PANORAMA DOS ESTUDOS DE CATALOGAÇÃO DESCRITIVA NO BRASIL: análise da produção científica apresentada no ENANCIB entre 2001 e 2010

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Transcrição:

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS ESCOLA DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO NEILIANE DE PAULA SILVA PANORAMA DOS ESTUDOS DE CATALOGAÇÃO DESCRITIVA NO BRASIL: análise da produção científica apresentada no ENANCIB entre 2001 e 2010 BELO HORIZONTE 2012

NEILIANE DE PAULA SILVA PANORAMA DOS ESTUDOS DE CATALOGAÇÃO DESCRITIVA NO BRASIL: análise da produção científica apresentada no ENANCIB entre 2001 e 2010 Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Arquitetura e Organização da Informação, ECI-UFMG como requisito parcial à obtenção do título de especialista em Arquitetura e Organização da Informação. Orientadora: Profa. Cristina Dotta Ortega BELO HORIZONTE 2012

RESUMO No contexto da Sociedade da Informação a catalogação, embora entendida como a elaboração de catálogos de bibliotecas, deve assumir papel mais amplo na representação de documentos. A catalogação se divide em catalogação descritiva, que consiste na representação de elementos descritivos do documento e indicação dos pontos de acesso que não sejam de assunto; e catalogação de assunto, responsável pelo fornecimento dos termos de assunto e notações de classificação do documento. No desenvolvimento histórico da catalogação percebe-se pouco entusiasmo pelos fundamentos da catalogação descritiva, ficando para a catalogação de assunto maior prestígio e consequentemente maior número de reflexões e publicações. A fim de se averiguar em termos quantitativos a produção científica na área da catalogação descritiva, foram analisadas as comunicações do evento científico nacional em Ciência da Informação o ENANCIB entre os anos de 2001 a 2010. Como metodologia do trabalho foi realizada revisão de literatura sobre catalogação descritiva e análise de conteúdo dos textos das comunicações. Os resultados constatam os esquemas de metadados como categoria de maior interesse entre as comunicações analisadas, a predominância do gênero feminino entre os autores, e a produção de textos em duplas. Foi comprovada quanto ao corpus analisado a hipótese de pouca representatividade do tema catalogação descritiva na produção científica e nas discussões no Brasil na última década. Palavras-chave: Catalogação. Catalogação descritiva.

ABSTRACT In the context of the Society of Information for performing a catalogue even it is understood as an elaboration of libraries catalogues, it has to assume an more amplified role concerning on documents papers representing itself. A cataloguing divides itself in two parts. The first is descriptive cataloguing that it consists on representation of descriptive elements of a documents and the indication of points of access since that these points are not of subject; but the cataloguing of subjects is responsible for supply of terms of subject and notations of classification of document. Little enthusiasm is noticed on Historical development of cataloguing when the basements of itself is descriptive, remaining for the cataloguing of subjects greater prestige, therefore consequently there are bigger quantity of reflections as well as publications. National scientific event of communications of science of information were analyzed in order to verify considering the quantitative of scientific production on descriptive cataloguing the ENANCIB event from 2001 to 2010. Publications about descriptive cataloguing and the texts contents of communications analysis were done a literature revision as methodology of work. The results consist of schemes of goal data as category of bigger interests among the analyzed communication of female genre predominance among some authors as well as the texts productions in pair. As for analyzed corpus, the hypothesis of little representativity of descriptive cataloguing of scientific production and on debate were comproved in Brazil in the last decade. key-words: Cataloguing. Descriptive cataloguing

LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1 - Funções da catalogação...14 FIGURA 2 - Entidades dos FRBR...22 GRÁFICO 1 - Total de trabalhos x total de trabalhos relacionados à CD...28 GRÁFICO 2 - Distribuição da amostra sobre CD x edições do ENANCIB...29 GRÁFICO 3 - Trabalhos sobre CD do GT2 x Edições do ENANCIB...29 GRÁFICO 4 - Total de trabalhos do GT2 x total de trabalhos sobre CD no mesmo GT...30 GRÁFICO 5 Distribuição dos trabalhos encontrados sobre CD por GT...30 GRÁFICO 6 - Número de trabalhos relacionados à CD x origem institucional dos autores.32 GRÁFICO 7 - Origem institucional dos autores...32 GRÁFICO 8 - Origem institucional por Estado brasileiro...33 GRÁFICO 9 - Origem institucional por região geográfica do Brasil...34 GRÁFICO 10 - Relação de autoria por sexo...34 GRÁFICO 11 - Produção dos anais segundo tipo de autoria...35 GRÁFICO 12 - Categorização dos trabalhos apresentados relacionados à CD no GT2 e em outros GTs...36 QUADRO 1 - Relação de ENANCIBs ocorridos...13 QUADRO 2 - Categorias extraídas após a revisão bibliográfica...27 QUADRO 3 - Trabalhos apresentados relacionados à CD encontrados nos GT1, GT3 e GT8...31 QUADRO 4 - Instituição x ano de apresentação de trabalhos x início do programa de pósgraduação (stricto sensu)...35 QUADRO 5 - Categorização dos trabalhos apresentados relacionados à CD no GT2 e em outros GTs...36 QUADRO 6 - Categorias por ano de apresentação do trabalho...37 TABELA 1 - Relação de trabalhos apresentados x trabalhos apresentados com temáticas relacionadas à catalogação descritiva...28

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AACR2 ALA ANCIB CBU CD CDD CDU ENANCIB FEBAB FRAD FRBR GT IBICT IFLA ISBD LC MARC OPAC RDA UEL UFMG UFSC UNB UNESP UNISIST USP - Código de Catalogação Anglo-Americano - American Library Association - Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da Informação - Controle Bibliográfico Universal - Catalogação descritiva - Classificação Decimal de Dewey - Classificação Decimal Universal - Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação - Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários, Cientistas da Informação e Instituições - Functional Requiments for Authority Data - Funtional Requeriments for Bibliographic Records - Grupo de Trabalho - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia - International Federation of Library Associations and Institutions - International Standard Bibliografic Description - Library of Congress - Machine Readable Cataloging - Online Public Access Catalog - Resource Description and Access - Universidade Estadual de Londrina - Universidade Federal de Minas Gerais - Universidade Federal de Santa Catarina - Universidade de Brasília - Universidade Estadual Paulista - United Nations International System for Information in Science and Technology - Universidade de São Paulo

