ENSINO MUSICAL NAS PERIFERIAS



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Transcrição:

ENSINO MUSICAL NAS PERIFERIAS Orientadora: Santuza Cambraia Naves Alunos: Tarso Soares Barreto e Deborah Raposo Introdução Esta pesquisa teve por objetivo avaliar e estudar instituições que têm como princípio a democratização da cultura por meio do ensino musical à crianças e jovens que não têm acesso a esse tipo de ensino. A princípio a pesquisa estava programada para ser realizada no Morro da Babilônia, todavia considerando a incipiência do ensino musical naquele local, novas instituições que oferecem música à jovens e crianças foram levadas em consideração. A Escola de Música da Rocinha, situada na comunidade com o mesmo nome, integrante da ONG Associação Cultural Professor Hans Ulrich Koch, foi a instituição escolhida para o estudo. Método As entrevistas foram feitas com perguntas previamente elaboradas. No entanto, as perguntas sofreram alterações de acordo com o decorrer da pesquisa e com o contexto. As respostas foram obtidas oralmente e registradas com a utilização de um gravador portátil. Antes de cada entrevista, o contexto da pesquisa foi explicado e avaliado pelo diretor da Escola de Música da Rocinha. O trabalho de campo também foi utilizado, juntamente com a observação participante afim de acrescentar mais informações à pesquisa. A pesquisa foi feita por uma série de entrevistas qualitativas com os coordenadores (Paulo Vitor e Flávia Mello), professores (Jacqueline, Vanessa Rodriguez) e monitores (alunos em processo de profissionalização). Desenvolvimento da Pesquisa A escola de Musica da Rocinha (EMR) foi fundada em 1994, pelo alemão Hans Ulrich Koch. Sua sede era dentro da comunidade, mas devido ao crescimento do número de alunos e consequentemente da necessidade de melhor infra-estrutura, a escola migrou de duas igrejas e da quadra da Acadêmicos da Rocinha. A escola está

agora no Centro Municipal de Cidadania Rinaldo De Lamare, centro de inclusão social e capacitação profissional, que fica próximo a Rocinha, na auto-estrada Lagoa-Barra. O espaço foi cedido pela prefeitura e é atualmente a única escola de música da comunidade. A escola é também um dos projetos fundadores da Rede Social da Música, associação das instituições que utilizam a música como recurso de inclusão. A área de atuação não se limita apenas à Rocinha. Com a mudança da sede da escola para o Centro Municipal de Cidadania, houve uma expansão no que diz respeito ao acesso. Com isso gerou a possibilidade da escola abrir vagas a moradores de outras comunidades próximas, como o Vidigal, Vila Canoas e Parque da Cidade. Crianças e jovens até os 16 anos podem se matricular. A escola tem como um de seus objetivos incentivar os jovens a atribuírem mais importância para o ensino regular. Não é obrigatório que estejam matriculados na escola regular para ingressar na EMR, mas incentivam os alunos que estão fora da escola a voltar a estudar. Aptidão e dom não são características importantes para a admissão do aluno na escola. O importante é que o aluno queira aprender. Os alunos migram de instrumento. É interessante notar que com isso já usam referências de um instrumento para aprender o outro. Crianças com até 9 anos geralmente vão para a flauta doce, percussão e canto coral. Até essa idade a escola tenta fazer a separação etária, mas as aulas de canto coral, por exemplo, são frequentadas por alunos de todas as idades. De 10 anos em diante não tem separação de turmas por idade, mas por nível de aprendizado. As turmas tem, em média, de 4 a 5 alunos. Com exceção de alguns, os professores são jovens e muitos são ex-alunos. Estes estão em processo de profissionalização e acreditam que musica, como fator de formação e aprendizado, requer tempo e muita dedicação. A escola trabalha com quatro linhas de ação: a musicalização, que tem como objetivo desenvolver a capacidade cognitiva, social e psicomotora dos alunos; Teoria e Técnica que juntas formam uma linha de ação onde os alunos aprendem em sala de aula os instrumentos, bem como o canto de coral; Prática de Conjunto é a linha de ação onde os alunos buscam juntos alcançar um maior desenvolvimento técnico, para um dia, trabalharem com grupos musicais; A quarta e última linha de ação é o apoio à formação de monitores para aqueles interessados em trabalhar como professores ou em outros setores da musica.

