VI-103 - EDUCAÇÃO COMO PROPOSTA DE MELHORIA AMBIENTAL, UTILIZANDO A BACIA HIDROGRÁFICA COMO UNIDADE DE ENSINO Jucélia Cabral Mendonça (1) Engenheira Civil pela Escola de Engenharia da Universidade Federal de Goiás - UFG, Especialização em Educação Ambiental pelo Centro de Recursos Hídricos e Ecologia Aplicada (CRHEA) do Departamento de Hidráulica e Saneamento (SHS) - EESC/USP. Mestranda em Ciências da Engenharia Ambiental (CRHEA/SHS/EESC/USP). Endereço (1) : Rua Thomaz Antônio Gonzaga, 360 - São Carlos - SP - CEP: 13.566-583 - Brasil - Tel: (16) 3361-7936 - e-mail: jucelia@sc.usp.br FOTO NÃO DISPONÍVEL RESUMO Este projeto foi desenvolvido na cidade de Paraíso do Tocantins - TO, na Escola Municipal "José Ribeiro Torres". Um dos motivos que favoreceu a escolha dessa escola foi sua localização dentro da micro-bacia hidrográfica do córrego Olaria, um dos córregos que corta a cidade. Essa proximidade e as visitas realizadas na região permitiu que os alunos entendessem o conceito de bacia hidrográfica e como os impactos ambientais sofridos em um ponto da bacia podem refletir em toda ou em parte dela. O projeto contou com a participação de cerca de 450 pessoas, sendo elas: todos os alunos da escola, o corpo docente, diretor, coordenadores e funcionários. Acredita-se que de forma indireta parte da comunidade também foi contemplada, já que houve mudanças significativas na escola e no comportamento daqueles que estavam envolvidos no processo. As atividades aqui apresentadas foram desenvolvidas com todos os alunos da escola, tanto do turno matutino, como do vespertino. Iniciou-se o trabalho com a apresentação do projeto aos alunos da escola, professores e demais funcionários. As principais atividades realizadas foram: peças teatrais, plantio e batizado de árvores no pátio da escola, feira de ciência e passeata no bairro. Foram promovidos ainda, concursos de frases, pinturas, colagens, textos dissertativos, palestras e outras atividades afins. Para se avaliar a eficiência das metodologias aplicadas, observou-se a qualidade dos trabalhos confeccionados pelos alunos e a inserção de novos conceitos sobre meio ambiente nas aulas ministradas em sala de aula pelos professores. A aprendizagem dos alunos pôde ser observada não somente, através dos trabalhos escritos, mas também diante da atitude deles perante as atividades, mostraram-se com o avanço do projeto, mais receptivos e dispostos a dar opinião nas discussões. No geral houve um interesse crescente pelos temas abordados ao longo do ano. PALAVRAS-CHAVE: Educação ambiental, Bacia hidrográfica, Mudança de comportamento. INTRODUÇÃO A Educação Ambiental (EA) busca modificar a relação do homem com o seu ambiente, conscientizando-o da necessidade de uma mudança de comportamento e de sua responsabilidade em transformar o meio onde vive em um ambiente mais saudável. A idéia central da Educação Ambiental segundo BRASIL (1998b) é buscar o bem-estar das gerações atuais, sem prejudicar a sobrevivência das próximas gerações. O homem tem que entender que sua capacidade de transformar o ambiente e adaptá-lo a seus interesses, não é ilimitada (BRANCO, 1993), esses limites é que definem que atitudes são mais impactantes daí a necessidade de conhecer e discutir tais limites. Historicamente a quase meio século se discute as questões ambientais, mas a implantação de EA não é uma realidade. PEDRINI(1997) cita que a EA no Brasil não caminha de forma linear. A sua implantação e desenvolvimento no ensino formal, não-formal e informal, é muito comprometida. Não se tem uma prática definida, e os relatos sobre a mesma são escassos e confusos. ABES Trabalhos Técnicos 1