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...7 1.1 Introdução ao tema...7 1.2 Justificativa...7 1.3 Objetivo...9 1.3.1 Objetivo geral... 9 1.3.2 Objetivos específicos... 9 1.4 Metodologia...9 2 CATALOGAÇÃO...14 2.1 Breve histórico do desenvolvimento da catalogação...15 2.2 Bases de dados e registros bibliográficos...17 2.3 Instrumentos para elaboração de registros bibliográficos...19 2.3.1 As ISBDs... 20 2.3.2 AACR2 e o modelo FRBR... 20 2.3.3 A informatização da catalogação e o formato de registro bibliográfico... 22 3 ANÁLISE DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA DAS APRESENTAÇÕES ORAIS DO ENANCIB ENTRE OS ANOS DE 2001 A 2010...25 3.1 Descrição dos procedimentos metodológicos...25 3.2 Análise dos dados e resultados...28 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS...39 REFERÊNCIAS...40

7 1 INTRODUÇÃO 1.1 Introdução ao tema O conhecimento foi por muitos séculos passado a novas gerações pela oralidade. Com o advento da escrita permitiu-se o registro em suportes e a perpetuação então do saber. Ao longo do tempo, esses suportes foram sendo acumulados em depósitos, e no emaranhado de documentos dispostos nesses lugares foi necessário estabelecer um método para organização a fim de que a informação desejada fosse logo encontrada. Dessa forma, surgiram os primeiros catálogos e, em consequência, a catalogação. A catalogação é definida por muitos autores como a elaboração de catálogos (ORTEGA, 2009, p. 53). Segundo Mey (1987, p. 4) isso se justifica na medida em que a história da catalogação tem-se limitado a apresentar a história dos catálogos e códigos de catalogação, sem uma reflexão sobre o porquê dos elementos registrados ou sua ordem. Para Mey e Silveira (2009, p.7) a catalogação é conceituada como: O estudo, preparação e organização de mensagens, com base em registros do conhecimento, reais ou ciberespaciais, existentes ou passíveis de inclusão em um ou vários acervos, de forma a permitir a interseção entre as mensagens contidas nestes registros do conhecimento e as mensagens internas dos usuários. (MEY; SILVEIRA, 2009, p.7). A Declaração de Princípios Internacionais de Catalogação (2009) apresenta em seu Glossário a separação entre catalogação descritiva 1 que consiste na parte do processamento bibliográfico que fornece quer os dados descritivos quer os pontos de acesso que não são de assunto ; e a catalogação de assunto: parte da catalogação que fornece termos de assunto controlados e/ou números de classificação. A história e os princípios da catalogação, assim como, os procedimentos e instrumentos utilizados serão abordados nesta monografia sob o viés da catalogação descritiva, segundo definido pela Declaração dos Princípios Internacionais de Catalogação, abordando-se a outra parte (a catalogação de assunto) apenas quando essa se fizer necessária para compreensão de conceitos. 1.2 Justificativa Para Mey (1987, p.10), a descrição bibliográfica: 1 O termo catalogação descritiva é tratado também na literatura como descrição bibliográfica.

8 é considerada tarefa menor (sem o prestígio dos pontos de acesso ou do número de chamada, aparentemente exigentes de maior esforço intelectual), é a parte da catalogação que talvez mais necessite de estudos. Baseando-se em tradições arraigadas, não há definição clara sobre seu papel, ou do porquê dos elementos e da ordem destes. (MEY, 1987, p.10). estudos: Também para Ortega (2009, p.4), a catalogação descritiva necessita de mais A organização da Informação, em termos de seus fundamentos, métodos e instrumentos, foi amplamente explorada e desenvolvida, em especial no que se refere às linguagens documentárias. A noção de sistema e de estrutura desenvolvida como aporte para fundamentação das linguagens documentárias não ocorreu para todo o sistema documentário e seus registros, o que pode levar ao comprometimento do uso destas linguagens. A determinação dos campos e de suas características, ou seja, a elaboração da estrutura do registro é realizada no âmbito da Representação Descritiva, porém de modo secundário e assistemático. Assim, embora haja avanços pontuais, ainda há carência de reflexões que efetivamente mobilizem que o trabalho não é unicamente resultado da adoção do bom senso. (ORTEGA, 2009, p. 4) Analisando as comunicações de um importante evento da área de Ciência da Informação, Ortega (2010, p. 213) descreve a lacuna em apresentações relacionadas à elaboração do registro de informação : Nas diversas edições do evento nacional de pesquisa e pós-graduação em Ciência da Informação (ENANCIB), temos observado relativa lacuna quanto a estudos sobre Organização da Informação relacionados à elaboração do registro de informação, embora, sem dúvida, o grupo de trabalho que se ocupa deste tema seja há tempos o de maior nível de elaboração acadêmica. Parte dessa lacuna tem sido desenvolvida pelos pesquisadores envolvidos com as tecnologias eletrônicas adotadas para tratamento e recuperação da informação. (ORTEGA, 2009, p. 213) Tomando como base as afirmações acima, foi feita uma busca simples à base de dados PERI 2, com os termos catalogação e indexação separadamente, e foram recuperados respectivamente 382 e 827 trabalhos. Através dessa experiência sem grandes pretensões, é possível perceber a disparidade no número de trabalhos científicos (diferença de 216%) entre essas duas etapas de um processo que permeia o mesmo fim. O aspecto central deste trabalho é explorar esse divisor de águas na literatura científica sobre catalogação no Brasil. A hipótese é a de que houve pouca representatividade da catalogação descritiva na produção científica e nas discussões em Ciência da Informação na última década no Brasil. 2 A base de dados PERI é disponibilizada pela Biblioteca Etelvina Lima, que atende a Escola de Ciência da Informação da UFMG. Disponível em: <http://bases.eci.ufmg.br/peri.htm>. Acesso em: 7 ago. 2011.

