III-334 - PERFIL DE CATADORES E CATADORAS DE MATERIAIS RECICLÁVEIS QUE ATUAM EM CAMPINA GRANDE-PB



Documentos relacionados
UENF Universidade Estadual Do Norte Fluminense. Autora: Aline Viana de Souza

PALAVRAS CHAVE: Feira livre, conscientização, meio ambiente, melhores condições.

Ideal Qualificação Profissional

PALAVRAS-CHAVE: Saneamento Básico, Diagnóstico Ambiental, Infraestrutura.

A PRÁTICA DE ENSINO EM QUÍMICA: EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE COMO TEMA TRANSVERSAL

TRAÇOS DO PERFIL DOS CATADORES DEMATERIAIS RECICLÁVEIS DO MUNICÍPIO DE CRUZ ALTA/RS 1

PROGRAMA DE REESTRUTURAÇÃO E CAPACITAÇÃO DA COOMSERC COOPERATIVA MISTA DE SERVIÇOS DO CABO DE SANTO AGOSTINHO

I DIAGNÓSTICO DE GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DE SERVIÇO DE SAÚDE EM UM HOSPITAL PÚBLICO EM BELÉM/PA

08 a 13 de Julho de 2012 UEFS Feira de Santana - BA

Caracterização do território

Caracterização do território

EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS: UMA EXPERIÊNCIA COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO ENTORNO DO LIXÃO DE CAMPO GRANDE - MATO GROSSO DO SUL.

Eixo Temático ET Gestão Ambiental em Saneamento PROPOSTA DE SANEAMENTO BÁSICO NO MUNICÍPIO DE POMBAL-PB: EM BUSCA DE UMA SAÚDE EQUILIBRADA

Trabalho apresentado no III Congresso Ibero-americano de Psicogerontologia, sendo de total responsabilidade de seu(s) autor(es).

O Programa de Educação em Saúde e Mobilização Social em Guarulhos-SP: desenvolvimento e contribuições

Pesquisa sobre o Perfil dos Empreendedores e das Empresas Sul Mineiras

ENSINO DE QUÍMICA: VIVÊNCIA DOCENTE E ESTUDO DA RECICLAGEM COMO TEMA TRANSVERSAL

CECAD Consulta Extração Seleção de Informações do CADÚNICO. Caio Nakashima Março 2012

A IMPORTÂNCIA DAS DISCIPLINAS DE MATEMÁTICA E FÍSICA NO ENEM: PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DO CURSO PRÉ- UNIVERSITÁRIO DA UFPB LITORAL NORTE

Escola de Ensino Fundamental João Paulo II Serra, ES Diretora : Ana Maria Quinelato Professora responsável: Luciane Rosário Sampaio Frizzera

VIII JORNADA DE ESTÁGIO DE SERVIÇO SOCIAL

CAPTAÇÃO DA ÁGUA DE CHUVA INTEGRADA AO TRABALHO DA PASTORAL DA CRIANÇA

Projeto Barro Preto em Ação

Caracterização do território

Caracterização do território

Caracterização do território

Palavras-chaves: perfil sócio-econômico, resíduos sólidos, catadores, reciclagem.

Caracterização do território

DESIGUALDADE AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE SALINAS MG

Caracterização do território

EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIAS DE COLETA E TRANSPORTE PARA CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS, CAMPINA GRANDE-PB

TERCEIRA IDADE - CONSTRUINDO SABERES SOBRE SEUS DIREITOS PARA UM ENVELHECIMENTO SAUDÁVEL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

DIMENSÕES DO TRABAHO INFANTIL NO MUNICÍPIO DE PRESIDENTE PRUDENTE: O ENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÕES DE TRABALHO PRECOCE

PROGRAMA DE SUSTENTABILIDADE NAS UNIDADES DE SAÚDE

MEU NEGÓCIO É RECICLAR A EXPERIÊNCIA DO MUNICÍPIO DE ALAGOINHAS - BAHIA NO APOIO AO MOVIMENTO DE CATADORES DE RUA

EDUCAÇÃO E CIDADANIA: OFICINAS DE DIREITOS HUMANOS COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA ESCOLA

OTRABALHO NOTURNO E A SAÚDE DO TRABALHADOR: ESTUDO EXPLORATÓRIO EM TAUBATÉ E SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

