despite the high incidence, especially in countries in develop, there aren t conclusive reports about this epidemiology in Brazil. Methods We conducted a descriptive analytical study by surveying 70 records, which were statistically analyzed the gestational age, etiology, type of delivery, type engine ECNPI, topographic clasification and use of orthoses. Results Showed a predominance of males among all ages tested and a higher incidence of etiological and topographic spastic quadriplegia (32,86%). The classification of maximum motor function, it can be stated that 30% of patients didn t perform any functional activity independently. Conclusion The results of this study illustrate the clinical, epidemiological and functional children with Cerebral Palsy assisted by clinical physical therapy school at the University Paulista UNIP Campus São José dos Campos, and provide subsidies that underpin assessment strategies and physical therapy for optimization treatment. Descriptors: Cerebral palsy; Epidemiology Introdução A Encefalopatia Crônica não Progressiva Infantil (ECNPI) ou Paralisia Cerebral (PC) é consequência de uma lesão que afeta o Sistema Nervoso Central (SNC) durante sua fase de desenvolvimento e maturação, podendo ocorrer no período pré, peri ou pós natal. Essa lesão encefálica pode caracterizar-se por distúrbios de motricidade, com alterações de movimento voluntário e tônus muscular, postura, equilíbrio e deformidades ósseas secundárias que geralmente estão associadas à gravidade da sequela e à idade da criança 1-6. A PC pode ser classificada por dois critérios: o comprometimento de partes distintas do corpo, resultando em classificações topográficas específicas: quadriplegia e quadriparesia, hemiplegia e hemiparesia, diplegia e diparesia, e pelas alterações clínicas do tônus muscular e tipo de desordem do movimento podendo produzir o tipo espástico ou piramidal, discinético ou atetóide, atáxico, hipotônico e misto 7-9. Considera-se então que o tipo de comprometimento cerebral e funcional apresentado pela criança diagnosticada com PC vai depender do momento (pré, peri e pós natal), da duração e da intensidade dessa lesão 10-11. Podem ser descritas como causas no período gestacional, a gemelaridade, hemorragias, mal formações congênitas e infecções; no período perinatal as complicações obstétricas, hipoxia, anoxia, prematuridade, e infecções, e no período pós natal, infecções, TCE e processo tumoral, além dos fatores de risco relacionados a mãe, como o uso de drogas, desnutrição, suporte social baixo, doenças crônicas, genéticas e hereditárias 10-11. J Health Sci Inst. 2014;32(3):281-5 281

Estudos epidemiológicos de PC mostram dados variáveis. Sua incidência em países desenvolvidos tem variado de 1,5 a 5,9/1000 nascidos vivos 2,7,10-11. No Brasil não há pesquisa específica e conclusiva a cerca dessa incidência, porém, acredita-se que haja o surgimento de 17.000 novos casos de PC por ano 2,10,12-13. Portanto, o presente trabalho teve como objetivo realizar o levantamento epidemiológico bem como descrever as características clínicas de crianças assistidas pela clínica escola de Fisioterapia da Universidade Paulista (UNIP), campus São José dos Campos. Métodos Foi realizado um estudo descritivo analítico por meio de um levantamento de prontuários de crianças diagnósticadas com Paralisia Cerebral assistidas pela clínica escola de Fisioterapia UNIP, campus São José dos Campos, no período de 2004 a 2013. A amostra colhida contava com 70 prontuários, onde estatisticamente foram analisados a idade gestacional, etiologia (pré-natal, perinatal ou pós natal), tipo de parto (natural ou cesárea), tipo motor de ECNPI (atáxico, espástico, atetósico, hipotônico ou misto), classificação topográfica (quadriparético, diparético, triparético, hemiparético, paraparético ou monoparético) e uso de órteses. As características necessárias para inclusão no estudo foram identificadas por meio da análise de prontuário, dentro da própria universidade. Os critérios para inclusão compreendiam prontuários que apresentavam informações sobre anamnese, diagnóstico clínico e fisioterapêutico, exame físico e neurológico. Foram excluídos os prontuários que apresentam diferentes diagnósticos médicos, bem como os que não apresentavam as informações necessárias para a realização desse estudo. Inicialmente, fez-se necessário a realização do procedimento ético descrito pelo envio de Autorização de Pesquisa e Termo de Consentimento para a Clínica Escola de Fisioterapia da UNIP, campus Dutra, na cidade de São José dos Campos, bem como o envio do projeto para aprovação pelo Comitê de Ética e Pesquisa. O projeto foi aprovado pelo protocolo do nº 16258213900005512. Dado o consentimento, foi realizado o agendamento para a coleta e levantamento dos dados, utilizando como instrumento a ficha de registro dos dados caracterizada pelo