9 1.3 Objetivo 1.3.1 Objetivo geral Conhecer a produção científica, na última década, sobre catalogação descritiva no Brasil, a partir da análise dos textos das comunicações orais do evento nacional de pesquisa em Ciência da Informação. 1.3.2 Objetivos específicos - caracterizar parte da produção científica sobre catalogação descritiva no Brasil em termos quantitativos; - conhecer os assuntos sobre catalogação descritiva que despertam maior interesse dos pesquisadores que produzem no Brasil. 1.4 Metodologia Para este estudo foi realizada inicialmente uma revisão de literatura sobre catalogação descritiva. Devido ao objetivo geral deste estudo, que visa ao conhecimento da produção científica brasileira sobre catalogação descritiva, buscou-se principalmente na literatura nacional conhecimento sobre os temas abordados na área estudada para, com essa base teórica, reconhecer na próxima etapa de análise quando o tema era abordado, assim como obter parâmetros para a categorização das unidades documentais tratadas. A revisão de literatura consiste em análise exploratória de textos selecionados que, segundo Triviños (1987, p. 99), permite a familiarização, em profundidade, com o assunto que interessa ao pesquisador. Para esse autor qualquer técnica apenas adquire sua força e valor mediante o apoio de determinado referencial teórico. Em contrapartida, o pesquisador, ao se sustentar em um conjunto de conceitos, vistos na revisão de literatura, fica iluminado em uma parte da realidade, obtendo maior segurança na realização de sua ação (TRIVIÑOS, 1987, p. 159). A teoria orienta a pesquisa empírica, sendo os resultados desta incorporados e analisados segundo aquela. A revisão de literatura constrói a moldura conceitual para a compreensão e interpretação dos resultados da investigação. Para a parte empírica da monografia, utilizou-se a análise de conteúdo.

10 O método de análise de conteúdo consiste, segundo Bardin (2002, p.38), em um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens. O seu desenvolvimento é dividido em três fases: (a) pré-análise; (b) exploração do material; e (c) tratamento dos dados, inferência e interpretação. A pré-análise é a fase de organização dos documentos a serem analisados. Após o contato com os mesmos é realizada uma leitura flutuante, cujo objetivo é obter impressões e orientações sobre os documentos. A fase seguinte envolve a escolha da amostra a ser tratada, das regras de contagem e a categorização utilizada. Por último há o tratamento dos dados, a inferência e a interpretação com o fim de tornar os dados válidos e significativos, utilizando-se de métodos estatísticos. Moraes (1999) reconhece cinco etapas no processo de análise de conteúdo: a) preparação das informações: consiste em identificar as diferentes amostras a serem analisadas e decidir sobre quais materiais estão de acordo com os objetivos da pesquisa; b) unitarização ou transformação do conteúdo em unidades: consiste na releitura dos materiais com a finalidade de definição da unidade de análise (também chamada de unidade de registro ou unidade de significado ). A unidade de análise é o elemento unitário de conteúdo que será posteriormente submetido à categorização, devem poder ser interpretadas sem o auxílio de nenhuma outra fonte adicional, pois serão isoladas e sua análise, portanto, será realizada fora do contexto da mensagem original; c) categorização das unidades em categorias: processa-se com a categorização dos dados considerando suas semelhanças ou analogias, seguindo critérios previamente estabelecidos (a partir da revisão bibliográfica) ou definidos no processo (buscando-se chegar a uma teoria). As categorias devem ser válidas, exaustivas e homogêneas; mutuamente exclusivas e consistentes. O eventual não atendimento de alguma dessas características deve ser justificado adequadamente. Deve ser mantido um mínimo de categorias possível que representem todos os aspectos significativos do conteúdo investigado, pois um grande número delas pode introduzir dificuldades de compreensão. Pode haver vários níveis de categorias; d) descrição: numa abordagem de estudo quantitativo envolve a organização de tabelas e quadros apresentando-se as categorias construídas, frequências e percentuais auferidos referentes aos dados;

11 e) interpretação: nessa etapa é importante ir além da descrição e atingir uma compreensão mais aprofundada do conteúdo das mensagens através da inferência e interpretação. Neste estudo optou-se pela abordagem descrita por Moraes (1999), devido à maior estratificação, permitindo melhor acompanhamento das etapas. Como amostras foram selecionados os trabalhos apresentados no ENANCIB entre os anos de 2001 a 2010. Considera-se uma década como período interessante para acompanhamento do desenvolvimento da produção na área. Os encontros científicos (congressos, simpósios, encontros, fóruns etc.) consistem em importante possibilidade de reunião entre membros de uma comunidade científica. A apresentação de trabalhos nesses eventos permite o rápido retorno, ao pesquisador, do impacto de sua pesquisa, pois a avaliação pelos pares ocorre no momento, ou logo após, a apresentação. Campello, Cendón e Kremer (2000) indicam como principais funções dos eventos: - forma de aperfeiçoamento dos trabalhos: críticas e sugestões são realizadas no momento da apresentação, permitindo a melhora da qualidade dos trabalhos; - reflexo do estado-da-arte: o conjunto de trabalhos apresentados, mais os relatos de painéis ocorridos durante o encontro, podem refletir o panorama da área e também o exame de tendências e perspectiva futuras; - forma de comunicação informal: permite aos pesquisadores encontrarem pessoalmente seus pares para troca de informações. A publicação de documentos gerados nesses encontros pode acontecer antes, durante ou após o mesmo. São geralmente em forma de anais, que podem tanto reunir o conjunto de trabalhos apresentados na íntegra ou somente o resumo. Na área de Ciência da Informação no Brasil o ENANCIB (Encontro Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da Informação) representa o principal evento de pesquisa. Trata-se de um evento promovido pela ANCIB (Associação Nacional de Pesquisa