OS IMPACTOS POSITIVOS ADVINDOS COM A IMPLANTAÇÃO DA COLETA SELETIVA NO BAIRRO DE SANTA ROSA, CAMPINA GRANDE-PB

O EMPREGO DOMÉSTICO. Boletim especial sobre o mercado de trabalho feminino na Região Metropolitana de São Paulo. Abril 2007

OLIMPÍADA BRASILEIRA DE MATEMÁTICA DAS ESCOLAS PÚBLICAS (OBMEP): EXPERIÊNCIAS VIVENCIADAS A PARTIR DO PIBID UEPB MONTEIRO

IDENTIFICAÇÃO DE PERCEPÇÃO E DOS ASPECTOS ESTRUTURAIS QUANTO AOS RESIDUOS SÓLIDOS NO BAIRRO ANGARI, JUAZEIRO-BA.

Shopping Iguatemi Campinas Reciclagem

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS EM UM AMBIENTE UNIVERSITÁRIO: ESTUDO DE CASO DO CESUMAR, MARINGÁ - PR

Pesquisa Mensal de Emprego PME. Algumas das principais características dos Trabalhadores Domésticos vis a vis a População Ocupada

TÍTULO: PROJETO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA FACULDADE ANHANGUERA DE ANÁPOLIS

Viva Rio lança trabalho socioambiental que contempla Nova Friburgo

EVOLUÇÃO DAS MICROEMPRESAS NOS SETORES DE COMÉRCIO, INDÚSTRIA E SERVIÇOS NA CONURBAÇÃO CRAJUBAR NO PERÍODO DE 1995 A 2005

ESTRATÉGIAS E DESAFIOS PARA A IMPLANTAÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

PROBLEMÁTICA DO LIXO: PEQUENAS ATITUDES, UM BOM COMEÇO

IMPLANTAÇÃO DA COLETA SELETIVA EM ESCOLA PÚBLICA NO MUNICÍPIO DE BAURU - SP

O DESAFIO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM PATOS, PARAÍBA: A PROFICIÊNCIA DOS ALUNOS DE ESCOLAS PÚBLICAS DE PATOS

Eixo 1 - Autonomia econômica e igualdade no mundo do trabalho, com inclusão social.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: CONHECENDO A COLETA SELETIVA. Categoria do projeto: II Projetos em implantação (projetos que estão em fase inicial)

SUSTENTABILIDADE? COMO ASSIM?

OS NEGROS NO MERCADO DE TRABALHO. Em alusão ao Dia da Consciência Negra

Eixo Inclusão social. Eixo estratégico

Faculdade de Ciências Humanas Programa de Pós-Graduação em Educação RESUMO EXPANDIDO DO PROJETO DE PESQUISA

20o. Prêmio Expressão de Ecologia

SITUAÇÃO DO SANEAMENTO BÁSICO DO BAIRRO KIDÉ, JUAZEIRO/BA: UM ESTUDO DE CASO NO ÂMBITO DO PET CONEXÕES DE SABERES SANEAMENTO AMBIENTAL

Reciclagem e Valorização de Resíduos Sólidos - Meio Ambiente e Sustentabilidade

ALVES 1,1, Paulo Roberto Rodrigues BATISTA 1,2, Jacinto de Luna SOUZA 1,3, Mileny dos Santos

Pesquisa. Há 40 anos atrás nos encontrávamos discutindo mecanismos e. A mulher no setor privado de ensino em Caxias do Sul.

ESTUDO DE CUSTOS E FORMAÇÃO DE PREÇO PARA EMPREENDIMENTOS DA ECONOMIA SOLIDÁRIA. Palavras-Chave: Custos, Formação de Preço, Economia Solidária

O PROGRAMA CASA FÁCIL-UNIFIL: EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E INSERÇÃO SOCIAL Gilson Jacob Bergoc 1, Ivan Prado Jr 2 e Ivanóe De Cunto 3

III-006 PROPOSTA DE GESTÃO INTEGRADA E COMPARTILHADA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS, PARA DOIS MUNICÍPIOS DE SERGIPE

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DA APROPRIAÇÃO DE PROBLEMAS AMBIENTAIS LOCAIS COM ALUNOS DO ENSINO MÉDIO EM CAMPINA GRANDE-PB.