prontuário, que apresentava informações sobre anamnese, diagnóstico clínico e fisioterapêutico, exame físico e neurológico. Os dados coletados foram digitalizados e organizados conforme o prontuário para que fosse feita tabulação e levantamento estatístico. Os dados colhidos foram submetidos à análise estatística e demosntrados por gráficos através de porcentagem simples utilizando o programa Excel. Resultados Os resultados deste estudo fornecem estatísticas importantes sobre as variáveis de sexo e idade. Em relação à idade, observou-se predomínio dos pacientes entre 11-20 anos. Constatou-se também a prevalência do sexo masculino dentre todas as idades avaliadas (Tabela 1). Tabela 1. Representação da idade dos pacientes com ECNPI Sexo Idade Quantidade Porcentagem Masculino 2-10 anos 16 22,86% Feminino 8 11,43% Masculino 11-20 anos 22 31,43% Feminino 17 24,29% Masculino 21-30 anos 5 7,14% Feminino Masculino 31 acima 1 1,43% Feminino 1 1,43% No levantamento epidemiológico da ECPNI, demonstrou-se que o parto natural bem como cesária ocorreu em 28,57% dos casos. Os prontuários que não continham essa informação apresentaram maior percentual, sendo 42,85% (Tabela 2). Tabela 2. Representação do tipo de parto dos pacientes com ECNPI Tipo de parto Quantidade Porcentagem Cesária 20 28,57% Normal 20 28,57% Não consta 30 42,85% Já em relação à etiologia, a maior incidência ocorreu no período perinatal, em 64,28% dos casos, seguida de pós-natal com 27,14%, pré-natal e prontuários sem tabulação com 4,28% (Tabela 3). Tabela 3. Representação do período de acometimento do pacientes com ECNPI Período de acometimento Quantidade Porcentagem Pré natal 3 4,28% Peri natal 45 64,28% Pós natal 19 27,14% Não consta 3 4,28% No que diz respeito ao diagnóstico fisioterapêutico, ficou estabelecido que a quadriplegia espástica, juntamente com os prontuários que não constavam identificação apresentaram maior resultado, com 32,86% seguido de diplegia espástica com 20%, hemiplegia espástica com 11,43%, e por último, coreoatetóide e distônico ambos com 1,43%. Guimarães CL, Pizzolatto TCO, Coelho ACS, Freitas STT. 282 J Health Sci Inst. 2014;32(3):281-5

Gráfico 1. Representação em porcentagem do diagnóstico fisioterapêutico dos pacientes com ECNPI Referente à classificaçnao da função motora máxima, pode-se afirmar que 30% dos pacientes não realizavam nenhuma atividade funcional de forma independente. A posição rolar aparece em segundo lugar com 24,26%, seguido da marcha com 15,71%, sentar e ajoelhado com 10%, gato 4,29%, ortostase e não consta com 2,86%. Gráfico 2. Representação da função motora máxima apresentada pelos pacientes com ECNPI De forma a complementar este estudo, no quesito órteses e dispositivos auxiliares ficou estabelecido que 72,86% dos prontuários não continham informações relacionados ao uso. Tutor curto aparece em sequência com 15,71%, andadores com 5,71%. Tala de lona obteve o mesmo percentual de pacientes que não utilizavam nenhum tipo de dispositivo, com 2,86%. Gráfico 3. Representação da utilização de órteses e dispositivos auxiliares pelos pacientes com ECNPI Discussão No Brasil há uma carência de estudos que investiguem exclusivamente a prevalência e incidência da PC, entretanto, com base em dados de outros países, pode-se fazer uma projeção de sua epidemiologia. Nos países desenvolvidos a incidência encontrada varia de 1,5 a 5,9/1000 nascidos vivos. Já nos países em desenvolvimento estima-se que seja de 7:1000 nascidos vivos. A explicação para a diferença relevante da prevalência entre estes dois grupos de países é atribuída às más condições de cuidados pré-natais e ao atendimento primário às gestantes e ao recém-nascido 14-15. Sendo assim, para que sejam minimizadas as incidências, os fatores de riscos precisam ser identificados para que uma prevenção eficiente seja possível. Em relação ao sexo, Rothstein e Beltrame 16 apud Caon 17 et al. indicaram a prevalência de 72% dos participantes do sexo masculino em populações de crianças com PC. Matos e Lobo 18 também relataram em literatura a prevalência de 57,8% do sexo masculino em relação ao feminino. Em nosso estudo observouse predomínio do sexo masculino em todas as idades em conformidade com estes estudos. Já no estudo de Mancini et al. 13 o sexo feminino representou 18 das 33 crianças participantes da pesquisa, dados esses que diferem significativamente dos encontrados nessa pesquisa. Quanto ao tipo de parto, Honorato 19 et al. afirmaram que o índice de crianças com ECNPI nascidas de parto natural foi de 84,74% e 15,25% de parto cesárea. Em contestação, no estudo observou que o parto natural bem como cesárea ocorreu em 28,57% das 70 fichas de registro analisadas. A maior porcentagem ficou por conta de prontuários que não continham informação, sendo 42,85%. Ainda não se tem um fator determinante para a etiologia da PC, porém Reddihoug e Collins 20 afirmaram