12 e Pós-Graduação em Ciência da Informação), fruto da relação entre a ANCIB e os cursos de pós-graduação em Ciência da Informação no Brasil. O ENANCIB constitui-se de um fórum nacional de debates e reflexões. Inicialmente era organizado em sessões temáticas, consolidadas a partir de 2005 em Grupos de Trabalho (GTs) coordenados por especialistas. Os GTs são constituídos por temas especializados da Ciência da Informação, com programação científica baseada em apresentações de comunicações orais e posters. Os GTs foram sofrendo ajustes na designação de sua temática e ementa visando adequá-las à realidade da pesquisa (LARA, SMIT, 2010), e hoje se dividem em (ANCIB, 2011): - GT 1: Estudos Históricos e Epistemológicos da Ciência da Informação; - GT 2: Organização e Representação do Conhecimento; - GT 3: Mediação, Circulação e Apropriação da Informação; - GT 4: Gestão da Informação e do Conhecimento nas Organizações; - GT 5: Política e Economia da Informação; - GT 6: Informação, Educação e Trabalho: campo de trabalho informacional; - GT 7: Produção e Comunicação da Informação em CT&I; - GT 8: Informação e Tecnologia; - GT 9: Museu, Patrimônio e Informação; - GT 10: Informação e Memória; - GT 11: Informação e Saúde. O tema catalogação descritiva se insere com maior comodidade dentro do GT 2 - Organização e Representação do Conhecimento por tratar de metodologias e práticas relacionadas à organização e preservação de documentos e da informação, e compreender também, os estudos relacionados aos processos, produtos e instrumentos de representação do conhecimento (ANCIB, 2011), como se verifica em sua ementa: Teorias, metodologias e práticas relacionadas à organização e preservação de documentos e da informação, enquanto conhecimento registrado e socializado, em ambiências informacionais tais como: arquivos, museus, bibliotecas e congêneres. Compreende, também, os estudos relacionados aos processos, produtos e instrumentos de representação do conhecimento (aqui incluindo o uso das tecnologias da informação) e as relações inter e transdisciplinares neles verificadas, além de aspectos relacionados às políticas de organização e preservação da memória institucional. (ANCIB, 2011). O ENANCIB começou em 1994 com periodicidade irregular até 2003, quando passou a ser bienal, e, em 2006 passou a ser anual, conforme quadro a seguir:

13 QUADRO 1 - Relação de ENANCIBs ocorridos ANO CIDADE TEMA CENTRAL OBSERVAÇÃO 1994 Belo Horizonte 1995 Valinhos 1997 Rio de Janeiro 2000 Brasília 2003 Belo Horizonte 2005 Florianópolis 2006 Marília 2007 Salvador Conhecimento para o século XXI: a pesquisa na construção da Sociedade da Informação Informação, conhecimento e transdisciplinaridade: desafios do milênio A política científica e os desafios da sociedade da informação A dimensão epistemológica da Ciência da Informação e suas interfaces técnicas, políticas e institucionais nos processos de produção, acesso e disseminação da informação Promovendo a inserção internacional da pesquisa brasileira em Ciência da Informação 2008 São Paulo Diversidade cultural e políticas de informação 2009 João Pessoa 2010 Rio de Janeiro A responsabilidade social da Ciência da Informação Informação e inclusão social: questões contemporâneas da informação 2011 Brasília Políticas de informação para a sociedade Fonte: ANCIB, 2011. Elaborado pela autora. Pela primeira vez foi proposto um tema central Definida periodicidade bienal Adotou-se periodicidade anual Considera-se importante a exploração das apresentações orais desses anais por se tratar do maior e mais representativo evento nacional na área de Biblioteconomia e Ciência da Informação, com grande prestígio dentre os pesquisadores da área e, por conseguinte, com potencial para fornecer indícios sobre o avanço da produção científica brasileira na área de catalogação.

14 2 CATALOGAÇÃO A catalogação, embora compreendida como uma técnica cuja finalidade é a produção de catálogos, no contexto da chamada Sociedade da Informação, em que novas demandas, suportes, e formas de interação surgiram, aumentando a necessidade da organização da informação, coloca-se a questão como algo mais abrangente cuja missão é fornecer representações de documentos que devem: FIGURA 1 - Funções da catalogação a) Permitir ao usuário: 1. Localizar um item específico; 2. Escolher entre várias manifestações de um item; 3. Escolher entre vários itens semelhantes, sobre os quais, inclusive, possa não ter conhecimento prévio algum; 4. Expressar, organizar ou alterar sua mensagem interna. b) Permitir a um item encontrar seu usuário; c) Permitir a outra biblioteca: 1. Localizar um item específico; 2. Saber quais os itens existentes em acervos que não o seu próprio. Fonte: Mey, 1995, p. 7. Se substituirmos a palavra biblioteca por unidade de informação, essas representações de documentos podem servir não somente para constituir os registros bibliográficos componentes do tradicional catálogo de fichas, mas também para diversos usos em bases de dados bibliográficas e bases de dados de arquivos e museus entre outras demandas que estão surgindo, como apontado por ORTEGA (2009): portais corporativos, sites de informação pública ao cidadão, repositórios digitais gerados por autoarquivamento, sistemas baseados na produção de documentos eletrônicos, sistemas administrativos e de tomada de decisão. A catalogação pode ainda ser utilizada para outras finalidades como bibliografias e boletins de serviço de alerta etc (MEY, 1995, p.1). Sobre a representatividade e significado da catalogação nos dias atuais, Mey e Silveira (2009, VII), afirmam: [...] a própria catalogação em si se tornou múltipla, atendendo a inúmeras frentes, profissionais de diferentes áreas, ampliando o conceito de usuário da catalogação, para além de quaisquer paredes ou conceitos. Então [a catalogação] é plural mesmo. [...] os princípios permanecerão, mesmo que os nomes, os códigos, os números das regras se modifiquem. (MEY; SILVEIRA, 2009, VII)

