de Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia

Documentos relacionados
da região no mercado mundial entre países vizinhos não se faz sem uma integração física, que garanta o transporte

Território e planejamento de longo prazo: a experiência do Estudo da Dimensão territorial do planejamento

SEMINÁRIO INTERNACIONAL PROGRAMA ARCUS. INTEGRAÇÃO POLÍTICA E ECONOMICA DA AMÉRICA DO SUL Intercâmbios Universitários Brasil-Chile-França

TREINAMENTO PREPARATÓRIO PARA A ECEME

Blocos econômicos. Bloco Econômico é uma integração de países nos. desenvolvimento e maior poder de competição.

Desafios da Integração Energética na América Latina

Lembro a todos que estes slides não servem como embasamento TOTAL para a prova. Prof. Matheus

A função de ligar a produção ao consumo; A evolução do sistema de transporte está associada às mudanças econômicas do Brasil;

2º ano do Ensino Médio. Ciências Humanas e suas Tecnologias Geografia

Aspectos teóricos da integração entre hidrovias e ferrovias

PROGRAMA: Educação Profissional e Tecnológica

ENASE 2008 DESAFIOS PARA EXPANSÃO DA GERAÇÃO HÍDRICA GRANDES APROVEITAMENTOS CENÁRIOS DE EXPANSÃO DO SISTEMA DE TRANSMISSÃO

CAP. 22 REGIÃO NORTE

O SR. JOSUÉ BENGTSON (PTB/PA) pronuncia o. seguinte discurso: Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, o

Roraima e os estudos geoestratégicos na fronteira amazônica

Mineração e Agronegócio:

América. Divisões: 35 países e 18 dependências. População total: habitantes.

TÍTULO: MULTIMODALIDADE APLICADA AO ESCOAMENTO DAS PRINCIPAIS MASSA ECONOMICAS BRASILEIRAS DESTINADAS À EXPORTAÇÃO PELO PORTO DE SANTOS

Política de fomento ao desenvolvimento produtivo no Pará (PDP-PA) Maurílio Monteiro

Andamento das principais obras Agosto/2009

INFRAESTRUTURA E LOGÍSTICA COMO VETORES DE DESENVOLVIMENTO DO CIPP E DO CEARÁ

O setor elétrico e eletrônico brasileiro em 2020 Uma estratégia de desenvolvimento ABINEE TEC 01 de junho de 2009

COLÉGIO 7 DE SETEMBRO DISCIPLINA DE GEOGRAFIA PROF. RONALDO LOURENÇO 7º ANO. PERCURSO 14 REGIÃO NORTE a construção de espaços geográficos

Planejamento e Investimentos Estratégicos para Exploração

Custo Brasil: infraestrutura portuária Transporte Hidroviário Interior como Solução Logística e Ambiental

Colégio XIX de Março Educação do jeito que deve ser

GEOGRAFIA APLICADA ÀS RELAÇÕES INTERNACIONAIS GEOGRAFIA E GESTÃO AMBIENTAL

Allan Nº1 GabrielNº7 Pedro F. Nº27 Pedro S. Nº28 Renan Nº31 Vitor Nº33 Vitoria Nº34

1 Introdução O problema e sua importância

Amazônia Economia Atual. Resumo História da Região Norte Ocupação Econômica

Rio Grande do Sul. Dinâmicas Territoriais E Planejamento Logístico. Com Dados SEPLAG RS

2003 Câmara dos Deputados. Todos os direitos reservados. Este trabalho poderá ser reproduzido ou transmitido na íntegra, desde que citados o autor e a

Programa de Inclusão Social e Desenvolvimento Econômico Sustentável do Estado do Acre PROACRE

Palestra. O Planejamento da Infraestrutura de Transportes

PLANEJAMENTO REGIONAL E AS CIDADES PORTUÁRIAS DO RIO PARAGUAI APROXIMAÇÕES.