03 eixos de atuação: ENSINO PESQUISA - EXTENSÃO

OS CUIDADOS COM A ÁGUA NA ESCOLA FUNDAMENTAL PROFESSOR ADAILTON COELHO COSTA

---- ibeu ---- ÍNDICE DE BEM-ESTAR URBANO

PROJETO DE REDUÇÃO DOS RESÍDUOS INFECTANTES NAS UTI S DO HOSPITAL ESTADUAL DE DIADEMA

"PANORAMA DA COLETA SELETIVA DE LIXO NO BRASIL"

Participação social é método de governar. Secretaria-Geral da Presidência da República

MONITORAMENTO DO PROGRAMA DE COLETA SELETIVA SOLIDÁRIA NA UFPB

OS NEGROS NO MERCADO DE TRABALHO

Você sabia. As garrafas de PET são 100% recicláveis. Associação Brasileira da Indústria do PET

Efeitos das ações educativas do Curso de Qualificação Profissional Formação de Jardineiros na vida dos participantes.

MULHER NO MERCADO DE TRABALHO

Recomendada. A coleção apresenta eficiência e adequação. Ciências adequados a cada faixa etária, além de

Desigualdades em saúde - Mortalidade infantil. Palavras-chave: mortalidade infantil; qualidade de vida; desigualdade.

ORIENTAÇÃO E IMPLANTAÇÃO DE TECNOLOGIAS PARA A INCLUSÃO SOCIAL

PAPEL: AS PRÁTICAS DE RECICLAGEM E REUTILIZAÇÃO E OS PROCESSOS ENVOLVIDOS RESUMO

difusão de idéias AS ESCOLAS TÉCNICAS SE SALVARAM

ASSOCIAÇÃO DE RECICLAGEM AMIGAS SOLIDÁRIAS COOARLAS COOPERATIVA DE TRABALHO AMIGAS E AMIGOS SOLIDÁRIOS

DETERMINANTES DE PERMANÊNCIA DE CATADORES EM ASSOCIAÇÃO DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS

Perfil das mulheres brasileiras em idade fértil e seu acesso à serviços de saúde Dados da PNDS 2006

A INSERÇÃO DOS NEGROS NOS MERCADOS DE TRABALHO METROPOLITANOS

APRESENTAÇÃO. O presente manual tem por finalidade principal orientar técnicos sociais dos

VESTIBULAR: Uma escolha profissional que interliga a família e a escola

PNAD - Segurança Alimentar Insegurança alimentar diminui, mas ainda atinge 30,2% dos domicílios brasileiros

MAPEAMENTO DA ROTA DE COLETA SELETIVA DAS COOPERATIVAS DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS DO NATAL/RN

PRODUTOS RECICLADOS COMO FONTE DE GERAÇÃO DE RENDA E INCLUSÃO SOCIAL RECICLA CONQUISTA

Curso sobre a Gestão de resíduos sólidos urbanos

Programa Consumo Responsável. Julho 2015

11. CRONOGRAMA DE ATIVIDADES

Movimentos sociais - tentando uma definição

I Congresso Baiano de Engenharia Sanitária e Ambiental I COBESA

PERFIL DOS DOCENTES DE PÓS-GRADUAÇÕES COM ENFOQUES EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA

GUIA PRÁTICO APOIOS SOCIAIS FAMÍLIA E COMUNIDADE EM GERAL

Transcrição:

III-334 - PERFIL DE CATADORES E CATADORAS DE MATERIAIS RECICLÁVEIS QUE ATUAM EM CAMPINA GRANDE-PB Alinne Gurjão de Oliveira (1) Bióloga pela Universidade Estadual da Paraíba. Mestranda em Ciência e Tecnologia na Universidade Estadual da Paraíba. Monica Maria Pereira da Silva Bióloga pela Universidade Estadual da Paraíba. Especialista em Educação Ambiental/UEPB. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pelo PRODEMA/UFPB/UFCG. Doutora em Recursos Naturais/ UFCG. Professora da UEPB/CCBS/DFB-NEEA. Lilian de Arruda Ribeiro Bióloga pela Universidade Estadual da Paraíba. Professora da rede particular de ensino. Lívia Poliana Santana Cavalcante Graduanda em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual da Paraíba. Valderi Duarte Leite Engenheiro Químico pela Universidade Federal da Paraíba. Mestre em Engenharia Civil pela UFPB. Doutor em Engenharia Civil pela USP. Professor da UEPB/CCT. Endereço (1) : Rua Maria Gomes de Souza, 142 Santa Rosa Campina Grande PB CEP 58.432-448 Brasil Tel: (83) 8851-4263 - e-mail: linnegdo@hotmail.com RESUMO Os catadores e catadoras de materiais recicláveis desenvolvem atividade de fundamental importância ao meio ambiente, à economia e à sociedade, em grande parte, sob precárias condições de trabalho e vida. O trabalho teve por objetivo analisar as características e as condições socioambientais de catadores e catadoras de materiais recicláveis que atuam na cidade de Campina Grande PB. A pesquisa, exploratória e descritiva, foi realizada de fevereiro a setembro de 2010 com três grupos de catadores e catadoras de materiais recicláveis que atuam na cidade de Campina Grande PB (informais, associados e cooperados). Através de entrevistas semiestruturadas e observação direta, constatou-se que as condições socioambientais nas quais estão submetidos os catadores e catadoras de materiais recicláveis são precárias, no que diz respeito à infraestrutura de moradia, escolaridade e desenvolvimento do trabalho, prevalecendo condições mais complexas entre os catadores e catadoras informais. Observou-se, entretanto que, a organização dos catadores e catadoras de materiais recicláveis em associação e cooperativa favoreceu, em relação aos informais, a melhoria das condições de trabalho, da autoestima, a construção de conhecimentos relacionados à execução do trabalho de catação, o reconhecimento da importância da profissão exercida, e da sua atuação para o meio ambiente, características não observadas entre os catadores e catadoras informais. PALAVRAS-CHAVE: Catadores e catadoras, Materiais recicláveis, Meio ambiente, Educação Ambiental. INTRODUÇÃO Nas últimas décadas, em Campina Grande-PB, a catação de resíduos sólidos de porta em porta tem aumentado. Ser catador ou catadora de materiais recicláveis é uma chance de trabalho e sobrevivência, principalmente para pessoas que são excluídas pela sociedade (SILVA; LIMA, 2007). Os catadores e as catadoras à medida que estão buscando seu sustento e ao mesmo tempo lutando contra a exclusão social, exercem uma atividade de grande relevância ao meio ambiente e consequentemente, à sociedade (CAVALCANTI NETO et al., 2007), reintroduzindo os recursos naturais no processo produtivo, possibilitando assim, a reciclagem da matéria e o uso eficiente da energia. O fruto do seu trabalho, de acordo com Medeiros e Macedo (2006) é o ponto de partida para o abastecimento, com matérias-primas, das indústrias de reciclagem. Segundo Silva e Lima (2007) as pessoas que trabalham com materiais recicláveis, comumente são marginalizadas e possuem um estilo de vida insalubre, devido ao contato com vários tipos de resíduos. Ainda conforme os autores, a discriminação é uma das grandes dificuldades que o catador e catadora de materiais ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1

recicláveis encontram no exercício de sua profissão. Culminando com a desvalorização da profissão, embora a profissionalização tenha sido uma conquista recente (BRASIL, 2002). Afeta também a autoestima desses profissionais. O não conhecimento do significado do seu próprio trabalho, bem como o não reconhecimento da importância do mesmo pela sociedade, produz a visão de um trabalho desinteressante, atrelado a uma baixa autoestima (FOSSÁ; SAAD, 2006). A observação dessa realidade na cidade de Campina Grande PB motivou a realização desse trabalho, que teve como principal objetivo analisar as características e as condições socioambientais de catadores e catadoras de materiais recicláveis que atuam na cidade de Campina Grande PB. MATERIAIS E MÉTODOS O trabalho tratou-se de uma pesquisa exploratória e descritiva (GIL, 2002), realizada de fevereiro a setembro de 2010 com três grupos de catadores e catadoras de materiais recicláveis, informais, associados à ARENSA (Associação de Catadores de Materiais Recicláveis da Comunidade Nossa Senhora Aparecida) e cooperados à CATAMAIS (Cooperativa de Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis da Cidade de Campina Grande Ltda.), que atuam na cidade de Campina Grande PB. Os dados foram coletados através de visitas aos grupos, observação direta, e entrevistas semi-estruturadas aplicadas aos catadores e catadoras de materiais recicláveis (Tabela 1). Tabela 1: Amostra investigada de catadores e catadoras de materiais recicláveis informais, associados e cooperados da cidade de Grupo Número de catadores e catadoras de materiais recicláveis Amostra (%) Total Entrevistado (a) Informais 1 07 05 71,5 Cooperados 2 08 06 75,0 Associados 3 12 09 75,0 Total 27 20 74,1 1 Atuam em Santa Rosa; 2 CATAMAIS: Cooperativa de Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis de Campina Grande Ltda.; 3 ARENSA: Associação de Catadores de Materiais Recicláveis da Comunidade Nossa Senhora Aparecida. Para realização do diagnóstico socioambiental foram aplicados os seguintes procedimentos: 1) visitas às residências dos catadores e das catadoras; 2) observação direta e participante; 3) entrevistas semi-estruturadas; 4) registro fotográfico. Para o diagnóstico foram abordadas as seguintes variáveis: escolaridade, renda, condições de moradia, forma de acondicionamento de resíduos, condições de coleta de resíduos no bairro em que residem os catadores de materiais recicláveis; condições de coleta, armazenamento e venda dos materiais recicláveis, e a percepção em relação à profissão, aos resíduos sólidos e ao meio ambiente. RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir da metodologia aplicada pode-se realizar o perfil dos catadores e catadoras de materiais recicláveis da cidade de Campina Grande PB. A maior parte dos catadores e catadoras de materiais recicláveis da cidade de Campina Grande PB é do sexo masculino (58%), e apresenta faixa etária predominante entre 21 e 40 anos (65%) (Figura 1). O nível de escolaridade predominante é de ensino fundamental incompleto (79%) (Figura 2). 2 ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental

14% 4% 38% 14% 2 11-20 anos 21-30 anos 31-40 anos 41-50 anos 51-60 anos 61-70 anos 79% Analfabeto Fundamental Incompleto Médio Completo Figura 1: Faixa etária de catadores e catadoras de materiais recicláveis de Campina Grande PB. Fevereiro a setembro de Figura 2: Nível de escolaridade prevalente entre os catadores e catadoras de materiais recicláveis de O exercício profissional dos catadores e catadoras de materiais recicláveis requer esforço físico intenso. A posição característica para a catação é desconfortável, e eles percorrem quilômetros puxando o carrinho pesado em ambientes de relevo irregular. A realização do trabalho é difícil, até mesmo para as pessoas mais jovens, em geral, em melhores condições físicas e de saúde do que os mais velhos. Em virtude das dificuldades e das condições físicas mais vulneráveis, os idosos em geral, coletam um volume menor de materiais recicláveis do que os catadores e catadoras mais jovens. Kirchner, Saidelles, Stumm (2009) observam que a idade é uma dos fatores que afetam a forma de participação no mercado de trabalho formal, mas não afeta diretamente a atividade de catação, pois não existem critérios de seleção para realizar esta atividade. É evidente, entretanto, que a idade compreende um limite à eficiência na execução do trabalho por aqueles com idade avançada, predominando catadores e catadoras com idades até quarenta anos. A baixa escolaridade é característica marcante entre catadores e catadoras de outros estados do país conforme vários trabalhos publicados (ALEXANDRINO et. al, 2009; KIRCHNER, SAIDELLES; STUMM, 2009; ALBIZU, LIMA; PIASKOWI, 2008; FÉLIX, 2008; SILVA; LIMA, 2007). Este fato concorre para reduzir a possibilidade de reversão do cenário investigado: baixa renda, condições de extrema pobreza, falta de higiene, qualificação mínima para a atividade profissional, desconhecimento dos seus direitos, dificuldade de organização e mobilização, baixa autoestima dentre outros. Entre os grupos estudados, os catadores e catadoras organizados (associação e cooperativa) percebem a baixa escolaridade como limitante ao desenvolvimento do seu trabalho. Representou uma das dificuldades para a legalização da associação, uma vez que a maior escolaridade apresentada é de ensino fundamental incompleto, e a maioria dos associados apenas assina o seu nome. Atualmente, 75% dos catadores e catadoras associados e 38% dos cooperados, destinam parte do seu tempo aos estudos, tempo que era utilizado apenas para a catação de materiais recicláveis. Esse tempo só foi possível devido à organização. Os informais não demonstraram interesse em iniciar ou dar continuidade aos estudos, visando à melhoria das condições de trabalho e vida. Severo (2008) afirma que mesmo sendo uma característica comum deste segmento de trabalhadores, a baixa escolaridade ou qualificação profissional não deve ser considerada como o agente causador direto da realização da catação, sendo o atual sistema produtivo o responsável pelo desemprego. O principal motivo para a inserção desses profissionais na atividade de catação é a dificuldade de permanência no mercado formal de trabalho (75,6 %) (Tabela 2). Kirchner, Saidelles, Stumm (2009) apontam o desemprego, a idade, a condição social e a baixa escolaridade, como as razões da escolha da catação de materiais recicláveis como atividade profissional. ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3