Teoria e Técnica é a linha de ação desenvolvida por mais tempo pela escola de música e, como já vimos, tem como objetivo oferecer uma atividade complementar ao ensino regular. Os cursos oferecidos são : Violão, Violino, Cavaquinho, Percussão, Piano/Teclado, Flauta Doce, Flauta Transversa, Clarinete, Saxofone, e Canto Coral. A aula de Teoria e Percepção Musical esta dentro do módulo de formação de monitores, que iniciou, com a ideia de aguçar a criatividade dos futuros profissionais. Acabou indo para o lado mais tradicional de teoria musical com o intuito de trabalhar dificuldades relacionadas a este tema, tais como ritmo, grau, composição e melodia. Nesse mesmo módulo, está a aula de Metodologia de Ensino e aulas do respectivo instrumento de cada monitor. A escola também faz a direção e produção artística de dois conjuntos musicais, um de MPB - BanDaCapo, e outro de choro, Chorando à Toa. A escola orienta os dois grupos em seus repertórios, ensaios, apresentações e agenciamento de shows. Para o orgulho da escola, o grupo Chorando à Toa já foi se apresentar até na Alemanha e os integrantes levam tudo muito a sério. Poucos se profissionalizam devido a falta de tempo, mas para os alunos que demonstram um desenvolvimento avançado e interesse em se profissionalizar, a escola oferece oito bolsas de estudo no curso Sistemus. O curso se destina a jovens e adultos que têm contato com a musica - tocando ou cantando - e desejam iniciar-se ou aprimorar-se na leitura e na escrita musical priorizando a experiência auditiva e a percepção. A realidade da escola Segundo uma das entrevistadas, a escola firma seu objetivo de estimular os jovens através da educação e linguagem musical. Acreditam que assim haja uma diminuição no índice de evasão escolar e com isso possa haver uma melhoria no índice de rendimento escolar local. Um dos maiores desafios da escola, é a busca por patrocínio. Em todas as entrevistas foi citado a dificuldade vivida pela EMR, e como todo ano ela consegue superar essas dificuldades financeiras. Apesar de ter que pagar professores, funcionários e manter tudo necessário para manter uma escola de música funcionando, com a ajuda de voluntários, e diversos tipos de patrocínio, a escola nunca chegou a fechar. Os instrumentos, por exemplo, foram doados. Com eles, os alunos tem o privilegio de não só usarem em sala de aula, mas também de levarem para casa para praticarem. Cada um

tem o seu instrumento e são responsáveis pelos mesmos. Os professores acreditam que assim eles também estão aprendendo a dar valor e tomar cuidado com suas coisas. Fazem questão de ensinar os alunos a limpar e manter todos os instrumentos em perfeita condição. Querendo não apenas formar músicos profissionais, mas também focando na didática e na relação entre professores e alunos, a escola procura estimular os alunos tanto na parte musical/criativa, quanto na parte subjetiva/social. Discussão Outras instituições como a Escola de Musica da Rocinha levam o acesso musical a crianças e jovens, mas isso não quer dizer que se tem o ensino musical adequado. Por não se ter de fato o ensino musical democrático, ou seja, de acesso a todos, crianças e adolescentes tem que recorrer a ONGs ou escolas privadas que são financeiramente inacessíveis. Para existir uma democratização cultural é necessário construir um grande sistema de ensino musical integrado a política nacional de educação. O El sistema, na Venezuela, é um exemplo de programa, financiado pelo Estado, responsável pela formação de 125 orquestras e 310,000 a 375,000 jovens e adolescentes. O Brasil deu um grande passo em termos legislativos ao conseguir fazer com que a lei de ensino musical nas escolas públicas entrasse em vigor. O próximo obstáculo a ser vencido, é fazer com que a legislação entre em vigor trabalhando a favor com uma execução digna de qualquer ensino. Não adianta ser obrigatório se a didática e os métodos de ensino adotados não estão em relação e conexão com a realidade de cada local. E, por mais que estejam, é necessário uma infraestrutura mínima, para poder obter um ensino de qualidade e poder estimular o interesse musical. As ONGs que tem como objetivo a democratização da cultura são importantes veículos para levar a oportunidade às áreas mais defasadas em termos de acesso a informação. Com isso abre a oportunidade para uma escolha de outra realidade para crianças e jovens. No caso da Rocinha, por exemplo, chegou a UPP, mas não chegou a UPP social, e a EMR cumpre um papel que deveria ser cumprido pelo Estado. Mas é importante lembrar que, não são todas as comunidades que tem essa oportunidade. O Estado precisa desenvolver um programa de acesso cultural, ainda mais quando se trata de música, uma das formas de arte de maior notoriedade no Brasil. A musica sempre teve um papel crítico e de intermediação entre a sociedade e os governantes.

Conclusão A democratização do ensino musical só vai se concretizar a partir de uma política publica. O conceito de democratização é as vezes confundido com acessibilidade. Escolas como a EMR tornam a musica mais acessível a estas crianças e jovens, o que não quer dizer que torna o ensino musical democrático. Poucas escolas tornam efetivo a musica no currículo escolar. Como já vimos, a briga não é tornar obrigatório mas proporcionar um ensino de qualidade junto com outras matérias do ensino regular. A musica não é vista como algo importante para a formação, como as demais matérias tradicionais, matemática, física, química, historia, geografia e etc. A musica é uma manifestação sócio cultural que merece estar presente na vida de todos, para que a partir dai, cada um possa fazer a escolha de se envolver ou não com ela. Por que temos que aprender o que é célula e raiz quadrada, mas não aprendemos o que é ritmo? Passamos anos ouvindo sobre a historia do Brasil e do mundo, mas não ouvimos sobre a importância da musica em nossa historia. Musica faz parte do cotidiano das pessoas, mas as pessoas não têm conhecimento do universo musical. A oportunidade de acesso a esse conhecimento torna a musica uma opção de vida e, em alguns casos, a opção de um futuro melhor. A Escola de Musica da Rocinha cumpre o objetivo proposto, mas sabemos que a outros papeis que não estão sendo cumpridos da mesma forma.