ENTOMOFAUNA ASSOCIADA Á SOJA RESISTENTE AO HERBICIDA GLIFOSATO (RR ) EM CONVIVÊNCIA COM PLANTAS DANINHAS NO PERIODO REPRODUTIVO DA CULTURA 1



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Luidi Eric Guimarães Antunes 1, Paulo André da Rocha Petry 2, Paulo Ricardo de Jesus Rizzotto Junior 2, Roberto Gottardi 2, Rafael Gomes Dionello 2

Transcrição:

ENTOMOFAUNA ASSOCIADA Á SOJA RESISTENTE AO HERBICIDA GLIFOSATO (RR ) EM CONVIVÊNCIA COM PLANTAS DANINHAS NO PERIODO REPRODUTIVO DA CULTURA 1 CECHIN, Joanei 2 ; PICCININI, Fernando 2, BABINOT, Andrisa 2, CASAGRANDE, Gustavo Spreckelsen 3, GUARESCHI, André 3 ; CORADINI, Cézar 3, MACHADO, Sérgio Luiz de Oliveira 4. 1 Pesquisa desenvolvimento pelo Grupo de Ecobiologia e Manejo de Plantas Daninhas da UFSM 2 Curso de Agronomia da Universidade Federal de Santa Maria(UFSM), Santa Maria, RS, Brasil 3 Curso de Pós Graduação em Agronomia da UFSM (PPGAGRO), Santa Maria, RS, Brasil 4 Professor do Departamento de Defesa Fitossanitária da UFSM, Santa Maria, RS, Brasil. E-mail: joaneicechin@yahoo.com.br ; piccininiroca@hotmail.com RESUMO A soja (Glycine max) é uma das culturas agrícolas mais importantes do Brasil. A ocorrência de plantas daninhas e insetos-pragas, nas áreas de cultivo, comprometem a produção de forma significativa. Muitos estudos quantificam os danos, porém, sem que eles estejam associados simultaneamente. O objetivo do trabalho foi quantificar e identificar os insetos pragas que ocorrem nas áreas de soja com a ocorrência diferenciada de plantas daninhas. O experimento foi conduzido na UFSM, na safra 2011/12 utilizando o delineamento experimental de blocos ao acaso constituindo 5 tratamentos e 4 repetições. Os resultados mostram que o manejo diferenciado da comunidade infestante afeta a densidade populacional e a composição da fauna, sendo mais abundante em áreas isentas de plantas daninhas. Nota-se ainda, que ocorrem grandes flutuações populacionais dos insetos durante os diferentes estágios fenológicos da cultura, em decorrência do meio em que estão submetidas e, que predominam a ocorrência de percevejos fitófagos. Palavras-chave: Plantas daninhas; Insetos; Inimigos naturais; Biodiversidade, Glycine max. 1. INTRODUÇÃO A soja (Glycine max (L.) Merrill) é a principal cultura agrícola do Brasil ocupando uma área de 25,018 milhões de hectares e uma produção total de 66,68 milhões de toneladas, o que torna o país num dos principais produtores mundiais, perdendo apenas para os Estados Unidos (CONAB, 2012). Entre os fatores que limitam o aumento da produtividade da soja encontram-se as pragas e as plantas daninhas, que podem reduzir consideravelmente a produção em função das condições do local. Lavouras infestadas por plantas daninhas apresentam perdas significativas, pois a cultura tem a sua produtividade reduzida (GAZZIERO et al., 2004) por 1