15 As representações fornecidas pela catalogação alcançam então na atualidade novos espaços, novos públicos e diversificados fins, não ficando mais restrita a elaboração dos tradicionais catálogos de bibliotecas. 2.1 Breve histórico do desenvolvimento da catalogação A história da catalogação está intrinsecamente ligada a do desenvolvimento dos catálogos. O desenvolvimento dos catálogos remonta à Idade Antiga quando ocorria a confecção de inventários das coleções (embriões dos catálogos), sendo que o primeiro catálogo considerado como tal foi a lista do convento de Saint Martin, em Dover, Inglaterra, de 1389. (STROUT, 1956 citado por MEY, SILVEIRA, 2009, p. 65). No século XV, embora os catálogos ainda fossem listas de livros, surgiram as remissivas, e alguns avanços, devido à influência da Bibliografia, como a ordem cronológica e o índice alfabético. (MEY, SILVEIRA, 2009, p. 66). A Revolução Francesa, em 1791, trouxe a primeira tentativa de um código de catalogação nacional e o catálogo em formato de fichas. Para Freedman (1984 citado por FIUZA, 1987, p. 45) isso representou um marco na Biblioteconomia, em que se destacam como principais teóricos da corrente anglo-americana: - Anthony Panizzi 91 regras 1839 Reino Unido; - Charles Jewet código da Smithsonian Institution 1852 Estados Unidos; - Charles Ami Cutter Rules for a Dictionary Catalogue 1876 Estados Unidos; - Lubetzky Conferência Internacional sobre Princípios de Catalogação 1961 França. A base teórica da catalogação ganhou forma com as 91 regras de Panizzi em 1839. Anthony Panizzi era bibliotecário do Museu Britânico e sua obra é considerada o primeiro código de catalogação propriamente dito. Sua obra influenciou a criação de códigos subsequentes. Charles Jewet fez uma revisão das regras de Panizzi adaptando-as para a prática norte-americana, e suas recomendações constituem muitas das técnicas modernas de catalogação praticadas atualmente. Suas ideias sobre um catálogo coletivo nacional foram a base de muitos serviços de catalogação cooperativa e centralizada. Mey (1995, p. 19-22 citado por ORTEGA, 2009, p. 93) inclui como obra célebre à área as Instruções Prussianas de 1899. Para Garrido Arilla (1996, p.85-86) elas formam um Código alemão de ampla difusão na Europa, com orientações distintas da prática anglo-

16 americana, sendo conhecidas por sua redação clara e sem ambiguidades, além do domínio dos aspectos essenciais da catalogação. Charles Ami Cutter, influenciado por Panizzi e Jewett, em sua obra Rules for a dicitionary catalog, definiu os primeiros princípios da catalogação expressos em regras. Segundo Fiuza (1987, p 48) constituía um código tão racional e completo que muitos dos princípios propostos perpetuaram-se nos códigos de sua época. O início do século XX caracteriza-se pela predominância do Código da ALA (American Library Association), sobretudo devido à liderança já exercida pela Library of Congress (LC) e seu sistema de catalogação cooperativa nos EUA; e das Instruções Prussianas, publicadas oficialmente em 1899, e mais difundidas na Europa. Outro código de bastante projeção para o período foi o Código da Vaticana, baseado do Código da ALA de 1908, e criado para atender à reorganização da Biblioteca Apostólica Vaticana, obtendo grande aceitação na América Latina. Durante a Segunda Guerra Mundial, houve um crescimento exponencial de outros tipos de documentos (como patentes e relatórios), em diversos idiomas, que necessitavam de organização. Essas variadas formas de apresentação e conteúdo passaram a exigir maior tempo dos catalogadores, e maior adequação dos códigos existentes que não atendiam, de forma satisfatória, aos problemas que apareciam durante a descrição bibliográfica. Houve um sentimento de urgência de revisão das normas, que culminou na Conferência Internacional sobre Princípios de Catalogação, em 1961, também chamada de Conferência de Paris. Lubetzky é considerado o maior teórico da catalogação do século XX (FIUZA, 1987, p. 49) e suas ideias representam a base das discussões da Conferência de Paris. O resultado dessa conferência - uma Declaração de Princípios - trouxe diversas orientações para elaboração de códigos de catalogação, levando à consolidação da função e estrutura para os catálogos. A Declaração possibilitou maior uniformização dos códigos existentes. Contudo, embora fosse referência em termos de princípios, mostrou-se vaga para o estabelecimento de regras uniformes entre os países. Durante esse importante evento para a área, a IFLA (International Federation of Library Associations and Institutions) criou o programa Controle Bibliográfico Universal (CBU), com o objetivo de promover um sistema mundial de controle e permuta de informação bibliográfica, por meio da criação de agências bibliográficas nacionais e o estabelecimento de parâmetros bibliográficos internacionais que permitissem a transferência da informação sobre todas as publicações editadas em todos os países. (GARRIDO ARILLA, 1996, p. 108-109). Na tentativa de otimizar o tempo despendido pelos catalogadores, a fim de que um registro bibliográfico fosse catalogado uma única vez, a LC lançou um projeto piloto, na

17 década de 60, para automatização da catalogação permitindo que os registros fossem processados pelo computador: o Projeto Marc (Machine Readable Cataloging). Em 1969, foram criadas pela IFLA as ISBDs com o objetivo de servir como padrão de descrição bibliográfica internacional. Foram incorporadas aos códigos de catalogação após 1970, e são utilizadas até a atualidade. Recentemente a discussão sobre os princípios da catalogação voltou à pauta devido à repercussão das FRBRs (Funtional Requeriments for Bibliographic Records) 3, um modelo conceitual que apresenta uma releitura dos registros bibliográficos. 2.2 Bases de dados e registros bibliográficos Os catálogos podem ser em papel ou automatizados. Os catálogos em papel são comumente encontrados em fichas, mas também podem estar compilados em formato de livro ou folhas soltas. Entre os automatizados um recurso muito utilizado é o OPAC (Online Public Access Catalog), caracterizado por bases de dados bibliográficas que permitem a consulta à referência, localização geográfica ou digital, e disponibilidade do documento. Algumas podem incluir o acesso ao inteiro teor, quando o mesmo estiver disponível online, ou resumo do documento. O objetivo do catálogo é veicular as mensagens (representações dos documentos) elaboradas pela catalogação, relativas aos itens constitutivos de um ou vários acervos determinados. Quando compreende acervos de diversas bibliotecas é chamado de catálogo coletivo. Nos catálogos em meio eletrônico, faz-se um único registro bibliográfico e, partir dele, podem ser construídos vários pontos de acesso. Nos catálogos em fichas de papel, embora o registro bibliográfico permaneça único, ele é duplicado inúmeras vezes, de acordo com o número de pontos de acesso e rotinas administrativas. A reunião dos registros bibliográficos forma o catálogo enquanto: [...] um meio de comunicação, que veicula mensagens sobre os registros do conhecimento, de um ou vários acervos, reais ou ciberespaciais, apresentando-as com sintaxe e semântica próprias e reunindo os registros do conhecimento por semelhanças, para os usuários desses acervos. O catalogo explicita, por meio das mensagens, os atributos das entidades e os relacionamentos entre elas. (MEY; SILVEIRA, 2009, p. 12). De modo semelhante, mas décadas antes, Barbosa (1978) define o catálogo e esclarece sua relação intrínseca com a catalogação: 3 Requisitos Funcionais para Registros Bibliográficos

