RECUPERAÇÃO DE CHUMBO, COBRE E NÍQUEL DE EFLUENTES INDUSTRIAIS UTILIZANDO REATOR DE LEITO PARTICULADO

Documentos relacionados
GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA FUNDAÇÃO DE APOIO À ESCOLA TÉCNICA ESCOLA TÉCNICA ESTADUAL REPÚBLICA

01 O chumbo participa da composição de diversas ligas metálicas. No bronze arquitetônico, por

PILHAS ELETROQUÍMICAS

ELETROQUÍMICA. 1. Introdução

P3 - PROVA DE QUÍMICA GERAL - 19/11/11

SOS QUÍMICA - O SITE DO PROFESSOR SAUL SANTANA.

Trataremos da lei limite de Debye-Hückel e definiremos as células

Química. A) Considerando-se que o pk a1 é aproximadamente 2, quais os valores de pk a2 e pk a3?

PROCESSOS AVANÇADOS DE USINAGEM

Assunto: Eletroquímica Folha 4.1 Prof.: João Roberto Mazzei

A metodologia de Taguchi Variáveis de influência Níveis Fontes de variabilidade

ELETROQUÍMICA. paginapessoal.utfpr.edu.br/lorainejacobs. Profª Loraine Jacobs DAQBI

AULA 18 Eletroquímica

Corrente elétricas. i= Δ Q Δ t [ A ]

Resolução UNIFESP 2015

O ALUNO DEVERÁ VIR PARA A AULA DE RECUPERAÇÃO COM A LISTA PRONTA PARA TIRAR DÚVIDAS.

Catálise e Inibição de Reação Eletroquímica

Funções e Importância da Água Regulação Térmica Manutenção dos fluidos e eletrólitos corpóreos Reações fisiológicas e metabólicas do organismo Escassa

CORROSÃO E ELETRODEPOSIÇÃO

Determinação de Fluoreto em Soluções por Eletrodo Íon Seletivo (ISE)

PURIFICAÇÃO DE BIOGÁS E IDENTIFICAÇÃO DE EQUIPAMENTOS PARA GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA, TÉRMICA E VEICULAR. Rio de Janeiro 2015

CAPÍTULO 1 Quantidades e Unidades 1. CAPÍTULO 2 Massa Atômica e Molecular; Massa Molar 16. CAPÍTULO 3 O Cálculo de Fórmulas e de Composições 26

Técnicas de determinação das características de infiltração

Velocidade inicial (mol L -1 s -1 ) 1 0,0250 0,0250 6,80 x ,0250 0,0500 1,37 x ,0500 0,0500 2,72 x 10-4.

Resumo de Química: Pilhas e eletrólise

F A. Existe um grande número de equipamentos para a medida de viscosidade de fluidos e que podem ser subdivididos em grupos conforme descrito abaixo:

PARTÍCULAS SÓLIDAS PARA AS OPERAÇÕES ABAIXO, O CONHECIMENTO DAS PROPRIEDADES DAS PARTÍCULAS SÓLIDAS É FUNDAMENTAL:

VALIDAÇÃO DE UM MODELO DE DIMENSIONAMENTO DE WETLANDS DE MACRÓFITAS AÉREAS PARA SEPARAÇÃO ÁGUA-ÓLEO

P2 - PROVA DE QUÍMICA GERAL - 09/05/08

Questão 10: Sobre as moléculas de CO 2 e SO 2, cujas estruturas estão representadas a seguir, é CORRETO afirmar que: S O O C O

Físico-Química. Eletroquímica Prof. Jackson Alves

AVALIAÇÃO DE UM TANQUE DE DECANTAÇÃO DE SÓLIDOS UTILIZANDO FLUIDODINÂMICA COMPUTACIONAL

EXAME DE SELEÇÃO PARA O PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ (PPGQ-UFC) /2012.1

1º Questão: Escreva a distribuição eletrônica dos elementos abaixo e determine o número de valência de cada elemento: a) Fe (26):.

