Tratamento artroscópico da epicondilite lateral do cotovelo*

Documentos relacionados
EPICONDILITES LATERAL E MEDIAL

Pubalgia. Fig. 1 fortes grupos musculares que concentram esforços na sínfise púbica.

Traumatologia. Distúrbios do Aparelho Locomotor tendo como Etiologia Sempre o TRAUMA, não importando a sua Magnitude.

Tendinopatia Patelar


Reparo de Lesão do Manguito Rotador

3/11/2010 LESÕES DO ESPORTE LESÕES DOS TECIDOS MUSCULOESQUELÉTICOS

INCIDENCIA AJSM 2000; VOL28 JOGOS > TREINOS OFICIAIS > AMISTOSOS CONTATO FÍSICO EM 2/3 DAS LESÕES GRAVES NO FUTEBOL 20% DAS LESÕES SÃO POR OVERUSE

PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MÉDICA EM ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA PROJETO PEDAGÓGICO

Cotovelo - Antebraço. Cotovelo - Antebraço Cinesiologia. Renato Almeida

Lesões Traumáticas do Membro Superior. Lesões do Ombro e Braço Lesões do Cotovelo e Antebraço Lesões do Punho e Mão

Esta patologia ocorre quando existe um stress na epífise de crescimento próximo a área da tuberosidade tibial.

Luxação do Ombro. Especialista em Cirurgia do Ombro e Cotovelo. Dr. Marcello Castiglia

ORTOPEDIA.

- fibras de colágeno

FUNDAMENTOS E CLÍNICA EM ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA I. Profº Ms. Marcos Antonio P. Brito 6ºTermo UniSalesiano Araçatuba

TRATAMENTO ARTROSCÓPICO DA RIGIDEZ DE COTOVELO

Artroscopia do Ombro. Especialista em Cirurgia do Ombro e Cotovelo. Dr. Marcello Castiglia

A brincadeira continua.

ÓRTESES PARA MMSS APOSTILA 04

Médico Cirurgia de Joelho

Avaliação de pacientes submetidos ao tratamento artroscópico da epicondilite lateral refratária ao tratamento conservador

Propedêutica Ortopédica e Traumatológica. Prof André Montillo

ENFERMAGEM CUIDADOS DE ENFERMAGEM. Aula 11. Profª. Tatiane da Silva Campos

Traumatologia. Lesões Fundamentais do Trauma:

GABARITO PÓS-RECURSO

RESOLUÇÃO Nº 6, DE 8 DE ABRIL DE 2019

Lesões Traumáticas do Punho e Mão. Prof. Reinaldo Hashimoto

Amplitude de Movimento. Amplitude de Movimento. Tipos de ADM 27/2/2012

Artroplastia de Ombro TRATAMENTO POR ARTROPLASTIA NAS FRATURAS DO ÚMERO PROXIMAL INDICAÇÃO. partes? rachadura da

Fraturas Diáfise Umeral

Imagem 1: destacada em vermelho a redução do espaço articular.

Propedêutica Ortopédica e Traumatológica

Parecer do Grupo Técnico de Auditoria em Saúde 028/05 Tema: Sistema Eletro Térmico para Artroscopia do Quadril. I Data

Rupturas do menisco. A articulação do joelho é formada pelos ossos: o osso da coxa (fêmur), o osso da perna (tíbia) e a patela.

Prof André Montillo

Lesões do ligamento cruzado anterior (LCA)

Lesões Traumáticas da Cintura Escapular. Prof. Reinaldo Hashimoto

LESÕES ÓSSEAS POR ESTRESSE NO ATLETA. Daniel Zimmermann Stefani

Lesões Traumáticas do Membro Superior. Lesões do Ombro e Braço Lesões do Cotovelo e Antebraço Lesões do Punho e Mão

Epicondilite Lateral do Cotovelo Como é a anatomia normal do cotovelo?

Lesão do Bíceps no Ombro

Traumatologia Infantil. O Esqueleto da Criança Não É O Esqueleto do Adulto em Miniatura

Fratura do Punho. Como é a anatomia normal do punho? Porque ocorre a fratura do punho?