18 O catálogo é, na maioria das bibliotecas, o principal veículo de comunicação entre o seu acervo e os usuários. É o elo que une a informação aos leitores. Assim podemos dizer que a catalogação é o processamento técnico do qual resulta o catálogo, é a linguagem de descrição bibliográfica, que só poderá ser um bom instrumento de comunicação á medida que for normalizado. (BARBOSA, 1978, p. 30). Não apenas catálogos podem ser construídos através das representações bibliográficas, mas também outros tipos de bases de dados: Bases de dados (...) são representações de alguma parte da realidade, realizadas por uma pessoa, empresa ou organização com algum propósito determinado, em geral, que torne possível a prestação de serviços a um grupo de usuários ou o fornecimento de suporte a determinados processos. Deste modo, as bases de dados são coleções de dados construídas a partir dos programas ou sistemas de gestão de bases de dados. (ABADAL, CODINA, 2005 citado por ORTEGA, 2009, p. 64). As bases de dados, portanto, por sua natureza e requisitos de conectividade, ampliam o universo de implicações do uso da catalogação. Os componentes de uma base de dados são: o registro (representação de uma entidade); e campo (são os atributos de uma entidade 4 ). O registro bibliográfico pode ser caracterizado como um produto da catalogação que permite identificar os dados formais e aparentes do documento original, distinguindo cada unidade dos demais (RÍOS HILARIO, 2003, p. 24 citado por ORTEGA, 2009). Também chamado de registro de informação, é composto por forma (campos) e conteúdo (preenchimento dos campos) em que é registrado o conjunto completo da representação, com todas as suas partes (portanto, incluindo a etapa de indexação). Um dos elementos do registro bibliográfico são os pontos de acesso. Conforme a Declaração dos Princípios Internacionais de Catalogação (2009), os pontos de acesso: - fornecem recuperação confiável dos registros bibliográficos e de autoridade e de seus respectivos recursos bibliográficos associados; - limitam os resultados da busca. São considerados pontos de acesso a responsabilidade pelo conteúdo intelectual ou artístico, o(s) assunto(s) e o título. 4 Entidade é descrita por Abadal e Codina (2005 citado por ORTEGA, 2009, p. 65) como qualquer objeto físico ou conceitual, real ou imaginário, que é descrito ou representado na base de dados.

19 Fazem parte dos modernos códigos de catalogação apenas os pontos de acesso por autor e título. A parte de assuntos está condicionada a outro processo da Biblioteconomia denominado indexação. Para Ortega (2009, p. 59): Vale comentar que processos de indexação refinados e consistentes permitem ao usuário acessar registros de informação, mas se os elementos que compõem a descrição bibliográfica são sofríveis, isto dificulta a identificação do documento, levando a implicações na decisão quanto à pertinência do mesmo. Pontos de acesso duplicados por erros de ortografia e ausência de normalização ou de remissivas levam a dificuldades para acessar registros que correspondam aos documentos de interesse, ou antes, impedem que os documentos de possível interesse sejam conhecidos. (ORTEGA, 2009, p. 59). Com esse trecho, percebe-se que mesmo com as facilidades tecnológicas dos catálogos automatizados, e recursos de busca em todos os campos, a normatização e fidedignidade da representação do documento continuam igualmente importantes. Em alguns tipos de bases de dados, cuja função não seja apenas referencial, outra informação importante a acrescentar refere-se aos dados de localização do item. Pode ser o número de chamada (ou qualquer outro tipo de código de localização do documento) ou o endereço eletrônico do documento. Em catálogos coletivos, isto é, em que estão representados os acervos de diversas bibliotecas que compõem uma rede, também faz parte dos dados de localização a indicação da biblioteca ou unidade de informação. Para a elaboração do código de localização do documento, são muito utilizados os sistemas de classificação bibliográfica. Os mais usados no Brasil são a CDD (Classificação Decimal de Dewey) e a CDU (Classificação Decimal Universal). A atribuição do código de localização, embora presente em alguns manuais de catalogação, não faz parte da catalogação descritiva propriamente dita. 2.3 Instrumentos para elaboração de registros bibliográficos Dentre os principais instrumentos/ferramentas utilizados no processo de catalogação encontram-se as ISBDs (International Standard Bibliographic Description); os códigos de catalogação, sendo o mais utilizado, sobretudo no Ocidente, o AACR2 - Código de Catalogação Anglo-Americano - que está em sua 2ª edição; os formatos de registro bibliográfico, em especial o MARC; e os esquemas de metadados.

20 2.3.1 As ISBDs As ISBDs partiram da discussão, na RIEC (Reunião Internacional de Especialistas em Catalogação), em 1969, sobre a necessidade de um padrão de normalização internacional. Embora o primeiro padrão criado fosse a ISBD(M) para monografias, foram elaboradas em seguida a geral (ISBD(G)) e outras para diversos tipos de materiais 5. A ISBD(G) abrange todos os tipos de materiais, ou seja, aplica-se mutuamente com qualquer das outras ISBDs (GARRIDO ARILLA, 1996). Esse novo padrão inova ao dividir as informações descritivas em oito grandes áreas, a saber: - área 1: do título e da responsabilidade; - área 2: da edição; - área 3: dos detalhes específicos do material; - área 4: dos dados de publicação; - área 5: da descrição física; - área 6: da série; - área 7: das notas; - área 8: do número internacional normalizado. Cada área possui seu conteúdo, pontuação rígida, especificações detalhadas dos dados com as regras aplicáveis a cada caso. As contribuições das ISBDs são importantes para a catalogação, pois trazem em seu conteúdo os elementos descritivos, estabelecendo a ordem sequencial e a separação dos mesmos por pontuação fixa, permitindo a identificação desses elementos pela posição ocupada e pontuação utilizada. Seu objetivo é fornecer uma estrutura internacionalmente aceita para a representação da informação no registro bibliográfico (BARBOSA, 1978). 2.3.2 AACR2 e o modelo FRBR O conjunto de regras que estabelecem a descrição bibliográfica e os pontos de acesso é chamado de código de catalogação (MEY, SILVEIRA, 2009, p. 97). Dentro eles o mais difundido internacionalmente é o AACR2. Publicado em 1978, o AACR2 foi o primeiro código de catalogação redigido segundo os novos critérios propostos internacionalmente pela ISBD. Sua edição também procurou ser fiel aos princípios estabelecidos na Conferência de Paris, levou em conta as 5 ISBD (A):obras raras; ISBD (CM) materiais cartográficos; ISBD (CR): recursos contínuos; ISBD (ER): recursos eletrônicos; ISBD (NBM) materiais não livros; ISBD (PM): música impressa.