AMAZÔNIA BRASILEIRA: ANÁLISE DA MIGRAÇÃO DE RETORNO DE BRASILEIROS

Infraestrutura de Santa Catarina para o Desenvolvimento

Adriano Venturieri. Chefe Geral Embrapa Amazônia Oriental

GST1119 TECNOLOGIAS DO TRANSPORTE DE CARGA. Aula 02

01 de setembro de Belém - PA. Adalberto Tokarski Diretor

PROCESSO SELETIVO GEOGRAFIA

Amazônia nas Relações Internacionais

LISTA DE EXERCÍCICIOS 2 REGIONALIZAÇÃO DO BRASIL

Meio: Jornal do Commercio. Editoria: Política Caderno: - Data: 2/3/16

PROJETO DE PESQUISA INDÚSTRIA E DESENVOLVIMENTO PRODUTIVO DO BRASIL: QUAL DEVE SER A ESTRATÉGIA DO GOVERNO PARA ?

Porto Multimodal de São Luís. Seminário Caminhos da Engenharia Brasileira Atividade Portuária

Ministério Transportes

MERCOSUL: SUA IMPORTÂNCIA E PRÓXIMOS PASSOS

NAVEGAÇÃO INTERIOR: Infraestrutura Existente, Gargalos Operacionais, Demandas não atendidas e Ações de Curto Prazo

Roraima no contexto regional fronteiriço - UFRR

DESENVOLVIMENTO HIDROVIÁRIO. RIO do Estado de São Paulo

Regulação do Transporte Aquaviário Navegação Interior

Conhecimentos Gerais

Com extensão territorial de quilômetros quadrados, o território brasileiro corresponde a 48% do subcontinente sulamericano.

RONDÔNIA NO MERCADO AMAZÔNICO / ANDINO

Seminário IBRE Infraestrutura no Brasilperspectivas. nas áreas de construção, saneamento, transporte e logística

Crescimento demográfico da América Anglo-Saxônica e da América Latina

Núcleo de Pesquisa Estado e Território. Prof. Dr. Aldomar A. Rückert

Projetos Estruturantes para a Integração da Infraestrutura na América do Sul: UNASUL - Cosiplan

Geografia. Material de divulgação. Comparativos curriculares. A coleção Ser Protagonista Geografia e o currículo do Estado de Minas Gerais

ATUALIDADES E PERSPECTIVAS DOS PORTOS DO ARCO NORTE

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ GEOGRAFIA PROSEL/ PRISE 1ª ETAPA EIXO TEMÁTICO I MUNDO 1. ESPAÇO MUNDIAL

Universidade Federal do Pará Processo Seletivo Especial Conteúdo de Geografia 1. ESPAÇO MUNDIAL

Proposta de Programa Latino-americano e Caribenho de Educação Ambiental no marco do Desenvolvimento Sustentável. Resumo Executivo

Ocupação Sustentável do Território Nacional pela Ferrovia Associada ao Agronegócio

REUNIÃO DE TRABALHO DOS GTE S

Integração regional: Fundamentos, autonomia e multipolaridade

Agronegócio no Brasil e em Mato Grosso

O PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL

janeiro de A mudança foi motivada pelo convite para trabalhar como arquiteta na

Sumário. Os lugares, as paisagens e o espaço geográfico. Localização dos espaços na superfície terrestre

Agronegócio no Brasil e em Mato Grosso

AVALIAÇÃO DA NAVEGABILIDADE NA HIDROVIA PARAGUAI-PARANÁ PARA O TRANSPORTE DE CARGA

IIRSA. Iniciativa para a Integração da Infra- estrutura Regional Sul-Americana

3º SEMINÁRIO INTERNACIONAL EM LOGÍSTICA AGROINDUSTRIAL

Novos terminais vão reduzir custos das exportações de grãos do Centro-Oeste

Ministério da Integração Nacional Secretaria de Desenvolvimento Regional. Plano Brasil Fronteira Sugestão de estrutura, visão, foco e prioridades

Povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais

Secretaria de Portos. Ministério dos Transportes. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

América Central e do Sul

Atividade de Revisão Prova 1 cap. 01 Questões Objetivas. Utilize o mapa a seguir para auxiliar na resolução das questões de 1 a 4:

MOBILIDADE - MODOS SUAVES NO CONTEXTO DO PO NORTE DE ABRIL DE2017

Projeto ABIN 2014 Geografia Prof. Thiago Rocha Aula 6

VERSÃO DE TRABALHO. Exame Final Nacional de Geografia A Prova ª Fase Ensino Secundário º Ano de Escolaridade. Critérios de Classificação