meio da interferência manifestada pela competição (LORENZI, 2000; ZANINE; SANTOS, 2004; LAMEGO et al., 2004), liberação de substâncias alelopáticas, interferência na colheita e por serem hospedeiras de pragas (SILVA et al., 2007). Além disso, o complexo de plantas daninhas presente nas áreas de produção de soja pode interferir na abundância de artrópodes, pragas ou inimigos naturais. Segundo Maruyama et al. (2002), as plantas daninhas podem ser competidoras ou hospedeiras de pragas podendo abrigar predadores e parasitóides de pragas agrícolas. Outros trabalhos mencionam que a incidência de artrópodes pragas é afetada pelo manejo diferencial das plantas daninhas (SHELTON; EDWARDS, 1983; BUNTIN et al., 1995; LAM; PEDIGO, 1998). Relatos mencionam o aumento ou decréscimo de populações de pragas e/ou inimigos naturais em diferentes sistemas de cultivo e o Sistema de Plantio Direto (SPD), segundo Risch et al. (1983), pode influenciar nas populações de pragas e inimigos naturais. Com a incorporação nos sistemas produtivos da soja resistente ao herbicida glifosato, o manejo das plantas daninhas foi modificado e vários relatos mencionam o surgimento de espécies de plantas resistentes ou tolerantes a este herbicida (VARGAS et al., 2005; CHRISTOFFOLETI et al., 2006; MONTEZUMA et al., 2006; MOREIRA et al., 2006; GAZZIERO et al., 2008. Em trabalho com cultivares de soja Roundup Ready, Buckelew et al. (2000) concluíram que o manejo das plantas daninhas pode afetar a população de insetos. Também Bitzer et al. (2002) observaram variações nas populações de pragas dependentes, entre outros fatores, da diversidade de plantas daninhas que ocorreram no local. Resultados semelhantes foram obtidos por Brondani et al. (2008) onde verificaram incidência diferenciada de percevejos, lagarta da soja, e lagarta falsa medideira em soja Roundup Ready, em função da composição botânica das plantas daninhas. Ainda, a diversidade das espécies de plantas daninhas que ocorrem nas áreas de produção, pode determinar o aumento e/ou diminuição de pragas e/ou inimigos naturais e mudanças no sistema de produção das culturas associadas às peculiaridades locais, modificando o status de determinadas pragas e até mesmo a incidência de pragas que tradicionalmente não atacam a cultura. O objetivo do trabalho foi caracterizar a entomofauna, durante o período reprodutivo da soja, associada à soja geneticamente modificada resistente ao glifosato livre e na presença das plantas daninhas, Amaranthus spp., Brachiaria plantaginea, Euphorbia heterophylla, Conyza spp., identificando e quantificando as espécies de insetos-praga e seus principais inimigos naturais no sistema de plantio direto. 2. MATERIAL E MÉTODOS 2

O experimento foi conduzido durante a safra 2011/2012 na área experimental do Departamento de Defesa Fitossanitária, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), município de Santa Maria, região da Depressão Central do RS (latitude: 29 0 44 58 S, longitude: 53 0 44 02 W e altitude: 90m) em Argissolo Vermelho Distrófico arênico (EMBRAPA, 2005), sob clima subtropical úmido, classe Cfa, sem estação seca definida e com verões quentes (MORENO, 1961). A semeadura foi realizada dia 20 de outubro de 2011, em uma área de 0,3 hectares utilizando-se a cultivar Fundacep 62 RR, grupo de maturação 5.6 (superprecoce - 123 dias) conduzida de acordo com as Indicações Técnicas para a cultura da soja no RS e SC (XXXVIII RPS-SUL, 2010) no sistema de plantio direto. O delineamento experimental utilizado foi de blocos ao acaso com cinco tratamentos e quatro repetições, sendo a unidade experimental constituída por 12 linhas de 12m de comprimento, espaçadas 40 cm entre si, totalizando 60m 2. Os tratamentos foram implantados por meio da utilização de herbicidas seletivos à soja nas doses recomendadas (REUNIÃO..., 2010), quando as plantas daninhas estavam no estádio de duas a seis folhas, e arranque das plantas remanescentes não desejadas nos tratamentos. Os herbicidas foram aplicados com pulverizador costal propelido a CO 2 e com vazão equivalente a 120L ha -1. Os tratamentos serão constituídos por: T1- soja RR na ausência de plantas daninhas utilizando controle químico; T2- soja RR convivendo com Amaranthus spp; T3- soja RR convivendo com Brachiaria. plantaginea; T4- soja RR convivendo com Euphorbia heterophylla; T5- soja RR convivendo com Conyza spp. As amostragens das pragas e inimigos naturais foram feitas semanalmente, durante o estágio reprodutivo até a colheita, em quatro pontos por parcela pela metodologia indicada por Corrêa-Ferreira (2005). O insetos foram identificados e quantificados, e os dados, médias das avaliações semanais, foram transformados pela x+0,5, submetidos à análise de variância e as médias foram comparadas pelo teste Tukey a 5 % de probabilidade. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES Os resultados da tabela 1 mostram que para o estágio reprodutivo (R 1 ) não ocorreu diferença significativa entre os tratamentos testados, independente da espécie encontrada nas avaliações. As maiores populações encontradas foram de P. guildinii nas parcelas livres de plantas daninhas. Já em relação ao Acrosternum spp. e A. gemmatalis foram encontradas populações mais abundantes em áreas de soja convivendo com leiteiro e com buva, respectivamente. Quanto à ocorrência de inimigos naturais podemos destacar a ocorrência de Geocoris spp em áreas de soja convivendo com leiteiro. Analisando o resultado podemos 3