8 Redução eletrolítica de íons aquosos

Concentração de soluções e diluição

PROFESSORA: CLAUDIA BRAGA. SEMINÁRIO DE FÍSICO QUÍMICA II Célula de Níquel e Cádmio. João Pessoa, 31 de julho de 2009

Exercício 3: (PUC-RIO 2007) Considere a célula eletroquímica abaixo e os potenciais das semi-reações:

12 GAB. 1 1 o DIA PASES 1 a ETAPA TRIÊNIO QUÍMICA QUESTÕES DE 21 A 30

Aulão de Química. Química Geral Professor: Eduardo Ulisses

RESOLUÇÃO RESOLUÇÃO. Resp. D

ORIENTAÇÃO DE ESTUDOS

26º. Encontro Técnico AESABESP ESTUDO DE METAIS PESADOS EM ESGOTO DOMÉSTICO TRATADO POR WETLAND

ISOLAMENTO DE TELHADOS COM ESPUMA DE POLIURETANO

PROVA ESPECIALMENTE ADEQUADA DESTINADA A AVALIAR A CAPACIDADE PARA A FREQUÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR DOS MAIORES DE 23 ANOS

Análise: Uma análise é um processo que fornece informações químicas ou físicas sobre os constituintes de uma amostra ou sobre a própria amostra.

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO NORTE IFRN CAMPUS MOSSORÓ PROFESSOR: ALBINO DISCIPLINA: QUÍMICA II

QUI346 ESPECTROMETRIA ATÔMICA

Instruções para a redução, o tratamento e a separação de resíduos de materiais resultantes de convenções e exposições

2005 by Pearson Education. Capítulo 01

Agrupamento pode ser aplicado para recipientes com diferentes tamanhos ou mesmo recipiente, mas com enchimento diferente.

EleELETROQUÍMICA (Parte I)

AULA DE RECUPERAÇÃO PROF. NEIF NAGIB

Letras em Negrito representam vetores e as letras i, j, k são vetores unitários.

REATIVIDADE DE METAIS

ESTRUTURA DOS SÓLIDOS CRISTALINOS. Mestranda: Marindia Decol

Os orbitais 2p (3 orb p = px + py + pz ) estão na segunda camada energética, portanto mais afastados que o orbital esférico 2s, logo mais energético.

Capacitores e Indutores (Aula 7) Prof. Daniel Dotta

FENÔMENOS DE TRANSPORTE: Diâmetro Econômico. Prof. Felipe Corrêa maio/2016

ESCALAS TERMOMÉTRICAS E DILATAÇÃO

Escola Básica do 2.º e 3.ºciclos Álvaro Velho. Planeamento Curricular de Físico-Química 7.º ano ANO LETIVO 2015/2016

Projeto Robusto: Experimentos para Melhores Produtos

muda de marrom para azula (medida pela absorvância da luz em um comprimento de onda de 595 nm) é proporcional à concentração de proteína presente.

Volume de um sólido de Revolução

Sumário. 1 Introdução: matéria e medidas 1. 2 Átomos, moléculas e íons Estequiometria: cálculos com fórmulas e equações químicas 67

Aula 5: Propriedades e Ligação Química

Introdução. Apresentação. Características da hidráulica. Evolução dos sistemas hidráulicos. Sistema hidráulico. Circuito hidráulico básico

TRATAMENTO DE EMULSÃO ÁGUA/ÓLEO POR ELETROFLOTAÇÃO UTILIZANDO ELETRODOS INERTES DE GRAFITE E ADSORÇÃO COM CARBONO ATIVADO

DATA: Nº de ordem GRAU: PROVA: TURMA MATRÍCULA: Estudo Independente

Preparação de Amostras para MET em Ciência dos Materiais

Resposta: D Resolução comentada: Ci x Vi = Cf x Vf Ci = 0,5 mol/l Cf = 0,15 mol/l Vf = 250 ml Vi = 0,5 x Vi = 0,15 x 250 Vi = 75 ml.

TP064 - CIÊNCIA DOS MATERIAIS PARA EP. FABIANO OSCAR DROZDA

Tratamento Térmico de Resíduos. Uma Opção para a Destinação do Resíduo: Tratamento Térmico

Robustez e agilidade de montagem comprovada por situações reais de emergência.