Crise na Europa e Globalização

Oprimeiro comentário a fazer sobre esse novo livro da geógrafa

Seminário Nacional Eco-Escolas 2018

BRASIL NOSSO TERRITÓRIO E FRONTEIRAS MODULO 02 PALMAS - TO

foram responsáveis diretos por alterações da ordem econômica, demográfica, social e geográfica

Crescimento de Produção Soja (Safra 15/16 a 24/25) 27,8 milhões/ton 31,2 milhões/ton 46,2 milhões/ton

Gargalos logísticos e perspectivas

As perspectivas da infraestrutura logística no curto, médio e longo prazos. Priscila Santiago Coordenadora de Economia da CNT

OBJETIVO º ANO E.M. MÓDULO 19 INDUSTRIALIZAÇÃO DA AMÉRICA

Realizado de 25 a 31 de julho de Porto Alegre - RS, ISBN

7 Plano de escoamento da GEIPOT e novas possibilidades

EIXO TRANSPORTES. garantindo maior integração da malha brasileira de Transportes.

Oficina. Grandes Obras na Amazônia. Tema 5: Ordenamento Territorial e Biodiversidade *Síntese* Ane Alencar Paulo Moutinho e Raissa Guerra

As atuais condições da infraestrutura de transporte e logística do Brasil

Novos cenários para a integração científica e tecnológica da Amazônia

Transcrição:

Anais do I Seminário Internacional de Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia OS EIXOS DE INTEGRAÇÃO NACIONAL E TRANSNACIONAIS E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Cavalcante, Kátia V.; Franchi, Tassio; Lopes, Rute H.; katiavc29@gmail.com Realização Apoio

INTRODUÇÃO Ao considerar a integração sul-americana, deve-se compatibilizar preliminarmente a combinação de uma logística exógena com modelos endógenos e suas diferenciações nos espaços regionais, visando também à integração interna da região e à proteção do meio ambiente. Na última década do século XX, a projeção regional de um discurso latino-americano de integração com um caráter exclusivamente sul-americano se firma com a iniciativa amazônica que propõe um acordo de livre comércio entre os oito países da região transnacional Amazônica. Maturado em 1993, pela ampla proposta, que não se efetivou, de formação de uma Área de Livre Comércio da América do Sul- ALCSA. Em 2000, pela iniciativa de Integração Regional da Infraestrutura da América do Sul-IIRSA, e, finalmente, em 2004, pela formação da Comunidade Sul-Americana de Nações-CASA, recentemente renomeada como União Sul-Americana -UNASUR. Os programas brasileiros Brasil em Ação (PPA 1996-1999) e Avança Brasil (PPA 2000-2003) faziam parte de uma estratégia de integração da Amazônia ao espaço produtivo brasileiro e de consolidação da política de integração regional da América do Sul. Os mercados externos, por sua vez, evidenciarão uma relevância particular ao condicionar o desenvolvimento dos corredores de transporte, que envolvem diferentes modais e infraestruturas portuárias. No momento em que se afirmam os esforços para a constituição de uma área integrada, por meio de acordo de livre comércio entre o Mercosul e a CAN - Comunidade Andina das Nações e a formação de Eixos de Integração e Desenvolvimento no contexto da IIRSA, convém considerar as dimensões econômicas e geopolíticas desse processo. Anais do I Seminário Internacional de Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia. 2

