AVALIAÇÃO COMPARATIVA ENTRE AS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS, ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS E BIOQUÍMICAS DE CÃES NATURALMENTE INFECTADOS COM Ehrlichia canis EM SÃO LUÍS, MA COMPARATIVE EVALUATION AMONG THE CLINICAL MANIFESTATIONS, HEMATOLOGICAL AND BIOCHEMICAL CHANGE OF NATURALLY INFECTED WITH Ehrlichia canis IN SÃO LUÍS, MA Lucélia Teixeira FRANÇA 1, Ana Beatriz Américo PEREIRA 1, Fernando Douglas Santos SILVA 2, Cristian Alex Aquino LIMA 1, Ana Karoline Sousa Mendes SIMAS 1, Carla Janaina Rebouças Marques do ROSÁRIO 3, Ferdinan Almeida MELO 4 ¹Mestrando (a) em Ciência Animal UEMA. E-mail: luceliateixeira_@hotmail.com 2 Médico Veterinário UEMA 3 Doutoranda em Biodiversidade e Biotecnologia BIONORTE/UFMA 4 Professor do Departamento de Patologia UEMA Resumo: A erliquiose canina é uma doença causada por uma bactéria intracelular obrigatória gram-negativa, pertencente ao gênero Ehrlichia, sua transmissão pode ocorrer através de um vetor, o carrapato Rhipicephalus sanguineus, ou através de transfusão sanguínea. O período de incubação da enfermidade pode durar de uma a três semanas, podendo levar o animal à fase aguda, fase subclínica ou/e fase crônica, podendo aparecer alterações hematológicas e bioquímicas em ambas. Neste trabalho foram analisados 21 animais, destes 7 não apresentavam sinais clínicos para erliquiose canina e 14 possuíam pelo menos dois sinais clínicos compatíveis com a doença. Foram observadas alterações hematológicas e bioquímicas em ambos os grupos: animais sintomáticos (92,9%) e assintomáticos (43%). Alterações bioquímicas foram observadas em menor proporção, em 57,2% dos animais com sinais clínicos e em 20,9% nos animais assintomáticos. Deixando claro que exames complementares auxiliam diretamente no diagnóstico presuntivo da erliquiose canina, bem como no prognóstico do cão. Palavras-chave: erliquiose canina, bioquímica, hematologia. Keywords: canine ehrlichiosis, biochemistry, hematology. Anais do 38º CBA, 2017 - p.0289
Introdução: A Erliquiose Monocítica Canina (EMC) é uma doença causada por hemoparasitas pertencente ao gênero Ehrlichia, família Rickttsiaceae. São bactérias gram-negativas, consideradas parasitas intracelulares obrigatórios de células hematopoiéticas maduras ou imaturas, em especial do sistema monocítico fagocitário, tais como monócitos e macrófagos, e para algumas espécies, neutrófilos e células endoteliais (DUMLER et al., 2001). A transmissão é feita por meio do carrapato Rhipicephalus sanguineus e o período de incubação pode durar de uma a três semanas, levando aos três estágios da doença: a fase aguda, subclínica e crônica. No Brasil, a E. canis é responsável pela EMC, doença considerada endêmica principalmente nas áreas urbanas, onde abundam populações do carrapato Rhipicephalus sanguineus (LABRUNA, 2001). Os sinais clínicos podem estar ausentes, porém alterações hematológicas similares ao da fase aguda podem ser observadas. Esta fase pode persistir durante 4 a 5 anos. Acredita-se que cães imunocompetentes são capazes de eliminar a infecção por E. canis e se recuperar. Caso isso não ocorra, a fase crônica é instalada (NEER & HARRUS, 2006). Os cães, de modo geral, apresentam diferentes respostas quando acometidos por erliquiose e isso se deve ao fato de que a resposta imunomediadas e mediada-celular são diferentes em cada animal e principalmente, entre raças caninas (ALMOSNY, 2002). O diagnóstico presuntivo é baseado nos sinais clínicos e achados laboratoriais (VARELA, 2011), e o definitivo pela visualização de mórulas em leucócitos no esfregaço sanguíneo, sorologia ou pela reação da polimerase em cadeia (PCR) (DAGONE & MORAES, et al. 2002). Considerando a alta casuística em alterações clínicas sugestivas e a facilidade de adaptação do vetor transmissor da erliquiose na nossa região, nosso estudo teve como objetivo comparar as principais alterações clínicas e laboratoriais observadas em cães com diferentes manifestações clínicas da erliquiose. Anais do 38º CBA, 2017 - p.0290
Metodologia: O presente trabalho foi baseado em um levantamento dos atendimentos realizados no Hospital Veterinário Francisco Edilberto Uchôa Lopes, no período de abril a junho de 2016. O hospital é localizado na Universidade Estadual do Maranhão, cidade de São Luís, estado do Maranhão, na região nordeste do Brasil. No estudo foram analisados 21 animais, provenientes dos atendimentos do Hospital Veterinário positivos para erliquiose no exame SNAP 4 DX. Todos os cães foram avaliados clinicamente e separados em grupos de acordo com a demonstração ou ausência de sinais clínicos característicos para a doença, tais como: anorexia, perda de peso, letargia, edema de membros, êmese, dispneia, mucosas pálidas, tendências hemorragias como petéquias, equimoses, epistaxe, entre outras. Destes, coletou-se, por meio da venopunção da veia jugular ou cefaleia, 2 amostras de sangue, uma com EDTA e outra sem, para realização dos testes hematológicos de bioquímicos. Os testes foram realizados no laboratório de Patologia Clínica da Universidade Estadual do Maranhão-UEMA. Resultados e Discussão: Dos 21 animais analisados, 7 (33,3%) não apresentavam sinais clínicos compatíveis com a doença, alguns apenas com o histórico de ectoparasitas (carrapato) e anorexia; e 14 (66,7%) dos animais apresentavam pelo menos dois sinais clínicos característicos para erliquiose. Na anamnese, os sinais clínicos mais encontrados foram mucosas hipocoradas (100%), com TPC acima de 3 segundos, que por se tratar de uma doença que pode levar a supressão da medula óssea e distúrbios hemorrágicos que ocorrem secundariamente à trombocitopenia, é um achado comum e que agrava o quadro da doença (BREITSCHERDT, 2004); falta de apetite (85,8%); temperatura acima de 39,6 C (78,9%), o que é característica de doença em fase aguda (VALERA, 2011); letargia; e um animal apresentou Anais do 38º CBA, 2017 - p.0291
petéquias na região periocular e abdominal, causadas por distúrbios hemorrágicos comuns na doença (BOUDREAUX et al., 2000). Entre os animais sintomáticos, 92,9% apresentaram alterações hematológicas como hematócritos <37,3% (100%), hemoglobina <13,1% (100%), VGM (Volume globular médio) baixo em 6 animais (46,2%), caracterizando uma anemia do tipo microcítica e trombocitopenia (77%), que em muitos trabalhos é citada como a principal alteração hematológica observada (MOREIRA et al., 2001; BORIN et al., 2009). Entre os animais assintomáticos, 3 (43%) apresentavam diminuição nos valores de hematócritos e hemoglobina, e 1 (14,3%) apresentou trombocitopenia, dado encontrado também em outros estudos, visto que alterações hematológicas similares ao da fase aguda podem ser observadas em animais sem sinais clínicos da doença (DAGNONE, 2009). Alterações bioquímicas foram observadas em 8 (57,2%) animais com sintomatologia para a doença. Destes, 6 (70,5%) apresentavam alterações em pelo menos uma das enzimas hepáticas avaliadas (ALT e AST), fato que pode decorrer do dano hepático ou do estresse sistêmico provocado por diversas doenças, inclusive a