Mesmo sendo uma proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN's), a aplicação de EA no ensino formal ainda é um grande desafio. As mudanças que essa prática exige nem sempre são aceitas pelos professores. A falta de capacitação é outro fator que limita a aplicação de EA nas escolas (BRASIL, 1998a). Daí, a necessidade de desenvolver projetos que busquem aplicar a EA na comunidade escolar, para que se tenha como resultados a capacitação dos profissionais para essa prática, a inserção da EA no currículo escolar e a mudança de comportamento daqueles que estão envolvidos em tais projetos, sendo eles coordenadores, alunos, professores, administradores, funcionários e comunidade em geral. Devido ao fato de que todas as atividades desenvolvidas em uma determinada área de drenagem, influenciam de forma significativa na qualidade ambiental que a compõem, é adequado e conveniente que se desenvolva projetos de EA tendo a bacia hidrográfica (BH) como unidade de ensino. Esse projeto foi desenvolvido na cidade de Paraíso do Tocantins na Escola Municipal "José Ribeiro Torres". Essa escola foi escolhida devido a sua importância sócio-ambiental e sua localização geográfica na microbacia do córrego Olaria, que foi a área de estudo, sendo este um dos principais córregos localizado no perímetro urbano. Os principais objetivos do projeto foram despertar o interesse do público alvo por temas ambientais, trabalhar com os conceitos ambientais de bacia hidrográfica, inserir EA no currículo, discutir os problemas ambientais em âmbito global e local, dando assim uma visão geral do assunto e buscando apresentar soluções efetivas para os problemas locais, principalmente àqueles referente a cidade de Paraíso. As atividades foram desenvolvidas buscando reconhecer a consciência do público alvo em relação a temas ambientais, ampliá-la desenvolvendo atividades específicas, buscando sempre levá-los a uma mudança de comportamento. Essas atividades permitiram discutir com os alunos o efeito das ações antrópicas sobre a qualidade e quantidade de água disponível para o consumo e despertar o interesse do público alvo por temas atuais relativos ao meio ambiente. MATERIAIS E MÉTODOS A localização da escola foi muito importante para realização do programa elaborado. Permitiu discutir os conceitos sobre bacia hidrográfica, área de drenagem, e mostrar como modificações pontuais podem influenciar na qualidade ambiental de toda uma bacia. Discutiu-se vários assuntos, que puderam ser visualizados depois em visita a campo, tendo assim a junção do que foi apresentado na teoria com o que estava sendo observado na prática. O trabalho de conscientização na escola foi realizado através de atividades que buscavam despertar o interesse do aluno sobre as questões e sua responsabilidade quanto a conservação do ambiente. Na apresentação do projeto à escola, a principal atividade realizada foi a apresentação de um painel que simulava a serra de Paraíso que é o cartão postal da cidade, totalmente degradada, em seguida foi proposto aos alunos a transformação da mesma com a colagem de figuras pré recortada que representavam um local caracterizado pelas suas belezas naturais. Com isso pode-se iniciar a discussão sobre os problemas ambientais focalizando os problemas da cidade e da região. A partir daí foram agendadas as atividades do projeto na escola. As principais atividades desenvolvidas foram: peças teatrais, plantio e batizado de árvores no pátio da escola, feira de ciência e passeata no bairro. Foram promovidos ainda, concursos de frases, pinturas, colagens, textos dissertativos, palestras e outras atividades afins. Em seguida serão apresentada a forma como tais atividades foram desenvolvidas. PEÇAS TEATRAIS As peças escolhidas para serem apresentadas foram "O dia da árvore" pelo do turno matutino e "Nosso amigo rio" pelo turno vespertino, as mesmas foram escolhidas e ensaiadas pelas coordenadoras de turno. Os alunos que encenaram as peças e os horários da apresentação foram escolhidos de forma que fosse possível apresentar as peças nos dois turnos, assim todos os alunos da escola puderam assistir as duas encenações. As 2 ABES Trabalhos Técnicos