OBJETIVOS Contrastar a relação existente entre a configuração das redes e sistemas de transporte e o conjunto de interações entre as regiões, os mercados e os processos sociais acionados. METODOLOGIA A metodologia para a elaboração do presente estudo foi a de uma revisão da literatura existente configurando-se em pesquisa bibliográfica. Nessa fase, foram localizados os principais eixos de integração nacionais e regionais e suas áreas de influência direta. Dada a natureza interdisciplinar do estudo, optou-se por uma abordagem socioeconômica e ambiental segundo o modelo de Sachs (2002). RESULTADOS E DISCUSSÃO Os rios sempre foram os eixos de integração naturais de grande parte da região amazônica com o restante do país e com o mundo. A história de tais vias de integração se confunde com histórias de conquista e ocupação do território. Um fator que demandava a construção de eixos de integração era a baixa densidade demográfica na região amazônica. A chegada das rodovias tem transformado profundamente a organização regional da região, até então definida em volta dos rios. A história econômica da Amazônia até hoje, revelou que o espaço realmente aproveitado se resume a corredores que acompanham a rede hidroviária e, secundariamente, a rede rodoviária. A partir da década de 1970, com a abertura de estradas, a movimentação passou a ser feita via Cuiabá Porto Velho Manaus (BR-364 e BR319) de forma transversal ao país e paralela ao rio Amazonas, todavia distante, pela rodovia Transamazônica. O eixo longitudinal Cuiabá - Porto Velho - Manaus foi completado, na década de 1990, com a BR-174 ligando Manaus a Boa Vista e abrindo caminho para o mar do Caribe, via Venezuela. Outra porta para o exterior, também concluída na década de 1990, foi a BR- 317, que liga o Brasil à Bolívia, pelo município de Assis Brasil no Estado do Acre. A proposta dos eixos de integração para os planos plurianuais PPAs, da década de 90, originava-se da necessidade de corredores logísticos que desonerassem o custo Brasil, principalmente para o setor agroindustrial, e visava a vencer os gargalos internos de infraestrutura aumentando a eficiência da integração do território nacional na economia mundial. Os programas Brasil em Ação e Avança Brasil introduziram a idéia de eixos de desenvolvimento, com projetos de modernização antes postergados e a implantação de programas de destinados à atualização das infraestruturas de transporte, energia e telecomunicações, ressaltando a possibilidade de composição multimodal mais integrada entre rodovias, ferrovias e hidrovias. Anais do I Seminário Internacional de Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia. 3

Com o asfaltamento e sinalização da BR-174, concretiza-se a ligação do eixo Caribe ligando Manaus, capital do Amazonas, à cidade de Caracas, capital da Venezuela, e aos portos de Ordaz (sobre o rio Orinoco) e de Puerto La Cruz (sobre o litoral do Caribe), via Boa Vista (capital do Estado de Roraima). Seu objetivo consiste em estabelecer uma saída terrestre para o mar do Caribe, e uma nova via de transporte de cargas para as mercadorias provenientes do mercado asiático. Em longo prazo, uma bifurcação permitirá vincular Boa Vista à cidade de Georgetown (Guiana), confirmando, dessa maneira, a integração crescente da Bacia Amazônica como um todo. Por sua vez, o programa de recuperação de rodovias federais 364 (Brasília-Acre) e BR 163 (Cuiabá-Santarém) visam a unir, por via terrestre, o Centro-Oeste brasileiro ao Porto de Santarém (Pará), e também à fronteira peruana, via Rio Branco (capital do Estado do Acre). Este último projeto expressa o interesse crescente manifestado pelas autoridades federais, assim como por determinados agentes econômicos do Centro-Oeste e da Bacia Amazônica, de intensificar a integração territorial do Brasil com os países vizinhos. Diversos projetos do programa Brasil em Ação tiveram como objetivo uma revalorização do transporte fluvial. O projeto da hidrovia Araguaia-Tocantins via multimodal visa a facilitar o transporte da produção agrícola da região do médio Araguaia pelo porto de São Luiz, ao integrar esses eixos fluviais às vias da estrada de ferro Carajás. A hidrovia do Madeira, responde a critérios logísticos similares ao anterior, se desenvolve na contramão do programa ferroviário Ferronorte. À medida que se encontra diretamente associado às estratégias de certos atores do complexo da soja, buscam alternativas para o transporte de sua produção em direção aos portos europeus, além de disponibilidade de infraestruturas de comunicação que facilitem a integração vertical dos diversos setores que caracterizam esse setor do agrobusiness. As infraestruturas planejadas e financiadas pelo Programa Brasil em Ação concentraram-se, em boa parte, ao longo de dois eixos, um deles norte-sul, o Araguaia-Tocantins e o outro que liga São Paulo (e, portanto, o Mercosul) ao Caribe, via Cuiabá, Manaus e Boa Vista. Os investimentos alocados estão configurando um novo eixo continental que oferece uma alternativa passando pelo território brasileiro ao principal eixo Norte-Sul atual, a Carretera Pan-americana que conecta a Patagônia ao Panamá. No processo de integração da Amazônia e da América Latina (Figura 1), há a necessidade de consolidação das estruturas econômicas nacionais, das estratégias formais de integração e dos alinhamentos econômicos regionais, tais como os que já estão se desenvolvendo nos últimos anos. O amadurecimento do discurso sulamericano evoluiu com a proposta ambiciosa de criação de uma Área de Livre Comércio da América do Sul, mas somente se efetivou com a evolução do comércio intrarregional e a estabilização dos esquemas subcontinentais de integração do Mercosul e da Comunidade Andina e, de maneira mais abrangente, a IIRSA. Anais do I Seminário Internacional de Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia. 4