concluir que esta presença deve-se a maior oferta alimentar, provavelmente oriunda de ovos e ninfas de percevejos, que se encontra em maior número neste tratamento. Tabela 1- Ocorrência de insetos pragas e inimigos naturais na cultura da soja resistente ao glifosato com manejo diferenciado de plantas daninhas, em estádio R 1 (Início da floração. Uma flor aberta em qualquer nó da haste principal), Santa Maria, RS. 2012. P. guildinii 1,25a 0,49a 1,08a 0,99a 0,91a 29,82 Acrosternum spp. 0,25a 0a 0a 0,91a 0a 29,78 A. gemmatalis 0,33a 0,5a 0,08a 0,08a 0,58a 19,67 Aranhas 0,25a 0,75a 0,58a 0,41a 0,41a 15,02 Geocoris spp. 0,08a 0,08a 0,41a 0,58a 0,08a 23,91 Na tabela 2, os resultados mostram que as espécies P. guildinii e de D. furcatus encontram-se em níveis populacionais baixos para o estágio da cultura. Tal fenômeno devese muito provavelmente pela baixa precipitação pluviométrica do período em estudo, ocasionada pelo fenômeno climático LA NIÑA, responsável pelas essas variações não só das chuvas, mas também pelas mudanças de temperatura do ar (DANKS, 2006). Tabela 2- Ocorrência de insetos pragas e inimigos naturais na cultura da soja resistente ao glifosato com manejo diferenciado de plantas daninhas, em estádio R 3 (Inicio da formação da vagem. Vagem com 5 mm de comprimento em um dos quatro últimos nós da haste principal), Santa Maria, RS. 2012. P. guildinii 0,62a 0,25a 0,37a 0,12a 0,5a 21,32 D. furcatus 0,56a 0,56a 0,75a 0,37a 0,81a 24,92 A. gemmatalis 0,31a 0,31a 0,12a 0,56a 0,48a 17,49 Aranhas 1,00a 0,87a 0,19a 0,25a 0,81a 19,58 Geocoris spp. 0,19a 0a 0,19a 0,31a 0,19a 15,66 Na tabela 3, se percebe que no estagio R 4, o tratamento com soja livre de plantas daninhas encontra-se populações maiores de P. guildinii e A. gemmatalis, com 1,00 e 0,62 indivíduos, respectivamente. Nota-se um maior número de aranhas associado a soja convivendo com Amaranthus spp. com 1,12 de indivíduos. Nos tratamentos em que a soja convive com Conyza spp. há uma preferência maior da espécie Dichelops furcatus. Neste estágio de desenvolvimento, percebe-se que não há diferenças significativas nos tratamentos testados, sendo semelhantes aos dados obtidos por Brondani et al. (2006) que não obteve diferenças da população de insetos na presença ou ausência de plantas invasoras. 4