21 vantagens da aplicação dos computadores à informação bibliográfica, determinou o tratamento de materiais não livro e esforçou-se para ser um código internacionalmente aceito. Sua publicação foi uma parceria de diversas instituições de vários países (ALA, LC, British Library, Canadian Committee on Cataloguing (da Canadian Library Association) e Library Association). Fruto de um relatório encomendado pela IFLA em 1990, e apresentado como relatório final em 1998, os FRBR são um modelo conceitual que define requisitos funcionais para registros bibliográficos. (ORTEGA, 2009, p.115). De um modo geral, eles trouxeram maior reflexão sobre os princípios norteadores da catalogação, como afirmam Mey e Silveira ao se dirigirem ao modelo: Por algum tempo [a catalogação], foi difamada, até mesmo enterrada e cremada, mas tal como a fênix egípcia e a própria Biblioteconomia, renasce das cinzas, faz plástica e reassume seu papel, representando o sol e a vida dos registros do conhecimento. (MEY; SILVEIRA, 2009, VII). Para Denton (2003 citado por ORTEGA, 2009, p. 121): O modelo FRBR incorpora as leis fundamentais e os objetivos da catalogação e da Biblioteconomia, como estabelecidos por Panizzi, Cutter, Lubetzky e Ranganathan, considerados os pioneiros na teorização sobre catalogação. Os FRBR são um modelo conceitual baseado no modelo entidaderelacionamento (E-R). Não é um novo código de catalogação, pois não indica propriamente os campos, sua forma de preenchimento ou descreve a forma de apresentação dos elementos descritivos. Dessa forma, ele não invalida a utilização de instrumentos adotados na catalogação descritos neste texto, servindo inclusive de base conceitual para o aprimoramento dos mesmos. Mey e Silveira (2009, p. 17) explicam sinteticamente o modelo E-R: Considera-se modelo como representação de algo; conceitual implica a modelagem de coisas, processos ou abstrações, de forma a sintetizar e sistematizar sistemas, teorias ou fenômenos com vistas à aplicação. Por fim, utiliza-se modelo E-R para o desenvolvimento de bases de dados relacionais, em contraposição às bases de dados hierárquicos. O modelo E- R identifica entidades, atributos e relacionamentos. (MEY; SILVEIRA, 2009, p. 17). Sem uma definição clara de entidade, Mey e Silveira (2009) a descrevem como uma coisa, o principal objeto de interesse para o usuário, sendo ela o fator primordial de um banco de dados E-R. São dez entidades dispostas em três grupos, conforme FIGURA

22 2. Os atributos são as características das entidades, que se podem desdobrar em elementos da representação (exemplo: título título principal, título uniforme). São realizadas relações entre as entidades, configurando o fundamento dos catálogos e dos bancos de dados. (MEY, SILVEIRA, 2009, p. 18). FIGURA 2 - Entidades dos FRBR Fonte: MEY, SILVEIRA, 2009, p. 18. A revolução na descrição bibliográfica trazida pelo modelo FRBR atingiu também os pontos de acesso culminando nos Functional Requiments for Authority Data (FRAD Requisitos Funcionais para Dados de Autoridade). O modelo abrange todos os tipos de dados de autoridades (nomes de pessoas, famílias, instituições, geográficos, títulos e assuntos) e completa o FRBR. A última revisão do AACR2, de 2002, procurou incorporar os preceitos do modelo FRBR, contudo os esforços de criação de um AACR3 culminaram no projeto iniciado em 2004 denominado de RDA (Resource Description and Access). Segundo Ortega (2009, p. 124) trata-se de tentativa de implementação do modelo FRBR em um padrão de descrição e acesso a informações, desenhado para uso em ambiente digital. Devido ao grau de mudanças necessárias, optou-se pela mudança de nome. 2.3.3 A informatização da catalogação e o formato de registro bibliográfico A informatização do processo de catalogação remonta ao ano de 1937, com os cartões perfurados apresentados no Congresso Mundial da Documentação Universal, em Paris, tendo maior propagação com o advento dos computadores após a década de 80. Embora a informatização tenha trazido ganhos em desenvolvimento dos formatos, pouco acrescentou (considerando-se as discussões teóricas do século XIX) aos estudos dos