Figura 1: Eixos de integração na America Latina. Fonte IIRSA, 2000. A percepção ambiental global trouxe à luz a interdependência entre o comércio internacional e o meio ambiente. Nos países da América Latina e do Caribe, por outro lado, o lento crescimento econômico e os problemas de pobreza hierarquizaram prioridades de curto prazo, em detrimento de considerações ambientais ou esforços produtivos de mais lenta maturação que levam em conta a qualidade ambiental. Todavia, à medida que os países da região optaram por uma estratégia de abertura e de crescimento baseada nas exportações, não dispõem de grandes margens de manobra para ajustar seus sistemas produtivos às exigências ambientais de seus principais mercados de exportação. O crescimento e a modernização da economia regional, assim como a melhoria dos indicadores sociais são necessários para a adequação do desenvolvimento devido ao dinamismo diferenciado nos países da região. Além da diferença no ritmo de crescimento entre os países, há ainda as discrepâncias internas na economia das unidades de cada federação, que são refletidas nos indicadores sociais. A América do Sul padece de grandes deficiências de infraestrutura econômica, o transporte é especialmente grave quando se considera a sua integração e seu papel nas exportações. Estes estrangulamentos comprometem a competitividade das economias regionais, e aumentam as diferenças de produtividade entre os países, seja no setor primário, seja no setor secundário, seja no setor terciário. Anais do I Seminário Internacional de Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia. 5

As transformações experimentadas pelas economias da América Latina e do Caribe, nas últimas décadas, levaram a uma recomposição setorial na qual os serviços ganharam peso relativo, enquanto que o valor da produção primária e industrial reduziu sua cota na estrutura econômica. Tais tendências devem ser ponderadas em termos de suas repercussões sobre a sustentabilidade do desenvolvimento. De modo geral, com a intensificação da integração regional várias são as vantagens e desvantagens comparativas que podem surgir, com diversas consequências ambientais e econômicas. As principais vantagens são o acesso às fontes de energia barata, associadas à redução de custos de transporte pela oferta dos eixos de integração, o melhor aproveitamento das condições e componentes ecológicos ou climáticos locais. Como desvantagens, a instabilidade da política regional que pode influenciar na consolidação dos eixos de integração; as restrições e divergências legais ambientais que também têm atrasado alguns projetos de transporte, de geração e de transmissão de energia, por sua localização em áreas de proteção ambiental, fronteiriças e de reservas indígenas, porém o principal determinante do estrangulamento é financeiro. Os eixos da IIRSA na Amazônia e no Pacífico têm por objetivo melhorar a interdependência buscando desenvolvimento associado entre os países amazônico-andinos, com os países platinos, em especial o Brasil, que faz fronteira com quase todos os países da região sul-americana e não tem acesso ao Pacífico Sul-americano ou ao Caribe. Os interesses compartilhados dentro de infraestrutura física geradora de benefícios mútuos é a solução dos problemas energéticos e logísticos destes países poderiam racionalizar o espaço de desenvolvimento. Entre os eixos de integração sul-americana que já foram implantados, de alguma forma, estão: o gasoduto Brasil-Bolívia, a ligação rodoviária e energética entre a Amazônia brasileira e a Venezuela, a integração dos sistemas de energia elétrica do Brasil e da Argentina e os avanços feitos na navegação fluvial. Dos quatro eixos da IIRSA que recortam a Amazônia, três têm sua expansão rumo ao Pacífico, e apenas um, rumo ao Caribe, o que evidencia que as integrações continentais da América do Sul lideradas pelo Brasil têm objetivos geoestratégicos muito específicos de inserção na economia internacional. No eixo do escudo das Guianas o objetivo econômico das obras se divide entre: escoamento de produtos oriundos da Zona Franca de Manaus, com destino aos mercados consumidores da América do Norte e Europa, por meio do Mar do Caribe; e utilização de recursos naturais e aproveitamento do potencial hidrelétrico. A centralidade da América do Sul no discurso geopolítico faz parte de uma estratégia regional no subcontinente que foi colocada em prática inicialmente pela liderança brasileira no lançamento, em 1992, da Iniciativa Amazônica, período em que internamente o Brasil retoma os investimentos na infraestrutura de transportes. Internamente o transporte passou a ser visto como custo adicional de Anais do I Seminário Internacional de Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia. 6