Tabela 3- Ocorrência de insetos pragas e inimigos naturais na cultura da soja resistente ao glifosato com manejo diferenciado de plantas daninhas, em estádio R 4 (Vagem completamente desenvolvida, com 2 cm de comprimento em um dos quatro últimos nós ), Santa Maria, RS. 2012. P. guildinii 1,00a 0,75a 0,44a 0,44a 0,44a 20,14 D. furcatus 0,19a 0,12a 0,19a 0,12a 0,37a 16,45 N. viridula 0,12a 0,06a 0,12a 0,37a 0,75a 29,03 A. gemmatalis 0,62a 0,44a 0,5a 0,69a 0,25a 16,89 D. speciosa 0,06a 0,12a 0,12a 0,12a 0,06a 13,73 Aranhas 0,81a 1,12a 0,94a 1,06a 0,81a 22,88 Geocoris spp. 0,31a 0,44a 0,44a 0,81a 0,25a 18,06 Na tabela 4, os resultados mostram a presença do percevejo Nezara viridula em todos os tratamentos, não diferindo entre si estatisticamente, com presença maior nos tratamentos com presença de E. heterophylla e Conyza spp.. Observa-se que no tratamento de soja livre de invasoras uma maior densidade populacional de Geocoris spp. e aranhas, que pode estar relacionado com uma maior oferta de alimento, visto que são predadores. Tabela 4- Ocorrência de insetos pragas e inimigos naturais na cultura da soja resistente ao glifosato com manejo diferenciado de plantas daninhas, em estádio R 5 (enchimento dos grãos), Santa Maria, RS. 2012. P. guildinii 0,56a 0,37a 0,37a 0,81a 0,44a 16,62 D. furcatus 0,19a 0,37a 0,06a 0,25a 0,5a 17,55 N. viridula 0,12a 0,25a 0,25a 0,37a 0,37a 19,21 A. gemmatalis 1,00a 1,06a 1,25a 0,56a 0,56a 21,56 Aranhas 1,62a 1,06a 1,00a 1,44a 1,06a 11,37 Geocoris spp. 1,87a 1,06a 1,00a 0,94a 0,69a 33,78 Os resultados da tabela 5 mostram que o Geocoris spp. apresenta variações populacionais em decorrência do manejo diferenciado, predominando em áreas isentas de plantas daninhas. Chiaradia et al. (2011), estudando a ocorrência de inimigos naturais, diagnosticou uma elevada abundância do inseto no período reprodutivo. Comparando com os estágios anteriores, mostra a alta capacidade de exploração dos recursos de sobrevivência e desenvolvimento (MEDEIROS et al., 2009), podendo sofrer variações populacionais em estágios específicos da cultura (DIDONET, 2012). 5

Tabela 5- Ocorrência de insetos pragas e inimigos naturais na cultura da soja resistente ao glifosato com manejo diferenciado de plantas daninhas, em estádio R 6 (Vagens com granação de 100% - grão cheio ou completo), Santa Maria, RS. 2012. P. guildinii 0,33a 0,58a 0,41a 1,00a 0,83a 32,67 D. melacanthus 0,99a 1,00a 1,00a 1,83a 0,83a 25,79 A. gemmatalis 11,08a 10,86a 13a 10,58a 12,75a 15,74 Aranhas 1,91a 1,00a 1,66a 2,41a 1,41a 26,62 Geocoris spp. 3,16a 1,75b 2,83ab 2,25ab 2,08ab 16,05 As amostragens realizadas no final do ciclo da cultura, estágio R 7, conforme tabela 4, mostram a preferência da espécie P. guildinii quando há a presença da planta daninha Amaranthus spp. e do percevejo N. viridula na presença de Conyza spp., em níveis de causar dano econômico. Resultados semelhantes foram obtidos por Belarmino e Gati (1993) mostrando um aumento na população de pentatomídeos (percevejos) em lavoura de soja quando há presença de Amaranthus. Tabela 6- Ocorrência de insetos pragas e inimigos naturais na cultura da soja resistente ao glifosato com manejo diferenciado de plantas daninhas, em estádio R 7 (Início da maturação. Uma vagem na haste principal com coloração de madura), Santa Maria, RS. 2012. P. guildinii 2,33ab 3,33a 1,83ab 1,58ab 0,83b 20,76 N.viridula 0b 0,33ab 0,08b 0,16ab 0,98a 20,18 A. gemmatalis 7,16ab 7,58ab 8,16a 5,41ab 4,91b 16,96 Aranhas 1,16a 1,33a 0,81a 1,00a 1,41a 22,5 Geocoris spp. 4,74a 2,66b 4,16ab 3,33ab 4,41ab 16,96 Os resultados mostram-se bastante adversos em relação aos estágios fenológicos averiguados e em relação às plantas de preferência, demonstrando a capacidade de adaptação da espécie a vários hospedeiros (CHOCOROSQUI e PANIZZI, 2008). Em praticamente todos os estágios percebe-se baixa densidade populacional das espécies, influenciado pelas baixas temperaturas, baixa precipitação pluviométrica ocasionada pelo fenômeno climático LA NIÑA, durante o período de condução do trabalho, semelhante com os dados obtidos por Brondani (2006) sob condições ambientais similares. 4. CONCLUSÕES Em todos os estágios foram encontrados as espécies Piezodorus guildinii, Anticarsia gemmatalis, Geocoris spp. e aranhas, variando em relação as plantas hospedeiras e em relação aos estágios fenológicos em que houve os levantamentos. 6