CURSO: FARMÁCIA INFORMAÇÕES BÁSICAS

Materiais / Materiais I

PROGRAMA DE DISCIPLINA

QUÍMICA ELETROANALÍTICA

FONTES DE ENERGIA FONTES DE ENERGIA

Análise de Sistema de Medição 3D segundo guia MSA

U N I V E R S I D A D E D E S Ã O P A U L O

ASPECTOS TÉCNICOS PARA TROCA DE FILTROS DE AR EM SISTEMAS DE AR CONDICIONADO. Engº Alexandre Fornasaro

a. ( ) Zn sofre oxidação; portanto, é o agente oxidante.

Olimpíada Brasileira de Química Fase III (Etapa 1 nacional)

2. (Uerj 2014) Cientistas podem ter encontrado o bóson de Higgs, a partícula de Deus

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

1 Introdução Princípios Básicos da Corrosão Eletroquímica... 5

FÍSICA (ELETROMAGNETISMO) CORRENTE ELÉTRICA E RESISTÊNCIA

REMOÇÃO DE CHUMBO DE MONITORES DE TUBO DE RAIOS CATÓDICOS. Erich Lopes Braitback de Oliveira Agosto, 2014

LOGO. Classificação da matéria. Profa. Samara Garcia

CONCEITO DE LIGAÇÃO IÔNICA UNIÃO ENTRE ÁTOMOS METÁLICOS E AMETÁLICOS

Reacções de Oxidação-Redução

Grandezas, Unidades de. Alex Oliveira. Medida e Escala

LOGO. Tabela Periódica. Profa. Samara Garcia

INPI 18/07/12 INPI. Consulta à Base de Dados do INPI 1/1. [ Pesquisa Base Marcas Pesquisa Base Desenhos Ajuda? ]

E cel = E catodo - E anodo E cel = 0,337 ( 0,763) E cel = 1,100 V. ZnSO 4(aq) 1,0 mol L -1 CuSO 4(aq) 1,0 mol L -1

T v. T f. Temperatura. Figura Variação da viscosidade com a temperatura para materiais vítreos e cristalinos (CARAM, 2000).

LABORATÓRIO DE HIDRÁULICA. Aula Prática Curvas Características e Associação de Bombas Centrífugas

1ª QUESTÃO Valor 1,0 = 1. Dados: índice de refração do ar: n 2. massa específica da cortiça: 200 kg/m 3. 1 of :36

Mestrado e Doutorado em Física

Transcrição:

RECUPERAÇÃO DE CHUMBO, COBRE E NÍQUEL DE EFLUENTES INDUSTRIAIS UTILIZANDO REATOR DE LEITO PARTICULADO D. R. Schultz, M. J. J. S. Ponte, H. A. Ponte Universidade Federal do Paraná, Departamento de Engenharia Química - Laboratório de Tecnologia Ambiental - LTA, Centro Politécnico, C.P. 19011, Curitiba/PR/BR, CEP 81531-990, mponte@demec.ufpr.br RESUMO: O uso de tecnologias limpas na resolução de problemas de poluição e, mais especificamente, na remoção de metais pesados de efluentes de processos metalúrgicos, leva pesquisadores a analisarem a utilização de reatores de leito particulado, pois é uma tecnologia que não gera resíduos. O objetivo do atual trabalho é avaliar, aplicando a metodologia de Taguchi, o desempenho do sistema utilizando partículas metálicas na deposição em separado dos íons chumbo, cobre e níquel de soluções diluídas, alterando parâmetros do processo como: concentração do íon metálico, densidade de corrente e expansão do leito, com o intuito de estudar o funcionamento do reator, com relação à eficiência do sistema e ao seu consumo energético. As máximas eficiências de corrente obtidas foram de 75,8%, 89,9% e 30,3% para os íons chumbo, cobre e níquel, respectivamente. PALAVRAS-CHAVE: Reator eletroquímico; Eletrodos particulados; Tratamento de efluentes, Metais pesados. 1. INTRODUÇÃO As principais fontes de metais pesados são os dejetos industriais de processos como: galvanoplastia, fotografia, baterias, produção e recuperação de catalisadores, tintas, indústria automotiva e outros procedimentos de extração, produção, tratamento, limpeza ou acabamento de metais. Os efeitos dos metais e seus compostos no ser humano, animais e plantas são muito variados. As principais fontes de exposição do homem aos metais tóxicos são através dos alimentos, água, pele e respiração. Nos dias de hoje, é de fundamental importância o tratamento e/ou recuperação dos metais pesados provenientes dos despejos industrias para minimizar o seu impacto no meio ambiente e, conseqüentemente, à saúde humana, além de questões econômicas. Mesmo efluentes com baixas concentrações de metal formam efluentes tóxicos. Os métodos mais comumente usados para a remoção de íons metálicos incluem: precipitação com hidróxidos, sulfitos ou oxalatos; troca iônica por via química ou eletroquímica; osmose reversa; adsorsão química ou física; estabilização ou solidificação; redução química; remediação bioquímica e mais recentemente, deposição eletroquímica Os métodos clássicos estão se tornando cada vez mais inviáveis devido à grande quantidade de subprodutos a serem recuperados, por apresentarem um alto custo para as indústrias pelo uso de muitos reagentes químicos e a necessidade de estocagem da grande quantidade de lama (passivos ambientais) formada. Portanto, uma opção que vem se tornando cada vez mais viável é o método de recuperação de metais de soluções diluídas utilizando o tratamento eletroquímico, o qual possui as seguintes vantagens: a) obtenção de um produto na sua forma metálica, o qual pode ser reutilizado ou reciclado; b) não é necessária a adição de reagentes extras e a água ou solução tratada pode freqüentemente ser reciclada; c) produção de resíduos sólidos (lama) é minimizada; d) deposição seletiva de um metal em uma mistura pode ser alcançada, em alguns casos, com um controle cuidadoso das condições de deposição ou através da utilização de reatores eletroquímicos em série, cada um adaptado para remover um tipo de íon metálico; e) proporciona deposição de ligas metálicas; f) custos operacionais competitivos; g) uso simples e compacto. [1] Especificamente, os eletrodos de leito particulados ou tridimensionais têm sido considerados promissores devido à sua grande área superficial específica e à alta taxa de transferência de massa obtida, o que torna o sistema atrativo para diversos processos eletroquímicos. [2,3] Entretanto, o processo eletroquímico esbarra em vários desafios tecnológicos incluindo: a) A diminuição da concentração em função do tempo que leva o sistema a apresentar baixa eficiência de corrente; b) A necessidade de um eletrólito suporte que deve ser adicionado quando a concentração do íon é muito baixa; c) A interferência da reação de evolução de hidrogênio e/ou oxigênio tem que ser prevenida ou minimizada; d) A necessidade de

altas vazões que favorecem o aumento da corrente limite, mas também reduzem o tempo de residência, proporcionando pequenas taxas de remoção. [1,4] Existem duas configurações básicas para a operação dos eletrodos tridimensionais. Os fluxos do eletrólito e da corrente podem ser paralelos (flow-through) ou perpendiculares (flow-by), conforme apresentado na Figura 1. Figura 1 - Diferentes configurações entre fluxos de corrente e eletrólito: a) eletrodo de fluxos paralelos; b) eletrodo de fluxos perpendiculares. [5] Em um reator eletroquímico é muito importante estudar o seu desempenho em relação à eficiência de corrente a ao consumo energético, para tanto, foram alterados alguns parâmetros do processo como: concentração do íon metálico, densidade de corrente e expansão do leito. 1.1 Eficiência de Corrente e Consumo Energético A eficiência de corrente de uma reação eletroquímica é definida pela razão entre massa depositada real e massa que seria depositada se toda a corrente aplicada ao sistema fosse utilizada nessa reação, dada pela Lei de Faraday. De acordo com essa definição, se obtêm a Equação 1 [4]. EC = Fzi m 100 M I t i (1) Onde EC é eficiência de corrente (%); z i é o número de elétrons envolvidos na reação eletroquímica; F é a constante de Faraday (96487 A.s.mol -1 ); m é a massa depositada no intervalo de tempo t(g); I é corrente aplicada ao sistema (A); Mi é o peso molecular da espécie i (207,2g.mol -1, 63,54 g.mol -1 e 58,7 g.mol -1 para os íons chumbo, cobre e níquel, respectivamente) e t é o intervalo de tempo em que a corrente foi aplicada ao sistema (s). O consumo energético é dado pela quantidade de energia consumida para depositar uma unidade de massa do metal [6], conforme mostra a Equação 2, onde CE é o consumo energético (kwh.kg -1 ) e V é o potencial na célula (V). 4 2,778.10 VI t CE = (2) m 2. MATERIAIS E MÉTODO 2.1 Material Para o estudo da recuperação dos íons chumbo, cobre e níquel foi projetado uma unidade experimental constituída pelos seguintes itens: escoamento do fluido, fornecimento de energia elétrica e reator eletroquímico, conforme está representado esquematicamente na Figura 2. Para melhor visualização durante os experimentos o reator foi construído em acrílico transparente, com geometria cilíndrica de diâmetro interno de 4,44 cm e altura de 12,5 cm. A configuração utilizada no reator foi a de fluxos de corrente e eletrólito paralelos, conforme mostrado na Figura 1a. A altura do leito particulado fixo é de 2,0 cm. O contato elétrico era obtido por uma chapa de aço, normalmente chamado de

