Miut Madeira Island Ultra Trail 2015 No passado dia 11 de abril partiram para esta aventura oito atletas do Clube Millennium bcp para a prova dos 115 Km, dois atletas na prova dos 85Km e dois atletas na prova dos 40 Km. Terminaram a prova dos 115K, Sandro Jordão, José Farinha, Fernando Vilela, Fernando Alcides e Vitor Gomes. Na prova dos 85K o Pedro Cordas e na prova dos 40K António e Artur Botão. Todos os atletas que partiram para este desafio estão de parabéns e só o facto de arriscar a estar tantas horas em corrida nos sinuosos percursos desta ilha é já por si um feito notável. Esta prova foi inserida pela primeira vez no future Ultra Trail World Tour e trazia uma responsabilidade acrescida para organização onde nada podia falhar sem por em causa os regulamentos exigentes do tour mundial das provas de trail. Além disso muitos atletas profissionais eram estrangeiros, alguns deles das melhores equipas do mundo e fizeram questão de estar presentes nesta edição (mais de 40% dos finishers eram estrangeiros o que mostra a forte visibilidade desta prova a nível mundial). Clube Millennium bcp e amigos Eu participei na distância dos 115 Km com o objetivo de atravessar a Ilha da Madeira. A prova foi concluída dentro do esperado apesar da falta de treino por questões de lesão. Acompanhado desde o início por um colega do clube (f. alcides) conseguimos manter um ritmo constante ao longo do percurso sem arriscar a correr demasiado depressa em alguns troços já que isto podia por em causa a conclusão de uma prova desta dimensão. O local de partida foi às 00H00 de Porto Moniz o que obrigou aos atletas a serem transportados por autocarros da organização desde Machico, uma viagem de 1H30. No autocarro era possível ver o semblante dos atletas, uns mais experientes que outros mas a verdade é que todos tinham a noção onde se iam meter e a concentração era total.
O meu parceiro de prova o Sr. Fernando Alcides Ainda nos últimos preparativos em Porto Moniz à espera das 00H00 A PROVA Eu estava especialmente preocupado com a falta de treino e do comportamento do meu joelho que desde Janeiro teimava em não estar em forma com dores permanentes. Mas a verdade é qualquer treino que eu fizesse não seria suficiente pois o que encontrámos não tinha explicação, apanhámos subidas que demorámos mais de 2 horas para as concluir, para não falar das respetivas descidas em que não sabíamos se havíamos de as fazer devagar, a travar com as pernas e as articulações a gritar ou se acelerávamos onde o mais certo era escorregar e cair. Começando às 00H00 de Porto Moniz temos uma pequena subida de 2Km com 400 D+, foram simpáticos porque era em alcatrão e servia apenas para o aquecimento. Deixámos Porto
Moniz para trás numa uma subida íngreme, aos zigue-zagues no meio de casas na encosta com as luzes dos frontais a dar vida à serra. Aqui ninguém corria e no final da subida entrámos finalmente no trilho, tínhamos uma descida excelente para correr e aqui perguntei ao Alcides estás com pressa? Ele estava entusiasmado e a descer bem, mas disse-lhe que tínhamos um plano para cumprir, por isso calma. No final da descida chegámos a Ribeira da Janela e aqui ainda tínhamos a população a apoiar todos os que lá passavam. De partida para o maior o empeno do Miut eram 1100 D+ em 11Km até chegar ao Fanal, o primeiro abastecimento. Comer tudo o que havia era essencial pois tínhamos agora uma descida com 886 D- e a subida até Estaquinhos com 1306 D+.
A subida para Estaquinhos era feita em parte pelos famosos degraus da Ilha. Depois deste empeno brutal dou por mim a chegar a Estaquinhos 15 minutos antes das 7H00, e aqui dá-se um momento que nunca tinha assistido. Entrámos no abastecimento, comemos, e quando estamos a retomar o trilho ouvimos aos microfones, 5 4 3 2 1 partida. Era os bravos que iam começar a prova de 80K, mesmo atrás de nós a correr que nem os desalmados. Estávamos numa guerra mas no lado errado? Será que iam passar por cima de nós? É que a sua frescura comparada com a nossa cara a tentar recuperar de 2900 D+ em 30 Km era um contraste. Mas lá continuamos com o nosso ritmo vagaroso até que ouço uma voz Farinha! Era o Pedro Cordas todo satisfeito que por coincidência nos encontrou logo no arranque da sua prova, e depois a Filipa. Acho este momento memorável e difícil de repetir. Mas lá continuamos agora com a companhia dos 80 e dos 115 tudo a descer uma encosta bem perigosa com pedras grandes e rebolar connosco, aqui muitos caíram, a seguir entramos para uma floresta tropical com o Sol a querer nascer.
Um dos percursos mais bonitos e corríveis da prova e numa fase ainda a digerir da primeira noite muito dura que não nos deu tréguas somos brindados com este cenário. Aqui já com luz natural começámos a impor um ritmo mais forte e a passar por alguns dos 80 que olhavam para o nosso dorsal com admiração. Mas foi importante retomar o ritmo e aproveitar a frescura do início da manhã. Depois de uma descida de 1000 D- chegámos a Rosário um abastecimento num Hotel, ui que luxo depois de abastecimentos improvisados em tendas militares um Hotel com cadeiras e mesas o que é isto, SOPA! O Alcides estava doído parecia que tínhamos visto ouro. É estranho parecia que tínhamos estado dias sem comer.