Tabela 2: Causa da inserção na atividade de catação dos catadores e catadoras de materiais recicláveis de Campina Grande PB. Fevereiro a Setembro de Causa da inserção na atividade de catação % Desemprego 75,6 Afinidade 7,3 Doença 6,7 Ajudar familiar 3,7 Autonomia 6,7 O numero de pessoas por família pode variar entre uma e até mais de seis pessoas por domicilio, predominando duas pessoas por residência (23%) (Figura 3). A renda familiar mensal predominante (80%) não atinge um salário mínimo (Figura 4). Considerando o número de pessoas por família, verificou-se que o rendimento médio mensal não permite condições favoráveis à saúde, educação, lazer, dentre outros. Ainda que realizem uma jornada extensa de trabalho, as arrecadações mensais desses grupos não garantem qualidade alimentar, nem condições as condições de saúde requeridas para o bom desenvolvimento da atividade. A dificuldade de avançar nos estudos dificulta também a melhoria da qualidade de trabalho e vida, bem como a possibilidade de desenvolvimento de outras atividades, fazendo com que, filhos de catadores e catadores de materiais recicláveis, pela dificuldade em obter outras atividades profissionais em virtude da baixa escolaridade, iniciem na atividade de catação. Apesar da baixa renda apresentada, a maioria dos catadores e catadoras (66%) possui casa própria (Figura 5); com água encanada (100%); um banheiro (80%) (Figura 6), sem rede de coleta de esgoto (53%), e em grande parte, atendidos pela coleta regular de resíduos (6) (Figura 7). A maioria das residências dos catadores e catadoras de materiais recicláveis que possuem casa própria resulta de invasões desordenadas de terrenos, e apresenta, consequentemente, estrutura física deficiente. A partir de visitas realizadas às residências das famílias dos catadores e catadores de materiais recicláveis envolvidos nesse estudo, constatou-se que estas são pequenas, não ultrapassam a 50 m 2 e apresentam precárias condições de conservação e higiene. Em relação aos banheiros sanitários, verificou-se que esses representavam apenas uma parte isolada da residência, sendo utilizada apenas para o banho. Nesses casos, os dejetos são lançados em terrenos próximos à área da invasão, constituindo, importante fonte de contaminação da população local. Os materiais coletados pelos catadores e catadoras estudados são armazenados no quintal das residências (60%) e comercializados mensalmente (56%) (Figura 8 e 9). Dos três grupos estudados, apenas a cooperativa possui um local destinado à triagem e armazenamento (galpão) dos materiais recicláveis coletados, possibilitando-os armazenar um volume maior de materiais, garantindo melhores condições de venda. Os catadores e catadoras, informais e associados armazenam os materiais nos quintais de casa ou de familiar (100%), devido à indisponibilidade de outros locais. 1 23% 18% 18% Uma Duas Três Quatro Cinco Seis Mais de seis Figura 3: Número de pessoas por domicilio de catadores e catadoras de materiais recicláveis de 80% Menos de um salário mínimo Um salário mínimo Entre um e dois salários mínimos Figura 4: Renda mensal familiar dos Catadores e catadoras de materiais recicláveis da cidade de 4 ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental

20% 4 66% 53% Própria Alugada Cedida Barracos Possui Não possui Figura 5: Condição de moradia dos Catadores e catadoras de materiais recicláveis de Campina Grande PB. Fevereiro a setembro de Figura 6: Número de banheiros por residência dos Catadores e catadoras de materiais recicláveis de 33% 33% 6 60% Sim Não Quintal de casa Quintal da casa de familiar Galpão Figura 7: Percentual de residências dos Catadores e catadoras de materiais recicláveis de Campina Grande PB, beneficiados com a coleta regular de resíduos domiciliares. Fevereiro a setembro de Figura 8: Local de armazenamento dos materiais coletados pelos catadores e catadoras de materiais recicláveis de Campina Grande PB. Fevereiro a setembro de Apesar dos perigos, nos quais estão expostos durante o exercício da catação, 60% dos catadores e catadoras estudados não utilizam Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) (Figura 10); em consequência, a maioria já sofreu cortes e/ou perfurações. O uso de EPIs foi observado principalmente entre os grupos organizados, mas estes se limitam ao uso de chapéus e/ou botas. O não uso de equipamentos de proteção individual parece está relacionado à dificuldade de obtê-los, em virtude da renda apresentada pelos grupos. A separação dos materiais recicláveis nas residências e o uso de equipamentos de proteção individual pelos catadores e catadoras de materiais recicláveis evitariam grande parte dos acidentes de trabalho envolvendo esses profissionais. 57, dos catadores e catadoras entrevistados relataram que sofreram cortes ou perfurações durante a manipulação dos materiais Em relação aos problemas de saúde, 64% dos catadores e catadoras de materiais recicláveis falaram que eram saudáveis (Figura 11), mas foram observados problemas de saúde que podem estar relacionados ao esforço físico durante a jornada de trabalho, tais como: cansaço, pressão alta, problemas renais, hérnias e epilepsia. 20% 20% 4% 66% 13% 60% Dois ou três dias Semana Quinzena Mês Figura 9: Periodicidade da venda dos materiais coletados pelos catadores e catadoras de materiais recicláveis de Campina Grande PB. Fevereiro a setembro de Nenhuma Bota Chapéu Bota e Chapéu Figura 10: Equipamentos de proteção utilizados durante o trabalho pelos catadores e catadoras de materiais recicláveis de Campina Grande PB. Fevereiro a setembro de ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 5