produção, fator de restrição da competitividade dos produtos nacionais no mercado global e não como fator de desenvolvimento. As intervenções previstas pelos PPAs Brasil em Ação e Avança Brasil deu prioridade à recuperação da vias preexistentes e adotou a multimodalidade viária adequando-se ao discurso ambiental remanescente da Eco 92. As vantagens ambientais da preferência por essas modalidades são relativamente óbvias. O princípio da ecoeficiência aplicado ao planejamento territorial, no entanto, não acaba na formulação do princípio de multimodalidade. As vantagens ecológicas no fato de desenhar uma estratégia de desenvolvimento territorial que favoreça mais a uma adequação e modernização do complexo territorial existente é maior do que a simples extensão desse complexo com a finalidade de ocupação por meros motivos de soberania. Anais do I Seminário Internacional de Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia. 7

CONSIDERAÇÕES FINAIS O espaço sul-americano é composto pela superposição dos múltiplos territórios concebidos, desenhados e experimentados pela diversidade de projetos e atores que compõem a trama social. Com a implantação dos projetos previstos pelo IIRSA, o subcontinente sul-americano terá forte integração físico-territorial e logística, que ampliará o comércio regional, facilitando o acesso aos mercados asiáticos via Pacífico. Os diferentes grupos socioculturais que integram a região sul-americana encontram-se em diferentes fases de desenvolvimento, o que dificulta o fortalecimento em blocos econômicos. Com esse contexto macroeconômico e geopolítico, a integração de fato é a liderada pelos mercados, sendo que a única integração que se afirmou na região foi a do Mercosul baseada em união aduaneira. Evidentemente, nesse tipo de integração, os verdadeiros beneficiários são as empresas em setores com economias de escala. As proposições visando à criação de mecanismos de coordenação macroeconômica e alinhamento cambial (posteriormente, moeda única) só favorecem a expansão das assimetrias já existentes. A proposta de integração do IIRSA poderá funcionar como primeiro passo para a integração das economias regionais, uma vez que intensificará as relações comerciais e incentivará a equiparação da qualidade dos produtos finais. Considerando-se os possíveis resultados da implantação dos eixos de integração, destaca-se a importância estratégica das obras de integração física para o aumento dos fluxos de riquezas produzidas e consumidas na América do Sul. Como risco potencial, poderá ocorrer aumento de conflitos sociais migração, conflitos de terra ampliação dos conflitos ambientais - pressão antrópica sobre Unidades de Conservação e Terras Indígenas, aceleramento do desmatamento direto ou induzido Por fim, é importante destacar que muitos governos latino-americanos têm se referido à integração como uma forma de consolidar a democracia na região. A questão substantiva comum a um processo de integração regional tem a ver, não com a convergência de formas de governo, mas com a definição de uma carta socioeconômica e ambiental. Anais do I Seminário Internacional de Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia. 8

REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICAS ACSELRAD, H. Eixos de Articulação Territorial e Sustentabilidade do Desenvolvimento. Rio de Janeiro: Projeto Brasil Sustentável e Democrático. 2001. CARDOSO, F. H. & FALETTO, E. Dependência e desenvolvimento econômico na América Latina. 6 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1981. PASQUIS R. (coord.); NUNES, B.; LE TOURNEAU, F. M.; MACHADO, L. e MELLO, N. A. As Amazônias, um mosaico de visões sobre a região. CDS UnB, Brasília, 2003. SACHS, I. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Garamond. 2002. THÉRY, H. Situações da Amazônia no Brasil e no Continente. Estudos Avançados (USP). São Paulo. 19 (53), 2005. Anais do I Seminário Internacional de Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia. 9