peças abordaram assuntos referente a importância da vegetação e das árvores para os seres vivos e sobre a preservação da mata ciliar, das margens dos rios e da natureza. PLANTIO E BATIZADO DAS ÁRVORES O plantio das árvores foi realizado no pátio da escola. Cada turma plantou uma árvore e se responsabilizou a cuidar dela, molhando-a, adubando-a e cuidando para que a mesma não fosse danificada de nenhuma forma. Os professores e funcionários de cada turma também ficaram responsável por uma árvore. Para firmar o compromisso de se responsabilizar pelas árvores, realizou-se também o batizado das mesmas, sendo cada turma madrinha de sua árvore. Todos os alunos assinaram o certificado de batizado e deram nome à elas. O plantio e o batismo não foram realizados no mesmo dia, esse intervalo de tempo, permitiu observar se os alunos e professores estavam, ou não, cuidando de suas árvores. Com essa atividade os alunos e professores puderam agir de forma melhorando o seu ambiente e a qualidade do mesmo, se comprometendo e agindo em defesa e preservação da natureza. FEIRA DE CIÊNCIA Foi realizada uma reunião com os professores e discutido a viabilidade de se realizar uma Feira de Ciência para finalização das atividades do projeto na escola. Para incentivar a iniciativa dos professores e a criatividade dos alunos, a escolha das atividades que seriam realizadas foi deixada para os professores e demais funcionários juntamente com os alunos da escola. Devido a idade e série dos alunos o tipo de atividade realizado nas turmas foi diferenciado, os próprios professores é que sugeriram essa diferenciação, eles inclusive, decidiram o recurso didático que seria utilizado em cada turma, essa participação foi necessário, já que os mesmos é que sabiam qual atividade era mais adequada para cada turma. Foi também escolhido assuntos específicos para cada turma, sendo estes os principais temas trabalhados na aplicação do projeto. A Tabela 1 apresenta os temas abordados e o recurso didático utilizado em cada série. Tabela 1: Relação entre à serie e o recurso didático utilizado para abordar os temas propostos para a Feira de Ciências. Feira de Ciências Turno Matutino Vespertino Temas abordados Série Recurso didático Série Recurso didático Lixo Segunda Trabalhos artísticos Segunda Atividade oral Água Terceira Maquete (ETA) Terceira Trabalhos artísticos Educação Ambiental Quarta Cartazes / Recortes Quinta Trabalhos artísticos Bacia Hidrográfica Quarta (Arlete) Maquete (Lago) Sexta Maquete (Rio) Paraíso Terceira Cartazes / Recortes Quarta Maquete Homem e seu ambiente Pré e Primeiro Maquete Pré e Primeiro Maquete PASSEATA JUNTO À COMUNIDADE Foi realizada uma passeata pelas principais ruas do Setor Pouso Alegre, bairro que o projeto foi desenvolvido. Os professores elaboraram cartazes com frases que buscavam despertar a comunidade para a importância de se preservar o meio ambiente. Tanto esses cartazes, quanto os trabalhos apresentados na Feira de Ciências foram levados às ruas, mostrando assim para toda a comunidade que o trabalho estava sendo realizado de forma efetiva. ABES Trabalhos Técnicos 3
Os alunos, que não tinham nenhum trabalho em mãos, saíram com sacolas plásticas coletando o lixo das ruas. Quando enchiam a sacola, esvaziavam nos latões de lixo e prosseguiam com a coleta novamente. RESULTADOS Para se avaliar a eficiência das metodologias aplicadas, observou-se a qualidade dos trabalhos desenvolvidos nos concursos de frase, pinturas, colagens, textos dissertativos promovidos na escola, ao longo do período de aplicação do projeto. Esse tipo de avaliação foi muito válida, possibilitou inclusive que a metodologia inicial fosse modificada. Quando o projeto foi apresentado a escola pretendia-se realizar algumas palestras e auxiliar os professores na inserção da Educação Ambiental na sala de aula, como tema transversal como é proposto pelos PCN's. Percebeu-se com alguns meses de trabalhos que com essa metodologia os objetivos propostos não seriam alcançados, passou-se então a aplicar atividades escritas ligadas as atividades práticas desenvolvidas na escola. Tais trabalhos permitiu, juntamente com os professores, avaliar o progresso do projeto. As atividades que indicavam resultados positivos e boa assimilação do assunto eram repetidas, as que não eram modificadas ou