que o período perinatal é responsável pelo acometimento de 6-8% dos casos diagnosticados de ECNPI. As causas pré-natais são responsáveis por aproximadamente 75% de todos os casos, sendo impossível determinar a causa e o tempo exato da lesão. Estimativas sobre a proporção dos casos pós-natais indicam 10 a 18% dos casos. Em contrapartida Rothstein & Beltrame 16 afirmam que em 75% das crianças nascidas a termo a PC ocorre devido à intercorrências no período pré-natal. Com base nos resultados deste estudo pode-se dizer que a maior incidência em relação ao período de acometimento do encéfalo ocorreu no período perinatal com 65% dos casos, seguidos de pós-natal com 27,14% e pré-natal com 4,28%. A classificação da prevalência do tipo motor e topografias motoras relacionadas à ECNPI depende do momento (pré, peri e pós natal), da duração, da intensidade e local dessa lesão. Em um estudo realizado com um grupo de 100 casos de PC, observou-se que a forma espástica escorreu 55 vezes, as formas coreatetósicas em 11%, as atáxicas em 9% e as formas mistas, com a segunda forma mais frequente, em 26% dos casos 10,21. J Health Sci Inst. 2014;32(3):281-5 283 Aspectos clínicos de crianças com paralisia cerebral

Honorato et al. 19 relataram em literatura o predomínio do tipo espástico em relação as demais classificações, com 84,74%. Referente à topografia, a quadriplegia sobressaiu-se com 52,54%, tendo também a diparesia com 27,11% e hemiparesia com 20,33%. Em nosso estudo, observou-se que a quadriplegia espástica, juntamente com os prontuários que não constavam identificação apresentaram maior resultado, com 32,86%, seguido de diplegia espástica com 20%, hemiplegia espástica com 11,43%, e por último, coreoatetóide e distônico ambos com 1,43%. Para Funayama et al. 1 a forma tetraespástica representou 22 das 33 crianças diagnosticadas com PC, seguida pela diplégica em três, paraparética em 2, hemiparética em três a discinética em uma. É na limitação funcional, ou seja, durante o desempenho de atividades e tarefas da rotina diária que a incapacidade da criança é manifestada 13. Acreditamos que devido à elevada prevalência de quadriplegia neste estudo, descrito pelo compromentimento dos quatro membros e tronco, sendo os membros superiores mais acometidos que os membros inferiores, associada à espasticidade, a criança com ECNPI consequentemente apresente dificuldade para o movimento voluntário, justificando o índice de 30% dos pacientes que não realizavam nenhuma atividade funcional de forma idependente 22-23. A lesão encefálica pode caracterizar-se por distúrbios de motricidade, com alterações de movimento voluntário e tônus muscular, postura, equilíbrio e deformidades ósseas secundárias que geralmente estão associados à gravidade de sequela e à idade da criança 1-2. As órteses são dispositivos que se acrescentam ao corpo para substituir, posicionar, imobilizar ou corrigir deformidades 24. Nesta pesquisa, a grande dificuldade encontrada foi à falta de uma anamnese correta por meio do fisioterapeuta, nos quesitos que compõe a avaliação das crianças com PC. Sendo assim, 72,86% dos prontuários não continham informações relacionadas ao uso de dispositivos auxiliares. Conclusão Os resultados do presente estudo ilustram o perfil clínico, epidemiológico e funcional de crianças portadoras de Paralisia Cerebral assitidas pela clínica escola de fisioterapia da Universidade Paulista UNIP Campus São José dos Campos, e fornecem subsídios que fundamentam as estratégias de avaliação e intervenção fisioterapêutica para otimização do tratamento. A avaliação é um processo complexo que tem por objetivo identificar as potencialidades e dificuldades específicas de cada indivíduo. O encaminhamento dessas crianças para avaliação fisioterapêutica exige do profissional habilidade para obter as informações necessárias, e interpretar esses achados para a criação e planejamento de programa de intervenção. Por isso, é notória a importância do conhecimento da etiologia e fisiopatologia, bem como as classificações e características clínicas da PC para que se possa traçar metas de curto e de longo prazo específicos e cada caso, sendo estas direcionadas para a qualidade dos movimentos, melhora da função e controle postural das crianças com ECNPI. Outro fator seria a importância de uma avaliação detalhada pelos fisioterapeutas para facilitar o processo de reabilitação. Referências 1. Funayama CAR, Penna MA, Turcato MF, Caldas CAT, Santos JS, Mortto D. Paralisia cerebral diagnóstico etiológico. Medicina. Reibeirão Preto, 2000;33:155-60. 2. Ribeiro J, Caon G, Beltrame TS. Perfil motor de criança com encefalopatia crônica não progressiva: implicações para a intervenção profissional. Dynamis Rev Tec-Cient. 2008;3(14):42-5. 3. Espíndula AP, Jammal MP, Guimarães CSO, Abate DTRS, Reis MA, Teixeira VPA. 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