A densidade populacional ficou comprometida pelas condições climáticas ocorridas durante o transcorrer do trabalho e, mostram que os insetos e inimigos naturais tendem a preferir áreas com a presença de plantas daninhas. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BITZER, R.J. et al. Effects of transgenic herbicide-resistant soybean varieties and systems on surfaceactive springtails (Entognatha: Collembola). Environmental Entomology, v.31, p.449-461, 2002. BRONDANI, D. et al. Ocorrência de insetos na parte aérea da soja Roundup Ready em função do manejo de plantas daninhas em cultivar convencional e geneticamente modificada resistente a glifosato. Ciência Rural, v.38, n.8, p.2132-2137, 2008. BUCKELEW, L. D. et al. Effects of weed management systems on canopy insects in herbicideresistant soybeans. Journal of Economic Entomology, v.93, n.5, p.1437-1443. 2000. BUNTIN, G.D. et al. Populations of foliage-inhabiting arthropods on soybean with reduced tillage and herbicide use. Agronomy Journal, v.87, p.789-794, 1995. CHOCOROSQUI, V., PANIZZI, A.R.. Nymph and adult biology of Dichelops melacanthus (Dallas) (Heteroptera:Pentatomidae) feedeing on cultivates and non-cultivated host plants. Neotropical Entomology, v. 37, n 4, p. 353-360, 2008. CHRISTOFFOLETI, P. J. et al. Herbicidas alternativos para o controle de biótipos de buva (C. bonariensis e C. canadensis) supostamente resistentes ao herbicida glifosato. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DAS PLANTAS DANINHAS, 25., 2006, Brasília. Resumos... Londrina: Sociedade Brasileira da Ciência das Plantas Daninhas, 2006. p.553. CONAB. COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. Acompanhamento da safra brasileira de grãos 2011/12 Décimo Primeiro Levantamento: Agosto/2012. Brasília, 2012. Acesso em 20 Agosto 2012. Disponível em: <htttp:// www.conab.gov.br CORRÊA-FERREIRA, B. S. Maior eficiência no monitoramento dos percevejos da soja. Londrina: Embrapa Soja, 2005. (Folder, 9) EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos (Rio de Janeiro, RJ). Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. Brasília: Embrapa-Solos, 2005. 376p. GAZZIERO, D.L.P. et al. Glifosate e a soja transgênica. Londrina: Embrapa-CNPSo, 2008. 4p. (Circular técnica, 60). GAZZIERO, L.P.D. et al. Manejo e controle de plantas daninhas em soja Roundup Ready. In: VARGAS, L.; ROMAN, E.S. Manual e controle de plantas daninhas. EMBRAPA, p.595-635, 2004. LAM, W.F.; PEDIGO, L.P. Response of soybeans insect communities to row width under crop-residue management systems. Environmental Entomology, v.27, p.1069-1079, 1998. 7

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