Prefeitura do Município de Londrina

Avaliação pós-operatória da liberação do nervo interósseo posterior no cotovelo *

Componentes 08/08/2016. Úmero Rádio. Ulna

CENSO PARA DETECÇÃO DE DESCONFORTO EM MEMBROS SUPERIORES Autor: Hudson de Araújo Couto Versão Julho de 2004

Exercícios terapêuticos na epicondilite lateral

Deformidades no crescimento

PREFEITURA MUNICIPAL DE MIRACEMA 2014 MÉDICO ORTOPEDISTA PLANTONISTA PROVA OBJETIVA

ARTROSCOPIA DO QUADRIL

Grupo de Medicina do Esporte e do Exercício HCFMUSP

Gabarito das questões da Dinâmica S03 e S04O

Utilização de bandagem elástica funcional KT como recurso terapêutico na epicondilite lateral do cotovelo - Revisão Bibliográfica

Tendinite Calcária. Introdução

Texto de apoio ao curso de Especialização Atividade Física Adaptada e Saúde Prof. Dr. Luzimar Teixeira

Lesão neurológica pós-bloqueio periférico: qual a conduta?

Movimentos Articulares do Cotovelo e Radioulnar. Prof. Dr. Guanis de Barros Vilela Junior

Diagnóstico por imagem nas alterações relacionadas ao envelhecimento e alterações degenerativas da coluna vertebral

Ligamento Cruzado Posterior

Como prevenir o Tennis Elbow: visão do médico do esporte

Avaliação Fisioterapêutica do Cotovelo, Punho e Mão

Autoria: Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia

Como prevenir o Tennis Elbow: visão do médico do esporte

Músculos do Antebraço e Mão

Reunião Científica do Grupo de Medicina Esportiva. 28 de maio de 2010 Cassio Trevizani

Clínica Dr. Alfredo Toledo e Souza. Avenida Condessa de Vimieiros, 395 Centro, Itanhaém, SP. Fone (13) e (13)

Entorses de Tornozelo

Tratamento Cirúrgico da Instabilidade Patelo-femoral Indicações do Tratamento Cirúrgico

Anatomia da Medula Vertebral

Explanação das regiões anatômicas e atuação da Fisioterapia na Luxação, ou deslocamento, da articulação do cotovelo

Fisioterapeuta Priscila Souza

Roturas Completas do Manguito Rotador: Tratamento Cirúrgico

Exame Físico Ortopédico

Ricardo Yabumoto Curitiba, 26 de Marco de 2007

PLANO DE ENSINO: ATENÇÃO SECUNDARIA EM ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA (ALO007)

REABILITAÇÃO ESPORTIVA APLICADA AO MÉTODO PILATES

Is it really necessary to restore radial anatomic parameters after distal radius fractures? Injury, Int. J. Care Injured 45S(2014) S21-S26

MEMBROS SUPERIORES. Apostila 15

LESÕES DE MANGUITO ROTADOR

TRATAMENTO ARTROSCÓPICO DA RIGIDEZ PÓS-TRAUMÁTICA DO COTOVELO

Patologia do punho e mão

Residência Médica Caso 1

Sumário Detalhado. PARTE I Gerenciamento de riscos 21. PARTE II Patologia da lesão esportiva 177. Capítulo 4 Equipamento de proteção 116

Lesões Meniscais. Anatomia. Tipos de Lesões

Um aliado eficaz na prática desportiva. Nova linha de ortóteses para o desporto

Avaliação por Imagem dos Tendões do Punho

UNIVERSIDADE DO RIO DE JANEIRO UNI - RIO

DOENÇA ARTICULAR DEGENERATIVA ARTROSE Diagnóstico- Prevenção - Tratamento

HISTÓRICO Síndrome Facetária

Artrose Tratamento Artroscópico

WALABONSO BENJAMIN GONÇALVES FERREIRA NETO FRATURA DA CABEÇA DA MANDÍBULA. CARACTERÍSTICAS, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO.

Efficacy and Safety of Nonoperative Treatment for Acute Appendicitis: A Meta-analysis Pediatrics, Março 2017

O que é realmente a Epicondilite lateral?

Impacto Femoro Acetabular (IFA)

Quanto à condição funcional do músculo temporal, todos apresentavam-se normais palpação, no pré-operatório.

Deformidades Angulares dos Membros Inferiores I - Joelhos - Prof André Montillo

Sustentação do corpo Proteção dos órgãos nobres Cérebro Pulmões Coração.

TERAPIA POR ONDAS DE CHOQUE EXTRACORPÓREA NO TRATAMENTO DA BURSITE TROCANTERIANA. Paulo Santos Ana Cláudia Souza Paulo Rockett

Transcrição:

Texto de apoio ao curso de Especialização Atividade Física Adaptada e Saúde Prof. Dr. Luzimar Teixeira Tratamento artroscópico da epicondilite lateral do cotovelo* INTRODUÇÃO AMÉRICO ZOPPI FILHO LUÍS ALFREDO GÓMEZ VIEIRA ARNALDO AMADO FERREIRA NETO EDUARDO BENEGAS A epicondilite lateral do cotovelo, também conhecida como cotovelo do tenista (tennis elbow), é definida como uma lesão crônica de repetição que acomete os tendões que têm origem no epicôndilo lateral do cotovelo, podendo causar alterações internas de sua estrutura e degeneração de sua matriz, impedindo a sua regeneração e maturação em tendão normal. Essa alteração da estrutura tendínea é definida como tendinose(1,2). A tendinose, quando estudada microscopicamente, caracteriza-se por processo degenerativo com aumento do número de fibroblastos, hiperplasia vascular e desorganização do colágeno. Na sua patogênese são definidos quatro estágios: 1) processo inflamatório, sem alterações patológicas; 2) alterações na estrutura tendínea (tendinose/hiperplasia angiofibroblástica); 3) tendinose com rotura tendínea; 4) tendinose com rotura associada com calcificação e/ou ossificação periarticular. A epicondilite do cotovelo pode manifestar-se a partir da adolescência até idades avançadas, com pico de incidência nos grupos etários entre 35 e 50 anos e em indivíduos que executam movimentos crônicos de repetição no cotovelo, como torneiros mecânicos, carpinteiros, nos esporte de arremesso e jogadores de tênis. Clinicamente, a epicondilite lateral manifesta-se por dor centrada no epicôndilo lateral do cotovelo, com irradiação pela região da musculatura extensora da mão e do punho. O teste de Cozen (cotovelo a 90 com antebraço pronado, pede-s e que o paciente estenda o punho contra nossa resistência) e o teste de Mill (cotovelo e punho em extensão, mão fechada, pede-se que o paciente mantenha resistência contra força de flexão sobre o punho exercida pelo examinador) são procedimentos semiológicos que podem ajudar na avaliação clínica. A epicondilite, na maioria dos casos, tem evolução satisfatória com o tratamento conservador: controle da dor e da inflamação por meio do repouso, crioterapia, analgésicos, antiinflamatórios não hormonais e reabilitação. Além do controle da dor, o tratamento

conservador tem por objetivo a preservação da flexibilidade, da mobilidade e da força do cotovelo. Existem casos em que, mesmo com adequado tratamento conservador, esses objetivos não são atingidos, restando a cirurgia como opção. O objetivo do tratamento cirúrgico é a ressecção do tecido angiofibroblástico, melhora das condições circulatórias da região epicondiliana, permitindo a produção de tecido colágeno normal e a reparação tendínea. Na cirurgia aberta e na artroscópica, os procedimentos são semelhantes: retiramos todo o tecido angiofibroblástico, aumentamos o aporte sanguíneo (decorticação ou perfurações ósseas no epicôndilo lateral) e, se houver necessidade, procedemos ao reparo tecidual anatômico. O objetivo deste trabalho é apresentar a nossa experiência no tratamento artroscópico em pacientes com epicondilite lateral do cotovelo refratários ao tratamento conservador. MATERIAL E MÉTODO No período compreendido entre janeiro de 1999 e novembro de 2002, oito pacientes foram submetidos a tratamento artroscópico para epicondilite lateral do cotovelo no Grupo de Ombro e Cotovelo do Instituto de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Como critério de inclusão, o procedimento foi indicado nos pacientes que não apresentavam melhora com o tratamento conservador realizado por período mínimo de seis meses. Foram tratados oito pacientes (seis homens e duas mulheres) com idade variando entre 23 e 75 anos (média de 39 anos), sendo cinco esportistas e três trabalhadores braçais. O tempo de seguimento variou de 10 a 18 meses, com média de 14 meses. Além do diagnóstico clínico, em todos os pacientes realizamos os exames radiológico e ultrasonográfico. Em quatro pacientes o estudo por imagem foi complementado com a ressonância magnética. Todos foram submetidos inicialmente a tratamento conservador por um período de seis a 12 meses com o objetivo de controle da dor e da inflamação, consistindo em repouso, crioterapia, analgésicos, antiinflamatórios não hormonais (AINH), estimulação elétrica de alta voltagem (quatro a seis sessões por duas a três semanas) e reabilitação. Apesar de Nirschl citar que o uso de AINH no tratamento da epicondilite lateral do cotovelo não tem indicação clínica por tratar-se de um processo degenerativo tendíneo e não inflamatório, essa medida terapêutica é freqüentemente utilizada.

A indicação do tratamento artroscópico foi feita após o insucesso do tratamento conservador e baseado em quatro critérios clínicos: presença de dor noturna; presença de dor no repouso; dificuldade para as atividades de vida diária; e presença de dor durante a prática esportiva. Quando dois ou mais desses critérios estão presentes, indicamos o tratamento cirúrgico. Realizamos a artroscopia com o paciente em decúbito lateral sob anestesia geral e bloqueio plexular (fig. 1). Usamos garrote pneumático aplicado na raiz do membro. Em três pacientes usamos bomba de infusão e nos restantes utilizamos a infusão articular do soro fisiológico aplicada por gravidade (colocação dos frascos de soro 1m acima do cotovelo). Iniciamos o acesso articular através do portal ântero-lateral (fig. 2) e distensão da cápsula articular com solução salina (fig. 3). Após a introdução da óptica procedemos à inspeção da região anterior articular. Utilizando a técnica de inside out, com a colocação de fio de Steinmann a partir da cânula posicionada lateralmente e exteriorizada medialmente, fazemos o portal ântero-medial com segurança, sem risco de comprometimento do nervo ulnar (figs. 4 e 5).

Com os dois portais estabelecidos, o procedimento é iniciado. A óptica é colocada no portal ântero-medial e a instrumentação é feita pelo portal ântero-lateral (fig. 6). Utilizamos lâmina de ressecção de partes moles (shaver), geralmente com diâmetro de 5mm, para retirada da sinovial, da cápsula articular e, pela sua agressividade, suficiente para a retirada do periósteo e promover a decorticação óssea na região do epicôndilo lateral. Ao procedermos à abertura da cápsula articular, observamos a parte tendínea correspondente à origem do tendão do extensor radial curto do carpo, principal estrutura acometida na epicondilite lateral. Nesse ponto, iniciamos a desperiostização e decorticação óssea. Ao realizarmos esses procedimentos, somos de opinião de que ressecamos o tecido angiofibroblástico patológico e estimulamos a circulação óssea, permitindo a cicatrização normal do tendão (objetivos a serem atingidos na cirurgia figs. 7, 8, 9 e 10). No pós-operatório, realizamos enfaixamento compressivo da região por cinco a sete dias. Após a retirada da imobilização, os pacientes foram liberados para atividades leves. Para o

retorno às atividades mais intensas (trabalhadores braçais) e nos esportistas, aguardamos 90 dias. RESULTADOS Apesar de não haver uma escala de avaliação especifica do tratamento para epicondilite lateral do cotovelo, utilizamos os critérios de Morrey et al(3), que avaliam dor, amplitude de movimento, estabilidade e função nas atividades cotidianas; esses parâmetros são quantificados por pontos, cujo somatório indica o resultado final em: excelente (acima de 90 pontos), bom (entre 75 e 89 pontos), regular (entre 60 e 74 pontos) e mau (abaixo de 60 pontos). Nos oito pacientes operados, os resultados foram considerados excelentes. Todos evoluíram sem dor, sem limitação da amplitude de movimentos e com retorno normal às atividades prévias ao tratamento instituído. Complicações imediatas ou tardias, como neuropraxia do nervo ulnar, frouxidão ligamentar, limitação articular ou infecção, não foram observadas neste estudo. Todos os pacientes informaram estar plenamente satisfeitos com os resultados alcançados. DISCUSSÃO Desde a primeira descrição da epicondilite do cotovelo, em 1882, vários autores têm discutindo o diagnóstico e tratamento dessa condição(4). A articulação do cotovelo pode ser sede freqüente de lesões devido a movimentos crônicos de repetição. A epicondilite lateral do cotovelo é a mais comum dessas lesões, sendo a queixa mais freqüente de dor na região do cotovelo nos consultórios e ambulatórios.

Além de ocorrer em todas as categorias de jogadores de tênis, a epicondilite lateral do cotovelo pode estar presente em praticantes de outros esportes ou relacionada à ocupação do indivíduo. O diagnóstico clínico é fácil pelo tipo de dor e irradiação referidos. Na nossa casuística, a dor durante a atividade diária, esportiva e o repouso que não apresentava regressão com tratamento conservador realizado por período mínimo de seis meses foi o critério de indicação cirúrgica. Nesse grupo o exame radiológico não mostrou alterações. O exame ultra-sonográfico foi realizado em todos os pacientes, porém, em três o resultado foi considerado normal. Acreditamos que o exame por ultra-sonografia é operador-dependente, devendo o radiologista estar familiarizado com a anatomia e patologia da região para firmar um diagnóstico mais preciso. Em dois desses pacientes, de um total de quatro, quando submetidos ao exame por

ressonância magnética, foram constatadas alterações de sinal da origem dos tendões epicondilianos, características desse tipo de lesão. Devemos estar atentos a diagnósticos diferenciais que com freqüência podem ser confundidos com a epicondilite lateral: a síndrome de compressão do nervo interósseo posterior, as instabilidades articulares crônicas nos atletas arremessadores e quadros de fibromialgia com manifestações de dor na região do cotovelo e antebraço. O tratamento de escolha é o conservador. A cirurgia é exceção, ficando recomendada apenas para os raros casos com sintomatologia persistente sem resposta ao tratamento conservador(5). Há diferentes opiniões quanto à etiologia e o tipo de intervenção cirúrgica a adotar nos casos de epicondilite lateral do cotovelo. Nirschl(1,2) acreditava que a afecção é extra-articular na aponeurose dos tendões extensores e no espaço subaponeurótico triangular, tendo sugerido, para os sintomas prolongados, a liberação e o realinhamento das aponeuroses do extensor comum e do extensor radial curto do carpo, bem como a exploração do espaço subaponeurótico. Gardner(6) recomendava mínima ressecção do epicôndilo lateral, reparo das lacerações e avanço proximal do tendão extensor comum dos dedos até uma nova origem no epicôndilo lateral do cotovelo. Bosworth(7,8) enfatizou que a inflamação ou fibrose do ligamento anular é a causa da epicondilite lateral, supondo que tais alterações seriam causadas pela repetida rotação de uma cabeça do rádio assimétrica e, em decorrência, defendeu como princípio de tratamento a excisão de um segmento do ligamento anular. Kaplan(9), acreditando que a causa do cotovelo do tenista é desconhecida, recomendou a denervação do epicôndilo lateral e da cápsula lateral da articulação do cotovelo. A cirurgia aberta, quando bem indicada, tem alto índice de bons resultados, porém, são descritas complicações freqüentes, como lesões ligamentares, podendo evoluir para um quadro clínico de instabilidade do cotovelo. O uso diagnóstico e terapêutico da artroscopia aumentou consideravelmente na última década; inicialmente aplicada somente na articulação do joelho, a artroscopia já tem seu lugar estabelecido no tratamento das lesões do ombro, cotovelo, punho, mão e tornoze-(10). A cirurgia artroscópica segue a tendência de proporcionarmos aos pacientes procedimentos minimamente invasivos e de menor agressividade. No tratamento da epicondilite lateral do cotovelo, contempla os mesmos objetivos da cirurgia aberta: ressecção do tecido patológico e estimulação da irrigação sanguínea local, permitindo a cicatrização normal dos tendões. Como todo procedimento artroscópico, necessita equipamentos e treinamento adequados(11).

Ward e Anderson(12), em artigo publicado em 1993, confirmaram que a artroscopia é efetiva no tratamento das afecções do cotovelo em atletas, com a maioria retornando totalmente à atividade esportiva. Como todo procedimento cirúrgico, a artroscopia do cotovelo também não está livre de complicações. O Driscoll(13), há quase uma década, já alertava para os riscos de lesões nervosas com esse procedimento. Ruch e Poehling(14) publica-ram o caso de um paciente que apresentou lesão do nervo interósseo anterior (ramo do nervo mediano) após artroscopia do cotovelo. Owens et al(15), em 2001, Baker et al(16), em 2000, e Grifka et al(17), em 1995, em artigos sobre os tratamentos da epicondilite lateral do cotovelo, não relataram complicações importantes. O Driscoll e Morrey(18), de um total de 70 pacientes submetidos à artroscopia do cotovelo, observaram em três paralisia transitória do nervo radial após injeção intra-articular de anestésico e, em outros quatro pacientes, drenagem persistente nos portais artroscópicos. Reddy et al(19) relataram um caso de transecção do nervo ulnar que necessitou reparo microcirúrgico após tratamento artroscópico do cotovelo. Savoie e Field(20) demonstraram que deve haver atenção cuidadosa no procedimento artroscópico do cotovelo e fazem uma série de recomendações para evitar complicações. Acreditamos que a epicondilite lateral do cotovelo é uma afecção conseqüente a movimentos crônicos de repetição, acometendo primariamente o tendão do extensor radial curto do carpo, ocasionalmente os tendões do extensor longo radial do carpo e extensor comum dos dedos. Acreditamos, também, que pacientes com a presença de dois ou mais desses critérios dor noturna, dor no repouso, dificuldades para as atividades de vida diárias, dor durante a prática esportiva e o tratamento clínico prolongado sem sucesso devem ser submetidos a cirurgia e que o tratamento artroscópico é opção a ser considerada. Apesar de as alterações anatomopatológicas serem extraarticulares, estas são justarticulares, imediatamente abaixo da cápsula. No procedimento artroscópico, ao realizarmos a capsulectomia na região do extensor curto radial do carpo e desbridarmos o tecido reacional angiofibroblástico, atingimos a região epicondiliana, levando a melhor irrigação local. Por tratar-se de técnica minimamente invasiva, temos assegurado não lesar as inserções tendíneas e também a parte ligamentar do cotovelo. CONCLUSÃO O tratamento artroscópico para a epicondilite lateral do cotovelo mostra-se uma opção no tratamento cirúrgico, sen-do um método minimamente invasivo, de rápida execução em mãos experientes, permitindo reabilitação precoce e com baixo índice de complicações.

REFERÊNCIAS / REFERENCES 1. Nirschl R.P.: Elbow tendinosis/tennis elbow. Clin Sports Med 11: 851-870, 1992. 2. Nirschl R.P., Pettrone F.A.: Tennis elbow: the treatment of lateral epicondyli- tis. J Bone Joint Surg [Am] 61: 832-839, 1979. 3. Morrey B.F., An K.N., Chao E.Y.S.: Functional Evaluation of the Elbow. 2nd ed., Philadelphia, Saunders, p. 86-97, 1993. 4. Ciccotti M.G.: Epicondylitis in the athlete. Instr Course Lect 48: 375-381, 1999. 5. Bynum C.K., Tasto J.: Arthroscopic treatment of synovial disorders in the shoulder, elbow and ankle. Am J Knee Surg 15: 57-59, 2002. 6. Gardner R.C.: Surgery for tennis elbow: a five-year follow-up. Orthop Rev 3: 45, 1974. 7. Bosworth D.M.: The role of the orbicular ligament in tennis elbow. J Bone Joint Surg [Am] 37: 527, 1955. 8. Bosworth D.M.: Surgical treatment of tennis elbow: a follow-up study. J Bone Joint Surg [Am] 47: 1533, 1965. 9. Kaplan E.B.: Treatment of tennis elbow (epicondylitis) by denervation. J Bone Joint Surg [Am] 41: 147-150, 1959. 10. Sonnabend D.H., Coolican M.R.: Recent advances in arthroscopy. Aust Fam Physician 21: 421-423, 1992. 11. Baker C.L., Brooks A.A.: Arthroscopy of the elbow. Clin Sports Med 15: 261-281, 1996. 12. Ward W.G., Anderson T.E.: Elbow arthroscopy in a mostly athletic popula- tion. J Hand Surg [Am] 18: 220-224, 1993. 13. O Driscoll S.W.: Arthroscopic treatment for osteoarthritis of the elbow. Or- thop Clin North Am 26: 691-706, 1995. 14. Ruch D.S., Poehling G.G.: Anterior interosseous nerve injury following el- bow arthroscopy. Arthroscopy 13: 756-758, 1997. 15. Owens B.D., Murphy K.P., Kuklo T.R.: Arthroscopic release for lateral ep- icondylitis. Arthroscopy 17: 582-587, 2001.

16. Baker C.L. Jr., Murphy K.P., Gottlob C.A., Curd D.T.: Arthroscopic classi- fication and treatment of lateral epicondylitis: two-year clinical results. J Shoulder Elbow Surg 9: 475-482, 2000. 17. Grifka J., Boenke S., Kramer J.: Endoscopic therapy in epicondylitis radia- lis humeri. Arthroscopy 11: 743-748, 1995. 18. O Driscoll S.W., Morrey B.F.: Arthroscopy of elbow. Diagnostic and thera- peutic benefits and hazards. J Bone Joint Surg [Am] 74: 84-94, 1992. 19. Reddy A.S., Kvitne R.S., Yocum L.A., Elattrache N.S., Glousman R.E.: Arthroscopy of the elbow: a long-term clinical review. Arthroscopy 16: 588-594, 2000. 20. Savoie F.H., Field L.D.: Arthrofibrosis and complications in arthroscopy of the elbow. Clin Sports Med 20: 123-129, 2001.