23 princípios que regem a catalogação. A preocupação passou para o intercâmbio das informações entre computadores, e formatos de registro bibliográfico foram surgindo. (ORTEGA, 2010). Um formato tem a finalidade de permitir a leitura dos registros bibliográficos pelo computador. Ele pode ser descrito como uma estrutura para o tratamento da informação no meio informatizado (ORTEGA, 2009, p. 180). Sua padronização internacional é que permite o intercâmbio desses registros entre unidades de informação/bibliotecas. Segundo Ortega (2009, p. 108), os registros bibliográficos, constituintes do catálogo, são formados por: campos, subcampos e alguns ainda por indicadores (códigos que fornecem informações sobre os campos e subcampos). Os registros são divididos em: campos de controle variável (possui extensão fixa) e campos de dados variáveis (possuem tamanho variável). Embora alguns formatos possam ter todas as características acima, outros podem prescindir de algumas delas, dependendo de sua concepção. Para se implantar um formato de registro bibliográfico é preciso ter em mente suas diversas instâncias, as quais possuem funções próprias, como (ORTEGA, 2009, p. 110): - formato de entrada de dados: é o formulário onde os dados são registrados e armazenados em arquivos; - formato de arquivo de armazenamento dos dados: arquivo gerado por meio da entrada de dados; - formato de intercâmbio: formato padronizado que permite o intercâmbio de registros entre sistemas computadorizados; - formato de apresentação: forma de apresentação dos dados ao usuário. A norma ISO 2709 estabelece uma estrutura de formato para arquivos de intercâmbio dividida em: líder e diretório. Entre os formatos desenvolvidos, o que mais de destacou foi o MARC (sobretudo devido ao grande sucesso da catalogação cooperativa exercida pela LC). Com origem em 1963 em um relatório sobre a informatização da LC, o formato MARC veio posteriormente a incorporar as regras do AACR, se desenvolveu de forma a surgir diferentes variações desse. Os chamados UNIMARC e MARC21 são os mais difundidos atualmente. O MARC21 apresenta-se como o mais complexo, e é composto por 5 formatos: para dados bibliográficos; de autoridades; dados de coleção; dados de classificação; e para informação comunitária. O Manual de Referência do UNISIST (United Nations International System for Information in Science and Technology), criado entre os anos de 1967 a 1971, foi promovido

24 pela UNESCO com o objetivo de servir como formato normalizado de comunicação para o intercâmbio de informações bibliográficas legíveis por máquina entre quaisquer serviços de informação. Representou um modelo conceitual para o registro bibliográfico, sobretudo para descrições bibliográficas legíveis por máquina. Uma das principais características apontadas por esse manual é a estruturação por níveis: analítico (ex.: capítulo de livro); monográfico e publicação seriada (coleção). Vários formatos surgiram tendo esse modelo como base 6. Um formato de registro bibliográfico constitui-se de um padrão para o tratamento informatizado do dado bibliográfico (ORTEGA, 2002, p. 75). Entretanto ele depende das normas de descrição bibliográfica para seu preenchimento. (ORTEGA, 2009, p. 108). Os formatos de descrição bibliográfica ficaram complexos demais para a rapidez que exigem os novos formatos digitais, que mais rapidamente ainda se tornam obsoletos. Surgiram para essa compensação os esquemas de metadados. Os esquemas de metadados são definidos como dados sobre os dados. O objetivo é descrever objetos digitais de acesso remoto. Vários padrões de metadados podem coexistir, sendo inclusive uns mais apropriados que outros, dependendo do tipo de recurso digital a ser descrito. Exemplos de padrão de metadados são o Dublin Core e o MTD-BR. O padrão Dublin Core constitui-se de apenas quinze elementos, é bem simples de forma que não exige muito conhecimento sobre descrição bibliográfica para compô-lo. O Padrão Brasileiro de Metadados de Teses e Dissertações (MTD-BR) é uma iniciativa do IBICT, e é utilizado por diversas instituições de ensino superior brasileiras concomitantemente ao programada Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações, que além de integrar os sistemas dessas instituições, visa estimular o registro e publicação dessas obras em meio eletrônico. (MEY, SILVIERA, 2009). Percebe-se que, a despeito da revisão de literatura realizada, parte da trajetória de desenvolvimento dos instrumentos, processos e produtos da catalogação deu-se de forma intuitiva, empírica, com pouca reflexão epistemológica e filosófica sobre as pretensões da catalogação descritiva, limitando-se ao estabelecimento de regras sobre como fazer, preterindo o raciocínio baseado em princípios firmadores para a área que orientariam catalogadores em todo o processo. 6 Exemplos: LILACS, o CEPAL, o INIS, AGRIS e CCF.

25 3 ANÁLISE DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA DAS APRESENTAÇÕES ORAIS DO ENANCIB ENTRE OS ANOS DE 2001 A 2010 3.1 Descrição dos procedimentos metodológicos De certo modo a análise de conteúdo, é uma interpretação pessoal por parte do pesquisador com relação à percepção que tem dos dados. Não é possível uma leitura neutra. Toda leitura se constitui numa interpretação. (MORAES, 1999). O método de análise de conteúdo, proposto por Bardin (2002), sob o viés da estratificação em etapas fornecido por Moraes (1999) prosseguiu-se à forma empírica dessa pesquisa da seguinte forma: Na fase de preparação: realizou-se o levantamento das edições do ENANCIB, disponíveis para consulta, tendo como foco o período de 2000 a 2010. Apesar de suas doze edições, apenas se encontram disponíveis para consulta on-line no site da ANCIB os anais da quinta edição (ano de 2003) à décima edição (2009). Os anais da 11ª edição (2010) podem ser encontrados no site institucional do evento 7. Os anais da quarta edição (ano de 2000) não se mostraram satisfatórios devido à falta de indicação da sessão temática a que cada apresentação estava veiculada ficando, portanto, excluídos da amostra. Foram considerados como pertinentes para exploração o título da comunicação, ano de apresentação, autor(es), filiação institucional do(s) autor(es), GT e resumo. Esses dados foram coletados dos anais (da 5ª a 10ª edição) e transportados para uma planilha do Excel 8, em cada linha representava um registro (uma comunicação) e em cada célula uma informação diferente. A amostra representou um total de 1094 textos de comunicações orais, distribuídos entres as edições dos anos de 2003, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009 e 2010 (a periodicidade do evento passou a ser anual após 2005). Na fase de unitarização definiu-se como unidade de análise para a categorização o título e de forma suplementar o resumo. Para Moraes (1999) haveria muitas formas de categorizar possíveis objetivos de pesquisas utilizando-se da análise de conteúdo. Contudo, ela realiza uma classificação baseada na definição original de Laswell, em que este caracteriza a comunicação a partir de seis questões: 1) Quem fala? 2) Para dizer o que? 3) A quem? 4) De que modo? 5) Com que finalidade? 6) Com que resultados? Utilizando-se de uma ou combinando duas ou mais 7 http://enancib.ibict.br/index.php/xii/enancibxii 8 Software da Microsoft, versão 2007.