abandonadas. Percebeu-se que as atividades práticas, extra-sala prende bem mais atenção dos alunos, as atividades que apresentaram resultados mais positivos foram as mais criativas e dinâmicas. CONCLUSÕES Este projeto de especialização possibilitou discutir as questões ambientais de forma direta com cerca de 450 pessoas, sendo elas: professores, coordenadores, funcionários e alunos da Escola Municipal José Ribeiro Torres e envolver de forma indireta a comunidade local. As atividades foram relatadas o mais detalhado possível, para que as metodologias aqui utilizadas, possam de alguma forma, auxiliar o desenvolvimento de trabalhos semelhantes. Devido a necessidade de se envolver toda a escola no projeto, desenvolveu-se as atividades nos dois turnos, matutino e vespertino, contando com a participação não só dos alunos como também dos professores, coordenadores e funcionários. Isso permitiu que os professores, por estarem acompanhando todas as atividades, trabalhassem em sala de aula, os temas apresentados nas atividades específicas. A experiência de se utilizar a bacia hidrográfica como unidade de ensino, possibilitou discussões concretas e boa assimilação por parte dos alunos. Discutir os conceitos citados, possibilitou despertar os para a importância de se fazer o gerenciamento dos recursos hídricos e conhecer as características do mesmo. As atividades desenvolvidas na apresentação do projeto permitiu avaliar o grau de consciência inicial dos alunos em relação à temas ambientais. Foi uma atividade bastante interessante, que utilizou recurso com baixo custo, apenas cartolina e recortes de revistas, ou seja, muitas atividades podem ser realizadas com poucos gastos. Essa preocupação foi uma realidade observada na maioria das atividades realizadas. O trabalho com os alunos, mesmo sendo no geral bem aceito, foi ignorado em certos momentos, por alguns alunos, que se recusavam a fazer frases, dispersavam nas palestras e se omitia em algumas discussões. Felizmente a maioria participou e se interessou pelo projeto. Muitas atividades foram incluídas no projeto, buscando vencer os obstáculos apresentados pelo corpo docente da escola. Mesmo com toda essa resistência em relação as mudança que deveriam ser realizadas, os professores foram grandes colaboradores no desenvolvimento do projeto e se mostraram interessados em aplicar EA na escola. O apoio dos pais, dos coordenadores e funcionários da escola foram de suma importância para a aplicação do projeto e realização das atividades programadas. A receptividade dos moradores das proximidades do 4 ABES Trabalhos Técnicos
córrego, foi também uma colaboração que não poderia deixar de ser citada, mas ainda é necessário envolver de maneira mais efetiva a comunidade em geral. De forma generalizada pode-se concluir que não teria sido possível realizar esse projeto se ele não se estendesse a todos aqueles que estão inseridos no processo de ensino: pais, professores, coordenadores, funcionários e alunos. E o fato de propormos tais atividades não seria definitivo se a comunidade escolar não se dispusesse a colaborar. Os principais momentos do projeto foram gravados em fita de vídeo. A receptividade do público alvo e a forma como desenvolveram os trabalhos e os resultados apresentados, mostraram que as atividades foram bem assimiladas e acredita-se que realmente será aplicada EA na escola, e que inclusive, os objetivos secundários do projeto foram atingidos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BRANCO, S. M. (1993) Água - Origem, uso e preservação. São Paulo - SP. Ed. Moderna, 3 a Edição. 2. BRASIL (1998a) Ministério da Educação e Desporto - Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Terceiro e Quarto Ciclos: Apresentação dos temas Transversais - Brasília. 3. BRASIL (1998b). Ministério do Meio Ambiente. A implantação da Educação Ambiental no Brasil. Brasília - DF. 166 p. 4. PEDRINI, A. de G. (org.) (1997). Educação Ambiental - Reflexões e práticas contemporâneas. Petrópolis - RJ, Ed. Vozes, 2 a ed., 294 p. ABES Trabalhos Técnicos 5