4% 11% 64% Nenhum Cansaço Pressão alta Hérnia Rins Epilepsia Figura 11: Problemas de saúde relatados pelos catadores e catadoras de materiais recicláveis de Campina Grande PB. Fevereiro a setembro de Sobre a atividade realizada, 53% dos catadores e catadoras de materiais recicláveis (Figura 12) ponderam-na como importante para o meio ambiente. Esta percepção é predominante entre os grupos organizados (associação e cooperativa) e resulta dos processos de organização desses grupos. 4 53% Para o meio ambiente Geração de renda Figura 12: Importância do trabalho realizado pelos catadores e catadoras de materiais recicláveis de A percepção dos catadores e catadoras de materiais recicláveis em relação ao meio ambiente é bem heterogênea, predominando concepções associadas às ações de proteção ambiental (32%) (Tabela 3). O meio ambiente é percebido enquanto ações de proteção ao meio (32%) (Tabela 3), relacionadas principalmente à problemática dos resíduos sólidos urbanos, reflexo da realidade vivenciada pelos grupos e do reconhecimento das consequências da atividade desempenhada sobre o meio ambiente. Tabela 3: Percepção ambiental dos catadores e catadoras de materiais recicláveis informais, associados e cooperados da cidade de Meio Ambiente % Natureza 6,7 Meio em que vive 10,3 Trabalho realizado 10,3 Casa 6,7 Ação de proteção ambiental 32,0 Relação com outras pessoas 3,7 Não sabe 30,3 A maioria dos catadores e catadoras de materiais recicláveis de Campina Grande PB não conhece o termo resíduo sólido (Figura 13). A matéria orgânica e os materiais recicláveis foram citados pelos catadores e catadoras organizados (associação e cooperativa). A percepção sobre o que é lixo predominante (6) (Figura 14) corresponde aos materiais que são descartados e que não podem ser reutilizados. Quando questionados sobre o que era lixo, 100% dos catadores e catadoras informais consideraram como sendo os materiais por eles coletados. Todos os associados e cooperados (100%) consideram lixo aquilo que não serve mais, que deve 6 ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental

jogar fora, diferente dos materiais por eles coletados, ditos materiais recicláveis. Surge entre os grupos organizados a idéia de reutilização, transformação. Lixo é para estes, os materiais que não conseguem destinar produtivamente. 24% 33% 50% 19% 6 Materiais recicláveis Matéria orgânica Materiais não recicláveis Não sei materiais que coleta O que descarta Figura 13: Percepção de resíduos sólidos dos catadores e catadoras de materiais recicláveis de Figura 14: Percepção de lixo dos catadores e catadoras de materiais recicláveis de Campina Grande PB. Fevereiro a setembro de Constatou-se que mesmo que a baixa escolaridade seja uma característica marcante, os catadores e catadoras expressam uma compreensão de meio ambiente bastante complexa, refletindo as suas experiências individuais. Diferente do que foi observado em relação à sociedade contemporânea, os catadores e catadoras da cidade de Campina Grande PB consideram lixo apenas aqueles materiais que não podem ser reutilizados. Desempenham importante atividade para o meio ambiente, e alguns se percebem enquanto parte do meio ambiente, e agente transformador do mesmo. CONCLUSÕES Os catadores e catadoras de materiais recicláveis estudados apresentam características socioambientais comuns à parcela considerável da população pobre do Brasil, também no que diz respeito à baixa escolaridade, contribuindo para as precárias condições de vida apresentadas. A renda mensal obtida pelos três grupos de catadores e catadoras de materiais recicláveis é baixa, inferior a um salário mínimo. A cooperativa apresenta, entre os três grupos estudados, a predominância de melhores rendimentos com a comercialização dos materiais (40% recebem até R$ 300,00). As diferenças observadas entre a associação e a cooperativa relacionam-se ao tempo de organização das mesmas. Os catadores e catadoras de materiais recicláveis enfrentam problemas quanto ao transporte dos materiais e aos baixos valores obtidos com a comercialização dos mesmos. A falta de infraestrutura dos grupos organizados, principalmente da associação, em virtude da recente organização, compõe limitação à realização do trabalho, ainda que organizado. Entre os grupos organizados há o reconhecimento da importância da profissão de catador e catadora de materiais recicláveis (80%), não apenas para a geração de renda, mas para o meio ambiente. Os informais não se reconhecem enquanto catadores e catadoras de materiais recicláveis, tampouco a importância da profissão para o meio ambiente. Fato esse responsável pela baixa autoestima e dificuldade de organização do grupo. Ainda que a escolaridade apresentada seja predominantemente baixa, a maioria dos catadores e catadoras de materiais recicláveis estudada reconhece a importância ambiental do trabalho executado, e expressam a compreensão de meio ambiente complexa, refletindo as suas experiências individuais. A organização dos grupos em associação e cooperativa possibilitou a construção de conhecimentos sobre resíduos sólidos e a atividade de catação, bem como da estruturação das organizações. A organização do trabalho proporcionou a melhor relação com as famílias onde são coletados os materiais, incentivando a separação e destinação dos materiais para esses grupos. ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 7

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ALBIZU, E. J.; LIMA, C. A.; PIASKOWY, P. Segurança e saúde no trabalho de catador de material reciclável. In: XX Seminário Sul-Brasileiro da ANAMT, Curitiba PR, 2008. Anais. 26 a 29 de novembro de 2008. 2. ALEXANDRINO, D. F. L, FERREIRA, M. E. C., LIMA, C. L. e MAKKAI, L. F. C. Proposta de inclusão social e melhoria da qualidade de vida e saúde dos catadores e catadoras de materiais recicláveis de Viçosa - MG através da atividade física. Fit Perf J., v. 8, n. 2,p. 115-22, mar abr, 2009. 3. BRASIL. Classificação Brasileira de Ocupações. Brasília-DF: Ministério do Trabalho e Emprego, 2002. 4. CAVALCANTI NETO, A. L. G.; RÊGO, A. R. F.; LIRA, A.; ARCANJO; J. G.l; OLIVEIRA, M. M. Consciência Ambiental e os Catadores de Lixo do Lixão da Cidade do Carpina - PE. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental. v. 19, n. 1, p. 1517-1256, julho a dezembro, 2007. 5. FELIX, W. S. P. Diagnostico sócio-produtivo-econômico da comunidade de catadores de resíduos sólidos do município de Codó MA. 2008. 90f. Dissertação (Pós-graduação em Engenharia de Produção) Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal RN, 2008. 6. FOSSÁ, M. I. T.; SAAD, D. S. As representações sociais construídas pelos catadores de materiais recicláveis. In: Encontro Nacional de Engenharia de Produção, Fortaleza-CE, 2006. Anais. Fortaleza-CE: ABEPRO, 9 a 11 de Outubro de 2006. 7. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. 8. KIRCHNER, R. M.; SAIDELLES, A. P. F.; STUMM, E. M. F. Percepções e perfil dos catadores de materiais recicláveis de uma cidade do RS. G&DR, v. 5, n. 3, p. 221-232, Taubaté, SP, set-dez, 2009. 9. MEDEIROS, L. F. R.; MACÊDO, K. B. Catador de material reciclável: uma profissão para além da sobrevivência? Psicologia & Sociedade; v. 18, n. 2, p. 62-71, mai-ago, 2006. 10. SEVERO, R. G. Catadores de Materiais Recicláveis da Cidade de Pelotas: Situações de Trabalho. 2008. 127 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2008. 11. SILVA, D. B.; LIMA, S. C. Catadores de materiais recicláveis em Uberlândia - MG, Brasil: estudo e recenseamento. Caminhos de Geografia. v. 8, n. 21, p. 82-98, Jun, 2007. 8 ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental