Educação Histórica e Cinema: Intersubjetividade e Verdade Histórica a partir do Uso de Filmes Históricos na Sala de Aula Introdução

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Transcrição:

Educação Histórica e Cinema: Intersubjetividade e Verdade Histórica a partir do Uso de Filmes Históricos na Sala de Aula Ronaldo Alves Ribeiro dos Santos* Flávio Vilas-Bôas Trovão** Marcelo Fronza*** Introdução A presente pesquisa 1 investiga a relação dinâmica entre saberes históricos escolares e saberes históricos construídos pelas obras cinematográficas por jovens do Ensino Médio a partir da perspectiva da Educação Histórica, que nesta pesquisa visa compreender como o uso de obras cinematográficas, principalmente os filmes históricos propiciam uma relação com o conhecimento histórico e a maneira pela qual os jovens estudantes de Ensino Médio de uma escola pública e outra particular veem a verdade histórica. Os jovens que são os sujeitos da pesquisa são estudantes do terceiro ano do Ensino Médio de uma escola pública e outra particular no município de Rondonópolis-MT. A escolha por uma unidade escolar pública e outra particular, justifica-se pela oportunidade de evidenciar formas específicas da aprendizagem histórica. Tenho como referência a cognição histórica situada, assim procuro entender como a ideia verdade histórica, produzida por jovens estudantes de Ensino Médio, mobilizam conceitos substantivos por esses sujeitos por meio dos filmes históricos utilizados pelos professores de História sobre a Ditadura-Civil-Militar. A investigação da verdade histórica é possível por meio das narrativas históricas escritas a partir do uso dos filmes históricos no ensino de História, uma vez que os jovens em processo de escolarização constroem uma relação com a representação trazida pelas narrativas acerca do passado. Apoio-me em Rüsen * Estudante graduando em Licenciatura Plena em História, na Universidade Federal de Mato Grosso, Campus Universitário de Rondonópolis. Com pesquisa no Programa Institucional Voluntário de Iniciação Científica, no qual investigo narrativas históricas de jovens estudantes do Ensino Médio de uma escola pública e outra particular construída a partir do uso de filmes históricos no ensino da História. Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência. ** Orientador da pesquisa. É Professor Adjunto da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) em Rondonópolis e autor de O Exército Inútil de Robert Altman: cinema e política; pela Editora Anadarco (São Paulo: 2012) e material didático pela Editora Positivo (Curitiba: 2007). ***Coorientador da pesquisa. É professor adjunto em Prática do Ensino de História do quadro permanente do Departamento de História da Universidade Federal do Mato Grosso, campus Cuiabá. É professor permanente do Programa de Pós-Graduação em História da mesma instituição na Linha de Pesquisa Ensino de História, Memória e Patrimônio. 1 Trata-se da pesquisa que realizo como voluntário de iniciação científica e que também é a pesquisa de monografia.

(2007) para compreensão da constituição da consciência histórica expressa pelas narrativas (históricas) de jovens estudantes em processo de escolarização e para compreender o que torna uma história verdadeira ao ser narrada. Teoria de Formação da Consciência História e Verdade Histórica em Jörn Rüsen Rüsen (2010: p. 86-93) examina os fundamentos existenciais da consciência histórica com o intuito de evidenciar se e como se enraíza neles o que se pensa, quando se diz que tal história é verdadeira e tal outra não. Assim, define que histórias são verdadeiras quando seus destinários acreditam nelas. Porém, o que oferece credibilidade às histórias? O historiador Jörn Rüsen (2010) ressalta que as histórias vêm sempre falar de sua própria verdade, quando levantadas dúvidas acerca da sua credibilidade. As histórias não são narradas sem mais e nem menos, têm de ser narradas de uma forma que possíveis dúvidas já venham previamente esclarecidas. Rüsen (2010: p.88-90) aponta que existem três momentos nos quais podem surgir dúvidas sobre a credibilidade da história narrada.nesse sentido, resumirei de forma breve e compreensível as três: I) a propósito de seu conteúdo experiencial; II) sobre sua significação; III) quanto ao seu sentido. A primeira trata-se de uma operação mental que está articulada com as experiências de tempo passado. Nesse caso, a credibilidade repousa sobre o conteúdo experiencial. A segunda trata-se não apenas das experiências do passado, ou seja, sobre seu conteúdo experiencial, mas contempla as experiências do passado e à intenção do tempo presente que se projeta no futuro. Assim, a história narrada passa a ter uma significação (ser significativa), porque relaciona as experiências de tempo passado com as intenções projetadas por seus destinatários. Trata-se sempre de normas e valores, quando se fala da verdade de uma história. (RÜSEN, 2010: p. 89). A terceira trata-se de um critério que descreve a função orientadora que se espera das histórias verazes, sendo ela a orientação histórica. Essa é responsável por permitir aos seus sujeitos que expressem o caráter de determinadora de sentido da vida prática atual. Assim, a história ingressa em um quadro de orientação da vida prática de seus destinatários. São essas pretensões de verdade das histórias apontadas por Rüsen e que norteiam essa pesquisa. Segundo Rüsen (2010: p. 90) a consciência histórica é construída quando temos presente à articulação das três temporalidades: passado, presente e futuro, ou ainda, experiências de tempo, interpretações de tempo e orientação da vida prática na estrutura do 2

tempo. A partir desse diálogo com a teoria da consciência histórica, o campo da Educação Histórica possui a perspectiva da cognição histórica situada, que é fundamentada na ciência da História. A Educação Histórica é uma forma de refletir como o conhecimento deve ser aprendido pelos jovens em processo de escolarização tendo como base os estudos referentes à própria racionalidade histórica, por isso como destaca Schmidt: Os processos cognitivos devem ser os mesmos da própria epistemologia da ciência da História (SCHMIDT, 2009: p. 03). A Pesquisa sobre Educação Histórica e Cinema No texto Cinema e Educação Histórica: Itinerários de pesquisa de Eder Cristiano de Souza há alguns apontamentos iniciais para os estudos da relação entre artefatos culturais (Cinema); cultura escolar (como os jovens alunos se relacionam com o conhecimento produzido por esses artefatos culturais); e cultura histórica (a relação dos artefatos culturais cinema- com a História). Souza (2011) começa ressaltando que os filmes históricos fazem parte do cotidiano de alunos e professores. Ao apontar o termo filmes históricos, chama a atenção para o fato de que são filmes voltados para comercialização, ou seja, não são produzidos especificamente para as relações de ensino e aprendizagem. É justamente nessa questão que reside a preocupação do autor devido ao fato do filme ajudar na manutenção do processo de formação das consciências históricas dos sujeitos que o assistem, uma vez que os mesmos constroem visões do tempo histórico. Outro fato importante ressaltado por Souza (2011) é que o foco dos trabalhos analisados por ele sobre a relação dos jovens com artefatos culturais reside na relação do conteúdo do filme e suas características enquanto documento histórico. Porém, não há contemplação das ideias históricas (referentes ao conteúdo conceitos substantivos) dos alunos com relação ao trabalho com documento histórico em sala de aula. Não há preocupação em compreender quais ideias serão mobilizadas na situação de aprendizagem, apenas é importante trabalhar as fontes históricas em geral enquanto documento. Nessa relação de aprofundamento que orientam o professor sobre o uso das diversas fontes históricas no ensino da História, deverá ser levada em consideração a forma como os alunos se relacionam com os saberes produzidos pelo seu uso. Assim, o aluno torna-se sujeito na relação de aprendizagem histórica; o trabalho do docente é voltado não somente para a sua 3

prática de ensino, mas também para compreensão da forma como os alunos se relacionam com os saberes que circulam em sala de aula. Assim, de acordo com Souza: Os filmes históricos tratam-se de artefatos culturais consumidos por grande número de pessoas. Entre essas, alunos e professores de História. Tais produções configuram formas de interpretar o passado e fazê-lo presente. (SOUZA, 2011: p. 02). Preocupo-me justamente com a forma como os jovens estudantes de Ensino Médio se relacionam com as experiências de passado discursadas nos filmes históricos. Acredito que mantém uma relação de intersubjetividade com essas experiências de passado podendo tomálas como verdade histórica. Em outro texto publicado por Éder Cristiano de Souza (2010), o autor apresenta um procedimento adotado na pesquisa e pontuado em sua publicação referente à aplicação de questionário como um estudo exploratório para compreender a relação dos jovens com o uso dos filmes históricos e como interpretam as relações entre presente e passado existentes no processo de produção das experiências fílmicas. Essa forma de sondagem adotada pelo autor pode constituir um procedimento para um estudo exploratório durante a pesquisa que faço. Souza ressalta que sua pesquisa encontra-se no campo da Educação Histórica, com foco nas formas de cognição histórica dos alunos e no seu relacionamento com artefatos culturais. As preocupações com o uso de filmes históricos na relação de ensino e aprendizagem buscando compreender a relação da produção de sentidos das obras e a forma como os jovens se relacionam estão situadas no campo da Didática da História. Essa questão diferencia-se dos estudos que buscam compreender essa relação se apoiando em teorias da Didática Geral, uma vez que os pressupostos que norteiam a Didática da História são fundados na própria epistemologia da história. Eder Souza chama a atenção também para a forma como se deve problematizar o filme na pesquisa (2010: p. 30): Problematizar a forma como que se trabalha com filmeshistóricos em sala de aula, enquanto produtores de sentidos sobre a história. Essa produção de sentido deve-se ao fato de que os filmes-históricos mobilizam experiências do passado e fazem suas interpretações dessa experiência de passado; interpretações essas que não possuem na maioria das vezes relações com a história descrita pela historiografia. Para compreender a relação ente aluno-filme-aprendizagem, ou ainda, como o trabalho com filme-histórico pode interferir na forma como os alunos aprendem história e 4

compreendem a relação entre passado (a representação construída pela experiência fílmica) e presente (interpretação da experiência fílmica sobre a experiência do passado) que se estabelece nestas produções, parte-se de alguns questionamentos que utilizarei para um estudo exploratório e, para além desse, utilizarei também uma parte do procedimento metodológico da tese de Éder Cristiano Souza, juntamente com algumas questões a partir da tese de Marcelo Fronza (2012). Que ideias os jovens alunos tem a respeito dos filmes-históricos? Como esses jovens se relacionam com o discurso histórico construído por essas obras cinematográficas? Será que percebem a relação entre o cinema e a indústria cultural? Como os jovens compreendem o que questionou Rosenstone (2010) ao falar que não é real o mundo evocado pelos filmes históricos, mas também não é real o mundo histórico evocado nos livros didáticos. Será que os jovens atribuem mais significado de verdade ao mundo evocado pelos filmes históricos ou pelo mundo evocado na fala do livro didático? E o evocado pelo discurso do professor? Os resultados revelam que os jovens alunos mantém uma relação com os filmeshistóricos nos quais eles reproduzem uma história real, de um acontecimento objetivo que pode ser recortado fielmente na tela. Assim, eles não o percebem como um produto cultural, ou seja, há carência de orientação nesse sentido. Com isso, o primeiro passo adotado na pesquisa seguirá um estudo exploratório para compreender como os jovens estudantes analisam e se relacionam com os filmes históricos enquanto produto da indústria cultural. Histórico? O Uso dos Filmes na Sala de Aula: Suporte Informativo ou Documento Para pensar o uso do Cinema no ensino de História utilizo o texto Sala de aula, sala de projeção: a relação Cinema e Ensino de História do professor Flávio Vilas-Bôas Trovão. Segundo Trovão (2013) o uso do cinema remonta uma tradição do início do século XX, no Brasil, mais propriamente referente aos anos do governo Vargas. Na pesquisa propomos a desenvolver a compreensão acerca das relações entre Cinema, História e ensino de História, como sugere Schmidt e Cainelli, na qual o cinema é fonte histórica a ser problematizada e explorada pelo historiador. Uma vez que os filmes históricos não possuem uma finalidade didática preestabelecida, por isso não se deve superar 5

seu uso apenas como suporte informativo. Nesse sentido, retomo as questões propostas por Trovão ao apontar duas abordagens acerca do uso dos filmes no ensino da História. De acordo com Trovão: A) as reflexões de pesquisadores do ensino da História sobre o cinema no campo didático e b) as reflexões de pesquisadores da relação entre cinema e História problematizando o uso didático do documento (TROVÃO, 2013: p. 01). Assim, a abordagem que norteia o meu olhar para as relações de ensino e aprendizagem com jovens do Ensino Médio problematiza o uso didático do documento. Por isso, concordo novamente com Flávio Trovão (2012: p. 01): Por vezes ao primeiro grupo os procedimentos didáticos metodológicos são a tônicas das reflexões enquanto para o segundo as questões da linguagem e representação são mais presentes. Nas diversas reflexões apresentadas por Trovão acerca do trabalho publicado por Abud pensando a importância de compreender a relação entre o ensino da História e Cinema a partir da problematização do uso didático do documento fílmico. Segundo Trovão (2013: p.05): Um filme não revela ou oculta uma determinada realidade histórica, mas sim, estabelece relações em um conjunto de signos que carrega em si múltiplos sentidos e, portanto, diversificadas possibilidades de leitura e interpretação. Nesse sentido, compreendo que o uso do cinema nas aulas de história não pode ser justificado pelo fato de que o filme ilustra, demonstra, apresenta uma determinada realidade histórica e que as possibilidades de interpretação da história construída pela película são múltiplas. No aspecto apontado por Trovão (2013) é que reside a maioria das aulas de História na qual o professor utiliza a fonte cinematográfica na sala de aula. Geralmente, o filme é utilizado como complementação dos conteúdos ministrados em sala de aula. Ao propor a aula com uso dos filmes históricos os alunos levam a pipoca e o que deveria ser uma aula na qual a obra cinematográfica seria utilizada como um documento para construção do saber histórico escolar não se processa. Porém, processa-se uma aula com a construção de um saber histórico escolar que é construído pelo discurso da obra cinematográfica. Nesse sentido, a aula foi uma ilustração dos acontecimentos históricos. É como se, no momento do acontecimento representado pelo filme, alguém tivesse filmado o fato tal qual aconteceu. Esse aspecto da sala de aula como um cinema que apenas projeta o filme e os alunos o assistem passivamente construindo sua visão acerca da história, só pode ser superada quando os professores compreenderem que o cinema não é a história tal qual aconteceu, e que os fatos 6

históricos apresentados nos filmes históricos e documentários são produzidos pela indústria cinematográfica a fim de atender a um mercado consumidor. A linguagem cinematográfica, por isso, é representação da realidade ou de acontecimentos históricos e, em alguns casos, também não possui nenhuma interdependência com a história escrita. Após pontuar os aspectos que dizem a respeito das fontes históricas enquanto recurso didático ou documento atenta-me para as questões levantadas por Claro: O filme passa a ser um documento no qual é possível resgatar as representações que se tem da sociedade à qual pertence. Por outro lado, se o filme tiver uma proposta de reconstituição histórica, ele estará falando muito mais das representações que tal sociedade tem de determinado momento do passado do que propriamente daquele período. (CLARO, 2012: p. 114) Este aspecto pontuado por Silene Ferreira Claro (2012) é importante porque evidencia uma característica que está presente nos filmes históricos que em suas narrativas (re)constituem e (re)criam histórias. Pensar a partir dessa proposta de Claro, leva-me a afirmar que nas relações de ensino e aprendizagem os filmes históricos estão sendo utilizados de uma forma inadequada e dentro dessa perspectiva de pensá-lo enquanto documento a partir da noção de representação e de sua linguagem propicia um novo olhar para as formas com que podemos utilizá-lo para a construção de conhecimento histórico. Considerações Finais: Os jovens estudantes de Ensino Médio mantêm uma relação com os saberes históricos construídos pela obra cinematográfica e pelo professor no ensino da História. Nessa relação com o conhecimento histórico estabelecido por esses sujeitos, afirmo que, o cinema pode contribuir para a construção de competências que são necessárias para engendrar o aprendizado histórico, proporcionando assim que os jovens desenvolvam sua formação histórica. Como já pontuei anteriormente a narrativa histórica constitui a consciência histórica. A narrativa fílmica ajuda na manutenção da consciência histórica quando o professor utiliza os procedimentos de compreender a obra cinematográfica como fonte histórica ou como documento histórico para o ensino, desenvolvendo competências históricas que ajudam para compreensão do filme. A narrativa desses jovens em processo de escolarização a partir do uso dos filmes históricos em sala de aula proporciona uma forma de compreender as ideias históricas mobilizadas a partir de conceitos substantivos como propõe Peter Lee (2001). 7

Pensar ensino de História e Cinema na perspectiva da Didática da História, levou-me a compreensão da narrativa como construtora da consciência histórica, ou seja, a narrativa fílmica também forma uma consciência histórica acerca do passado, principalmente os filmes históricos, porque como lembra Rüsen (2010, p. 62) a narrativa constitui a consciência histórica na medida em que vai recorrer a lembranças para interpretar as experiências de tempo. Os filmes históricos recorrem às lembranças para interpretar as experiências de tempo construindo assim uma relação que me possibilita compreender a verdade histórica para esses jovens do Ensino Médio dentro da relação dinâmica entre saberes históricos escolares construídos pelo professor e saberes históricos escolares construídos pela obra cinematográfica. São duas formas de narrativa que, com suas formas distintas, contribuem para a construção da narrativa acerca da história que tanto o professor faz, como os filmes históricos fazem, oportunizando perceber e consolidar a consciência histórica dos alunos. Referências: BARCA, Isabel. Marcos de consciência histórica de jovens portugueses. In: Currículo sem fronteiras, v. 7, n. 1, p. 115-126, jan./jun. 2007. BARCA, Isabel. Educação Histórica: uma nova área de investigação. Revista da Faculdade de Letras, Porto, III Série, vol. 2, 2001, PP. 013-021. CLARO, Maria Silene. Cinema e História: Uma reflexão sobre possibilidades do cinema como fonte e como recurso didático. Augusto Guzzo Revista Acadêmica Nº 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS RÜSEN, Jörn. Razão Histórica: Teoria da História: os fundamentos da ciência histórica. Brasília: UNB, 2001. História Viva. Teoria da História III: formas e funções do conhecimento histórico. Brasília: UNB, 2007. ROSENSTONE, Robert. A História nos filmes Os filmes na História. Tradução: Marcelo Lino. São Paulo: Paz e Terra, 2010. SCHMIDT, Maria Auxiliadora; CAINELLI, Marlene. Ensinar História. São Paulo: Scipione, 2004.. Cognição histórica situada: que aprendizagem histórica é esta? In SCHMIDT, Maria Auxiliadora; BARCA, I. Aprender História: Perspectivas da Educação Histórica. IJUÍ: Ed.Unijuí, 2009b. p. 21 51. SOUZA, Éder C. O que o cinema pode ensinar sobre a História? Investigação sobre as ideias dos alunos a respeito do uso de filmes em aulas de História. Actas das X Jornadas de Educação Histórica. Londrina: UEL, 2010.. O uso do cinema no ensino de História: Propostas recorrentes, dimensões teóricas e perspectivas da educação histórica. Escritas. Vol. 4 (2012) ISSN 2238-7188 pp. 70-93. 8

. Cinema e Educação Histórica: Itinerários de Pesquisa. XXVII Simpósio Nacional de História. Anais Eletrônicos do IX Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de História 18, 19 e 20 de Abril de 2011 - Florianópolis/SC. TROVÃO, Vilas-Bôas. Sala de aula, sala de projeção: a relação Cinema e Ensino de História. XVII Simpósio Nacional de História. Conhecimento e Diálogo Social. Natal-RN. 22 a 26 de Julho de 2013. 9