erliquiose (ALMOSNY, 1998); 3 (30,8%) apresentaram aumento nos níveis de ureia e 1 (10,3%) dos animais apresentou níveis elevados de creatinina, isso pode estar relacionado à azotemia pré-renal, principalmente nos animais com desidratação severa ou ainda a glomerulonefrite nos casos crônicos da doença (ALMOSNY, 1998). Dois (20,9%) dos animais assintomáticos apresentaram alteração em pelo menos uma das duas enzimas hepáticas avaliadas, ambos tinham acima de 9 anos de idade. Sousa et al. (2010) também encontraram em proporções similares, disfunções nas enzimas hepáticas e renais de animais com erliquiose. Conclusões: Concluímos que os sinais clínicos observados na erliquiose canina são bastante inespecíficos e que as alterações laboratoriais que existem nos animais acometidos aparecem independente de manifestação clínica aparente. Portanto, os exames laboratoriais de rotina se tornam um importante auxílio no diagnóstico e prognóstico da doença. Anais do 38º CBA, 2017 - p.0292
Referências: ALMOSNY, N. R. P. Ehrlichia canis (DONATIEN e LESTOQUARD, 1935): avaliação parasitológica, hematológica, bioquímica sérica da fase aguda de cães e gatos experimentalmente infectados. 1998. 115f. Tese (Doutorado em Medicina Veterinária Parasitologia Veterinária) Curso de Pós-graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, RJ. ALMOSNY, NADIA R.P, Hemoparasitoses em Pequenos Animais Domésticos e como Zoonoses. Rio de Janeiro L.F. Livros de Veterinárias Ltda, v. 1, p. 29, 2002. BORIN, S.; CRIVELENTIL, Z.; Ferreira, F. A. Aspectos epidemiológicos, clínicos e hematológicos de 251 cães portadores de mórula de Ehrlichia spp. naturalmente infectados. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia.v.61, n.3, p.566-571, 2009. BREITSCHWERDT, E.B. Riquetsioses. In: ETTINGER, S.J.; FELDMAN, E.C. Tratado de medicina interna veterinária. Doenças do cão e do gato. 5.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. p.422-429. DAGONE, A. S.; Morais, H. S. et al. Ehrlichiosis in anemic, thrombocytopenic, ortickinfested dogs from a Hospital population in South Brazil. Veterinary Parasitology 2002. v.117, p.285-290. DUMLER, J. S.; BARBET, A. F.; BEKKER, C. P. J.; DASCH, G. A.; PALMER, G. H.; RAY, S. C. et al. Reorganization of genera in the families Rickettsiaceae and Anaplasmataceae in the order Rickettsiales: unification of some species of Ehrlichia with Anaplasma, Cowdria with Ehrlichia and Ehrlichia with Neorickettsia, descriptions of six new species combinations and designation of Ehrlichia equi and HGE agent as subjective synonyms of Ehrlichia phagocytophila. International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology, v. 51: p. 2145-2165. 2001. LABRUNA, M. B.; PEREIRA, M. C. Carrapatos em cães no Brasil. Clínica Veterinária, v. 30, n. 1, p. 24-32, 2001. MOREIRA, S. M.; BASTOS, C. V.; ARAÚJO, R. B.; SANTOS, M.; PASSOS, L. M. Estudo retrospectivo (1998 a 2001) da erliquiose canina em Belo Horizonte, Brasil. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia. v.25, n.2, p.141-147, 2003. NEER, T. M.; HARRUS, S. Ehrlichiosis, Neorickettsiosis, Anaplasmosis, and Wolbachia Infection - Canine Monocytotropic Ehrlichiosis and Neorickettsiosis (E. canis, E. chaffeensis, E. ruminatium, N. sennetsu, and N. risticii Infections). In: Greene, C. E. Infectious Diseases in the dog and cat. St. Louis: W.B. Saunders Company, p. 203-216, 2006. VARELA, A. S. Tick-borne Ehrlichia and Rickettsiae of dogs. In: Bowman DD. Companion and exotic animal parasitology. 2003. Anais do 38º CBA, 2017 - p.0293