Bem eu comi uma sopa e pão, mas devia ter comida duas ou três, o que nos esperava??? Adivinhem! o CURRAL DAS FREIRAS! Alguém sabe o que isto? É um empeno do além. Andámos a seguir este rochedo durante horas. Deixámos para trás o Hotel que ficou pequenino. Entrámos num trilho para fazer a subida tortuosa do pipeline.
Depois de conquistar o pipeline, já vemos o rochedo mais pequeno. Será que o Curral das Freiras nunca mais chega?
Paisagens deslumbrantes! O Curral das Freiras começa a ser avistado Curral conquistado toca a parar e descansar temos 30 minutos para abastecer e trocar de roupa r Começamos a subir em direção ao 1º grande pico..o Pico Ruivo e começamos a ter um cenário de filme com nevoeiro à mistura Pessoal dos postos de controlo era uma constante, excelente.
Bolas quando chega o Pico? Eh chegámos ao Pico Ruivo, estamos com quase 6.000 de D+ e isto deixa marcas, alguns ficam por aqui. Vamos embora fazer os dois Picos, isto é fantástico, em caminhada habitualmente faz-se em3 horas nós fizemos em
1H35, infelizmente tínhamos que acelerar, havia um plano a cumprir. E quase a chegar ao Pico do Areeiro temos este cenário incrível
O Pico do Areeiro era nosso! Parecia tínhamos chegado à meta.. bolas estávamos com 17H25 de prova. Vou adiantar o assunto, dizem que depois deste Pico que a prova faz-se bem, mas a verdade é que tínhamos de entrar pela 2ª segunda noite dentro. Eu só tive uma experiência de duas noites com a Utax de 2014 mas isto era outra conversa, a exigência aqui era superior neste ponto já íamos com perto de 6.500 D+ e ainda faltavam 40 Km. Ainda tive que passar por uma bolonhesa com arroz que não me fez bem e comecei a ter uma ligeira quebra com enjoos e arrepios de frio, mas felizmente consegui controlar e no abastecimento do Poiso (88 Km) forcei a alimentação, não me apetecia mas tive que comer, sopa e mais pão, que tortura, e mais cola, enfim lá voltamos ao trilho. Num ritmo mais lento até porque tínhamos tempo, e estávamos a cumprir o plano, fomos descendo até à Portela e aos poucos já me sentia rejuvenescido, estranho não é? Como é que o corpo consegue em tão pouco tempo recuperar? Não sei. Chegámos à Portela um abastecimento importante com muita gente a ficar pelo caminho, o Alcides já só pensa em sopa e faz muito bem, estava frio, estávamos de rastos e precisávamos de sais minerais. Encontramos um amigo de treinos, o Nevile. Falo com ele e diz-me está muito mal dos tornozelos por causa dos troncos nos milhares de escadas que já fizemos. Eu compreendi muito bem o que ele queria dizer, foi uma tortura, mas de resto ele estava bem. Lá continuamos para o próximo abastecimento, Fonduras e o Alcides volta a pedir sopa muito quente, e lá estavam os simpáticos voluntários da organização com canja a escaldar, calhou mesmo bem, estava cada vez mais frio e continuávamos com o corpo em défice, mas a verdade é que já cheirava a meta e continuávamos
dentro do plano. Aqui já estamos acompanhados do Vilela da secção Norte do Clube Millennium bcp que optou por fazer a prova até ao fim connosco, assim é mais seguro para todos e menos aborrecido, sempre temos mais alguém para conversar. Estávamos dentro plano até que encontrámos já a chegar a Ribeira Seca uma descida muito técnica com terra solta que obrigou a reduzir o ritmo que até aquele ponto estava bom. Com esta é que eu não contava depois de tudo o que passámos voltámos à dureza? Mas quando é que isto acaba? Enfim temos que ter paciência, eu sabia que tinha a minha mulher à espera que já me tinha ligado várias vezes e não percebia porquê tanto tempo para fazer 4 Km, nem eu percebia. Mas lá saímos da zona técnica e fomos para as levadas com as luzes de Machico à noite, que fantástica imagem, até que finalmente avista-se a zona de meta e sou surpreendido pela minha filha que fez questão de sprintar até à meta connosco isto às 04H24 e ela só tem 4 anos!, Foi terminar em beleza, com a minha família para nos receber e o fantástico grupo do Clube Millennium bcp que termina uma aventura destas em conjunto. Não posso pedir mais.
Prémio de chegada com a tónica Coral para rejuvenescer, depois de mais de 28H sem dormir e a dar no duro. Parabéns aos Madeirenses e à organização que esteve à altura do desafio, espero que em 2016 se concretize o sonho de entrar definitivamente na Ultra Trail World Tour. Um agradecimento especial à minha família, ao meu parceiro de prova que me aturou desde o 1º Km e a todos o que nos apoiaram durante a prova e que não paravam de nos enviar mensagens e ao Edu que não dormiu enquanto nós não passámos a meta.
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