placa alimentadora de corrente, localizado na parte inferior do leito. Para recuperação dos íons chumbo foram utilizadas partículas esféricas de aço carbono com diâmetro médio de 1 mm. Para a recuperação dos íons cobre e níquel foram utilizadas partículas de cobre no formato de cilindros eqüiláteros com as dimensões diâmetro e altura medindo 1 mm. As partículas atuavam como um leito eletronicamente condutor estando em contato direto com o catodo. É na superfície destas partículas que ocorrem as reações eletroquímicas de redução do íon metálico presente na solução, através da diferença de potencial aplicada na célula. Localizado a 2,0 cm do topo das partículas, encontrava-se o outro elemento que fechava o contato elétrico na célula, o anodo, que era uma chapa (cilíndrica) perfurada de aço inoxidável 316 L para o caso da recuperação de chumbo e para a recuperação de cobre e níquel o anodo era uma espiral de chumbo, com dimensões 13,5 x 2,0 cm. Para garantir uma distribuição uniforme do eletrólito no interior do reator, ele passava por uma região de leito empacotado com esferas de vidro (d=1 mm) e altura de 15 mm. Figura 2 - Esquema da unidade experimental utilizada: (1) bomba centrífuga; (2) reservatório plástico; (3) válvula; (4) reator eletroquímico; (5) manômetro em U ; (6) fonte estabilizada; As soluções eletrolíticas utilizadas nos experimentos estão especificadas na Tabela 1. O procedimento experimental utilizado consiste na seguinte seqüência de operações: preparação e armazenamento do eletrólito; preenchimento do leito com as partículas até uma altura de leito prédeterminada; ajuste da fonte de corrente elétrica de modo que a corrente determinada fosse conhecida (valores especificados na Tabela 3); admissão do eletrólito no reator com uma vazão pré-estabelecida; ajuste da fonte de corrente elétrica; acoplamento dos contatos elétricos. Foram realizadas amostragens da solução a cada 20 minutos durante um período de 3 horas. As concentrações das mesmas foram determinadas através de espectrofotometria de absorção atômica. Em todos os experimentos, a vazão foi mantida constante de modo a se obter a expansão do leito pretendida e a temperatura mantida em torno de 25 C. TABELA 1 COMPOSIÇÃO DAS SOLUÇÕES DE TRABALHO SOLUÇÃO CONCENTRAÇÃO INICIAL CONCENTRAÇÃO DOS ÍONS METÁLICOS DE H 3 BO 3 CONCENTRAÇÃO DE NaNO 3 CONCENTRAÇÃO DE H 2 SO 4 1 500 ppm de Pb (II) 0,5 M 0,044 M - 2 750 ppm de Pb (II) 0,5 M 0,040 M - 3 500 ppm de Cu (II) - - 0,4 M 4 750 ppm de Cu (II) - - 0,4 M 5 500 ppm de Ni (II) - - 0,02 M 6 750 ppm de Ni (II) - - 0,02 M 2.2 Metodologia de Taguchi O planejamento experimental utilizado foi a metodologia de Taguchi que usa os modelos fatoriais fracionados e arranjos ortogonais, os quais permitem a redução de observação do experimento obtendo informações relevantes e confiáveis. A metodologia de Taguchi tem como objetivo determinar o quanto significativa é a influência de cada fator sobre o resultado e predizer qual seria a combinação ótima de fatores. Existem duas maneiras de analisar os resultados. A primeira é usar os próprios valores coletados

nos experimentos. Outro, mais usado e introduzido por Taguchi, faz com que os resultado sejam transformados em outra unidade, chamada de razão sinal/ruído. Portanto, o objetivo da análise de Taguchi é determinar os fatores que influenciam significativamente e colocá-los nos níveis que maximizam a razão sinal-ruído (S/N). A fórmula da razão sinal-ruído quanto menor melhor (small the best - STB) está descrita na Equação 3 e a da razão sinal-ruído quanto maior melhor (large the best LTB) está descrita na Equação 4. n 1 2 S / N STB = 10log y i (3) n i= 1 n 1 1 S / N LTB = 10log (4) 2 n i= 1 yi No processo de recuperação dos íons metálicos deste trabalho, tem-se três fatores a serem estudados, então, selecionou-se um arranjo ortogonal padrão L 4 (2 3 ), que permite a realização de 4 experimentos com dois níveis em cada um dos três fatores. A distribuição padrão dos níveis em cada um dos fatores é mostrada na Tabela 2. TABELA 2 ARRANJO ORTOGONAL L 4 (2 3 ) PADRÃO TAGUCHI [7] EXPERIMENTO FATOR A FATOR B FATOR C 1 1 1 1 2 1 2 2 3 2 1 2 4 2 2 1 Os valores selecionados para os níveis 1 e 2 de cada fator estão descritos na Tabela 3. TABELA 3 FATORES E NÍVEIS ESCOLHIDOS ÍON METÁLICO FATORES NÍVEL 1 NÍVEL 2 A- Concentração inicial do íon 500 ppm 750 ppm Chumbo B- Densidade de corrente 0,04 A/cm 2 0,06 A/cm 2 C- Expansão do leito Fixo 10% fluidizado A- Concentração inicial do íon 500 ppm 750 ppm Cobre e Níquel B- Densidade de corrente 0,09 A/cm 2 0,14 A/cm 2 C- Expansão do leito Fixo 10% fluidizado 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Para cada experimento realizado foram calculados eficiência de corrente, através da Equação 1 e consumo energético, através da Equação 2, cujos resultados estão apresentados na Tabela 4. TABELA 4 RESULTADOS OBTIDOS PARA EFICIÊNCIA DE CORRENTE E CONSUMO ENERGÉTICO ÍON METÁLICO EXPERIMENTOS EFICIÊNCIA DE CORRENTE (%) CONSUMO ENERGÉTICO (kwh/kg) 1 27,1 7,26 CHUMBO 2 50,4 5,37 3 75,8 2,23 4 49,1 5,24 1 75,3 1,16 COBRE 2 65,5 1,62 3 89,9 0,96 4 73,9 1,38 1 12,1 62,91 NÍQUEL 2 8,1 147,60 3 30,3 20,93 4 12,1 78,32

Aplicando a metodologia de Taguchi da razão sinal-ruído, obtém-se graficamente a influência de cada fator e a combinação ótima de níveis e fatores (máxima razão sinal/ruído) para a eficiência de corrente (EC) e consumo energético (CE) dos íons chumbo, cobre e níquel. Estes resultados estão apresentados nas Figuras 3 à 8 e resumidos na Tabela 5. 36,0-10,0 35,5-10,5 (eficiência de corrente) 35,0 34,5 34,0 33,5 33,0 32,5 32,0 31,5 (consumo energético) -11,0-11,5-12,0-12,5-13,0-13,5-14,0-14,5-15,0-15,5 31,0-16,0 30,5-16,5 concentração de Pb densidade de corrente expansão do leito concentração de Pb densidade de corrente expansão do leito 38,8 0,0 38,6 38,4-0,5 38,2-1,0 (eficiência de corrente) 38,0 37,8 37,6 37,4 37,2 (consumo energético) -1,5-2,0-2,5-3,0 37,0 36,8-3,5 36,6-4,0 concentração de Cu densidade de corrente expansão do leito concentração de Cu densidade de corrente expansão do leito Figura 3 para EC do íon Pb Figura 5 para EC do íon Cu Figura 4 para CE do íon Pb Figura 6 para CE do íon Cu 25,5-31 25,0-32 (eficiência de corrente) 24,5 24,0 23,5 23,0 22,5 22,0 21,5 21,0 20,5 20,0 (consumo energético) -33-34 -35-36 -37-38 -39-40 19,5-41 19,0 concentração de Ni densidade de corrente expansão do leito -42 concentração de Ni densidade de corrente expansão do leito Figura 7 para EC do íon Ni Figura 8 para CE do íon Ni

TABELA 5 NÍVEIS DOS FATORES QUE MAXIMIZAM A EFICIÊNCIA DE CORRENTE E MINIMIZAM O CONSUMO ENERGÉTICO PARA CADA ÍON RESPOSTAS FATORES NÍVEL (íon Pb) NÍVEL (íon Cu) NÍVEL (íon Ni) A - Concentração do íon 2 2 2 EFICIÊNCIA DE CORRENTE B - Densidade de corrente 2 1 1 C - Expansão do leito 2 2 2 A - Concentração do íon 2 2 2 CONSUMO ENERGÉTICO B - Densidade de corrente 1 1 1 C - Expansão do leito 2 2 2 4. CONCLUSÃO Portanto, o experimento ótimo para se obter a máxima eficiência de correntes e, conseqüentemente, o menor consumo energético para o reator estudado é utilizando o nível 2 para o fator concentração inicial do íon, isto é, 750 ppm, nível 1 para o fator densidade de corrente, cujos valores são de 0,04 A/cm2 para o íon chumbo e 0,09 A/cm 2 para os íons cobre e níquel, e nível 2 para o fator expansão do leito, o qual representa 10% de fluidização no leito. Cabe ressaltar que, conforme mostra a Tabela 5, o nível 2 para o fator densidade de corrente produz a maior eficiência de corrente no processo de recuperação do chumbo. Porém, nas condições estudadas, a densidade de corrente exerce menor influência, uma vez que ocorre uma pequena variação na eficiência de corrente quando da mudança de nível para este fator, conforme visto na Figura 3. Apesar do nível 2 ser o mais indicado para o fator densidade de corrente, o nível 1 também pode ser escolhido, uma vez que este fator não exerce muita influência sobre a eficiência de corrente e além disso, escolhendo o nível 1, que é um nível inferior e portanto de menor densidade de corrente, o consumo energético diminui. 5. REFERÊNCIAS 1. K, Rajeshwar,. J. G. Ibañez. Environmental electrochemistry. Acad. Press, Londres, 1997. 2. J. A. E. Wilkinson. Eletrolytic recovery of metals values using the fluidized electrodes. Trans. Inst. Metal Finishing 49 (1971) 16. 3. F. Sarfarazi, J. Ghoroghchian. Electrochemical copper removal fram dilute solutions by packed bed electrodes, Microchemical Journal 50 (1994) 33-43. 4. M. J. J. S. Ponte. Estudo da remoção do íon cobre de solução aquosa diluída em eletrodos de leito particulado. São Carlos, 1998. 216 f. Tese. Universidade Federal de São Carlos. 5. D. Pletcher, F. C. Walsh. Industrial electrochemistry. 2ª ed. Chapman & Hall, Londres, 1990. 6. A. P. Silva. Eletrodeposição de cobre em eletrodo de leito fluidizado. São Carlos, 1996. 114f. Dissertação. Universidade Federal de São Carlos. 7. M. S. Phadke. Quality engineering using robust design. Prentice hall, New Jersey, 1989.